• Percival Puggina
  • 16/09/2019
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LOUCURA PURA NOS LABORATÓRIOS DE MANIPULAÇÃO

 A celeuma suscitada pela declaração do vereador filho do Presidente é um dos mais claros exemplos de o quanto pode ser inventiva e excitante a atividade nos laboratórios de manipulação em que se transformaram alguns veículos da imprensa brasileira. São entes estratégicos do velho “mecanismo”.

 Neles, os fatos são escaneados, sempre, na perspectiva do dano que possam causar ao governo, conduta que inclui o descarte de quaisquer boas notícias ou matérias que possam fortalecê-lo. Para os manipuladores desse laboratório, com suas luvas descartáveis, pipetas e retortas, a notícia é destilada como lhes convém. Por exemplo: afirmam com ar sério, que as instituições nacionais funcionam às mil maravilhas; o Congresso Nacional é apresentado como voz do povo e voz de Deus; o Supremo Tribunal Federal, por sua vez, como um Olimpo regenerado, onde os deuses abandonam os vícios e apenas as virtudes são preservadas. Já ao Executivo, cada dia sua dose de veneno.

Quero deixar claro que não conheço o tal vereador e nada sei de sua biografia. Votei no pai dele e defendo o governo porque vejo o bem que faz e o mal que impede seja feito. Conheço seus inimigos e identifico o trabalho dos laboratórios de manipulação da informação (basta olhar a vitrina).

A frase que o vereador fez sobre democracia e velocidade foi muito mal redigida. No entanto, sequer com má redação se presta às interpretações que os laboratórios de manipulação quiseram impor à leitura de sua clientela. Bem ao contrário, tais interpretações evidenciam que, mesmo escrevendo mal, o autor da frase é muito mais sensível do que seus detratores à natureza política do problema que abordou. “Sorry periferia!”, como diria o saudoso Ibrahim Sued; o vereador carioca entende muito melhor o problema institucional e político brasileiro do que vocês.

Ele captou nas redes sociais o mesmo desalento nacional que venho observando e ao qual tenho me referido em sucessivos artigos e vídeos dos últimos meses. Em sua postagem, afirma uma obviedade gritante: na democracia, especialmente no nosso modelo, as mudanças acontecem em very slow motion. O episódio democrático eleitoral pode promover (como aconteceu no ano passado), um giro de 180 graus em apenas nove horas de votação, mas correspondentes câmbios na vida social, política e econômica se arrastarão ao longo dos anos. Ou não? É importante que todos tenham consciência disso para evitar o desalento cívico e inquietudes não democráticas.

Qual a celeridade esperável de um Congresso que se reúne três dias por semana e onde funcionam as obstruções, os longos prazos, as faltas de quórum? Como serem ágeis as mudanças quando a oposição, a toda hora, apela às interferências do STF?

Quem mais me espanta, como observador, são os juristas chamados às falas sobre o assunto. Fazem fila. E são unânimes em ignorar o caráter disfuncional de nossas instituições! Chegam ao absurdo de erguê-las ao nível da perfeição, mesmo quando basta não ser idiota para ver o quanto elas sempre se prestaram e se prestam a todo tipo de chantagem e extorsão. Objetivo sistemático e sistêmico: realizar aquilo que vem sendo rotulado nos laboratórios de manipulação como “interlocução” entre os poderes. Haja realismo cínico! Em que país vivem e que livros andaram lendo os jornalistas e os doutos entrevistados da Globo ao longo destes dias? Não sabem eles o quanto é suja a ficha desse modelo institucional, o quanto da corrupção a ele é devida? Ignoram o quanto nosso sistema eleitoral patrocina e é patrocinado pelo oneroso corporativismo? Ora, por favor, tenham dó da Nação! Parem de atrapalhar e comecem a ajudar o país. Trabalhem com pautas reais!

Tudo que maldosamente foi “presumido”, “intuído”, “inferido” da frase do vereador o foi para atingir o governo. Atribuíram-lhe o que não disse. Ocultaram, no laboratório de manipulação, outra verdade que enunciou: “a roda segue girando em torno do próprio eixo”. Na mosca! Com efeito, a regra do jogo político determina o comportamento dos agentes políticos. A democracia brasileira se arrastará em ritmo antagônico ao desejado pela sociedade enquanto continuarmos esperando que as coisas “se mudem”, mantendo o hábito segundo o qual “está tudo errado, mas não mexe”. A democracia brasileira funciona mal e poderia funcionar muito melhor. Nosso modelo institucional, ao operar, faz exatamente isso que vemos. Desconhecê-lo, repito, é idiotia. Afirmar que a frase expressa uma opção por ditadura é enorme desonestidade intelectual.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 


Décio Antônio Damin -   19/09/2019 17:42:17

Se ele fosse um pouquinho mais inteligente, e sabendo que seriam distorcidas as suas palavras, não as teria proferido! Houve a distorção, é claro, mas das palavras dele! Tu, Puggina, na posição dele, tenho certeza, jamais as terias dito!!

Dalton Catunda Rocha -   19/09/2019 17:22:14

O Regime Militar prestou grandes serviços ao Brasil. Dois deles foram: tranquilidade política e, imensos investimentos em infraestrutura. Durante o Regime Militar, entre março de 1964 e março de 1985, a produção brasileira de petróleo cresceu mais de 8 vezes. A capacidade de refino de petróleo multiplicou-se mais de 12 vezes. A produção de soja aumentou mais de 60 vezes. Além disto: extinguiu-se a varíola, decuplicou-se o número de vagas em escolas públicas, universalizou-se a previdência social, multiplicou-se a produção de eletricidade mais de dez vezes, multiplicou-se a produção de soja mais de sessenta vezes, etc. Tudo correu bem, até o final do governo Médici, em março de 1974. Só que sob Geisel, os árabes aumentaram os preços do petróleo de US$3 o barril, em 1972, para mais de US$12 o barril, em 1974. E passou de US$34 o barril, de 1979 em diante. O Brasil que tinha dívida externa líquida de US$6 bilhões, em janeiro de 1974, passou a dever mais de US$90 bilhões, em janeiro de 1983. A inflação estava em cerca de 10% ao mês, de 1982 em diante e o desemprego era alto. A partir daí a queda do Regime Militar tornou-se inevitável. A isto se deve acrescentar, o caráter incompetente do mulherengo e último general-presidente, João Figueiredo, que semanas antes de sair do governo, deu uma entrevista à televisão, pedindo que o povo o esquecesse. Como disse o filho de Médici, Roberto Nogueira Médici: “Figueiredo devia ter comandado uma retirada ordenada, mas ele comandou uma rendição incondicional. ” Veja o que capa da revista Veja falava sobre o Lula, em outubro de 2002: ( http://1.bp.blogspot.com/-F1Uts6QtrVE/VFTozphh_8I/AAAAAAAAUNQ/Eh20xg0oCZs/s1600/revista-veja-edico-historica-lula-5710-MLB4989929171_092013-F.jpg ) Agora, eu lhe peço que veja uma capa da revista Veja, em 2017, mas desta vez, sobre Jair Bolsonaro:( https://pbs.twimg.com/media/DLiM4XiUIAAvY-k.jpg ) Sobre a morte do estudante Edison Luís, em 1968 e demais coisas, que veja o site: ( http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=15225&cat=Artigos

Menelau Santos -   18/09/2019 11:16:40

Parece que o brasileiro não gosta muito da verdade. Encontraremos outros exemplos em nossa história recente, a do Pelé do "brasileiro não sabe votar" e a do Mario Amato, "somos todos corruptos!", e por ai vai.

Romeu Claudio Carneiro Soares -   18/09/2019 10:34:12

Ontem, dia 17/09, o JN veiculou uma matéria sabe-se lá com qual intenção elogiando a atuação da Vale na mineração em Carajás como exemplo de sustentabilidade e coisa e tal. Uma perfeição. Mas que na câmara dos deputados tramita uma matéria sobre a questão há 23 anos caso já estivesse aprovada a situação da mineração (legal e ilegal ) seria outra bem melhor. É só um exemplo da morosidade da "democracia".

Odilon Rocha -   17/09/2019 14:47:40

Caro Professor Radiografia exata e precisa das "interpretações" podres e pestilentas desses inimigos do país. Cérebros infestados cujo odor nem creolina tira.

Luiz R. Vilela -   16/09/2019 21:55:00

De tanto ver triunfar as nulidades; De tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. Isto que Rui Barbosa viveu nos tempos do "fio de bigode", imagina-se o que ele diria agora, olhando para este STF, cheio de nulidades, que estão a destruir a democracia. A democracia, é o "império da lei", quando juízes distorcem a legislação com interpretações caolhas, que visam única e exclusivamente beneficiar infratores por sentimento de gratidão, estão na verdade jogando a própria democracia no lixo, e depois reclamam que o povo flerta com o autoritarismo e pede a volta dos militares ao poder. No Brasil do PT, democracia é aprovar todos os projetos do governo no congresso nacional, através de mensalões, petrolões e outras formas corruptas de governar, corroendo o caráter dos tais representantes do povo, jogando a moralidade também no lixo. Daí a pergunta, isto não é uma forma ditatorial de governar? Quem aprova seus projetos na força do dinheiro, difere de quem o faz através das armas? Não seria a mesma coisa? No Brasil de hoje, já se "firmou jurisprudência" de quem não é de esquerda, é fascista, e quem é "Bolsonarista", é nazista. Imagino que o filho do Bolsonaro, deve ter ouvido, lá pelo palácio, do pessoal que o frequenta, que com esta democracia capenga, será difícil ou quem sabe, até impossível se mudar o Brasil, até porque muito dos que poderiam ajudar, na verdade só atrapalham e as leis que deveriam proteger a população, na verdade só protegem os bandidos. Hoje, a imprensa engajada, divulga que em uma entrevista, o encarcerado lula, chama o Sergio Moro, de canalha. Que maravilha de pais democrático, onde um condenado preso, pode dizer o que quiser do juiz que o condenou, sem que haja consequências sérias. Se atualmente for feito uma pesquisa pública, entre a população, sobre a forma de governo que deveria haver no Brasil, os "democratas" ficariam surpresos. Ninguém aceita ser roubado, seja qual for o regime de governo, muito menos, ver os ladrões andando por ai, livres, leves e soltos, e posando de autoridades. O que pensaria Rui Barbosa disto tudo que acontece no Brasil atual.

felipe luiz ribeiro daiello -   16/09/2019 18:25:25

Excelente interpretação da verdade nas palavras ditas para a nossa realidade política.

adão da silva moraes -   16/09/2019 17:18:49

É bem interessante. O Pai (presidente) vive exaltando as qualidades e a importância do filho (vereador). Atribui muito a ele sua vitória eleitoral em 2018. Sendo assim, não há como não dar valia as suas afirmações. Do contrário..., como levar a serio as afirmações paternas...????