• Percival Puggina
  • 02/09/2019
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O SILENCIOSO GRITO DO ATRASO

 

 O atraso grita no silêncio, fala aos olhos e expressa escolhas. Há muitos anos o Brasil, por avenidas tão largas quanto indiretas, vem optando pelo atraso.

 A história dá vida aos nossos equívocos. Tem sido sistematicamente audível a opção preferencial dos brasileiros por uma ideologia que fala enternecida sobre os pobres e os produz em proporções demográficas. Por isso, com aquelas inexpugnáveis certezas que a análise marxista estabelece, politizamos todo o ambiente cultural. Impuseram-nos associações mentais entre o privado e a ganância, entre o público e a solicitude, entre igualdade e justiça. E disso redundou uma inexcedível fé no Estado. Reverenciamos quem pretende acabar com a pobreza mediante farta conversa fiada e tal discurso eleva o orador a um padrão moral superior. Quantas vezes, falando entre pessoas esclarecidas, percebi entranhado nelas o conceito de que o igualitarismo seria um desejável horizonte para a organização social!

 Durante décadas me incluí entre os raros autores brasileiros a combater aquelas ideias. Tempos em que “liberal” e “conservador” eram xingamentos. Tempos em que ser “de direita” definia um tipo marginal da política. Roberto Campos estava errado. Meira Penna estava errado. Leonardo Boff e João Pedro Stédile estavam certos. Sobre isso nascia e crescia o ruído. Mas o atraso vinha de arrasto, silencioso.

 É hora de abrir as janelas! Observem as economias desenvolvidas e as que saíram do atraso e cresceram mediante opções pela prosperidade, pelas potencialidades de seu próprio povo. E nós, país onde a pobreza parece ser objetivo e a riqueza um mal dispensável e desprezível, ostentamos um Índice de Desenvolvimento Humano que nos coloca em 79º lugar entre os povos da terra. Nosso índice de liberdade econômica nos guarda a posição 153 entre 180 países.

Sobre o silêncio do atraso, dá vontade de gritar o nome de Irineu Evangelista de Souza, nosso Barão de Mauá, o maior empreendedor de nossa história. Defensor do liberalismo econômico, empregava operários, combatia a escravidão, construía as próprias ferrovias e hidrovias, criou indústrias e empreendimentos comerciais em vários países, abriu o próprio banco e alcançou tamanha fortuna que o balanço de suas empresas se tornou muito maior do que o orçamento do Império. Fez-se o silêncio sobre o que sobreveio às pressões que o destruíram.

As últimas décadas adubaram o atraso. As ideias de liberdade foram sistematicamente sepultadas em favor de um Estado de porte crescente. Teoricamente, na Constituinte de 1988, o Brasil comprou o projeto de sair da pobreza mediante a constitucionalização de um Estado de Bem Estar Social. Sim, fizemos isso! Para sustentá-lo instituíram-se novos impostos, tomando dinheiro da sociedade, que ficou mais pobre e, na sequência, crescentemente endividada através do Estado. Como é que não o previmos?

O atraso é silencioso. A ruptura com a tradição, também. A burrice, contudo, é estridente. Vivemos dias decisivos. São grandes as possibilidades de recuperarmos as liberdades que perdemos para o Estado e de buscar os valores morais que, tombados no caminho, nos tornaram ridiculamente liberais em tudo que não convém, na servidão do politicamente correto.

Finalmente, creio, o atraso se faz ouvir.


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


Jose Antonio Maluf de Carvlho -   11/09/2019 14:12:50

Mais um texto excelente, claro e lúcido do Professor. Precisa ser intensamente divulgado.

MAURO LEITE -   09/09/2019 20:56:22

Ótimo artigo! Hora de retomarmos o rumo correto do desenvolvimento integral, que só as sociedades abertas conseguem fazer - o resto é "vanguarda do atraso"... O trabalho deste governo deve ser árduo, afinal, uma nova língua "fantástica" e, de sinal inverso à verdade foi implantada "na marra" e, lamentavelmente "fundiu"o cérebro dos menos dotados. No campo econômico vimos que "Na exploração de areia pelo governo no deserto faltou areia" - por incompetência e também por corrupção, sem-vergonhice, tudo misturado com uma ideologia totalitária idiota. E, justiça seja feita, só Bolsonaro poderá mudar aquele discurso cafajeste da esquerda brasileira. E se não aparecer algo melhor até 2022, melhor emplacar ele mesmo, isto é, se for o desejo dele..Um forte abraço P. Puggina, "Templário dos Pampas"...

Luiz R. Vilela -   05/09/2019 12:01:13

Desde que o mundo é mundo, todo ser vivo que deseja preservar sua vida, deve ir buscar onde estiver, a sua nutrição. Deve procura-la, cultiva-la ou cria-la, dependendo do tipo de vida da pessoa, ou ainda trabalhar para auferir renda que proporcione compra-la de alguém que produza. Isto no estado natural das relações entre os indivíduos que compõem uma sociedade, ou seja no sistema do liberalismo econômico, com a devida liberdade a que cada um conduza a sua própria vida. Não se sabe com exatidão o tempo em que o ser humano perambula sobre a terra, mas sabe-se que sempre teve que lutar pela sobrevivência e que em tempos mais recentes, já na era civilizatória, associou-se a outros indivíduos, para formarem clãs, sociedades, cooperativas e outros meios de ajuda mútua, com a finalidade de promover a prosperidade de todos. Já a partir da renascença, começaram a surgir ideias estranhas, como a do alemão Karl Marx, que pregava o igualitarismo, onde os que trabalhavam e tinham alguma coisa, deveriam dividir as sua posses, com aqueles que nada tinham, mesmo que não trabalhassem para adquiri-las. Ai nasceu o socialismo, com uns tendo que por no "monte", mas outros só precisavam pegar e usar. Não precisa dizer que o sistema não funcionou, a metade produtiva questionou, mas a outra metade fez "revoluções" para fazer valer a sua vontade. assim criaram o comunismo, que nada mais é que o roubo a mão armada, das posses de quem trabalhou para tê-las. Quando se fala em capitalismo e se defende este sistema econômico, apenas se procura proteger o "capital", de quem o obteve através do trabalho, exclui-se da forma, capital mal havido, por ter sido roubado, fruto de corrupção e outras ilegalidades, tão corriqueiras cá entre os patrícios brasileiros. Outro detalhe, os sistemas socialistas e comunistas são tão ruins, que o primeiro só se sustenta com vasta distribuição de dinheiro público, já o segundo, só com tirania, brutalidade e com imposição, onde o título de eleitor, é o fuzil. Os que desejam estes regimes, o que querem mesmo é o poder, onde viverão como nababos, serão poderosos, e como dizia um personagem humorístico antigo, " o povo é só um detalhe".

Odilon Rocha -   05/09/2019 00:22:52

Caro Professor Atraso por ignorância, ainda vá. Atraso como esse, o qual o senhor magistralmente colocou, é crime de traição. Foi urdido e arquitetado. "Foi sem querer, querendo", como dizia o personagem de humor da televisão, trapalhão, Chaves.

Pedro M O -   04/09/2019 13:49:23

Grande e católico Percival Pugina. Orgulho-me de sua antiga e comprovada coer^ncia. Quando ainda víamos o Brasil escorrendo a baba do lula pelas barbas do Fidel [com nosso suor e trabalho] você já combatia esses falsos... Levaram-nos à miséria espiritual, moral e financeira. Dus o faça cada vez mais lutador. Rezemos pelo Brasil que é a Terra de Santa Cruz e não merecia esse castigo da esquerda da TLibertação e seus sequazes diabólicos. Adiante Brasil. Vamos recuperar nossa honra e glória para nós e Deus. Coragem Pugina. Rezo por vc.

Vitorio perozzo -   03/09/2019 21:17:23

Parabéns amigo PUGGINA por citar um nome muito pouco lembrado com IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA.Citei este nome a poucos dias lembrando a belíssima palestra que fizes-te do dia do MASSON em CAXIAS DO SUL. O BRASILestá precisando de muitos IRINEUS.É uma pena que a MÍDIA OS EXECRA, mas vamos continuar lutando.O NOSSO BRASIL MERECE.ABRAÇO FRATERNO

FERNANDO A O PRIETO -   03/09/2019 08:39:00

Ótimo e esclarecedor! Mais uma vez (como tantas outras) obrigado. Chega de adorar o deus do "politicamente correto", que não nos permite nem sequer emitir opinião contrária à dos auto-proclamados "bem-pensantes"! É necessário combater o mal, sim, mas este combate começa dentro de nós, contra nossos próprios defeitos, e não contra "os ricos", "os homofóbicos", "os preconceituosos", e outros rótulos cujo objetivo final é dividir a sociedade em duas partes, para facilitar a aceitação do discurso "nós contra eles", que, se levado ao extremo, conduzirá ao domínio total de um grupo sobre os outros... Essas divisões da sociedade, mesmo quando de fato existem (pois muitas vezes são inventadas...) não são determinantes absolutos da conduta na vida, nem permanentes (podemos, por exemplo, pertencer à parte considerada ""boa", segundo um determinado critério, e à parte considerada "errada" segundo outro). Que Deus nos guie para recuperarmos os valores que deixamos de lado, e, principalmente, para vivermos de acordo com eles!

Jean P de Castro -   03/09/2019 01:48:18

Que texto lindo, meu amigo! Que privilégio poder compartilhar dos ensinamentos de tua pena. Deus te conceda vida longa. Tens a vitalidade e o entusiasmo do jovem Caio Copolla, a quem também tanto admiro. Grande abraço.

Menelau Santos -   02/09/2019 21:08:46

Perfeito Professor, a liberdade oferecida por esse sistema, é exatamente a liberdade que nos escraviza. E a liberdade que nos faria prosperar, é exatamente a que nos é negada.

Maritza Prado de Barros -   02/09/2019 19:14:34

“nos tornaram ridiculamente liberais em tudo que não nos convém”. ????????????????????

felipe luiz ribeiro daiello -   02/09/2019 17:29:05

É jogo de xadrez. Precisamos tomar a Torre para pegar o Rei.