Percival Puggina

21/09/2019

 

 Dedicado ao que habitualmente faço, ou seja, a observar a cena política nacional, percebi que o Presidente da República está no meio de um fogo cerrado desencadeado pelo conjunto de forças que a ele se opõem. Vem bala de todo lado. Ocorreu-me então que identificar as origens desses ataques poderia organizar as estratégias de defesa muitas vezes difíceis de hierarquizar quando são simultâneos. Foi assim que cheguei a esta lista dos 10 principais inimigos do governo Bolsonaro. São eles:

 1 – Os eleitores de Haddad, Ciro Gomes, Marina Silva, Guilherme Boulos e demais candidatos pela esquerda derrotados em 2018.

 2 – Os estatistas. Compõem um conjunto muito poderoso de pessoas, habituadas a viver à sombra do Estado. São competentes, normalmente ascenderam às suas posições mediante concurso público, têm uma vida confortável e segura à qual se habituaram. Há em torno de si um grupo bem mais numeroso de servidores que participam de benefícios análogos. A maioria dessas pessoas não quer nem ouvir falar em cortes de verbas, dificuldades fiscais, contigenciamentos e outros termos igualmente incômodos.

3- As muitas seitas do movimento comunista atuantes nas novas formas de luta de classe introduzidas no país durante as últimas décadas. Buscaram prerrogativas e direitos especiais e os querem proteger de um presidente que sempre se opôs a isso.

4 – A visão de mundo que domina as posições do STF. A expressão “visão de mundo” aparece repetidas vezes nas manifestações de muitos senhores ministros. Eles consideram que el color del cristal con que miran é o único certo. Nenhum deles é conservador ou liberal. Sua manifesta visão de mundo torna-se, pelo poder que detêm, um dos maiores problemas do país.

5 – O aparelhamento político do Estado. Sucessivos governos de esquerda permitiram um generalizado, profundo e manhoso aparelhamento da burocracia nacional. Essa máquina, que inclui toda a Administração, penetrada pela influência política ao longo de décadas, usa contra o governo, à exaustão, os instrumentos públicos de que dispõe.

6 – Os partidos de esquerda com atuação no Congresso Nacional, a saber: PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB e Rede e o Clube dos Corruptos. O grupo não tem representação parlamentar suficiente para parar o governo, mas tem votos e prerrogativas regimentais para atrapalhá-lo. Em muitos casos, partidos de esquerda agem em parceria com o Centrão e com parte da direita no Clube dos Corruptos, dedicados a legislar em causa própria, chantagear o governo e extorquir o Erário. Com raras exceções, são inimigos da Lava Jato e da Lava Toga.

7 – O jornalismo militante que, de modo individual ou coletivo, com determinação editorial ou não, faz do combate ao governo o eixo de sua atividade cotidiana. De momento, está em grupos da mídia o principal agente opositor, substituindo os partidos, aos quais falta credibilidade para a tarefa.

8 – A miríade de organismos que orbitam e parasitam a esquerda e a ela, direta ou indiretamente prestam serviço. Refiro-me, entre outros, à OAB, à CNBB e suas pastorais, aos sindicatos e suas centrais.

9 – O movimento comunista internacional. É ativa e vigorosa a solidariedade que entretêm com seus parceiros daqui, através de instituições e organizações, periódicos e, em especial, de entidades que, muito seletivamente, atuam no campo dos direitos humanos. Passam longe de Cuba, Venezuela e Nicarágua e vêm cá contar o número de bandidos mortos em confronto com a polícia.

10- O ambiente cultural e acadêmico. Ambos perderam poder, receita, e olham o futuro com insegurança. Sempre foram bem sucedidos e bem remunerados agentes da hegemonia esquerdista.

Diante desse cenário podemos, em contrapartida, construir a lista dos apoiadores, que incluirá, certamente, setores do empresariado, Igrejas Evangélicas, o governo norte-americano e cidadãos de pensamento liberal e/ou conservador que foram eleitores de Bolsonaro em 2018, tendo feito, então, uma opção por mudança. É contra tal segmento demográfico, numeroso e disperso que se voltam, igualmente, os ataques dos inimigos do governo. Nas últimas semanas não tem faltado articulistas, colunistas e comentaristas disparando contra esses cidadãos, visando a seu constrangimento.

Deles se diz serem agentes de um apoio cego, irracional e acrítico. Em outras palavras, se você não preserva sua isenção no cume de um rochedo inatingível como mosteiro medieval, você é um idiota robotizado. Noutra leitura dos mesmos fatos, deve-se presumir que quem ataca o Presidente e seu governo faz uma oposição lúcida, iluminada e iluminista, sincera e veraz, sublime nas intenções e nos métodos.

A ideia desses movimentos táticos é impor a retração da base popular de apoio ao governo. Usam com esse intuito uma falsa coerção moral, uma fake reason que desconhece a natureza da política. Se prosperasse a ideia, o governo e seu Presidente, em meio a tanto chumbo grosso, perderiam sua mais consistente sustentação política. Não é hora de soltar a ponta da corda. É hora de redobrar energias. O Brasil está sendo atacado e precisa.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.



 

Percival Puggina

16/09/2019

 A celeuma suscitada pela declaração do vereador filho do Presidente é um dos mais claros exemplos de o quanto pode ser inventiva e excitante a atividade nos laboratórios de manipulação em que se transformaram alguns veículos da imprensa brasileira. São entes estratégicos do velho “mecanismo”.

 Neles, os fatos são escaneados, sempre, na perspectiva do dano que possam causar ao governo, conduta que inclui o descarte de quaisquer boas notícias ou matérias que possam fortalecê-lo. Para os manipuladores desse laboratório, com suas luvas descartáveis, pipetas e retortas, a notícia é destilada como lhes convém. Por exemplo: afirmam com ar sério, que as instituições nacionais funcionam às mil maravilhas; o Congresso Nacional é apresentado como voz do povo e voz de Deus; o Supremo Tribunal Federal, por sua vez, como um Olimpo regenerado, onde os deuses abandonam os vícios e apenas as virtudes são preservadas. Já ao Executivo, cada dia sua dose de veneno.

Quero deixar claro que não conheço o tal vereador e nada sei de sua biografia. Votei no pai dele e defendo o governo porque vejo o bem que faz e o mal que impede seja feito. Conheço seus inimigos e identifico o trabalho dos laboratórios de manipulação da informação (basta olhar a vitrina).

A frase que o vereador fez sobre democracia e velocidade foi muito mal redigida. No entanto, sequer com má redação se presta às interpretações que os laboratórios de manipulação quiseram impor à leitura de sua clientela. Bem ao contrário, tais interpretações evidenciam que, mesmo escrevendo mal, o autor da frase é muito mais sensível do que seus detratores à natureza política do problema que abordou. “Sorry periferia!”, como diria o saudoso Ibrahim Sued; o vereador carioca entende muito melhor o problema institucional e político brasileiro do que vocês.

Ele captou nas redes sociais o mesmo desalento nacional que venho observando e ao qual tenho me referido em sucessivos artigos e vídeos dos últimos meses. Em sua postagem, afirma uma obviedade gritante: na democracia, especialmente no nosso modelo, as mudanças acontecem em very slow motion. O episódio democrático eleitoral pode promover (como aconteceu no ano passado), um giro de 180 graus em apenas nove horas de votação, mas correspondentes câmbios na vida social, política e econômica se arrastarão ao longo dos anos. Ou não? É importante que todos tenham consciência disso para evitar o desalento cívico e inquietudes não democráticas.

Qual a celeridade esperável de um Congresso que se reúne três dias por semana e onde funcionam as obstruções, os longos prazos, as faltas de quórum? Como serem ágeis as mudanças quando a oposição, a toda hora, apela às interferências do STF?

Quem mais me espanta, como observador, são os juristas chamados às falas sobre o assunto. Fazem fila. E são unânimes em ignorar o caráter disfuncional de nossas instituições! Chegam ao absurdo de erguê-las ao nível da perfeição, mesmo quando basta não ser idiota para ver o quanto elas sempre se prestaram e se prestam a todo tipo de chantagem e extorsão. Objetivo sistemático e sistêmico: realizar aquilo que vem sendo rotulado nos laboratórios de manipulação como “interlocução” entre os poderes. Haja realismo cínico! Em que país vivem e que livros andaram lendo os jornalistas e os doutos entrevistados da Globo ao longo destes dias? Não sabem eles o quanto é suja a ficha desse modelo institucional, o quanto da corrupção a ele é devida? Ignoram o quanto nosso sistema eleitoral patrocina e é patrocinado pelo oneroso corporativismo? Ora, por favor, tenham dó da Nação! Parem de atrapalhar e comecem a ajudar o país. Trabalhem com pautas reais!

Tudo que maldosamente foi “presumido”, “intuído”, “inferido” da frase do vereador o foi para atingir o governo. Atribuíram-lhe o que não disse. Ocultaram, no laboratório de manipulação, outra verdade que enunciou: “a roda segue girando em torno do próprio eixo”. Na mosca! Com efeito, a regra do jogo político determina o comportamento dos agentes políticos. A democracia brasileira se arrastará em ritmo antagônico ao desejado pela sociedade enquanto continuarmos esperando que as coisas “se mudem”, mantendo o hábito segundo o qual “está tudo errado, mas não mexe”. A democracia brasileira funciona mal e poderia funcionar muito melhor. Nosso modelo institucional, ao operar, faz exatamente isso que vemos. Desconhecê-lo, repito, é idiotia. Afirmar que a frase expressa uma opção por ditadura é enorme desonestidade intelectual.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

14/09/2019

 

 Há quem, diante dos problemas do país, intimado a reagir, proclame como sublimando sua cidadania: “Faço mais nada, cansei”. A energia cívica durou até a eleição? Não resiste o enfrentamento com a oposição? Subestimava, tanto assim, os interesses contrariados?

Os corruptos e os corruptores, os que contam bandidos mortos e não contam suas vítimas, os jornalistas a serviço “da causa”, os “intelectuais” cuja fonte secou, os professores de narrativas ensaiadas, os abortistas e ideólogos de gênero não cansaram, não chutaram o balde e não mudaram de vida. Jamais!

A política, principalmente numa democracia instável como a nossa, não é um jogo que se assiste. É um jogo que se joga! Não faz sentido à cidadania ser exercida da arquibancada, entre os bocejos dos entediados. Não cabem, não hoje, não agora, neutralidades de observador forasteiro, sem interesse no resultado do jogo, sem conhecimento de que há um campeonato cujo resultado impactará a vida de todos. Esse tipo de alheamento, sim, cansa!

Muitos brasileiros, com razão, perderam a confiança nas instituições, notadamente em relação ao Congresso Nacional e ao STF. O compadrio tem sido evidente. Uma mão lava a outra; ambas, porém, não lavam a imagem refletida no espelho. Simultaneamente, poderosos setores da imprensa, para os quais “anormal” é o Presidente, buscam aparentar normalidade institucional mesmo quando o Congresso vota uma lei que vai inibir a persecução criminal, ou aumentar verbas partidárias, ou perdoar multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Até o velho realismo cínico do “é dando que se recebe”, graças ao qual centenas de parlamentares condicionam seus votos a favores oficiais, recebeu um polimento midiático e passou a ser demandado como desejável e normal “capacidade de interlocução”. Não! Isso é um escândalo. E note-se bem: na avaliação desse tipo de conduta, não se sonegue a informação de que nosso sistema de governo é ficha suja e, como tal, concede vantagem a quem dele se vale para tais práticas.

Estou convencido de que, hoje, nenhuma atitude política é mais relevante do que dar força a grupos parlamentares que se articulam para um upgrade nos padrões de conduta do Congresso Nacional. Refiro-me de modo especial ao Muda Senado, cujos atuais 21 membros organizam-se para forçar a Casa e, especialmente seu presidente, Davi Alcolumbre, a cumprir seus deveres democráticos e regimentais. Só o Senado tem o poder de reagir à ditadura do STF, seus desmandos, sua abusiva interferência na vida nacional, sua acintosa irreverência aos valores cultivados pelas famílias brasileiras e julgar a suspeitíssima conduta de alguns de seus membros, tantas vezes denunciados perante os silenciosos arquivos do nosso Senado.

O Muda Senado agendou grande mobilização popular para Brasília, no próximo dia 25 de setembro. Tão importante quanto o comparecimento de quantos possam é a pressão dos cidadãos sobre os senadores que desejam a eterna inviolabilidade dos arquivos onde Eunício de Oliveira, Renan Calheiros e Davi Alcolumbre têm sepultado todas as acusações formuladas contra ministros do STF. Têm explicações a dar aos eleitores de seus Estados. Querem eles que o Senado continue exatamente como está? Omisso? Escorando esse STF? Têm companheiros a proteger na Suprema Corte? São coniventes com a ditadura do Judiciário? Com a palavra os outros 60 senadores e seus eleitores.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

12/09/2019

 

 Em plena Semana da Pátria (05/09) os brasileiros foram agraciados com um artigo de Luiz Fernando Veríssimo cujo destaque vem do instigante título “É Guerra”. Ao lê-lo – a imaginação nos proporciona tais deleites – visualizei o cacique Veríssimo, vestindo tanga de penas, rosto tisnado em vermelho e preto, de jenipapo com fuligem e urucum, preparado para o combate. Aparentemente ao menos, na opinião do belicoso cronista, o Brasil tomado pela bandidagem no longo reinado petista era um paraíso de amor e paz que está sendo arrasado pelos “morteiros verbais” de Jair Bolsonaro.

Bom humorista, que fica engraçadíssimo quando escreve sério, Veríssimo não deixa dúvidas sobre suas intenções, nem sobre a necessidade de arregimentar tribos. É aos estudantes, então, que soa seu tambor. É aos eternos manipulados do partidão. Há tanto tempo transformaram a UNE em embaixada do comunismo mundial que Fidel Castro – pasmem – é seu patrono. Por que a eles? Porque para a dança de bate-pés do cronista gaúcho, os brilhantes estudantes brasileiros irão emburrecer com os cortes de verbas introduzidos pelo governo federal por demanda da tragédia econômica que a irresponsabilidade fiscal e a corrupção causaram ao país.

E vai em frente conclamando à luta: “Temos de esquecer nossas diferenças e nos concentrarmos nessa verdade nua e crua: que isso não é um país, isso é uma zona de guerra. E eles atiraram primeiro.” Na sequência, afirma, na contramão de todas as evidências, que o sistema educacional é o primeiro sacrificado “com ataque frontal à inteligência” onde quer que “o mercado derrote o bom senso” (deve vir daí o atraso de todos os países capitalistas e a prosperidade dos comunistas). Quanta superficialidade é necessária para produzir tal manipulação? E como é bela a liberdade que nos permite conhecer os lados mais escuros do pensamento alheio, sempre impedido de manifestação nos regimes que tanto agradam a L.F. Veríssimo!

Por falar em recantos escuros, sob o título “Sol negro no céu da Pátria”, Mário Sérgio Conti publicou (na Folha, claro), um artigo no próprio 7 de setembro, em que o grito de guerra de Veríssimo ganha contornos tétricos. Definitivamente, Mario Sérgio não consegue ser engraçado. Aliás, não consegue sequer articular um sorriso que se tome como legítimo. O artigo começa citando Benjamin Kunkel, um novelista norte-americano que migrou da literatura para a economia marxista. No trecho escolhido a dedo pelo colunista da Folha, Kunkel, com candura tipicamente leninista, lastima não haver, a facada desferida em Bolsonaro, concluído sua tarefa assassina. Afinal, a escolha seria entre o pulmão de Bolsonaro e o pulmão do planeta. 

Tudo errado, impreciso e superficial, mas o intuito belicoso, tétrico, é escandalosamente explícito.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

09/09/2019


 Há anos venho apontando a deformidade que, aos poucos, foi atribuindo ao STF o atual aspecto suspeito e assustador. Ele perturba a nação, infunde sentimentos de revolta e já nem tenta dissimular seu viés totalitário. Essa deformidade levou ao que se lerá nas linhas a seguir: uma verdadeira repulsa aos padrões morais da sociedade.

 Não há, entre nossos ministros, um único conservador e um único liberal. Tamanha exclusão da divergência só vamos encontrar em tribunais constitucionais de países como Cuba, Venezuela e Coreia do Norte.

O prefeito do Rio de Janeiro mandou recolher a publicação de uma história de super-heróis destinada ao público infantil, na qual se insere um “beijo gay” entre os personagens. O autor do texto certamente considera esse conteúdo indispensável à narrativa. Afinal, parece que nenhum herói será suficientemente heróico e valente se não arrostar tais situações.

Seguiu-se uma série de marchas e contramarchas judiciais até que o assunto, numa velocidade que nem os advogados de Lula conseguiriam superar, foi bater no STF. A casa das grandes decisões nacionais não poderia ficar fora dessa. Parem as máquinas! Suspendam as audiências! Há um beijo gay a ser escrutinado à luz da “Carta Cidadã de Ulysses”. Dias Tóffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello vieram às falas, ouriçados em sua sensibilidade progressista. Naquela Corte, paradoxalmente, ninguém é mais “progressista” do que o decano, que saiu verberando: “Mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade distópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República!!!".

Curiosamente, é bem o que a sociedade pensa dele e de seus pares quando os vê empenhados em corrigir e reitorar as opiniões dos demais cidadãos.

Segundo Dias Toffoli, o ECA obriga o uso de advertência sobre o conteúdo quando ele envolve coisas como "bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições”. E acrescentou que os materiais destinados a crianças e adolescentes devem “respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família”. A imagem de dois homens se beijando não se enquadraria, segundo ele, em qualquer desses conceitos. Dito assim, claro que não. Contudo, criança, até segunda ordem, é uma pessoa, uma pessoa muito especial. E a preservação de sua inocência é um desses “valores éticos e sociais” de que fala a Constituição. Em que momento deixou de ser ? Quando trocamos a inocência das crianças pela retórica pretensiosa de Celso de Mello?

Doravante, qualquer conteúdo homossexual, mesmo que exclusivamente homossexual, fica liberado para venda ao público infantil, com o vigor e o atrativo dos super-heróis e dos superbandidos, e com as bênçãos do STF. Criatividade não faltará para quem quiser forçar ainda mais a barra.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

06/09/2019

 

 Vai passando batida mais uma Semana da Pátria. São poucas, fora dos círculos militares, as manifestações de celebração a esse marco temporal de nossa nacionalidade. Mas não escrevo para pedir que as pessoas, que os lares e que as vitrinas se enfeitem de verde e amarelo. O objetivo deste texto é bem diferente. É um apelo aos brasileiros, de modo especial aos que amam a pátria e se sentem responsáveis por ela.

Escrevo para muitos, portanto. Aproveitemos esta semana para refletir sobre o que tantos conterrâneos continuam a fazer. Por vocação e gosto desejam prosseguir na faina que acabou por transformar o Brasil numa casa de tolerância, desavergonhada como raras vezes se viu igual. Uma casa de tolerância tão avessa à ordem que não se perturba com vê-la entregue aos criminosos. Que conta bandidos mortos e não conta policiais perdidos em combate. Que fala mal do Brasil para o mundo e faz palco a todo estrangeiro que venha fazer o mesmo aqui dentro. Casa de tolerância que aplaudia e hoje reverencia o gangsterismo político e o crime que por tanto tempo operou nos altos andares da República. Casa de tolerância de um banditismo deslavado e sorridente, de uma elite rastaquera e debochada, que conta dinheiro e votos como se fossem a mesma coisa. E festeja toda impunidade.

Já não lhes basta a própria corrupção. Dedicam-se, há bom tempo, à tarefa de corromper, aos milhões, o próprio povo, desde as mentes infantis. São milhões e milhões que já não se repugnam, que desconhecem constrangimento, que não reclamam e, pior, se proclamam devotos. Aplaudem.

Não é apenas no plano da política que a nação foi sendo abusada e corrompida. Também nos costumes, no desprezo à ética, à verdade e aos valores perenes. No pior dos sentidos, foi arrastada nesse rumo uma nação debilitada pela pobreza. Incitaram o conflito racial em um povo mestiço desde os primórdios. À medida que Deus foi sendo expulso, à base de interditos judiciais e galhofas sociais, instalou-se, no Brasil, a soberania do outro.

Recebemos de Deus e da História um país esplêndido. No lugar onde hoje emergimos de qualquer mergulho nos acontecimentos das últimas décadas é impossível não perceber que às ações de agora correspondem reações contrárias, empurrando-nos precisamente para os embaraços dos quais quisemos sair e saímos.

Nosso dever cívico não tem data nem prazo de validade. São tempos para não esmorecer, tempos para que não tombem nossos braços nem nos falte o indispensável alento para o convívio livre e democrático com a divergência, conhecendo os valores que abraçamos e confirmando, sempre, nossa confiança nos frutos da verdade, da dignidade e da liberdade.

Feliz Semana da Pátria, de uma pátria mais feliz consigo mesma!


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

02/09/2019

 

 O atraso grita no silêncio, fala aos olhos e expressa escolhas. Há muitos anos o Brasil, por avenidas tão largas quanto indiretas, vem optando pelo atraso.

 A história dá vida aos nossos equívocos. Tem sido sistematicamente audível a opção preferencial dos brasileiros por uma ideologia que fala enternecida sobre os pobres e os produz em proporções demográficas. Por isso, com aquelas inexpugnáveis certezas que a análise marxista estabelece, politizamos todo o ambiente cultural. Impuseram-nos associações mentais entre o privado e a ganância, entre o público e a solicitude, entre igualdade e justiça. E disso redundou uma inexcedível fé no Estado. Reverenciamos quem pretende acabar com a pobreza mediante farta conversa fiada e tal discurso eleva o orador a um padrão moral superior. Quantas vezes, falando entre pessoas esclarecidas, percebi entranhado nelas o conceito de que o igualitarismo seria um desejável horizonte para a organização social!

 Durante décadas me incluí entre os raros autores brasileiros a combater aquelas ideias. Tempos em que “liberal” e “conservador” eram xingamentos. Tempos em que ser “de direita” definia um tipo marginal da política. Roberto Campos estava errado. Meira Penna estava errado. Leonardo Boff e João Pedro Stédile estavam certos. Sobre isso nascia e crescia o ruído. Mas o atraso vinha de arrasto, silencioso.

 É hora de abrir as janelas! Observem as economias desenvolvidas e as que saíram do atraso e cresceram mediante opções pela prosperidade, pelas potencialidades de seu próprio povo. E nós, país onde a pobreza parece ser objetivo e a riqueza um mal dispensável e desprezível, ostentamos um Índice de Desenvolvimento Humano que nos coloca em 79º lugar entre os povos da terra. Nosso índice de liberdade econômica nos guarda a posição 153 entre 180 países.

Sobre o silêncio do atraso, dá vontade de gritar o nome de Irineu Evangelista de Souza, nosso Barão de Mauá, o maior empreendedor de nossa história. Defensor do liberalismo econômico, empregava operários, combatia a escravidão, construía as próprias ferrovias e hidrovias, criou indústrias e empreendimentos comerciais em vários países, abriu o próprio banco e alcançou tamanha fortuna que o balanço de suas empresas se tornou muito maior do que o orçamento do Império. Fez-se o silêncio sobre o que sobreveio às pressões que o destruíram.

As últimas décadas adubaram o atraso. As ideias de liberdade foram sistematicamente sepultadas em favor de um Estado de porte crescente. Teoricamente, na Constituinte de 1988, o Brasil comprou o projeto de sair da pobreza mediante a constitucionalização de um Estado de Bem Estar Social. Sim, fizemos isso! Para sustentá-lo instituíram-se novos impostos, tomando dinheiro da sociedade, que ficou mais pobre e, na sequência, crescentemente endividada através do Estado. Como é que não o previmos?

O atraso é silencioso. A ruptura com a tradição, também. A burrice, contudo, é estridente. Vivemos dias decisivos. São grandes as possibilidades de recuperarmos as liberdades que perdemos para o Estado e de buscar os valores morais que, tombados no caminho, nos tornaram ridiculamente liberais em tudo que não convém, na servidão do politicamente correto.

Finalmente, creio, o atraso se faz ouvir.


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

30/08/2019

 

 Esse tango em que Política e Direito trançam pernas pode acabar em tombo e fratura de quadril. Infelizmente, La Cumparsita (a palavra é um diminutivo de “cumparsa”) é a mais demandada no bailão onde se apequenam as cúpulas dos Poderes Legislativo e Judiciário brasileiro. As palavras de Romero Jucá ecoam, ainda hoje, nos corredores e gabinetes pelos quais poderosos e influentes transitam com desenvoltura. “É preciso acabar com essa sangria” disse Jucá, no famoso diálogo gravado que manteve com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, a respeito da Lava Jato.

A operação caíra em mãos de uma força tarefa dedicada, operosa e destemida. Tiraram o Código Penal da gaveta e trouxeram para cima da mesa. Imperdoável audácia aplicar o que ali está escrito a quem dança La Cumparsita ante os olhos da convalescente nação. O sempre indignado Gilmar Mendes lançou contra a força tarefa todos os adjetivos que a nação disparava contra ele mesmo. Espelhos falam.

Mais uma vez, a lâmina deixa a bainha. É a sangueira para acabar com a sangria. É preciso matar a Lava Jato. Quem vai se prestar para isso? Como a lâmina de Adélio, previsíveis dedos se erguem em prontidão. O caminho encontrado corresponde àquilo que lá em Santana do Livramento se chama “ninho de égua”, ou seja, algo que não existe, mas pode ser encontrado e usado, contanto que apareça alguém suficientemente crédulo para comprar. Durante o julgamento de um processo de habeas corpus, decidiram, ouvida a parte, criar mais um torvelinho na maçaroca processual penal brasileira. Nova ponte levadiça entre o crime e a pena. E mais uma larga margem de tempo para o ansiado tique taque da prescrição geral e irrestrita. Carnaval de inverno para a corrupção. Festa no mundo do crime! Congrats! Tim-tim!

Impossível não lembrar as palavras de despedida de Joaquim Barbosa no dia em que oito réus do mensalão foram absolvidos do crime de formação de quadrilha. Embora o próprio STF, durante o julgamento, tenha dividido o mecanismo em três núcleos – o político-partidário, o operacional-financeiro e o empresarial – a Corte, na undécima hora, decidiu que aquela roubalheira toda viveu de impulsos endógenos, perdições individuais, não tendo havido ali quadrilha alguma. Disse então o ministro, exagerando nos pronomes: "Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora. (...) Essa maioria de circunstância foi formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012".

Há quase cinco anos, pondo em risco a própria segurança, no turbilhão da maior investigação criminal da história do país, a força-tarefa da Lava Jato combate os poderes das trevas que atuam no topo da nossa ordem política, econômica e judiciária. Contrariam interesses hegemônicos. Seus investigados têm, ao estalo dos dedos, todo o dinheiro de que possam necessitar para quanto lhes convenha e todas as facilidades para agir fora e acima da lei.

A força-tarefa ouviu centenas de testemunhas. Corruptos e corruptores faziam fila para confessar crimes e informar o que sabiam. Empilhou dezenas de milhares de provas, relatórios e documentos. A repetição das fórmulas evidenciou rotinas consolidadas ao longo dos anos. Os crimes eram admitidos pelos beneficiários, pelos autores e por seus operadores. Bilhões de reais foram devolvidos e reavidos.

Agora, tocam La Cumparsita... Como é patético perceber aqueles cavalheiros e damas do direito pelo avesso, costas voltadas à nação, indignarem-se ante a ojeriza social, cercearem as liberdades de opinião, enquanto abrem alas para o festivo baile da corrupção e da impunidade. E pretendem nos ensinar que são a Justiça, a Lei e o Direito, em seu esplendor. Me poupem.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

28/08/2019

 Não. Ele nem sabe que eu existo. Mas mexeu com ele, mexeu comigo. E vale o mesmo para o juiz Sérgio Moro e para a Lava Jato como um todo.

O trabalho de combate à corrupção desenvolvido por todos os que participaram e participam da força tarefa tem um valor capaz de garantir nome de rua e monumento na praça. A Lava Jato, graças ao trabalho de seus procuradores, dos policiais federais, do juiz Moro e seus sucessores representa o mais extraordinário salto ético no ambiente judicial, político e nas relações de poder no Brasil.

Agiram com plena consciência dos riscos a que se expunham. Sabiam que as condenações, as prisões, os aplausos que recebiam e recebem da sociedade brasileira fariam desabar sobre eles ciúmes cômicos e iras cósmicas daqueles a quem falta brio e brilho. Não se toma dinheiro de organizações criminosas sem pagar por isso. No submundo do crime, coisas assim acabam em saco plástico na cabeça e esquartejamento. No grande mundo do crime, as estratégias não são mais brandas: a vítima vai ser despedaçada por outros modos, jogarão um saco plástico sobre sua voz, cuidarão de desfazer seus feitos e atacarão o que mais apreço lhe merece: seu patrimônio moral, sua família e assim por diante. Na ribalta da comunicação social não faltam gangsteres para executar esse trabalho sujo.

Também no mundo trevoso das instituições nacionais há quem se deslumbre com argumento de bandido. Há quem fique indignado quando algum juiz destemido condena frequentadores dos grandes salões, e mais ainda quando audaciosa ordem de prisão é expedida.

          Faz sofrer, como brasileiro, a consciência de que heróis nacionais estão sendo atacados por personagens que entrarão para a história como pombos de estátua. Aparecerão nas fotos sujando os homenageados.

Como são pequenas essas almas que se contorcem em sentimentos tão vis quanto inveja e ciúme. Por mais rebuscada que seja a retórica, ela não oculta a expressão das faces.

Incomoda-me, então, a sensação de que Deltan Dallagnol está ficando ao relento. Isso é inaceitável. Não, Deltan não é meu amigo, mas mexeu com ele, mexeu comigo.


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.