Percival Puggina

13/10/2018

 

 No Brasil em que eu vivo com os olhos bem abertos, o antipetismo acabou se tornando a maior força política, suplantando o petismo. Não houvesse um petismo a suscitar antagonismo, não surgiria a reação contrária.

 Desde que foi criado, o petismo se dedica à criação de antagonismos, fornecendo instrumentos institucionais, organização, recursos humanos e financeiros para o lado que ocupa nos conflitos que cria e estimula. Enorme esforço tem sido despendido pelo PT para que os brasileiros sejam identificados e antagonizados pela cor da pele, pela etnia, pela cultura, pela região do país, pelo tal de gênero, pela faixa etária, pelo extrato de renda, pela relação de autoridade (pais/filhos, professor/aluno, policial/cidadão, criminoso/vítima), pela posição política e ideológica, e por tudo mais que a inventividade possa suscitar. Assim é o petismo.

Mas não é daí que vem o antagonismo. Ele surge do empenho em transformar essas realidades em conflitos nos quais a parte supostamente protegida pelo petismo é ensinada a ver a outra como inimiga. E o que é pior: sendo a ela imputadas as intenções mais vis. É o que acontece quando repetido incessantemente, por exemplo, que o PT é malvisto pela classe média porque esta não quer pobre viajando em avião ou comendo filé mignon. Ou quando se diz que o brasileiro é racista, machista e homofóbico. Ou quando se pretende, em sala de aula, contra a vigorosa reação nacional, confundir a sexualidade das crianças com ideologia de gênero como “conteúdo transversal”, vale dizer, em todas as disciplinas... Ou quando se insulta a direita liberal e/ou conservadora chamando-a de fascista. Ou quando se tenta impedir a projeção de um filme do Olavo ou uma palestra de Yoani Sanchez. Ou quando se afirma que o pobre é pobre porque o rico é rico. Ou quando, aos olhos e ouvidos da população indignada com a roubalheira promovida no país, é dito que os condenados são heróis do povo brasileiro, ou que o preso é um santo julgado por magistrados patifes. Não se diz essas coisas para um povo que foi roubado nas proporções em que os brasileiros foram! Mas o petismo diz.

Tenta-se hoje, por todos os meios, impingir à opinião pública a ideia de que liberais e conservadores “odeiam” todos aqueles cujas posições são fomentadas pelo discurso petista. No entanto, essa é mais uma vilania! A exasperação tem como causa o petismo dizendo o que diz e fazendo o que faz. É o petismo que suscita rejeição; não é o pobre, nem o negro, nem o índio, nem o homossexual, nem o esquerdista, nem sei lá mais quem.

A impressionante renovação promovida pelos eleitores em sete de outubro nada teve a ver com qualquer “efeito manada”. Bem ao contrário, significou a tomada de decisão, livre e soberana, de uma sociedade cuja opinião vinha sendo desprezada por supostos tutores confortavelmente acomodados nos espaços de poder institucional, nos grandes meios de comunicação e no ambiente cultural. A necessária pacificação nacional será difícil, porque todos sabem como se conduz o petismo quando na oposição.

 

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

10/10/2018

 

Não adiantou a enorme e persistente campanha para afastar os brasileiros das urnas. Poucas coisas são tão consensuais entre nós quanto a inconfiabilidade das eletrônicas em uso no país. Descrédito total! O solene depoimento de meia dúzia ou mais de ministros do STF e do TSE só agrava a situação. Quem confia nessas cortes? Pois mesmo assim, olhando de soslaio, com um pé atrás, os eleitores brasileiros foram às seções de votação no dia 7 de outubro. O pleito era sua bala de prata! Era a possibilidade de usar a minúscula fração de poder nas mãos de cada cidadão. Apenas nove horas, das 8 às 17. Mas durante esse curto espaço de tempo podia mandar quadrilheiros para casa e para a justiça, renovar o Congresso Nacional e evitar o retorno de criminosos aos locais dos crimes.


O jogo foi pesado. Havia na sociedade uma firme disposição de renovar o parlamento, suprimindo o foro privilegiado dos corruptos e despachando os coniventes e os omissos. Confrontados com essa notória intenção dos eleitores, os parlamentares avaliavam suas chances e muitos já buscavam alternativas pessoais longe do poder. Subitamente tudo mudou. Impulsionados pela oportunidade de ouro concedida pelo STF ao impedir o financiamento empresarial no modo como o fez, os parlamentares criaram o Fundão de Campanha com nosso dinheiro e o ratearam entre si. Em seguida, encurtaram todos os prazos, com o intuito de dificultar o trabalho dos novos postulantes. Para estes, apenas 45 dias de campanha, horário gratuito reduzido, publicidade dificultada e csteio por “vaquinha”. Enquanto os novatos corriam por uma pista cheia de obstáculos, os detentores de mandato colhiam os frutos da generosa distribuição de emendas parlamentares. A vida lhes voltou a sorrir e o céu de Brasília se fez novamente azul. O STF é bom e Deus existe, talvez dissessem blasfemando.


Quem haveria de imaginar que o povo, contra tudo e contra todos, saísse de casa, mandasse às favas a desconfiança nas urnas e levasse a cabo sua tarefa promovendo a maior renovação do Congresso Nacional em vinte anos? O bom povo brasileiro fez o que lhe correspondia. De cada quatro senadores que tentaram reeleição, três não conseguiram; das 54 vagas em disputa, 46 serão ocupadas com novos nomes! Na Câmara dos Deputados, dos 382 parlamentares que tentaram a reeleição, 142 foram destituídos de seus mandatos. A renovação atingiu mais da metade da Casa. O número de conservadores e liberais eleitos marca o que a imprensa militante qualificou como um inusitado giro à direita. Infelizmente, alguns inocentes foram descartados com a água desse banho.


É claro que esse giro se fez ao arrepio da grande imprensa. Nesta, viceja, cada vez mais forte, um rancor em relação às redes sociais. Acostumados a infundir suas convicções a um público dócil e cativo, muitos formadores de opinião viram o próprio poder se diluir, quase atomizar-se, na caótica democratização das redes sociais. Os grandes jornalões, as principais revistas semanais, a Vênus Platinada e os militantes globais do “progressismo” debochado e do esquerdismo anacrônico, em vão tentaram conter o sucesso eleitoral de Bolsonaro. Em vão queimaram o filme perante seu público. Em vão promoveram o presidiário. Em vão tentaram vender picolé de chuchu por chicabom. A nação, preferindo escolher o próprio caminho, recusou o buçal insistentemente apresentado.


O povo brasileiro acordou em tempo de salvar o país e os próprios dedos, que os anéis já lhe levaram.

 

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

09/10/2018


 A esquerda brasileira que diviniza Lula, fazendo dele luz e tudo mais poste, crava, com isso, nova baliza para marcar sua conduta fascista.

 Eu sei, eu sei. Comumente é dito o oposto. Seja nas manifestações acadêmicas e culturais, seja nas orquestrações rueiras, a acusação vai para o outro lado. Olavo de Carvalho chama atenção para o fato de o adjetivo “fascista” ser lançado como insulto sobre qualquer adversário que ouse se interpor no caminho dos partidos de esquerda. Dado que seus candidatos se deram bem mal nesta eleição, há muitos destinatários para esse adjetivo, disparado, inclusive, pelo jornalismo militante. Com efeito, alguns coadjuvantes do PT, que se mediam com a régua da própria arrogância, descobriram-se praticamente sem voto e sem povo em cujo nome falar. Juntam-se ao PT, porém, para insultar adversários: são todos fascistas...

 A maior causa da ignorância está em não suscitar qualquer mal estar físico. Se doesse, coçasse, causasse insônia ou tontura, os afetados buscariam cura através do conhecimento. O mundo seria melhor. A ignorância, no entanto, costuma vir acompanhada de uma sensação de euforia e de superior onisciência. Pois é o que normalmente acontece quando, no embate político, alguém fora do clubinho esquerdista é chamado de fascista.

 No entanto, o fascismo se caracteriza por:

Ser estatista. Mussolini dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado”. No Brasil em que vivo, tamanha reverência antiprivatista ao Estado é marca registrada da esquerda e de suas corporações funcionais. Ou não?

• Ser nacionalista e expansionista. No Brasil em que vivo, a esquerda é nacionalista em benefício do Estado e seus poderes e verbas, e não em benefício da sociedade. Para completar o quadro, tem projetos expansionistas fora de nossas fronteiras, com ditaduras do continente, com o Foro de São Paulo, com a Unasul e com a URSAL. Ou não?

Organizar parcelas da sociedade em corpos paramilitares, com estrutura de comando, exibi-los em ostensivos desfiles e mantê-los prontos para a ação, inclusive para a ação violenta. Qual a diferença essencial entre os “camisas negras” do fascismo italiano e os “exércitos” de Stédile, Boulos e os black blocs? Pois é.

• Formar, com o comunismo e o nazismo, a tríade coletivista e totalitária do século XX. A exemplo dos demais coletivismos, o fascismo desconsidera a preciosa dimensão individual da pessoa humana, diluindo-a no coletivo do estado nacional. O fascismo se opõe pelo vértice ao que pretendem liberais e conservadores. No Brasil em que vivo, ambos – conservadores e liberais – exaltam as potencialidades do ser humano livre e veem como um oneroso trambolho o Estado tão cultivado pela esquerda. Fascistas?

É muito raro, raro mesmo, que o gorro fascista seja arremessado por alguém que não o tirou da própria cabeça.

 

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

06/10/2018

 

 Compreender as boas convicções que movem seguidores de Henrique Meirelles, Alvaro Dias, João Amoêdo e Geraldo Alckmin é tão fácil quanto perceber o estrago que estão em vias de causar. Principalmente se, numa hipótese de segundo turno, esses eleitores estiverem dispostos a votar em Bolsonaro contra o petismo. A volta do PT, sabemos, significa o retorno de Lula e José Dirceu, a anunciada “tomada do poder”, o socialismo, a venezuelização, a preferência pelos bandidos. Significa, também, a nomeação de mais dois companheiros para o STF, o aparelhamento definitivo do Estado, o avesso das necessárias reformas, a fuga de capitais e o desemprego (emprego, quem cria, são as empresas, mediante investimentos que dependem de estabilidade e confiança). Por aí vai o longo, longuíssimo, circuito das desgraças.

 Conheço pessoas convictas de estarem submetidas a um preceito moral que as obriga, num primeiro turno, a votarem em conformidade com suas convicções. Para elas, se um dos quatro candidatos acima mencionados, melhor do que qualquer outro, preenche os requisitos para o exercício da presidência, é a ele que devem dar seus votos. Reservam ao segundo turno a opção pelo que considerarem menos pior dentre os dois remanescentes.

Não se trata, aqui, de discutir preferências, mas de puro realismo. Já se conhecem os dois remanescentes. Trata-se, apenas, de saber se no primeiro turno, o “voto útil” para evitar o segundo turno é moralmente menos qualificado do que o voto dito de consciência, mas inútil. Dizem esses eleitores: “No primeiro turno, devo votar segundo a imposição do bem maior. No segundo turno, voto contra o mal maior”.

Tal atitude estaria correta, corretíssima, se não existissem múltiplas e sucessivas pesquisas eleitorais. No entanto, elas existem e desconsiderá-las não responde ao critério moral da prudência. As pesquisas dizem que ou Jair Bolsonaro vence esta eleição agora, ou enfrentará seu oponente num renhido e incerto segundo turno.

É desnecessário discorrer sobre competências e recursos da máquina eleitoral petista, nem sobre a manifesta superioridade de seu marketing. Não preciso mencionar o poder de cooptação que essa estrutura e seus recursos exercem sobre indivíduos e grupos cujo senso moral oscila entre o estado líquido e o gasoso. Menos ainda, referir o acirramento de tensões e o divisionismo que se instalará no país durante as três semanas anteriores a 28 de outubro. A campanha irá às ruas e os bons modos não ilustrarão seus presumíveis cenários.

A parcela da cidadania formada por produtores, empreendedores, investidores e consumidores, já sinalizou sua preferência, mostrando que, simetricamente à ascensão de Bolsonaro nas últimas pesquisas, a bolsa subiu (as empresas brasileiras se valorizaram) e o dólar caiu (a moeda brasileira recuperou valor frente à moeda americana). Tudo andaria em sentido inverso se a opção petista preponderasse.

Pesquisas eleitorais trazem informação, e ela recomenda, enfaticamente, atrair para Bolsonaro, já no dia 7, os votos que serão dele caso a decisão final seja adiada para as incertezas do dia 28 de outubro.
Espero que as boas intenções de alguns não sirvam para aumentar as angústias do tempo presente e os males do tempo futuro.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

02/10/2018

 Há pessoas contrariadas com o cenário da eleição presidencial. Expressam desagrado em relação aos dois candidatos que lideram as pesquisas. Parecem querer opções diferentes, outros candidatos, outros eleitores, outras pesquisas, outras urnas, outra mídia. Outro país, enfim. É a carrancuda fauna dos isentões. Sairão do pleito aborrecidos, mas com luvas brancas e sapados polidos.

Outras há que desejariam melhores perspectivas eleitorais para alguém, digamos, loquaz como Meirelles, popular como Amoêdo e Alvaro Dias, ou seguro e combativo como Geraldo. Ah, o Geraldo! “O Geraldo teria mais chances!”, dizem alguns. Pois é, só faltou combinar isso com ele, seus partidos e eleitores.

Geraldo Alckmin foi ungido candidato por um elenco de nove siglas integrantes do congestionado Centrão, cujas bancadas na Câmara dos Deputados somam 266 parlamentares. Mais da metade do plenário! Esse robusto apoio proporcionou à sua campanha o maior volume de recursos financeiros e o maior tempo de TV. Mesmo assim, a candidatura não sintonizou senão com uma pequena parcela da população, insuficiente para levá-lo ao segundo turno.

A campanha do tucano cometeu erro gravíssimo. Tendo saído no encalço de Bolsonaro, em vez de compreender quais os atributos que o faziam pontear a disputa presidencial num voo solo, decidiu derrubá-lo alvejando-o insistentemente. Por sua formação, Alckmin talvez pudesse repartir com Bolsonaro o interesse pela proteção das crianças (e de sua inocência). Poderia, também, sair em defesa da instituição familiar, de professores que ensinem e estudantes que estudem. Poderia posicionar-se vigorosamente em favor da Lava Jato, do combate à criminalidade e à impunidade, bem como do cumprimento integral das penas e do fim do desarmamento.

Poderia opor-se com firmeza à ideologia de gênero e ser muito explicitamente antipetista. Poderia apresentar-se como um candidato conservador e liberal.

Poderia, poderia, mas isso seria pedir demais a um catecúmeno do “progressista” Fernando Henrique Cardoso. O tucanato rejeita os dois adjetivos. Quando o PT fazia oposição ao PSDB, a expressão mais usada para desqualificá-lo era justamente a de ser o partido neoliberal ou liberal. E a acusação realmente doía porque não era assim que o partido se via ou queria ser visto. Quanto a ser conservador, definição que a maior parte da população provavelmente faz de si mesma, sofre total rejeição num grupo cujos líderes históricos vieram da esquerda do PMDB.

Não foi apenas por falta de carisma do candidato tucano que a maior parte de sua base entornou para Bolsonaro. O principal erro residiu no ataque a quem fala sobre angústias da população, sem levar em conta que seus tiros atingiam, também, a própria sociedade em seus anseios reais.

Não sei o que sairá das urnas no pleito presidencial. Se não confio (embora não as desconsidere) nas pesquisas de primeiro turno, não vejo porque levar em grande conta as de segundo turno, se ele ocorrer. Em todo caso, recomendo que o voto parlamentar seja cuidadosamente selecionado com vistas a uma saudável renovação e conferido a candidatos dignos, com perfil conservador e liberal. Em qualquer desfecho, eles serão indispensáveis.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

29/09/2018

 

Das empresas de comunicação se deve esperar mais do que um conjunto de manipulações e menos do que um pacote de ocultações. O consumidor da notícia, das matérias, tem direito de ser bem informado sobre assuntos de relevante interesse social.

O público sabe que muitos veículos preferiam ver Bolsonaro em qualquer lugar, menos no topo da preferência dos eleitores. Por isso, reservam espaços diários para atacá-lo e, por isso, tantos jornalistas, esquecendo-se dos demais candidatos, dedicam horas de expediente a comentários negativos, muxoxos, sorrisos, ironias e mistificações. Em contrapartida, silêncios coniventes cercam a vida e a obra de Fernando Haddad; ocultam seus livros e sua confessada adesão à Escola de Frankfurt, círculo de intelectuais que se dedicaram à tarefa de viabilizar o marxismo no Ocidente cristão mediante a dissolução dos fundamentos de sua cultura. Até seu alarmante Plano de Governo passa batido! Não faz jus a uma perguntinha sequer ao candidato a proposta de uma “Refundação Democrática do Brasil” mediante nova constituinte, notícia que evoca o processo venezuelano, inclusive pela ênfase à “soberania popular em grau máximo”. E note-se: Haddad, há pouco mais de uma semana, em entrevista a O Globo, atribuiu à oposição a crise da Venezuela. Disse (sic): “A Venezuela não vive um processo de normalidade, não vive. Por que há contestação sobre o ambiente democrático, não se reconhece resultado eleitoral, a oposição contesta quando um plebiscito é chamado, as eleições não são respeitadas. O clima alí é de conflagração. Inequívoco.” Pelo jeito, esse estrabismo ideológico do candidato faz sentido e não põe em dúvida o discernimento de um aspirante à cadeira presidencial. Afinal, é Bolsonaro quem constitui risco à democracia...

Voltemos, porém, ao Plano de Governo descartado das pautas dos grandes veículos como se afasta do caminho e da visão uma inconveniente barata seca. Nem uma palavra sobre a proposta de um Programa Transcidadania que anuncia a concessão de bolsas de estudo para travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade (note-se que o motivo da concessão não é a vulnerabilidade, mas a condição transexual). Silêncio! Desinteressante, também, pelo jeito, a proposta de uma Nova Política sobre Drogas, mediante descriminalização e regulação do comércio.

A apreensão em relação à posição eleitoral de Bolsonaro leva muitos veículos a esquecerem dos riscos inerentes ao retorno petista à cena do crime. Obscurece a terrível herança deixada por um governo que atuou ininterruptamente entre 2003 e 2016. Não permite ver, no Plano de Governo de Haddad, a ressureição do famigerado PNDH-3, a ser “resgatado e atualizado”, nem a promessa de implementar as recomendações da Comissão Nacional da Verdade.

O PNDH-3 (2010), para lembrar, desfigurava a democracia representativa, o Poder Judiciário, o direito de propriedade, a religiosidade popular, a cultura nacional, a família e a liberdade de imprensa. Numa tacada, liberava o aborto, mudava para pior o Estatuto do Índio, valorizava a prostituição e se intrometia em temas que iam da transgenia à nanotecnologia. Já a Comissão da Verdade, aquela com sete membros escolhidos por Dilma, entre os quais não havia qualquer historiador, foi mais um dos muitos meios pelos quais o PT quis maquilar-se como defensor da democracia (desde que não se mencione Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Nicarágua, Muro de Berlim etc.).

Nada disso, porém, interessa a setores da imprensa. Pode até parecer que são apenas livros e ideias no papel. Contudo, as ideias não são do papel.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

28/09/2018

Artigo especial para a Gazeta do Povo

 

 Não, leitor, não se espante com a mais recente pesquisa do Ibope. No Brasil é assim. Ninguém confia em pesquisas eleitorais, mas todo mundo fica esperando por elas e as aprova ou desaprova conforme o resultado expresse ou não o seu desejo.

A pesquisa reflete nossas idiossincrasias. O país vive uma terrível insegurança? Chama o partido que não gosta da polícia, que defende penas curtas, desencarceramento e bandido na rua. A corrupção levou até as moedinhas? Chama os ladrões. A política ficou tão suja  (leia mais aqui).

Percival Puggina

27/09/2018

 

 Verdadeiras ou não, frequentemente suspeitíssimas, as pesquisas seguem balizando a cena eleitoral. A análise que farei aqui pressupõe que elas não devam ser lidas de cabeça para baixo, ou seja, imagino que acertem ao menos quando apontam para a existência de um bloco dianteiro crescendo, um bloco intermediário dessorando e uma turma do rodapé variando entre o pouco significativo e o insignificante.

No grupo intermediário se situa o candidato Geraldo Alckmin, com o expressivo apoio de uma legião de partidos cujas bancadas de deputados federais arregimentam mais da metade da Câmara dos Deputados. Mais da metade! Mesmo assim, as manifestações de desânimo de alguns líderes tucanos e a falta de eco aos apelos de um patético Fernando Henrique, evidenciam que a carta desse centrão saiu do baralho.

A explicação do fenômeno é identificável a olho nu. O quadro partidário nacional se converteu num aglomerado quase indiscernível de siglas partidárias cujos programas ninguém conhece e cujas condutas, salvo alguma excepcionalidade, nada revelam sobre si mesmas. Mais grave ainda: detentores de mandato legislativo, que são a parte mais numerosa e representativa da elite partidária, como regra, resumem sua atividade dita “política” em zelar pela própria reeleição e em atender demandas de interesse pessoal, coletivo ou regional. Uns tantos, ainda, ocupam-se com proteger a retaguarda e apagar suas digitais onde as mãos tenham andado. Isso é o bastante para uma atividade política com expressão em pleito nacional? São essas as lideranças que têm a apresentar à nação?

Quando observamos os dois dianteiros da eleição presidencial, o que se torna nítido é o trabalho de convencimento. O PT sempre fez o seu. Ele é enganoso, despido de qualquer relação com a realidade e com a verdade. O partido constrói versão para tudo que o compromete e é perito em jogar sobre os demais as culpas e as consequências de seus piores atos. Lideranças e militantes fazem política full time e repetem incessantemente, por todos os cotovelos, aquilo que lhes interessa.

Nos últimos dois anos, Bolsonaro foi um solitário e operoso comunicador de suas convicções. Faltaram-lhe orientação técnica e cuidados de forma e conteúdo, mas não lhe faltaram entusiasmo nem identificação com importantes anseios nacionais. A sociedade quer proteger a infância e a instituição familiar; quer que professores ensinem e estudantes estudem; quer que a criminalidade, a violência e a corrupção sejam combatidas; quer a Lava Jato preservada, polícias valorizadas, bandidos presos e penas cumpridas. Candidato do minúsculo PSL, sem dinheiro nem tempo de TV, arregimentou multidões e lidera a disputa sucessória a despeito da carga cerrada que lhe fazem a Globo, a Folha, o Estadão e a maior parte do mundo cultural e estatal sob influência petista.

Nada é mais insosso do que um projeto de poder pelo poder. O país seria bem menos sujeito a grandes instabilidades se os partidos esgrimissem ideias, se operassem no sentido de formar opinião e criar bons consensos. Se eles não servem para o diálogo com a nação sobre seus problemas, se não recrutam lideranças qualificadas, se seus líderes marcam o próprio território e cuidam de si mesmos, se não se importam com as pautas das ruas, se não resistem à propagação das teses mais absurdas, se não as confrontam com outras superiores, tornam-se entes inservíveis e desprezáveis.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

24/09/2018

 

 Você se lembra do impeachment de Dilma Rousseff, aprovado pelo Senado Federal em 31 de agosto de 2016? Desde então, somente os petistas falam sobre o assunto por todos os seus cotovelos. Evocam-no de modo incessante, repetindo o bordão do “golpe”. Afirmam-no onde houver um microfone, uma câmera, um pedaço de papel para cartaz e um toco de lápis. Afirmam-no no Brasil para influir no exterior e no exterior para repercutir no Brasil.

Você se lembra da condenação de Lula no processo do triplex, o primeiro em que foi julgado dentre a meia dúzia em que é réu? Observe que a minuciosa descrição de provas e causas da condenação, na prática, só foi ouvida na longa leitura dos votos dos eminentes desembargadores federais do TRF-4. A sentença, contudo, não possui o dom de dar voz e propagar suas razões. Já o réu e seus seguidores, falando sem contraposição, fizeram o que mais sabem para impor sua versão. O PT domina as técnicas de convencimento por repetição exaustiva.

Recordemos. As estratégias e ações próprias da campanha eleitoral começaram no palanque da pantomima “religiosa” que antecedeu à prisão e se prolongaram no acampamento Marisa Letícia. Quando este esgotou sua capacidade de gerar repercussão, foram desencadeados os infindáveis e reiterados recursos, aos quais se somou um conjunto de iniciativas suficientes para transformar a carceragem da Polícia Federal de Curitiba em impossível, mas notório, comitê político de Lula. A fictícia pré-candidatura, cuja teimosia, durante meses, venceu a razão e se impôs à condução regular de uma efetiva execução penal, virou fantasmagórico pedido de registro, com direito a sessão de julgamento pelo pleno do TSE! Tudo antecedido por e sucedido pela mais espetacular e concentrada avalanche de baboseiras recursais já vista no Direito Eleitoral brasileiro. Quando, nos primeiros dias deste mês, a lâmpada se foi transferindo da carceragem para o poste, a versão petista da prisão política ainda encontrou bom preço. O PT vendeu como coisa séria a tese de que as razões de nosso Direito e da nossa Justiça se deveriam submeter a um papelucho expedido por duas insignificantes criaturas a serviço de um comitê chinfrim que ostenta tênues ligações com os colegiados multinacionais da ONU.

Durante todo esse tempo, o petismo ficou falando sozinho, refutado por meros sorrisos de desprezo e comentários irônicos, tão justificáveis quanto inúteis. A ascensão na cena eleitoral do “triplex” Lula, Haddad e Manuela era mais do que previsível, portanto. A chave disso é resiliência e trabalho.

A duas semanas da eleição, apenas algo totalmente fortuito, out of the script, poderá impedir que esta eleição, em turno único ou em dois turnos, transcorra afastada da polarização entre Bolsonaro e Haddad. Um segundo turno será apenas a repetição temática do que já se revelou essencial no primeiro. Em outras palavras, penso que a escolha se trava entre mudança e continuidade.

Bolsonaro representa mudança e reformas sem as quais o Brasil voltará a quebrar e a miséria baterá a um número crescente de portas. Nesse particular, ele disputa terreno com outros quatro candidatos também reformistas. É nas pautas do combate à corrupção, da força à Lava Jato, da segurança pública, da proteção da família e da inocência infantil, do direito dos nascituros, da despartidarização da Educação etc., que Bolsonaro sobrepuja Alckmin, Amoedo, Álvaro e Meirelles. Estes, para combatê-lo, cometeram o erro de se afastar de temas que suscitam elevado interesse social.

Haddad se empenha em não deixar dúvidas de que representa a defesa de seus corruptos, o desprezo à Lava Jato e a Sérgio Moro, o desarmamento e o abrandamento da legislação penal, a ideologia de gênero nas escolas, a politização da Educação etc.. E, também, o retrocesso nas tênues reformas empreendidas durante o governo Temer. Contra estas, aliás, sempre se postou o PT, que anuncia, agora, a intenção de as revogar, empurrando-nos de volta à situação recessiva dos anos Dilma.

Ninguém pode pretender convencer que não gosta daquilo que louva, que jamais mereceu sua mínima reprovação e que financiou a fundo perdido. Essa não! Todos os integrantes do “triplex” petista têm longa história de apreço por governos socialistas e comunistas nascidos no Foro de São Paulo. Em momento algum, nas últimas quatro décadas, manifestaram estima por qualquer democracia de respeito. É estranho, mas real: o Brasil precisa decidir se quer a situação venezuelana como referência do passado ou do futuro.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.