• Milton Pires
  • 27 Janeiro 2015

 

 

 

Quando, na década de 1970, eu era uma criança, estudei numa escola pública. Morando a cerca de cem quilômetros de Porto Alegre, meu pai era médico numa cidadezinha que, na época, não tinha mais do que 30 mil habitantes. Lembro, um por um, dos nomes das professoras que chamávamos de “tias”. Toda vez que uma delas entrava em sala de aula, era nosso costume se levantar e não se começava lição alguma sem antes rezar o “Pai Nosso” ou a “Ave Maria”. Esses hábitos, firmados pelo tempo e pelo costume, davam sentido ao meu universo, então o universo de um menino, alheio à vida política do país..alheio a qualquer necessidade ou obrigação da rotina adulta que aos poucos nos vai roubando essa impressão de realidade fantástica em que transcorre o cotidiano do mundo infantil.

Tenho, desse tempo, uma lembrança inesquecível: em certas ocasiões faltava, por um motivo ou outro, uma de nossas professoras. Era costume então que uma outra “tia” nos levasse a um grande salão – na verdade imenso aos olhos de uma criança – onde assistíamos filmes que a secretaria estadual de educação distribuía em suas unidades pelo Rio Grande do Sul. Eram eles, os filmes, pequenos documentários...pequenas aulas sobre países e fatos da história ou da natureza que, no Brasil dos anos 70, constituíam uma raridade...uma verdadeira iguaria numa década em que sequer se poderia imaginar uma coisa chamada internet...Escutar rádio em ondas curtas era o que de mais próximo havia para quem buscava escapar do Jornal Nacional, da Novela das Oito, do Cassino do Chacrinha ou dos Trapalhões.

Nessa época, em 1976 ou 77, eu não tinha a menor ideia de quem eram Médici ou Geisel...eu não conseguia entender o significado das palavras ditadura ou democracia e olhava curioso para multidão que se reuniu, quase em frente à casa em que morávamos, para receber a estátua do General Costa e Silva numa praça da cidadezinha em que eu vivia e na qual ele havia nascido. Naqueles dias, ninguém me poderia explicar por que os temas dos documentários que a escola nos mostrava eram tão distantes da realidade brasileira...Por que nós precisávamos assistir filmes sobre a vida na China antiga ou sobre as usinas termoelétricas da Alemanha?...Qual o sentido de mostrar a um menino de 11 ou 12 anos, nascido no Rio Grande do Sul, os filmes em super oito que os consulados em Porto Alegre pareciam oferecer como presente para minha imaginação que, uma vez despertada, obrigava meu pai a voltar da antiga Livraria do Globo com sacolas e mais sacolas de livros?

Quarenta anos depois disso que eu descrevi...depois de tudo que aconteceu no país...depois de homem feito e pai de família, não é difícil dar sentido aos filmes que a escola me apresentava. Era o próprio distanciamento, o próprio esquecimento do Brasil que se fazia necessário impor nos bancos escolares: a ditadura nos oferecia “viagens”...nos mostrava outros países e outras histórias...Não se “politizava” estudantes...Não se alimentava a “subversão”...

Ontem, 26 de janeiro de 2015, durante todo o dia, eu tive pela TV, pelo rádio e pela internet brasileiros, uma quantidade maior de informações sobre a tempestade de neve nos Estados Unidos do que qualquer outro assunto. Eu fiquei sabendo tudo sobre a preparação de Nova Iorque para enfrentá-la. Eu assisti entrevistas, eu vi o prefeito dando declarações..vi comparações com tempestades anteriores...Eu vi tudo isso na mesma semana em que o Brasil do PT, em virtude da falta d'água, desliga sua segunda usina hidroelétrica e a maior cidade do mundo abaixo da linha do Equador, São Paulo, segue ameaçada por apagões e pelo racionamento de luz e de energia..Eu voltei no tempo e me senti mais uma vez um menino da década de 70...uma criança para quem as palavras “atentado à bomba” ou “subversão” precisavam ser esquecidas nos documentários que eu assistia e que marcaram minha vida para sempre...Vida que hoje, já no seu outono, ainda enxerga esse mundo de 2015 com os mesmos olhos de um menino da Taquari da década de 70 assistindo quietinho, impressionado, no salão da velha escola um filme lindo e sem sentido repetido dezenas e dezenas de vezes ….. “A Primavera no Japão”

Para o meu pai...que me ensinou a ler...

Porto Alegre, 27 de janeiro de 2015. 

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  • Jorge Hernández Fonseca
  • 27 Janeiro 2015

El año 2015 ha entrado en Cuba con un nuevo reto: ¿Redundará el acercamiento de EUA a Cuba necesariamente en la democratización de la sociedad cubana, o tendrá el efecto de un apoyo material a las disyuntivas económicas que enfrenta la isla debido al fracaso socialista?

Hay aspectos a puntualizar en el análisis del acercamiento norteamericano a la isla:
En primer lugar, para los estadounidenses en general (sea del partido que fuere) es más importante la estabilidad interna de la sociedad cubana actual que la derrota de la dictadura castrista por razones asociadas a dos aspectos: hay miedo en EUA de una estampida balsera incontrolada hacia la Florida ante un vacío de poder en Cuba y segundo, la oposición política cubana no se ha mostrado como una opción real de gobierno para la isla, capaz de hacer frente al poder del narcotráfico regional que golpea a México y Centroamérica.

En segundo lugar, la pérdida de las elecciones parlamentarias de Noviembre de 2014 que produjo la derrota al partido del presidente Obama, ha sido enfrentado con medidas populistas de impacto en el electorado latino de EUA: por un lado, un decreto facilitando a varios millones de ilegales dentro del país para que regularicen su situación migratoria y por otro, la retomada de las relaciones diplomáticas con Cuba, en medio de un confuso intercambio de presos.

En tercer lugar --y por la participación activa del Vaticano y Canadá, nada sospechosos de querer favorecer la continuación del esquema comunista en Cuba-- aparentemente se ha impuesto la visión internacional de que este acercamiento podría redundar en un cambio democratizador dentro de la isla a medio plazo, a pesar de no haber una hoja de ruta a seguir.

Un aspecto poco despreciable salta a la vista: los opositores cubanos de dentro y fuera de Cuba, que siempre han sido calificados por el castrismo como “asalariados de Washington”, se han mostrado –casi unánimemente-- contrarios a las decisiones de sus supuestos “financiadores”. En este sentido hay dos posibilidades: o los opositores cubanos --que supuestamente son financiados por EUA-- perderán sus “salarios” por desobedecer al “amo”; o, como segunda posibilidad, que la oposición política cubana –tal y como sucede en todos los países del mundo-- es variada, independiente y tiene sobre su país su propio punto de vista.

Lo anterior quiere decir que hay un subproducto claro en este diferendo entre la oposición política cubana y el gobierno de los EUA: no hay conexión causa-efecto entre la posición de la oposición cubana y la posición oficial de EUA. Será en adelante mucho más difícil calificar como “asalariado de EUA” a cualquier opositor cubano que promueva actividades políticas democráticas dentro de la isla, como ya ocurrió con los hechos represivos alrededor de Tania Burguera, calificada por la dictadura como “contrarrevolucionaria”, pero no como “asalariada de Washington”, o manejada tras bambalinas por la Oficina de Intereses de EUA en la Habana.

Este particular, a los ojos del mundo es muy importante, ya que a la oposición cubana se quería hacer ver como un apéndice de EUA y estos hechos han demostrado su independencia. En cualquier país del mundo la oposición lucha por sus intereses, que en el caso cubano es la democratización política de la sociedad y no únicamente la liberación de aspectos económicos, como quieren Raúl y Obama, manteniendo intacta la dictadura que oprime a los cubanos.
Esa es la gran diferencia entre la lucha de la oposición política cubana y la línea del gobierno norteamericano actual. EUA jerarquiza la estabilidad política con cambio económico, seguros que uno implica en el otro, mientras que la oposición cubana lucha por ¡democracia ya!


Artículos de este autor pueden ser encontrados en http://www.cubalibredigital.com
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 26 Janeiro 2015


SYRIZA
Ontem, a Comunidade Europeia, notadamente os países da Zona do Euro, ganhou um legítimo presente Grego, ao ver confirmada a conquista de 149 das 300 cadeiras do Parlamento, obtida pelo SYRIZA, partido ultra-radical esquerda da Grécia, liderado por Alexis Tsipras.

CONTRA A AUSTERIDADE
O Syriza, por ser ultra radical de esquerda, já deixou bem claro, ao longo da campanha eleitoral, que não pretende cumprir o programa de austeridade, firmado entre o governo anterior e a Troika ( União Europeia, Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional).

CALOTE
Isto significa, alto e bom som, que o novo governo grego vai dar um solene CALOTE aos credores das instituições que formam a Troika. A vitória do Syriza significa que a Grécia vai dar uma legítima e sonora Banana àqueles que lhe estenderam a mão através de um mega-auxílio financeiro concedido ao país, que totaliza algo como 250 bilhões de euros. Pode?

HUMILHAÇÃO
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, para quem não sabe, afirmou por diversas vezes, com grande ênfase, que a Troika é -coisa do passado-. E que, em caso de vitória de seu partido, confirmada ontem nas urnas, a Grécia -deixaria para trás a austeridade após cinco anos de humilhação-.

PRODUZIR POBREZA
Com a vitória do Syriza, a Grécia entra para o clube dos países social-comunistas existentes no nosso planeta. E, como é sabido através da situação de todos que optaram por esse caminho, vai produzir pobreza em grande escala. Isto em plena Europa, que por muitos anos mostrou o quanto o comunismo é capaz de destruir. Pode?

ESCASSEZ
Desfeito, na marra, o contrato firmado pelo governo anterior com a Troika, a tal -humilhação- referida por Tsipras vai dar lugar à uma -escassez- de produtos e serviços sem precedentes. Sem dinheiro e sem estímulo, o povo grego vai à míngua. Com toda força, como já acontece na Venezuela, Argentina e dentro de pouco tempo também no nosso pobre Brasil.

FAZENDO AS MALAS
Com a eleição de Tsipras, a turma da Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), conhecida como Unasul para os desatentos, deve estar em estado de euforia. Muito provavelmente, Dilma e seus amigos já devem estar fazendo as malas para participar da posse do mais novo comunista. Será uma festa e tanto, não?

www.pontocritico.com

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  • Guilherme Fiuza
  • 26 Janeiro 2015

 

O chocante atentado em Paris contra uma revista de humor ultrapassa as fronteiras da França e da Europa. É a versão terrorista e sanguinária de uma praga que se espalha por todo o planeta: a caçada à liberdade de expressão fantasiada de revolução anticapitalista.

Por incrível que pareça, o Estado Islâmico, com seu método de tentar calar os oponentes cortando-lhes a cabeça, tem discretos simpatizantes entre “progressistas” do Ocidente – esses zumbis da esquerda que continuam se sentindo nobres e humanitários por detestar os Estados Unidos. No Brasil, o último grande movimento de massas gerou um único e bizarro fruto concreto: uma escória de depredadores boçais que conseguiram até o apoio de sindicatos de professores. Todos supostamente unidos contra o poderio da elite branca – e todos, na verdade, tentando a vida fácil de camelôs da bondade. A revolucionária e destemida Mídia Ninja terminou contratada pela campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Chegou-se a ver uma certa esquerda culta fazendo uma defesa envergonhada e meio dissimulada da violência. A palavra “vandalismo”, usada com propriedade para classificar as ações patológicas dos black blocs, acabou virando bordão debochado entre essas tribos antenadas. “Vandalismo” seria um tratamento conservador e reacionário por parte da mídia burguesa, para estigmatizar protestos legítimos e heroicos. Estudantes e intelectuais chegaram a portar broches com a inscrição “vândalo” – para tentar ironizar os críticos do quebra-quebra. Se esse ponto de vista ignorante, irresponsável e complacente com a violência chegou a proliferar entre gente esclarecida de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, pode-se imaginar o potencial de sucesso que a propaganda da barbárie politicamente correta tem ao redor do mundo.

Falar em “barbárie politicamente correta” já seria em si uma estupidez – se esse fenômeno não pudesse ser, infelizmente, identificado a olho nu. Quando um cinegrafista da TV Bandeirantes foi morto no centro do Rio de Janeiro por um rojão dos “manifestantes”, uma numerosa turma “progressista” educada e bem alimentada passou a dizer que a mídia capitalista estava explorando um cadáver para coibir os protestos contra o sistema. Se a desonestidade intelectual chega a esse ponto, por que não dizer que a repercussão da morte dos chargistas franceses seja também uma tentativa de vitimizar o capitalismo?

Esse vale-tudo da propaganda ideológica quer fundar uma nova verdade na marra. Os impostores que estão governando o Brasil há 12 anos só não foram enxotados ainda porque montaram um conto de fadas eficiente (tosco, mas incrivelmente eficiente). Quase mensalmente o governo popular solta alguma historinha sobre a ditadura militar e suas vítimas. É uma tragédia real que foi devidamente mercantilizada pelo PT – como a vitamina ideal para seu figurino de vítima. Consegue assim o milagre de mandar e desmandar no país sem perder a aura de combatente contra os poderosos e arbitrários. O ápice do sucesso desse projeto de cinismo assumido foi o discurso de posse da presidente reeleita: com a expressão mais tranquila do mundo, Dilma Rousseff atacou a corrupção e defendeu a Petrobras.

Petrobras cuja CPI seu governo trabalhou para sepultar. Petrobras que foi arrombada por um escândalo gestado sob o governo do PT, com operadores desse roubo bilionário diretamente ligados ao Planalto e ao partido governante. A praga do envenenamento da verdade, que ameaça jornalistas e humoristas no Brasil e no mundo, é o grande trunfo desses projetos autoritários fantasiados de revolução social. Só uma verdade envenenada permite que Dilma faça um discurso defendendo a Petrobras, e o Brasil não perceba a zombaria.

Qualquer humorista brasileiro sabe que nos últimos anos ficou mais difícil satirizar o governo – que em si já é uma sátira. A guerra da informação é uma das principais plataformas desse projeto populista de poder. Já tentaram contrabandear censura à imprensa em programa de direitos humanos – para ver que não fazem cerimônia. Simpatizantes do PT vandalizaram uma editora que publicou reportagem sobre o petrolão. Os fins (postiços) justificam os meios (boçais). Paris não é longe daqui.
 

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  • Paulo Rabello de Castro
  • 24 Janeiro 2015


No meio da tarde mais quente dos últimos anos, o ONS mandou apagar, preventivamente, parte do sistema de distribuição de energia elétrica do País, para evitar uma queda drástica de todo o sistema. Mas não foi só isso que foi suprimido dos brasileiros sem aviso prévio. O governo decidiu, no mesmo fatídico dia 19, apagar a inteligência nacional ao tentar convencer o público de que as medidas de escalada tributária do novo ministro da Fazenda, anunciadas no mesmo dia, representavam esforço de “austeridade fiscal” por parte do setor público. De fato, existe um grave déficit entre despesas e arrecadação tributária que precisa ser contido para, segundo o ministro Levy, “recuperar a confiança da economia”. Boa tese, sempre bem-vinda, essa do resgate da confiança. Não existe política econômica sem confiança nas pessoas do governo, em sua competência e retidão de objetivos.

A austeridade fiscal, entretanto, não mais se obterá no Brasil com aumento de carga tributária, seja com que desculpa for apresentada. A razão é simples. A capacidade contributiva da economia como um todo está muito próxima ao esgotamento. Haja vista a sequência de refinanciamentos fiscais (REFIS) promovidos pelo fisco. O governo tenta extrair um pouco mais de sangue por um braço do paciente, mas as veias do enfermo estão murchas. As incisões são cada vez mais dolorosas e improdutivas. É uma abordagem perdedora. Por isso, custa a crer que o patrocinador dessa manobra extrativa contra a economia enferma seja um profissional de boa escola, que um dia aprendeu de onde vem a real recuperação de um corpo econômico debilitado: só cuidando das forças da oferta, ou seja, das condições da economia de quem produz, e não da saúde de quem só vive de rendas em primeiro lugar.

Acontece que governos só vivem de rendas. Não por mal ou por vício, e sim, por definição. Para gastar, governos têm que tomar de alguém, de algum modo. Para tanto, existem jeitos e maneiras, e há limites. Adam Smith, o primeiro e, talvez, o maior de todos os economistas, no seu primordial “A Riqueza das Nações” (em 1776!) já nos lembrava de que impostos têm que ser simples e módicos. Por quê? O pagador tem que sobreviver ao imposto e, depois de contribuir, ainda ser capaz de prosperar. Fácil, não? Pois essa verdade vem sendo agredida no Brasil sem que qualquer ação reparadora de um poder de Estado surja em defesa do direito fundamental do povo de sobreviver ao imposto. Não espanta que não tenhamos mais progresso. Aliás, até o FMI agora projeta mais dois anos de total estagnação no País: 0,3% de “expansão” do PIB este ano e um pífio 1,5% em 2016. Dá pra acreditar? E pode ser pior do que isso...

A razão tributária da estagnação brasileira é evidente. Quando o IOF sobre operações de empréstimos passa de 1,5 para 3%, o governo não está querendo conter o consumo, como alega. O consumo em 2015 está morto e enterrado. O governo age com indisfarçada voracidade arrecadadora; tornou-se um impostólatra. Como um bêbado inveterado, só pensa em sugar o que restou da disponibilidade até dos endividados. Óbvio que a economia só afundará mais com medida tão infame. E quando eleva a CIDE com instinto igualmente arrecadador, engana o público duplamente: ao dizer que busca “austeridade” quando, de fato, está criando um enorme custo adicional para toda a cadeia produtiva nacional, portanto, medida recessiva; e, pior, quebrando a lei, pois CIDE não é imposto, é contribuição de fomento ambiental e ao transporte público e infraestruturas de apoio. Portanto, a CIDE só contribuirá para a suposta austeridade fiscal se os recursos forem desviados de sua finalidade legal. E por ai vai, na sequência de agressões à inteligência e ao bom-senso, um grande apagão da esperança debilmente produzida quando do anúncio de nomes de orientação técnica para a condução da economia. Repito: não se faz austeridade verdadeira no governo com qualquer elevação de tributos; pelo contrário, um governo que recorre a aumento de imposto para fechar rombos fiscais joga a austeridade sobre os ombros do povo, que paga a conta do gastador. Austeridade é uma coisa só: gastar menos ou, no caso do nosso governo, mesmo assim gastar mais, porém no ritmo da economia que o sustenta. Contudo, há mais de uma década o governo vem gastando em velocidade muito superior ao crescimento do PIB. Aí nada pode dar certo, nem com toda boa vontade do mundo. Onde está a regra de contenção do gasto federal? Nada de concreto nos foi apresentado, muito menos algo que mude em definitivo o MODO de gastar do governo, que lhe crie efetivo constrangimento a meter a mão no bolso furado do público. 

Não foi só apagão elétrico. Desse, ainda vamos ver muitos, pois o sistema opera no limite. O pagador de tributos também opera além do limite. A estupidez em matéria de política econômica também já passou do limite. E quantos apagões ainda teremos que suportar até que nossa paciência também chegue a um limite?

(*) O articulista coordena o Movimento Brasil Eficiente e convida quem queira se manifestar sobre o tema deste artigo a visitar o site www.assinabrasil.org
 

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 23 Janeiro 2015

 

Alguns detalhes sobre os Serviços de Inteligência de Israel, considerados os melhores do mundo


O Serviço de Inteligência é a batalha das mentes e cérebros e a função dos equipamentos é ajudar o ser humano em seu desafio conceitual. Mas na integração do homem e da máquina o fator humano é decisivo, mormente no Serviço de Inteligência” (Meir Amit, diretor do MOSSAD de 1963 a 1968).

Trinta e dois séculos após Moisés ter acatado a ordem de Deus, escolhendo 12 eminentes israelitas para se infiltrarem na Terra Prometida, o Estado de Israel foi criado, em 1948, e Ben Gurion, seu primeiro presidente, fez exigências rigorosas a seus agentes secretos: que fossem motivados pelo patriotismo; que representassem os melhores aspectos da sociedade israelense; que obedecessem ao postulado singular de comedimento; e que se lembrassem que defendiam uma democracia e não um Estado monolítico.

Nesse sentido, Israel é um país singular sob muitos aspectos, um dos quais tem sido o total apoio de seus cidadãos aos Serviços de Inteligência, considerados entre os melhores do mundo.

Os Serviços de Inteligência de Israel, assim como os de outras nações, são um reflexo de suas sociedades, das quais trazem seu poder de inspiração. Cada país possui uma estrutura de Inteligência moldada à sua própria imagem, refletindo a índole e as características culturais da Nação.

O que está no centro dos Serviços de Inteligência de Israel, diferenciando-os dos demais serviços de qualquer outra Nação, é a imigração. Desde a sua formação a comunidade de Inteligência de Israel empenhou-se em proteger os judeus em todo o mundo e ajudá-los a emigrarem para sua Pátria bíblica.

Quem pode imaginar a CIA, por exemplo, com a tarefa de proteger cada possuidor de passaporte dos EUA através do mundo?

A tarefa de defender não apenas o Estado, mas também “todo o povo de Israel” é a missão precípua dos Serviços de Inteligência de Israel: MOSSAD (Inteligência Externa, criado em 1951), AMAN (Inteligência Militar, criado em 1949), SHIN BET (Segurança Interna, criado em 1948), Serviço de Ligação (para a Imigração Judaica, criado em 1958), LAKAM (com a função primária de resguardar o programa nuclear secreto e obter dados científicos e tecnológicos no exterior, criado em 1957) e Departamento Político do Ministério do Exterior, criado em 1948.

Desde sua criação, o Estado de Israel vê-se cercado por um círculo de nações árabes hostis. Todas essas nações, todavia, possuem minorias étnicas e religiosas e Israel sempre pôs em prática o desenvolvimento de amizades com essas minorias, que sofrem, como Israel, em maior ou menor grau, com a ascensão do nacionalismo e radicalismo árabes. A idéia por trás dessa tática pode ser resumida em uma frase: “os inimigos do meu inimigo são meus amigos”.

Qualquer força que lute ou se oponha ao nacionalismo árabe é considerada por Israel uma aliada em potencial: a minoria maronita no Líbano, os drusos na Síria, os curdos no Iraque e os cristãos do Sul do Sudão, todos sofrendo o jugo das maiorias muçulmanas de seus países. O conceito de manter contato com todos eles tornou-se conhecido para as lideranças israelenses como “a aliança periférica”.

Desde 1951, quando foi criada, a agência externa, o MOSSAD, possui acordos de cooperação com a CIA. Mas a grande abertura dos altos escalões dos Serviços de Inteligência ocidentais para com o MOSSAD decorreu de uma vitória conseguida na Europa em 1956, quando os israelenses conseguiram superar a CIA, o MI6 inglês, franceses, holandeses e outros Serviços de Inteligência ocidentais que buscavam o texto de um discurso: o discurso secreto pronunciado por Nikita Kruschev no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, que praticamente sepultou a era Stalin ao relatar, pela primeira vez, os horrores dos gulags, dos julgamentos encenados, dos assassinatos e das deportações de populações inteiras.

A partir de então, a reputação do MOSSAD tornou-se uma lenda.
Em suas memórias, Isser Harel, que dirigiu o MOSSAD de 1952 a 1963 e o SHIN BET de 1948 a 1952, escreveu: “Fornecemos a nossos equivalentes americanos um documento que é considerado uma das maiores realizações na história da espionagem: o discurso secreto, completo, do 1º Secretário do PCUS”. Harel, entretanto, não revelou como conseguiu o discurso.

Como qualquer outro país, o MOSSAD possui agentes secretos trabalhando nas embaixadas, sob cobertura diplomática. Onde não é possível estabelecer relações oficiais ou estas são cortadas por divergências políticas, os diplomatas alternativos do MOSSAD desempenham tarefas que normalmente não são da competência dos Serviços de Inteligência. Especificamente, na África, a CIA forneceu milhões de dólares para financiar as atividades clandestinas de Israel, pois sempre foram consideradas do interesse geral do Ocidente.

De acordo com o conceito periférico do primeiro diretor do MOSSAD, os vínculos sigilosos de Israel com a Etiópia, Turquia e Irã nunca deixaram de existir. Tanto Israel quanto o Irã ajudaram a revolta dos curdos contra o governo do Iraque; agentes do MOSSAD no Iêmen do Sul ajudaram os realistas a combater os egípcios; no Sul do Sudão aviões israelenses lançaram suprimentos para os rebeldes cristãos; e, no fundo da África, o MOSSAD operou num lugar tão distante como Uganda, em outubro de 1970, ajudando Idi Amin a depor o presidente Milton Obote.

Em todos os países há Estações do MOSSAD, sempre operando sob a cobertura diplomática, dentro das embaixadas. O chefe da Estação, todavia, não comunica suas atividades ao embaixador e remete seus relatórios diretamente para o MOSSAD, em Tel-Aviv. Suas missões incluem ligações oficiais com os Serviços de Inteligência do país-anfitrião, mas também operam suas próprias redes, sem o conhecimento do país-anfitrião.

A ênfase em atividades semi-diplomáticas concentra-se basicamente em dois continentes: África e Ásia.
O sucesso do SHIN BET em controlar os territórios tomados em junho de 1967, na Guerra dos Seis Dias (margem ocidental da Jordânia, Sinai e Faixa de Gaza do Egito, e as colinas de Golan) teve um preço: a sociedade israelense passou a ser julgada no mundo exterior pelo que se podia observar a respeito de sua política de segurança. A subversão e os atentados com os homens e mulheres-bomba foram e vêm sendo esmagadas, mas a boa vontade para com Israel no resto do mundo diminui, graças, fundamentalmente, à mídia. Em vez de admirado por grande parte da opinião política internacional, o Estado judaico tornou-se abominado para muita gente.

O SHIN BET, forçado pelas circunstâncias passou a ser encarado como uma força opressora de ocupação. Teve que aumentar seus efetivos, os critérios de recrutamento foram facilitados e o perfil social de seu pessoal mudou. Os novos agentes baseavam sua atuação mais na força do que na inteligência. A natureza diferente da missão também determinou novos métodos. Numa época em que dois mil árabes era detidos para interrogatórios, em que carros explodiam e hotéis e aviões passaram a ser alvo dos terroristas, o essencial era extrair informações tão rápido quanto possível. O fator tempo – aliás, como em todas as guerras sujas - passou a ser o elemento mais importante e a ação rápida passou a exigir a brutalidade. Isso também ocorreu no Brasil na guerra suja dos anos 70.

Em 23 de julho de 1968, um Boeing 707 da El AL, num vôo de Roma para Tel-Aviv, foi seqüestrado e aterrisou na Argélia. Os seqüestradores eram três árabes, militantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Esse foi o primeiro e último seqüestro bem sucedido de um avião israelense. A partir daí Israel introduziu um esquema de segurança radicalmente novo em seus aviões de passageiros, colocando homens do SHIN-BET, armados, em cada vôo, viajando em poltronas comuns, disfarçados de passageiros, tornando a EL AL a empresa mais segura do mundo.
O mundo, no entanto, só tomou conhecimento dessas medidas quando um desses agentes respondeu a um ataque terrorista, em Zurique, em fevereiro de 1969, na pista do aeroporto de Kloten.

Em 1968, Meir Amit, diretor do MOSSAD desde 1963, foi surpreendentemente substituído pelo general Zvi Zamir, sem experiência anterior no Serviço de Inteligência. Segundo as especulações, ele havia sido substituído por ser eficiente demais. Os líderes do Partido Trabalhista, então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais...


Dados bibliográficos: Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.


 

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