• Percival Puggina
  • 25/09/2024
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A direita e o voto nas regiões Norte e Nordeste

 

Percival Puggina

 

         Nos últimos anos, parcela expressiva da sociedade brasileira tem atribuído o ativismo e o transbordamento dos poderes do STF e do TSE a uma obstinada e caprichosa omissão do Senado Federal. É sabido que a Constituição estabelece o controle recíproco dos dois poderes (Senado e STF) – um de olho no outro. Só o Senado tem legitimidade constitucional para agir contra excessos do Supremo. Parcela expressiva da opinião pública e muitos senadores experientes entendem que essa reciprocidade tem efeito oposto ao desejado pelos constituintes. Como os senadores preferem não contrariar os ministros que têm o poder de julgá-los, e vice-versa, o mecanismo de “freios e contrapesos” previsto na Constituição perde eficácia.

Há 200 anos, o poder legislativo brasileiro é bicameral, modelo frequente entre países extensos e/ou muito populosos. No Brasil, a Câmara dos Deputados representa o povo em sua diversidade e o Senado representa os estados. Vi muito projeto bom deixar de ser aprovado por divergência entre Senado e Câmara. E vi muito projeto inconveniente morrer na praia de uma das Casas por discordância com a outra. A simplificação do sistema, com adoção do legislativo unicameral, seria uma das ideias mais inviáveis que alguém poderia apresentar. Afinal, nenhum político ou partido teria interesse em cerrar as portas do ambicionado paraíso senatorial, com suas regalias usufruídas em confortáveis mandatos de oito anos.

Se observarmos como se distribuem regionalmente as cadeiras do Senado, veremos que:

Região Sul                     3 estados                       09 senadores

Região Sudeste              4 estados                       12 senadores

Região Centro-Oeste      3 estados                       09 senadores

+ D.  Federal                                                         03 senadores

Região Nordeste            9 estados                       27 senadores

Região Norte                 7 estados                       21 senadores

Isso significa que um terço dos 81 senadores são eleitos no Nordeste e que mais da metade dos membros daquela Casa (59%) procedem do Norte e do Nordeste do país, apesar de essas duas regiões representarem apenas 32% da população nacional. Inevitavelmente, o perfil político do Senado será bem diferente do perfil da Câmara dos Deputados.

Como fazer gol nessa defesa? Como superar essa hegemonia, ampliada pela convergência de interesses e autoproteção? Não será fácil reverter o cenário atual. Os partidos políticos que enfrentam a máquina de extrema esquerda operada nos últimos anos pelos donos do poder precisam compreender a importância de levar o enfrentamento político ao Norte e ao Nordeste do país. É preciso quebrar, na persuasão e no voto, uma hegemonia que tem servido para explicar muito do que acontece no país.

O saneamento político do Brasil não se faz sem Educação e jamais a teremos enquanto for utensílio de um grupo cujo principal líder declarou ter pleno conhecimento de que perde poder e influência na medida em que os cidadãos prosperam (aqui).

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 


João Alberto Martens -   26/09/2024 12:39:46

Boa tarde meu caro, Algum tempo atrás, quando foi apresentado um projeto pelo então deputado Ibsen Pinheiro, que tornava a distribuição dos royalties sobre o petróleo encontrado do mar. Houve até um choro ridículo do ladrão sergio cabral. Foi aprovado, mas o que me chamou a atenção foi que a votação no Senado não foi de 81x0. Incrível não?

DANUBIO EDON FRANCO -   26/09/2024 10:07:06

Como dizes, penso que a única maneira de vencer esta desigualdade reside no trabalho que precisa ser feito nessas duas regiões do país. Pode-se pensar em alterar a forma de representação em razão da população, mas isso implicará em um juízo de valor(maior população, maior importância), que conduzirá a um critério de qualidade, dificílimo de sustentar. O mesmo raciocínio vale para o critério de importância econômica. Em suma, desaparecerá a igualdade entre os estados. Portanto, a solução é a que propões; dificílima, pois estamos falando de um Brasil diferente. Aliás, as regiões em que o país está divido já indica isso.

João Carlos Carvalho -   26/09/2024 08:58:08

Mestre Puggina , os seus artigos sempre são lapidares e muito bem escritos mas hoje o senhor se excedeu ! Descreveu o maior crime da CF/88 cometido contra a população além dos poderes em excesso que atribuiu ao supreminho !

Joâo Jesuino Demilio -   26/09/2024 08:42:57

Pois é...como SEMPRE, o Brasil copiando mal os exemplos do mundo...Nos EUA os senado só legisla sobre POUCOS Itens federais,somente 2 senadores por estados com mandato de 6 anos e eleições a cada 2 anos...Seria salutar o sistema UNICAMERAL com VOTO DISTRITAL PURO

Elizabeth -   26/09/2024 08:24:17

Tem jeito?