Percival Puggina
“Bets” é o novo nome do jogo. Todos sabem que o jogo só enriquece a empresa que o promove. A casa sempre ganha e o apostador, primeiro perde; depois, na tentativa infrutífera de recuperar o que perdeu, se endivida. Mesmo assim, continua jogando porque, em pouco tempo, o corpo do jogador passa a exigir doses crescentes daqueles hormônios que valem mais do que o dinheiro perdido.
Escandalizou-se o governo ao saber que, aos bilhões, a grana do Bolsa Família estava indo para as bets. Aborreceram-se bem menos os meios de comunicação que recebiam afetuosamente o dinheiro dos anúncios. Espantaram-se os defensores da liberdade sem freios. Alarmaram-se os empreendedores, os produtores de bens e serviços que sentiram a queda da demanda por redução de recursos antes disponíveis à subsistência das pessoas.
Quem poderia antever algo tão inusitado quanto seres humanos presumivelmente racionais abrindo mão do alimento pelos prazeres de um vício, não é mesmo? Até parece que nunca viram um dependente químico vender a comida da geladeira e a geladeira para adquirir a dose urgente de uma droga qualquer. Onde foi parar a liberdade? A utopia, sabe-se, é outra droga!
Males existem e evitá-los é conduta sábia. Com muitos, somos obrigados a aprender a conviver porque se arraigaram no ambiente social. Burrice é buscar males que não temos, abrir-lhes as portas, dar-lhes espaços publicitários, entremeá-los com atividades esportivas e esperar que o estrago causado não seja percebido.
O jogo de azar é uma atividade econômica predatória. Drena os recursos que a sociedade produz e que, em mãos prudentes, seriam orientados para seu consumo e bem estar. E o que entrega o jogo aos imprudentes? Emoções enfermiças, desarranjos psicológicos, frustração e miséria.
Nem a vida é um modo de jogar, nem o jogo é um modo de viver. Disse alguém: "Apresenta-me um jogador e eu te apresentarei um perdedor”.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Menelau Santos - 02/10/2024 14:10:44
E as loterias oficiais, que são as bets oficiais, vao acabar também?Ademar Pazzini - 01/10/2024 18:22:00
As “Bets” entendo eu, são a cortina de fumaça da vez, para tirar o foco da pressão para o impedimento de um togado com índole de ditador tirano. Quanto ao vício em jogos, nós humanos jogamos e nos matamos mutuamente há milênios. Hoje mesmo há duas guerras estúpidas totalmente evitáveis ocorrendo, com tendência de piorar muito. Ou seja, continuamos os mesmos trogloditas de sempre.Fabio - 01/10/2024 03:21:15
De fato, embora legais, as bets tem virado um problema social. Porém, como compatibilizar a liberdade individual, inclusive para jogar, com o problema social causado pelo vício no jogo? Será que existe essa possibilidade no campo prático?Afonso Pires Faria - 30/09/2024 11:07:55
"Escandalizou-se o governo"? Espero que esteja sendo irônico professor. É o sonho do atual governo quebrar a economia e imbecilizar o povo.Decio Antonio Damin - 30/09/2024 10:02:32
Brilhante...! É exatamente o que eu, imodestamente, penso...! Espero que a "inconstitucionalidade" desta autorização para as Bets seja determinada pelo Supremo... O que soubemos da dinâmica destas apostas é de nos deixar atônitos , e até desiludidos com a inteligência do "sapiens"1