• Jayme Eduardo Machado
  • 12 Março 2016

 

São quase 200 milhões de mareados viajando no “navio fantasma” perdido no oceano da corrupção do Governo. Que se travestiu de Estado para se apropriar de suas instituições e através delas subsidiar a ilusão dos miseráveis, ao gosto do demiurgo de Garanhuns. Nisso, cavou o abismo da recessão e da inflação, fazendo soar o alarme do desemprego e das consequências do desamparo oficial à saúde, à educação, à segurança e o mais que se possa desamparar. Tudo para que se mantenha e acentue a desigualdade que justifica o cinismo de conveniência do mantra “nós e eles”.

A comandante resiste ao motim generalizado que de há muito contaminou sua própria tripulação, mesmo que supere a todos quantos a sucederam, em incompetência para chefiar, inaptidão para articular e cegueira estratégica para não enxergar a delinquência que a sustenta. Comporta-se como um náufrago que com uma das mãos se agarra ao timão transformado em biruta descontrolada, e com a outra tateia na escuridão à procura de objetos flutuantes lançados pelo “fogo amigo” e pelos bucaneiros-congressistas dos navios de abordagem.

Num deles (na Câmara), o comandante dissimula a condição de cadáver insepulto que se mantém de pé pela negação patológica de todas as evidências de sua morte política. Seu “fantasma”, subsidiado pelo deus de sua assembléia, se esmera na orquestração das patranhas de seus acólitos e aterroriza os inimigos pela chantagem, porque em sua maioria vulnerados ou pela corrupção, ou pela conivência com os corruptos que frequentam a Casa do Povo que mal preside.

No outro (no Senado), reina um “macunaíma” de Maceió que carrega nas costas um número de processos por crimes contra a Administração Pública jamais atingido pela mais corrupta alma – deste ou do outro mundo - que, por infelicidade geral, já tenha assombrado a Casa do Poder que mal dirige.

A esta, o terceiro poder (STF), transformado em “Supremo Constituinte”, recentemente subtraiu da outra, da do povo - embora dele devesse emanar todo o poder- o de decidir, com exclusividade, pela admissão do processo de “impeachment”. Na metáfora do navio, a tripulação suprema acredita haver fornecido ao comandante a rota “segura” na direção dos rochedos, onde só escapam do desastre os poucos que detém o uso exclusivo dos botes salva-vidas.

Por isso, neste 13 de março, abandone a acomodação do convés sinistro, vá às ruas para gritar: TERRA À VISTA !
 

 * Ex-subprocurador-geral da República

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  • Ucho Haddad
  • 11 Março 2016

Redação Ucho.Info


Dilma Rousseff já não tem condições para continuar à frente do governo. Como se não bastassem as pressões de petistas para que Lula seja guindado a algum ministério, como forma de se valer do foro privilegiado e evitar uma prisão iminente, a presidente agora vê o antecessor a dar ordens à equipe econômica, o que mostra condição acéfala do governo mais corrupto da história nacional.

Na tarde desta quinta-feira (10), Lula reuniu-se, em São Paulo, com lideranças petistas e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que ao comparecer ao encontro comandado pela jararaca de pelúcia mostrou frouxidão. No momento em que um ministro de Estado se rende às ordens de um investigado por corrupção e aceita explicar ao alarife a política fiscal do governo para 2016, fica claro que o País está sem comando e que tudo é possível a partir de agora. Tivesse pulso e poder de mando, Dilma já teria demitido Nelson Barbosa.

Não é de hoje que os petistas, contrariando todas as regras basilares, defendem a flexibilização da política econômica atual e um corte drástico no pacote de ajuste fiscal, Isso porque os “companheiros” querem salvar o partido na esteira do populismo barato que levou o Brasil à ruína.

Ciente de que jamais teve competência para governar de forma minimamente séria o País, Lula se valeu da popularidade míope e dos discursos inflamados para enganar durante o maior tempo possível a massa ignara da população. A equação bandoleira funcionou durante alguns anos, até que o ex-presidente pegou carona na crise internacional decorrente do “subprime” norte-americano. Desde então, até 2014, o Brasil viveu em um cenário que remete à fábula do “País de Alice”, o das maravilhas. E os petistas querem repetir a dose.

Arrogante como sempre, mas deveras preocupado com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, de onde pode surgir a qualquer instante um pedido de prisão, Lula continua agindo como se fosse o chefe do Executivo federal, ao mesmo tempo em que, ignorando a existência da legal ocupante do cargo, faz com que Dilma derreta em termos políticos.

A força-tarefa da Lava-Jato tem elementos de sobra para requerer a prisão de Lula, algo que até agora não aconteceu por cautela. Com o recrudescimento da crise múltipla (econômica, política, institucional e de credibilidade), a prisão de Lula torna-se um fator preponderante para a manutenção da ordem e garantia da democracia, desde que ocorra dentro dos limites da lei. O ex-presidente, que tem apelado reiteradas vezes ao expediente malandro da vitimização, tem agido para dificultar as investigações sobre o maior escândalo de corrupção da História, o Petrolão. Motivo mais que suficiente para prendê-lo.

Com as delações premiadas que devem surgir nos próximos dias no âmbito da Lava-Jato, a prisão de Lula e a queda de Dilma Rousseff é uma questão de tempo. Ao contrário do que previam os petistas, a deterioração da crise tem ocorrido com rapidez, o que certamente levará o PMDB, que reúne-se no próximo sábado (12) em convenção nacional, a decidir pelo rompimento com o governo petista.

Se isso acontecer – a chance não é pequena – Dilma terá no máximo tempo para organizar a mudança, caso queira manter os direitos políticos. Do contrário, será alvejada por um processo de impeachment devastador, até porque nenhum político será irresponsável de continuar defendendo um governo corrupto, juntamente com um partido que já foi rotulado como organização criminosa.
 

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  • Thomas Sowell
  • 11 Março 2016


(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)

A tentativa de reduzir a desigualdade econômica com o aumento da desigualdade política, que é a essência do marxismo, custou a vida de milhões de pessoas sob o poder de Stalin, Mao, Pol Plot, e muitos outros.

Como e por que eu larguei o esquerdismo de minha juventude para adotar as opiniões que tenho hoje, as quais são a favor do livre mercado e valores tradicionais? De certa forma, minha visão de como os seres humanos agem mudou mais do que a filosofia subjacente.

Quando eu era marxista, minha preocupação principal era em relação às pessoas comuns, pois achava que mereciam melhores condições de vida, mas a elite se aproveitava delas. Essa continua sendo minha maior preocupação, mas conforme os anos se passaram, aprendi que a elite cultural e a elite política fazem muito mais danos do que a elite econômica poderia um dia pensar em fazer.

Há uma explicação: as elites econômicas competem entre si. Se a General Motors não produz um tipo de carro que te agrade, você pode procurar na Ford, Chrysler, Honda, Toyota, etc. Mas se a Agência de Proteção Ambiental (EPA) chega no fundo do poço em relação ao serviço que presta, não há agência alternativa prestando o mesmo serviço ao qual se possa recorrer.

Mesmo quando uma empresa privada parece deter o monopólio da produção de um bem de consumo, como aconteceu com a Alcoa (Companhia de Alumínio da América), ela competirá com produtos alternativos. Se a Alcoa tivesse aumentado o preço do alumínio para aproveitar seu monopólio, muitas coisas fabricadas com alumínio passariam a ser produzidas com ferro, plástico, e outros tipos de materiais. O resultado final das forças do mercado foi, meio século depois do monopólio da Alcoa, o mercado passar a cobrar mais barato pelo alumínio do que cobrava inicialmente. Isso não se deu por altruísmo dos diretores da empresa, mas porque os competidores não lhes deixaram outra escolha.

A forma que você olha para o livre-mercado depende de como você enxerga o ser humano. Se todos fossem amáveis e gentis, o socialismo seria o melhor caminho. Em uma família tradicional, por exemplo, os recursos são gastos com as crianças, pois não ganham nenhum centavo sozinhas. Isso é socialismo doméstico, e até os capitalistas mais mesquinhos o praticam. Talvez um dia descobriremos criaturas em uma galáxia distante que conseguem conduzir uma sociedade inteira dessa forma. Mas a história dos seres humanos mostra que é inviável uma nação com milhões de pessoas funcionar dessa maneira.

O discurso do socialismo é inspirador, mas seus rastros na realidade são sombrios. Países que exportaram comida durante séculos, de repente se viram forçados a importar comida para evitar a fome, depois que a agricultura foi socializada. Isso aconteceu por todo o mundo, com pessoas de todas as raças. Qualquer um que tenha visto o contraste entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental, nos tempos em que metade da cidade era controlada por comunistas, não possui dúvidas em relação a qual sistema produz mais benefícios para o povo. As duas partes da cidade eram habitadas por pessoas de mesma raça, cultura e história, mas os que viviam na parte comunista eram muito mais pobres, além de terem menos liberdade.

Uma história parecida aconteceu na África, quando a Gana dependia de programas socialistas e a Costa do Marfim se baseava no livre-mercado, depois que ambos os países se tornaram independentes, na década de 1960. Gana começou com todas as vantagens. Sua renda per capita era o dobro da Costa do Marfim. Mas após duas décadas, com cada país sob influência de um sistema econômico diferente, 20% dos habitantes mais pobres da Costa do Marfim possuíam renda mais alta do que 60% da população de Gana.

Ineficiência econômica não é o pior aspecto de um governo socialista. A tentativa de reduzir a desigualdade econômica com o aumento da desigualdade política, que é a essência do marxismo, custou a vida de milhões de pessoas sob o poder de Stalin, Mao, Pol Plot, e muitos outros. Não se deve confiar o monopólio do poder sobre a vida das pessoas à políticos. Temos milhares de exemplos na história.

A minha vontade de que o povo tenha melhores condições de vida permanece, mas a experiência me mostrou, amargamente, que a maneira de alcançar este objetivo é o oposto do que eu imaginava.


Thomas Sowell,“From Marxism to the Market”. Capitalism Magazine, 2 de Janeiro de 2002.
Tradução: Laan Carvalho
Revisão: Rodrigo Carmo
http://tradutoresdedireita.org
 

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  • Guilherme Fiuza
  • 09 Março 2016

(Publicado originalmente na revista Época)

O primeiro problema causado pela prisão do marqueteiro João Santana se deu em menos de 24 horas. O programa do PT na TV foi saudado praticamente em todo o território nacional com um panelaço retumbante. O que significou esse panelaço? Aí é a falta que João Santana faz: normalmente, o Partido dos Trabalhadores surgiria prontamente com sua "interpretação" dos fatos – alguma coisa como "as pessoas estão protestando contra a perseguição ao presidente Lula" ou "a elite branca agora deu para frequentar a cozinha".

Como todo mundo agora já sabe, pobre que é pobre não se mete em cozinha: manda a empreiteira. E pobre que tem sítio e tríplex não bate panela, porque está feliz da vida. O que será de toda essa narrativa coitada depois da prisão do mago João Santana?

A queda do ministro mais importante de Dilma e de Lula – ou talvez o único, apesar de não ter cargo no ministério – é a primeira ameaça real à governabilidade petista. O líder do governo no Senado foi preso e o Planalto nem notou. Delcídio do Amaral não fez a menor falta. Tanto que, nesse caso, o PT soltou logo uma nota oficial (com a grife do ministro Santana) jogando o senador às feras, praticamente dizendo que a lambança era problema dele, ele que se virasse.

Aí a mulher do senador começou a reclamar, dando a entender que Delcídio não ia apodrecer sozinho. Viu-se então como o governo Santana trabalha bem: fica quietinha aí, companheira, que daqui a pouco a opinião pública esquece seu marido irrelevante e o companheiro Teori Zavascki solta ele.

Não deu outra: passado o Carnaval – cálculo bem feito para não gritarem que Delcídio seria liberado para a folia –, o senador saiu do xadrez. É claro que o Brasil, coitado, curando a ressaca do porre carnavalesco, não se lembra mais por que o eminente parlamentar havia sido preso. Mas a mídia golpista está aqui para ficar martelando esses detalhes desagradáveis: Delcídio do Amaral foi preso pela Lava Jato por ter sido flagrado tentando obstruir a investigação dos crimes do petrolão.

Vamos recitar direito o samba-enredo, para facilitar a compreensão pelo país do Carnaval: o líder do governo no Senado, isto é, o representante do palácio de Dilma Rousseff no Congresso Nacional, foi surpreendido e gravado planejando a fuga para o exterior do excelentíssimo prisioneiro Nestor Cerveró, condenado no escândalo de corrupção da Petrobras – no qual o próprio Delcídio já era suspeito, assim como o governo por ele representado.

Fica assim, então, o refrão do samba: Delcídio do Amaral está livre para voltar a trabalhar (sic) no Senado Federal, e livre também, portanto, para dar prosseguimento ao seu patriótico esforço de melar a Operação Lava Jato. O companheiro Teori Zavascki, goleiro inexpugnável do STF que não deixa passar uma bola sequer contra a companheira presidenta – em dupla afinada com o zagueirão Janot, que rebate tudo sem despentear a franja –, achou que não havia mais razão para manter Delcídio preso. Qual terá sido a sua premissa? Provavelmente, apostou que as pilhas do gravador do filho de Cerveró acabaram.

Realmente, se o rapaz não gravar mais nada, a ameaça cessa: a quadrilha do petrolão poderá voltar a desfalcar o Brasil honestamente, como aconteceu por mais de dez anos sem ninguém se incomodar. Como disse João Santana ao receber a ordem de prisão, o país mergulhou num "clima de perseguição". Lula teve de interromper sua lua de mel com a Odebrecht, Renato Duque foi caçado e encarcerado gritando "que país é este?", Delcídio do Amaral foi capturado indagando aos policiais "como assim, um Senador da República?". Como se vê, o país foi arrancado de seu clima de normalidade venal.

Nada disso seria problema sem a prisão do ministro João Santana. Antes, se o povo saía às ruas de verde e amarelo, lá vinha a genialidade canalha: "Essa gente está protestando contra a corrupção com a camisa da CBF?". Agora a pergunta é outra: "Esses malandros estão parindo slogans de vítimas com dinheiro do petrolão?".

Vamos ver se o novo samba cai na boca do povo: Dilma Rousseff foi eleita com dinheiro roubado da Petrobras – como sustentam os fundamentos da prisão de seu marqueteiro pago por fora (do país e da lei). Chegou a hora de a mulher sapiens sambar

 

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  • Carlos I. S. Azambuja
  • 09 Março 2016

Para o marxismo, a prática tem prioridade sobre o conhecimento e é o fundamento de todo o conhecimento. Essa é uma tese de Marx, que seus epígonos não hesitaram em manter, e que é a própria base do marxismo: a primazia da praxis sobre o conhecimento, da ação sobre a doutrina e do fazer sobre o ser.

A conseqüência imediata dessa tese no ensino é a de que, para o marxismo, "educar não é pôr em contato com a verdade e sim com a prática". Mao-Tsetung afirmou que uma das características do materialismo dialético "é o seu caráter prático; sublinha a dependência da teoria à prática; que a prática é a base da teoria; que o critério da verdade nada mais é que a prática social".

A educação e o ensino, para o marxismo, devem realizar, na prática, a vinculação do homem ao sentido da História. "A educação é necessária e seu significado e sua tarefa consistem em provocar a máxima aceleração no processo histórico e fazer possível a transformação da consciência dos homens".

Para o marxismo, a única forma possível de educar consiste em lograr que consciente e livremente – falamos de liberdade marxista – o educando se realize, por contradições sucessivas na natureza e na história; "a educação marxista deve ser interpretada como acomodação...a educação é uma atividade acomodadora à situação revolucionária...educar é socializar".

O professor desempenha papel importante e "é fundamental que o ensino esteja em mãos de professores ideologicamente doutrinados e capacitados para acender a chispa da consciência comunista em seus alunos e, ademais de uma formação adequada, deve ter, acima de tudo, uma consciência política. A Escola e o Ensino devem estar permanentemente controlados para evitar a infiltração de resíduos e concepções burguesas"
É esse o objetivo da educação marxista: formar consciências comunistas.

E isso, como é obtido?

O procedimento varia segundo as circunstâncias. Não é o mesmo quando o marxista esteja no Poder, ou quando ainda não tenha conseguido a tomada do Poder. Quando domina a sociedade todos sabem como opera e, no outro caso?

Em primeiro lugar devemos ter em mente que o marxismo não trata de melhorar nada, e sim fazer uma transformação total, face ao seu próprio caráter dialético. A crítica do marxismo a toda a injustiça real ou a toda situação que se apresente como injusta, ou que se faça passar como tal, não tem por finalidade restabelecer a justiça ou melhorar as coisas em seu melhor e mais amplo sentido, e sim inserir o homem na dialética, lograr que os homens aceitem sua vinculação ao processo dialético, que é aquilo que, para o marxismo, constitui o progresso.

O marxismo não se preocupa com o proletariado porque ele esteja oprimido ou porque seja débil, e sim na medida em que é uma força, e quanto mais proletários existirem maior será sua força como classe revolucionária e mais próximo possível estará o socialismo.

O objetivo confesso dos marxistas é a tomada do Poder pela classe trabalhadora. Isso, todavia, não significa que nada se possa fazer antes que o Poder passe às mãos dessa classe. A luta pela melhoria da educação tem uma importância fundamental, pois sem a dedicação a essa luta não podem tomar forma e desenvolver-se nem os meios para tornar possível a ofensiva final, nem a ideologia que sustenta essa luta.

Daí a importância e o perigo do marxismo nos centros escolares da sociedade em que este ainda não tenha assumido o Poder. Perigo mais latente e real hoje, quando a doutrina comunista pretende chegar ao final da história – comunismo – por meio da conquista da sociedade civil, o que tornaria possível a subseqüente conquista do Estado. Ou seja, a conquista da sociedade civil como prelúdio da conquista da sociedade política, pois, conforme a terminologia de Gramsci, "antes de tomar o Poder é preciso conquistar a cultura".

Exemplo clássico de derrota do marxismo, por não possuir a hegemonia na sociedade civil, foi a sofrida por Salvador Allende, no Chile, em 1973.

Antonio Gramsci, ideólogo marxista italiano, falecido na década de 30, e seus seguidores eurocomunistas, descartam, por esse motivo, a violência revolucionária – que, no entanto, admitem, em último extremo – e dão mais importância à educação levada a cabo pelos intelectuais, considerando-a o principal fator revolucionário. Desse modo pretende-se evitar que a forte personalidade da sociedade civil nos países ocidentais se rebele contra o governo revolucionário, levando-o ao fracasso, como ocorreu com Allende.

É impossível que uma luta política possa culminar em verdadeiros resultados se não vier acompanhada de uma revolução, de uma reforma intelectual e moral, se não se modifica a mentalidade das pessoas e, por conseguinte, a superestrutura da sociedade. Por isso, o problema da revolução é, também, um problema de educação.

Daí a importância da Escola – na qual a política, a cultura e a pedagogia estão indissoluvelmente unidas – que poderá vir a cumprir, com relação aos jovens, o mesmo fim que um partido político.

Por tudo isso – ainda, segundo Gramsci, a difusão, desde um centro hegemônico – a Escola – de um modo de pensar homogêneo, é a principal condição para a elaboração de uma consciência coletiva.

Direção, organização da cultura, centro hegemônico, modo de pensar homogêneo, consciência coletiva, escola unitária, tudo isso é destinado a impor que se assimile a filosofia da práxis. Isto é, o marxismo, pela chamada sociedade civil.

No fundo, no entanto, nada mudou. Trata-se da instrumentalização da cultura e do ensino para atingir o objetivo visado pelo marxismo: a submissão do homem, mediante a submissão da inteligência.

Volodia Teitelboim, que foi membro da Comissão Política do Partido Comunista Chileno durante o governo Allende, referiu-se ao tema abordado neste artigo na Revista Internacional número 1/1982: "Quem controlar a cultura e sua base imprescindível, a educação, poderá não só definir retrospectivamente o acontecido como também controlar o futuro".
 

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  • Sonia Zaghetto
  • 07 Março 2016

(Publicado originalmente em soniazaghetto.wordpress.com)

Assisti ao discurso do ex-presidente Lula da forma o mais isenta possível e mente aberta. Obviamente não esperei grandes mudanças, mas imaginei que haveria um pouco de autocontrole como demonstração de inteligência. Aguardei alguma demonstração de contenção, se não por gestão de imagem, mas como medida destinada a não aumentar a grande fogueira dos ódios deste país. Imaginei que, dado o momento inédito em sua vida, manifestaria algum respeito aos milhões de brasileiros cujas mentes não se curvam à retórica barata. Em vão: palavras vazias, em uma fala recheada de clichês e tolices, plena de auto louvação, piadas grosseiras, delírios narcisistas e frases piegas que comoveriam apenas pré-adolescentes ou amigos encharcados de boa vontade.

Houve, ainda, uma revisita a dois clássicos: a velha estratégia vitimista sobre a perseguição movida pelas elites por ser o redentor dos pobres; e o desejo sádico de alimentar um pouco mais o ódio que hoje divide seus compatriotas. Observei-lhe o rosto contorcido, a expressão raivosa, a incapacidade de se reconhecer como cidadão comum, submetido às leis do país. E entendi: Lula hoje acredita piamente na imagem que ele e seus aduladores criaram. Para ele, é inadmissível que seja investigado, ou conduzido a depor: trata-se de falta de respeito. Logo ele, tão grandioso, dotado de tal inteligência que chega a mencionar com desprezo os que dedicam longos anos ao estudo.

Atrás dele, uma multidão aplaudia, mesmerizada. E me veio à memória uma história que se conta sobre Julio Cesar. Ao entrar triunfante em Roma, quase semideus em sua dourada carruagem, trazia consigo um escravo que o prevenia contra os excessos da vaidade, lembrando-o, de tempos em tempos: “Memento mori!” (Lembra-te que és mortal!).

É uma pena que Lula não tenha entre os seus quem o alerte para os excessos intoxicantes da vaidade que cega.

É uma pena que Lula ame apenas a si mesmo e não ao país, transformando uma parte significativa de nossa população em inimigos sobre quem açula seus cães.

É uma pena que ninguém lhe diga, francamente, que o rei está nu – que sua habilidade de comunicação só funciona para dois segmentos: os que se renderam a essa nova forma de fanatismo criada por seu partido; e a parcela da população cuja ausência de educação é louvada como vantagem e não como vergonha.

Despido de riquezas morais, passará à história como fanfarrão histriônico.

Órfão de qualidades éticas, não consegue reconhecer que ultrapassou todos os limites.

Desabituado à reflexão, não vê além dos limites das necessidades básicas.

Embriagado pela bajulação, não consegue ver nas críticas de milhões de brasileiros a advertência severa para seus excessos.

Tudo isso, Lula já havia demonstrado sobejamente em ocasiões anteriores. Hoje apenas reafirmou, em rede nacional, que desconhece o significado da palavra grandeza.

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