Percival Puggina

25/09/2016

 

 Quem nunca disse bobagem que atire a primeira pedra. Por prudência, e em benefício das minhas, só me disponho a fazê-lo quando as bobagens passam a ser insistentemente repetidas, tais como o petismo parece prescrever a seus discípulos. É nessa toada de repetir frases sem nexo com a realidade, em busca de um efeito político, que Lula conseguiu a proeza de dizer e repetir três tolices numa única e bem conhecida frase. Ei-las: 1ª) graças aos governos petistas, pobres viajam de avião, 2ª) os ricos a bordo não gostam dessa companhia e 3ª) por coisas assim, os ricos são contra o PT.

Quem dera fosse verdadeira a afirmação de que pobres viajam de avião! Nossas companhias aéreas seriam blue ships na bolsa de valores, beneficiadas pelo ingresso, em seu mercado, de 60% da população nacional! Chega a ser cruel essa afirmação num país em que os pobres têm dificuldades para custear a tarifa dos ônibus. Quem viaja de avião comprando o próprio bilhete não pode ser considerado pobre. Essa possibilidade é ainda menor se levarmos em conta os autoindulgentes parâmetros socioeconômicos desenvolvidos pelo marketing petista que criou uma classe média a partir de R$ 300. Pobre, então, seria alguém com renda inferior a essa.

Por outro lado, a ideia de que a presença de pobres a bordo das aeronaves comerciais seja incômoda aos outros passageiros é um agravo gratuito tanto a uns quanto a outros. Na minha experiência, a bordo só são incômodos os bêbados, os mal-educados e os malcheirosos. Lula, então, estaria confundindo pobreza com isso e riqueza com esnobismo. Finalmente, afirmar que a suposta ascensão social dos miseráveis teria sido a causa do antagonismo que o PT enfrenta é a maior das três leviandades contidas na tal frase. A ascensão social de todos a todos beneficiaria, ora essa!

Com três tolices em uma única afirmação, Lula e aqueles que as repetem expressam a patologia ideológica que os faz necessitar do conflito (no caso, do conflito de classes) tanto quanto um intelecto livre necessita da verdade. E sobre a relação de Lula com a verdade ninguém pode falar com mais conhecimento de caso e causa do que dona Marisa Letícia.

Aliás, se há transporte onde pobre não embarca é nesses jatinhos a que Lula e Dilma se afreguesaram. Imagino que já levem mais de uma década sem enfrentar as filas, os apertos e os pacotinhos de bolacha dos aviões de carreira. Essas viagens seriam muito valiosas para ambos aferirem sua popularidade.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

21/09/2016

                       Mais importante do que conhecer é reconhecer.

 Sim, os fatos narrados na longa dissertação do procurador Deltan Dallagnol são ofensivos, são impróprios, são intoleráveis por toda consciência bem formada. Sim, foram duras aquelas palavras e podemos dizer como os discípulos a Jesus: "Quem as pode ouvir?". Ora, se o cidadão comum se sente assim ao ver desvelada com crueza substantiva e adjetiva a ampla organização criminosa que saqueava o país, imagino o desconforto que as denúncias causam a quem vê exibida em público a face hedionda do objeto de sua devoção.

 A entrevista ainda estava em curso e já começavam os protestos. "Essas coisas não são feitas assim!", clamavam uns. "O Ministério Público foi longe demais!", exaltavam-se outros. "A acusação deve simplesmente anunciar que encaminhou a denúncia e jamais produzir libelos públicos!", professoravam certos escolados. Mesmo entre os que concordavam com a narrativa da acusação, havia quem reprovasse a contundência do discurso.

No entanto, quanta lógica na decisão que os procuradores da operação Lava Jato tomaram! E com quanta admiração ouvi e acolhi sua iniciativa! Há mais de dois anos, pondo em risco a própria segurança, no torvelinho da maior investigação criminal da história do país, eles combatem os poderes das trevas que atuam no topo da nossa ordem política, econômica e judiciária. Contrariam interesses hegemônicos. Seus investigados têm, ao estalo dos dedos, todo o dinheiro de que possam necessitar para quanto lhes convenha e todas as facilidades para agir fora e acima da lei. Não bastasse isso, Dallagnol e seus colegas enfrentam, também, o carisma de Lula, as milícias de João Pedro Stédile, Guilherme Boulos e Vagner Freitas, e o escudo protetor que a prerrogativa de foro proporciona aos principais indiciados da operação.

Eles ouviram centenas de testemunhas. Setenta indiciados relataram seus crimes e informaram o que sabiam. Empilharam dezenas de milhares de provas, relatórios e documentos. A repetição das fórmulas evidenciou rotinas consolidadas ao longo dos anos. Os crimes eram revelados e confessados pelos beneficiários, pelos autores e por seus operadores. Bilhões de reais estão sendo devolvidos e reavidos.

O Brasil que não é comprado com depósitos na Suíça nem com pratos rasos de lentilha, louva a ação da Lava Jato e aplaude Sérgio Moro. Mas sabemos todos e sabem ainda melhor os procuradores que, assim como na italiana operação Mãos Limpas, o Congresso Nacional pode aprovar projetos que já tramitam e tornam inócuas suas apurações e denúncias. Sabem que seus inimigos agem no entorno e no interior do STF, dentro e fora do governo. Se o leitor entendeu, há de ter visto que estão aí, devidamente alinhadas, grossas fatias do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. E se entendeu completamente reconhecerá o imenso serviço que aquela coletiva prestou à Nação, com sacrifício e risco pessoal dos procuradores federais.

Não sei o que acontecerá nos próximos dias, mas quis escrever este artigo antes de o sabermos.


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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

20/09/2016

 


 A sentença que dá título a este artigo tem permanência e não tem ideologia. Um dia a casa cai. Eduardo Cunha viu a sua tombar na última segunda-feira. Só ele não via que sua cassação era dessas verdades anunciadas até frente os mictórios do Congresso. Ela não decorreu de qualquer convicção moral majoritária. Bem ao contrário. Como sua numerosa bancada fora construída mediante distribuição de favores e corretagem de benefícios, extinto o poder com o afastamento, ruíram os alicerces, os ratos sentiram o chão tremer e o telhado desabou.

 Foi dia de festa nacional. Até o PT, que andava encontrando pouco prazer na vida e ensaiava passar os próximos dois anos a fazer o que sempre fez e faz quando na oposição – gritando “Fora!” aos que estão em seu caminho – brindou à saída daquele a quem escalara como arqui-inimigo. Os milhões de brasileiros que, como eu, queriam o impeachment da presidente Dilma, idem. Nós sabíamos bem o quanto Cunha,com sua omissão,atrapalhou, retardou e procurou esfriar a mobilização popular pelo impeachment. Nós sabíamos que ele usou em seu próprio benefício a voz das ruas e o poder que tinha de decidir sobre encaminhar ou não um requerimento qualquer entre as dezenas que se empilhavam sobre sua mesa. Quando, com nove meses de atraso, decidiu decidir, escolheu provavelmente o único que deixava de lado o conjunto da obra, ou seja, a casa que um dia haveria de cair. Por que essa escolha? Porque do conjunto da obra ele fazia parte.

 Foi essa escolha que transformou as sessões do Congresso que deliberaram sobre o assunto numa repetitiva sequência de debates políticos sobre desgraciosa matéria técnica de contabilidade pública e Direito Constitucional. Foi graças à falta de atrativos desse conteúdo que o PT construiu a retórica do golpe. Os próximos dias possivelmente nos reservarão uma surpresa. Se Cunha formular as denúncias que anuncia, talvez venhamos a ver o petismo acreditando piamente em tudo que ele disser. E não duvide: Cunha pode estar a um passo de se transformar no próximo guerreiro, herói do povo brasileiro.

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Não tenho condição de opinar sobre a denúncia de 159 páginas encaminhada pelos procuradores da Lava Jato contra Lula, dona Mariza e outras seis pessoas. Percebo porém, ante o que li e ouvi, que as declarações da família Lula da Silva sobre o tríplex de Guarujá são inconsistentes. As alegações de Lula sobre não haver escritura em seu nome transforma o famoso imóvel numa versão praiana do argumento de Cunha, que também alegava não ter “conta na Suíça”, mas dinheiro num fundo trust. Idêntica situação, de resto, se repete em relação ao sítio de Atibaia.

O que impressiona a quem pôde dedicar algum tempo a ouvir o procurador Dallagnol e a ler ao menos as partes principais da denúncia formulada por ele na companhia de outros 12 procuradores é o rigoroso tratamento lógico dispensado ao que foi denominado conjunto da obra. Faz lembrar algo? Pois é. Pouco a pouco, a peça acusatória vai escrutinando as circunstâncias em que foram praticados crimes de corrupção. Mostra que o petrolão é continuidade do mensalão, sem José Dirceu. Prova que houve continuidade delitiva pelos mesmos agentes, tornando impossível, após a AP-470, qualquer posterior alegação de desconhecimento por parte de Lula. A operação Lava Jato já viu e ouviu o que nem o diabo sabe. Proporcionou 1,4 mil procedimentos, mais de 600 buscas e apreensões, 70 acordos de colaboração e 112 pedidos de cooperação internacional. Ofereceu acusações criminais contra 239 pessoas e já obteve 106 condenações. Pediu ressarcimento de R$ 38 bilhões, incluindo propinas que já alcançam o montante de R$ 6,6 bilhões!

É inconcebível que algo dessa magnitude se instale, opere, acesse semelhante volume de recursos e posicione operadores conforme a conveniência do esquema, sem que alguém com poder no governo e sobre os partidos ... (leia o artigo completo em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/percival-puggina/ultimas-noticias/)

Especial para Zero Hora, 17 de setembro de 2016
 

Percival Puggina

19/09/2016

 

"Não tem neste país uma viva alma mais honesta do que eu. Nem mesmo na Polícia Federal. Nem mesmo no Ministério Público. Nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica, nem dentro dos sindicatos, nem no meio de vocês. Pode ter igual. Mais, eu duvido".

 Com essas palavras, há alguns meses, conversando com blogueiros da mídia amiga, Lula escalou por conta própria o topo do pódio da honestidade. Entregou medalha de ouro para si mesmo. Não duvido que enquanto mentalmente mordia o disco dourado soassem em seus ouvidos os acordes do Hino Nacional. Está ficando difícil ser petista. Semana passada caiu Luis Fernando Veríssimo, imaginem só! Em entrevista para Sônia Racy, do Estadão, LFV confessou ser um esquerdista desiludido com o PT. E a Velhinha de Taubaté desertou com ele.

Os desiludidos formam dispersa e contraditória multidão. Uns poucos caem atirando nos companheiros, como aconteceu há bom tempo como Hélio Bicudo e Eduardo Jorge. Outros tombam de joelhos, penitentes, como certamente aconteceu com a Velhinha de Taubaté. Outros, por fim, caem atirando nos adversários. Têm a nostalgia de quando podiam atacar tudo que ficasse à sua direita com a mais imaculada, tantas vezes beata e benta, demagogia. Chegaram ao poder para deixar o país desse jeito.

De algum lugar, senhores da CNBB, Deus está vendo tudo isso. O esforço dos remanescentes no sentido de desacreditar as denúncias do Ministério Público Federal tromba contra os fatos. Praticamente todos os corruptos e corruptores já confessaram e houve mais de uma centena de condenações. Bilhões já foram reavidos. Todos os participantes da Orcrim contam as mesmas histórias e relatam os mesmos esquemas. Há testemunhas e evidências para as acusações que incidem sobre os dois governos petistas. Não há compatibilidade entre o discurso do medalhista de ouro em honestidade e os bilhões drenados pelos esquemas do PT, PMDB e PP. Os agentes da força-tarefa da Lava Jato produziram dezenas de milhares de páginas de documentos. Boa parte delas, por envolverem personagens com prerrogativa de foro, estão sob sigilo naquela trincheira da morosidade e da impunidade que atende pela sigla STF.

Atribuir excelsas virtudes a Lula, reconhecer-lhe a medalha (e transferi-la depois a Dilma), significa colocar a ideologia e o partido no topo da escala dos valores morais tornando bom tudo que a eles convém e mau tudo que os confronta. Quem quiser conduzir-se assim que o faça, mas não há como o mais honesto dos homens presidir o mais corrupto dos governos.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

16/09/2016

 “O que ele (Lula) diz não vou contestar. Não cabe a mim ficar fazendo comentário sobre o que ele disse ou deixou de dizer. É o momento de ele estar desabafando. Sempre é de se lamentar que uma pessoa com a trajetória do presidente Lula tenha chegado a esse momento de tanta dificuldade”.

Não serve para coisa alguma essa declaração de FHC, mas preserva os vínculos que, em 1993, de modo unívoco o uniram a Lula. O inverso, porém, jamais ganhou nitidez. O encontro dos dois líderes políticos brasileiros ficou conhecido como Pacto de Princeton e pretendeu traçar o intercâmbio de dois projetos internacionais de esquerda - o Diálogo Interamericano e o Foro de São Paulo.

Acontece que a história, no ano seguinte, acabou colocando FHC no caminho de Lula. E quando, em qualquer confronto político com petistas, se configura essa situação, começa uma guerra sempre assimétrica. No caso das relações entre FHC e Lula, salvo a exceção que apontarei adiante, tal guerra foi claramente unilateral. Lula atacava e FHC sequer se defendia. Lula rosnava e FHC sorria. Petistas fizeram dos tucanos seus adversários preferidos e o inverso nunca foi muito verdadeiro. Se examinarmos bem o ocorrido durante os mandatos de ambos, veremos que FHC, com Lula na oposição, prestava enorme atenção ao que o PT dizia. Quando a situação se inverteu, viu-se que Lula, diferentemente, se lixava para o próprio partido e para FHC. No caráter unívoco da relação entre ambos percebo esta solitária exceção: em seu primeiro mandato, Lula preservou e até ampliou por algum tempo as principais diretrizes econômicas e sociais do programa tucano.

FHC sempre via Lula e o petismo como subprodutos de seu próprio projeto para o Brasil e para o continente. Há diferenças, por certo, entre ambos. E a maior delas é de natureza psicológica. Lula gostaria de ter sido FHC e este gostaria de ter sido Lula. Aquele nutre indisfarçável sentimento de inferioridade em relação ao tucano. Este se constrange com a própria superioridade intelectual e gostaria de ter sido um líder popular. FHC trocaria tudo pela capacidade agitar as massas num comício de operários do ABC.

Não se surpreenda então, leitor. As relações entre FHC e Lula produziriam excelente conteúdo para um drama recheado de conflitos shakespearianos. Ou para análise de caso num doutorado em psicologia. Por essas diferenças essenciais entre as duas personalidades os tucanos perderam quatro eleições consecutivas para o PT. E FHC jamais se empenhou por seu partido nem deixou de lado, a cada derrota, o sorriso e a bonomia. Agora, Dilma caiu e ele quase emprestou solidariedade. Lula enfrenta a espada da justiça e FHC se manifesta sinceramente penalizado. Se Lula sair da cena política, FHC se sentirá viúvo pela segunda vez.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

15/09/2016

 

 Alguém pode me citar um presidente com mandato posterior à fundação do PT que não tenha sido alvo de campanhas semelhantes à que presentemente se dirige contra Michel Temer? Parece-me que a infinita reiteração denuncia insubmissão a toda autoridade não alinhada ao partido. Não por acaso, essa é uma conduta radical muito semelhante à do Islã político, merecedor de persistente proteção da esquerda mundial.

Apenas para comparar, lembro que somente após 12 anos de sucessivos governos petistas a sociedade brasileira foi às ruas. E o fez com a intenção - perceba-se a diferença - de cobrar das instituições uma solução para a tragédia em moto contínuo e para os encordoados escândalos proporcionados pela organização criminosa que operava no governo e em sua base de apoio. É importante ter em vista essa diferença. Uma coisa é o direito popular de se manifestar às instituições. Outra é mobilizar milicianos e militantes para ações típicas de agitprop (agitação e propaganda, no melhor estilo da KGB) com a intenção de promover convulsão e prejudicar o país, interna e externamente. Flagrada numa pichação "Fora Temer", a deputada comunista Jandira Feghalli explicou que aquele era um ato subversivo. E, claro, "democrático". Em recente manifestação promovida pela CUT e pelo MTST, Luíza Erundina afirmou que "não sairemos das ruas até esse governo cair".

Cair como, dona Luíza? Tipo Tomada da Bastilha? Se estamos sob um governo constitucional, golpeá-lo reunindo milicianos, esbravejando bandeiras vermelhas, espatifando vidraças, queimando pneus e estimulando o caos, não é ... golpe?

No Estado de Direito existe um modo legal de fazer as coisas. Até para ir às ruas pode-se sair de casa dentro da lei e fora da lei. As manifestações contra o governo Dilma e contra a corrupção ocorreram com prévia notificação às autoridades da segurança pública indicando local e percurso, solicitando proteção e acompanhamento policial. Opiniões foram expressas e soluções reivindicadas dentro da ordem, com legitimidade formal. Fora do Estado de Direito, temos o que está sendo promovido pelos partidos de esquerda, com inequívoco intuito subversivo, na sincera expressão da candidata do PCdoB à prefeitura do Rio de Janeiro. Se querem destituir Temer, busquem fundamentos constitucionais e peçam seu impeachment.

Não entendo, mas admito como possível e legítimo que pessoas amem Dilma Rousseff, exaltem sua gestão, tenham e mantenham adoração religiosa pelo PT, desconheçam as manifestações das ruas pelo impeachment, considerem que a ex-presidente seja de uma correção sem par e que, para ela, a verdade se imponha como grande soberana das próprias manifestações. Acredito que existam pessoas convencidas de que seu impeachment ocorreu sem justa causa, fruto de tenebrosas maquinações da direita. Juro que acredito!

Creio, também, na possibilidade de que, para muitos, Lula seja outro modelo de virtudes. Admito que outros tantos não atribuam qualquer importância a seus desvios de conduta e ao vertiginoso enriquecimento de toda família Lula da Silva. Mas me permito, pelo viés oposto, não atribuir qualquer importância às suas opiniões, crendices e critérios de juízo moral. Na linha de tiro das minhas opiniões continuam todos os corruptos e corruptores, todos os fora da lei, todos os subversivos e todos os golpistas inglórios.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

13/09/2016

 

 A assim chamada classe política, há muitos anos, vem perdendo prestígio. Não é para menos. Os espaços de decisão nos parlamentos foram gradualmente sendo tomados de assalto por pessoas e grupos que conferem caráter criminoso a essa atividade. No sentido amplo da palavra - note-se - criminosos na vida pública não são apenas aqueles que se valem de métodos ilícitos para ascender na escalada financeira ou política. São-no igualmente os que usam de seu poder de decisão cuidando exclusivamente do interesse próprio, ou acovardando-se ante grupos de pressão, ou negociando apoios em troca de votos contra o bem comum. O crime que estes últimos cometem, embora não esteja capitulado em lei alguma, ofende a moral e exerce sobre o erário efeito mais devastador do que a corrupção. Seria ainda maior a insatisfação contra os políticos se os eleitores prestassem atenção à insensata criação de despesas, à concessão de privilégios a alguns às custas do que é de todos e ao pouco caso de tantos homens públicos para com seus deveres funcionais.

 À sombra dessa realidade, prospera entre os eleitores uma rejeição "aos políticos" que se faz acompanhar, por vezes, da decisão de não mais votar. "Já me desiludi com tantos!", exclamava-se recentemente um amigo com quem conversava sobre isso. Aquela frase levou-me a uma reflexão que, em seguida, me trouxe às linhas que agora escrevo. Pus-me a listar os candidatos a cargos legislativos nos quais votei ao longo dos anos, até onde a lembrança alcançava. E - surpresa! - não encontrei uma única razão para arrependimento. Alguns se elegeram, outros não, mas todos tinham e mantiveram as qualidades que me levaram a lhes conferir confiança e voto. Aliás, em eleições parlamentares (deputados estaduais e federais, e vereadores), nunca me faltaram bons nomes em quem votar. O que muitas vezes faltou a tantos deles foram votos para obter o mandato que buscavam. Eu tinha um voto para dar e alguns a orientar, mas para os demais candidatos não tinha o que fazer.

Não tinha o que fazer, até hoje. O Brasil precisa que deixemos de lado a inibição. Entre as muitas coisas de que a nação carece, de que a vida pública está a exigir, estão muitos desses homens e mulheres que, por falta de voto, frustram suas vocações enquanto, na mesma proporção, a representação política perde qualidade.

O motivo pelo qual nunca me arrependi dos votos que dei está no fato de sempre os haver direcionado para pessoas cujos princípios, valores, ideais e convicções conhecia e compartilhava. A finalidade deste artigo, então, é disponibilizar pequena lista de candidatos que integram meu círculo de relações com proximidade e convivência. São pessoas nas quais eu votaria se tivesse vários votos a dar. Obviamente, existem muitos bons nomes nas listas de diversos partidos. Alguns, inclusive, são pessoas que conheço, mas com as quais mantenho um nível menor de relacionamento.

Os primeiros listados a seguir por ordem alfabética são membros do grupo Pensar +, candidatos a prefeito e a vereador de Porto Alegre, e têm o apoio do grupo. A prefeito: Fábio Ostermann e Nelson Marchezan. A vereador: Fernanda Barth, Felipe Camozzato e Ricardo Gomes. Também concorrem, e os destaco como merecedores de confiança: Fernando Coronel, João Carlos Nedel e Mônica Leal.

Os espaços da política são inóspitos às pessoas de bem. Por isso nos faltam estadistas. Então, quando pessoas assim se dispõem a atuar nesses ambientes, o melhor que podemos fazer é apoiá-las de modo decidido para que alcancem os votos necessários. Faça isso você também, esteja em que recanto deste país estiver. O Brasil precisa tanto dos bons quanto de livrar-se dos maus.

 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

08/09/2016


 Milicianos petistas desfilam em grandes centros aos gritos de "Fora Temer!". Aparentam grande descontentamento, como se lhes houvessem tomado algo muito valioso, tipo assim, digamos, uma presidente como Dilma Rousseff. Naquelas mentes, o Brasil, sem Dilma, sem o PT e com Lula dando explicação para delegado, será tomado pelo caos. Sob o novo governo, supõem, irromperão escândalos na Petrobrás, nas obras federais, nos programas sociais. Os fundos de pensão dos trabalhadores serão dilapidados. A inflação alcançará dois dígitos, o país entrará em recessão e cairá em descrédito, o desemprego se abaterá sobre milhões de famílias. Cairá a renda do trabalhador. Receiam que, com Temer, negocistas reunidos em torno do poder farão transações danosas ao Brasil, comprarão sucatas no exterior e entregarão patrimônio nacional a países de direita. Então, diante desse cenário desolador, as milícias se impacientam e, vez por outra, partem para a ofensiva.

Vivesse entre nós, Miguel de Cervantes não faria o indômito D. Quixote de la Mancha direcionar suas investidas a inocentes moinhos de vento, mas o faria arremeter contra as novas lixeiras. Só um conservador ordinário como Sancho Pança não percebe nelas o potencial reacionário a exigir destruição total. Eu sempre soube que as lixeiras seriam as primeiras vítimas de uma reação esquerdista no Brasil. É muito simbolismo para passarem incólumes. Logo a seguir, pelo estardalhaço que causam e pela transparência que sugerem, viriam as vidraças. Fogo nas lixeiras! Abaixo as vidraças! E, claro, "Fora Temer!".

Tenho encontrado pessoas que depois de desfilarem entre milhões, nas ruas e praças do Brasil, se deixam impressionar pela gritaria dos esparsos grupelhos esquerdistas. Ora, meus caros, nos últimos 30 anos, não houve nem há governo, municipal, estadual ou federal que, tendo o PT como oposicionista, cumpra mandato sem escutar alarido semelhante. O "Fora quem não seja nosso!" faz parte do pujante e rico arsenal retórico do partido. E quando o grito sai de um peito com estrela nada há nele de golpista. É simples manifestação de justificada "repulsa cívica".

Então, o que estamos assistindo não pode causar surpresa. O sentimento que essas manifestações me inspiram é de perplexidade pela contradição formal entre os milicianos de rostos expostos e os de rostos encobertos. Como entender condutas tão diferentes num mesmo evento? Enquanto estes últimos têm consciência da própria incivilidade e falta de compostura, os primeiros parecem orgulhar-se do que são e do que fazem. Pois prefiro os que tapam a cara. Parecem-se mais com seres humanos. Em algum lugar pulsa uma consciência. Os outros, ou deixaram a vergonha de lado em ressaca ideológica, ou, o que é bem pior, seja a soldo, seja como voluntários, querem restaurar o caos que o petismo produziu. E que o país se exploda.

 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

07/09/2016

 

 O Estado brasileiro é tão irresponsável em suas finanças que os pagadores de impostos deveríamos requerer sua interdição judicial. Proibi-lo de usar nosso dinheiro. Encaminhar suas instituições para tratamento psicológico. Não o fazemos porque o próprio Poder Judiciário é causa atuante dessa situação pois, cotidianamente, impõe aos governos despesas e ordens de pagamento sem indicar fontes nem recursos. Governadores e prefeitos são as principais vítimas dessas incursões judiciais nos respectivos erários, seja em nome de algum direito difuso, seja de algum princípio constitucional afivelado no senso de justiça, mas ao desamparo da realidade orçamentária - aquela que se nutre dos impostos que pagamos.

 Os casos mais graves, continuados e vultosos, a clamar pela interdição, são os que combinam corrupção com desatenção, tolerância e vistas grossas. Nestes dias, aliás, vivemos um surto investigatório. Escândalos se sucedem em sequência tão rápida que não há no nosso HD mental memória suficiente para armazenar o acumulado das informações. As coisas se passam como no rodízio das penitenciárias, tem que sair um para entrar outro. Enquanto isso acontece envolvendo figurões e ganhando manchetes, uma outra porção do submundo vai revelando sua dimensão na irresponsabilidade financeira, embora recebendo tratamento mais discreto. Refiro-me às práticas criminosas, como as de concessão de Bolsa Família a quem ingressa no programa de modo fraudulento. Um cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social com Receita Federal e Tribunais de Contas detectou um milhão de casos de fraude que, nos anos de 2013 e 2014, desviaram R$ 2,6 bilhões.

Na previdência social são comuns as artimanhas e mutretas. O Estadão do último dia 6, informa que um projeto piloto do INSS levado a efeito em Jundiaí reverteu 50% dos casos de auxílio por doença e invalidez. A partir dessa experiência, o INSS não calcula o quanto de dinheiro já foi perdido, mas estima economizar até R$ 6 bilhões por ano a partir de um recadastramento ainda por ser feito.

Não são diferentes as coisas nos programas de Reforma Agrária (o maior, mais caro e inútil do mundo). Matéria do Estadão no dia 5 de abril deste ano informa que o TCU determinou a paralisação do programa após constatar fraudes envolvendo 578 mil beneficiários, entre os quais os mais notórios são 1017 políticos, 4293 proprietários de veículos com valor superior a R$ 70 mil, 61 mil empresários, milhares de falecidos e de servidores públicos.

É inimaginável a extensão desses prejuízos se pudessem ser contabilizados ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, excita a imaginação o quanto se poderia fazer num contexto de responsabilidade fiscal. Tomemos por exemplo a fraude recentemente descoberta nos auxílios por doença e invalidez junto ao INSS. Os R$ 6 bilhões ali economizáveis permitiriam construir, por ano, 330 presídios com 400 vagas e resolver totalmente, em três ou quatro anos, esse déficit tão relacionado com nossa insegurança.

Nada causa mais prejuízos ao país do que o cruzamento da ingenuidade dos cidadãos com a desonestidade que opera nas instituições. Como escrevi no meu livro "Pombas e Gaviões": os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal intencionados.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.