Compreender as boas convicções que movem seguidores de Henrique Meirelles, Alvaro Dias, João Amoêdo e Geraldo Alckmin é tão fácil quanto perceber o estrago que estão em vias de causar. Principalmente se, numa hipótese de segundo turno, esses eleitores estiverem dispostos a votar em Bolsonaro contra o petismo. A volta do PT, sabemos, significa o retorno de Lula e José Dirceu, a anunciada “tomada do poder”, o socialismo, a venezuelização, a preferência pelos bandidos. Significa, também, a nomeação de mais dois companheiros para o STF, o aparelhamento definitivo do Estado, o avesso das necessárias reformas, a fuga de capitais e o desemprego (emprego, quem cria, são as empresas, mediante investimentos que dependem de estabilidade e confiança). Por aí vai o longo, longuíssimo, circuito das desgraças.
Conheço pessoas convictas de estarem submetidas a um preceito moral que as obriga, num primeiro turno, a votarem em conformidade com suas convicções. Para elas, se um dos quatro candidatos acima mencionados, melhor do que qualquer outro, preenche os requisitos para o exercício da presidência, é a ele que devem dar seus votos. Reservam ao segundo turno a opção pelo que considerarem menos pior dentre os dois remanescentes.
Não se trata, aqui, de discutir preferências, mas de puro realismo. Já se conhecem os dois remanescentes. Trata-se, apenas, de saber se no primeiro turno, o “voto útil” para evitar o segundo turno é moralmente menos qualificado do que o voto dito de consciência, mas inútil. Dizem esses eleitores: “No primeiro turno, devo votar segundo a imposição do bem maior. No segundo turno, voto contra o mal maior”.
Tal atitude estaria correta, corretíssima, se não existissem múltiplas e sucessivas pesquisas eleitorais. No entanto, elas existem e desconsiderá-las não responde ao critério moral da prudência. As pesquisas dizem que ou Jair Bolsonaro vence esta eleição agora, ou enfrentará seu oponente num renhido e incerto segundo turno.
É desnecessário discorrer sobre competências e recursos da máquina eleitoral petista, nem sobre a manifesta superioridade de seu marketing. Não preciso mencionar o poder de cooptação que essa estrutura e seus recursos exercem sobre indivíduos e grupos cujo senso moral oscila entre o estado líquido e o gasoso. Menos ainda, referir o acirramento de tensões e o divisionismo que se instalará no país durante as três semanas anteriores a 28 de outubro. A campanha irá às ruas e os bons modos não ilustrarão seus presumíveis cenários.
A parcela da cidadania formada por produtores, empreendedores, investidores e consumidores, já sinalizou sua preferência, mostrando que, simetricamente à ascensão de Bolsonaro nas últimas pesquisas, a bolsa subiu (as empresas brasileiras se valorizaram) e o dólar caiu (a moeda brasileira recuperou valor frente à moeda americana). Tudo andaria em sentido inverso se a opção petista preponderasse.
Pesquisas eleitorais trazem informação, e ela recomenda, enfaticamente, atrair para Bolsonaro, já no dia 7, os votos que serão dele caso a decisão final seja adiada para as incertezas do dia 28 de outubro.
Espero que as boas intenções de alguns não sirvam para aumentar as angústias do tempo presente e os males do tempo futuro.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Geraldo de Andrade Junior - 08/10/2018 15:23:45
Opinião acertada. O bom entender sabe que o "derretimento" , no final da campanha, dos votos destes quatro candidatos citados no inicio do texto deve-se à prudente e pragmática decisão em prol do país. Afinal, a politica é também a arte do consenso e do acordo possível, na medida que o acordo ideal esteja inviabilizado.André Ambrosio Abramczuk - 08/10/2018 02:29:04
Discordo! O meu voto foi para um dos que eu sabia de antemão que não ganharia nem iria para o segundo turno. Votei consciente. Poderia ter votado naquele que as pesquisas diziam que iria ter a maioria. Mas eleição não é corrida de cavalos. Prefiro aceitar a batalha de um segundo turno, mesmo desgastante. Que os partidários de Bolsonaro consigam persuadir aqueles que votaram em Alckmin, Meirelles, Amoêdo e Álvaro Dias a votar em Bolsonaro. Isso porque sabemos a quem Ciro, Marina e Boulos vão dar apoio.Dagoberto Lima Godoy - 07/10/2018 15:35:03
Espero que muitos seguidores de Henrique Meirelles, Álvaro Dias, João Amoêdo e Geraldo Alckmin leiam o seu "orgânico artigo, ANTES de votar, hoje.NILSEU cavalheiro - 07/10/2018 14:41:00
Perfeito. Não há como compreender que pessoas boas e inteligentes não decidam já. Cenário muito CLARO. Postergar decisão no segundo turno seria o mesmo que postergar um parto em três dias.... Que brasileiros sejam iluminados. ????????????????????????Gustavo Pereira dos Santos - 07/10/2018 14:34:00
Dr Percival, o Capitão vencerá no 1º turno. O Mercado falou alto, quase me deixou surdo.Decio Antônio Damin - 07/10/2018 11:48:09
O seu artigo é realista e encerra a questão...Foi muito útil para ratificar o que pensamos!Carlos Eduardo Félix da Silva Brum Duarte - 07/10/2018 01:52:41
Não entendi a lógica do artigo que transforma eleitores conscientes e com boas convicções que votarão no candidato que acham melhor no primeiro turno , em completos imbecis influenciados pela propaganda política e a maquina petista no segundo!!! Se as pesquisas fossem realmente determinantes Aécio jamais chegaria ao segundo turno (no lugar de Marina) contra Dilma... Agora é a hora do eleitor que acredita num Brasil mais liberal, livre e democrático dizer isso, depois, bem... depois escolhe-se entre os que há, mas sem perder a consciência e as boas convicções.Áureo Ramos de Souza - 07/10/2018 01:39:57
Pesquisas não tem valor no meu entender, pois se temos 148 milhões de eleitores 2 mil não corresponde as pesquisas ditas válidas. A pessoa que acompanha a falação dos candidatos é quem deve decidir e não vá atrás de vantagem e votar quem está bem nas pesquisas como já frisei não é verdade é suposição e nós eleitores não vivemos de suposição, vivemos de propostas e olhe lá que as propostas as vezes o candidato não tem condição de fazer no primeiro ano.Luiz Carlos Mandelli - 07/10/2018 01:38:34
Certíssimo. Dar um voto inútil a um dos 4 de centro é colocar em risco o futuro do Brasil,em nome de uma fidelidade partidária absolutamente inócua. Com todas as pesquisas mostrando a polarização é a hora certa para o voto útil.FERNANDO A O PRIETO - 06/10/2018 18:59:26
Conforme seu excelente artigo mostra, nada que se pense ou diga, nenhuma argumentação, mudará o fato citado : ou a escolha se encerra agora, mesmo com a escolha de alguém que, aos olhos de muitos, pode não ser o ideal, ou partiremos para uma confrontação selvagem que poderá ser perigosa, com risco de, no fim, voltar ao poder o PT, que. sem dúvida, é pior ainda! Mesmo que ganhe o Bolsonaro, o aparelhamento do estado e a "lavagem cerebral" a que fomos submetidos fará seus estragos . Enfim, que Deus nos ajude!