Se a sua resposta for positiva permita-me, em primeiro lugar, recomendar que não perca tempo comigo. Pare de ler este texto imediatamente. Porque eu não sou nem tenho a menor pretensão de ser um profeta. Confesso minha cabal ignorância do tempo futuro. Se mal sei do presente e do passado, o que poderia dizer sobre o futuro? Sobre esse tempo que apenas aos revolucionários é dado conhecer na palma da mão?
Mas você, um revolucionário, decerto movido por uma curiosidade científica, continua a ler este texto? Faz bem, nossa curiosidade é recíproca e verdadeira. Eu faria o mesmo - e já o fiz tantas vezes! - para tentar descortinar o futuro graças ao dom da profecia, desculpe-me,
à genialidade dos revolucionários.
Falta-me, no entanto, esse lampejo da inteligência que é um predicado natural dos gênios. Esse brilho que incendiou Robespierre, Marx, Lênin, Stálin, Mao e Pol Pot. E iluminou todo este mundo com fagulhas que libertaram Cuba, Nicarágua e Venezuela, que suscitaram Fidel Castro, Daniel Ortega e Hugo Chávez.
Que inveja eu sinto de você, meu caro revolucionário. Fosse eu um homem de fé, como é você, despojaria de todos os meus mesquinhos pertences e o seguiria como fiel discípulo. O que somos nós, afinal, senão passageiros de uma viagem que não desejamos chegar ao ponto
do destino, que a cada dia nos parece aproximar-se mais rapidamente? Como resistir a esse fascínio que é viver no futuro pelo intelecto, como quem estende a mão para colher um fruto que o alimenta?
Essa inveja, no entanto, não é pecaminosa. Melhor seria dizer que o admiro. Ou seja, eu gostaria de ter a sua convicção num futuro que não cabe na palma de minha mão. Talvez eu não passe, no fundo, lá no fundo, de um cético. Que implora por sua condescendência. Não me trate como um infiel. Um inimigo da sua fé, digo, da sua convicção. Em meu desfavor, confesso que sou um conservador. Mas nunca dei calote em ninguém, jamais deixei de ajudar alguém que me pediu auxílio e sempre segui, ou pelo menos tentei seguir os ensinamentos que aprendi com meus pais católicos. E com Jesus Cristo, que dividiu o calendário ocidental em antes e depois do seu nascimento, numa revolução que só derramou Seu próprio sangue.
Queira me perdoar, então, por preferir acreditar nesse reino intangível que Ele nos revelou além da física. E que confirma os profetas, os sábios e os cientistas que teceram a trama fio por fio, de nossa civilização. E sempre respeitaram os limites do mistério que habita o inefável muito além dos segredos que eles desvendavam.
Você, porém, conhece o futuro, meu caro revolucionário. E parece que é tudo que você conhece. O que não seria pouco se não fosse uma grande cretinice. Imaginar que a utopia não seja uma manifestação saudável do espírito, mas uma ciência da matéria biológica - como defendeu Karl Marx em sua filosofia que você provavelmente desconhece - tem tudo a ver com a insanidade, a libertinagem e a selvageria contra nossos próprios semelhantes.
Você é um revolucionário? Então procure saber o que é ser um revolucionário. Estude os revolucionários. Não perca seu tempo comigo. Ganhe seu tempo para você.
A hostilidade ao PT cresceu nos últimos anos não em razão de preconceito contra o partido, e sim por ter ficado clara a brutal incompetência administrativa dos petistas
É muito conveniente, para os petistas, atribuir suas previsíveis dificuldades eleitorais neste ano, especialmente em São Paulo, ao tal "ódio ao PT" que eles tanto vivem a denunciar. O melancólico, mas merecido, quarto lugar do prefeito Fernando Haddad na pesquisa do Datafolha de intenção de voto à Prefeitura parece dar razão aos estrategistas de sua campanha que querem descolar o alcaide da desastrosa imagem de seu partido – estigma que, segundo esse raciocínio, excita na classe média paulistana seu atávico antipetismo. No entanto, essa é, como de hábito, uma desculpa esfarrapada: a hostilidade ao PT realmente cresceu nos últimos anos e acentuou-se mais recentemente, mas não em razão de preconceito contra o partido, e sim por ter ficado clara a brutal incompetência administrativa dos petistas, não apenas no Município de São Paulo, mas na gestão federal.
É por esse motivo que está cada vez mais difícil encontrar eleitores que se dizem petistas ou que tenham alguma boa vontade com o partido. As últimas eleições mostraram que o grosso do voto na sigla construída por Lula da Silva começa a se concentrar onde a pobreza e o atraso limitam o senso crítico dos eleitores. Especialmente nas regiões metropolitanas, antigo reduto do Partido dos Trabalhadores, o definhamento da legenda se acelerou – a pesquisa do Datafolha mostra que a simpatia pelo PT em São Paulo, por exemplo, caiu de cerca de 25% há quatro anos para 11% agora. O PT ainda é o partido que tem mais eleitores cativos na capital paulista, mas nem de longe apresenta o vigor dos tempos, nem tão distantes, em que o lulopetismo se arrogava o privilégio de ditar os termos da história.
Quando questionados sobre o fenômeno, os petistas têm uma explicação na ponta da língua: trata-se do resultado de uma gigantesca orquestração promovida para difamar o PT. E tudo, é claro, para impedir que o chefão Lula vença as eleições presidenciais de 2018. Como escreveu o presidente do PT, Rui Falcão, em texto publicado pelo partido no dia 18, a "insidiosa campanha da mídia monopolizada" e a "perseguição implacável de autoridades parciais" visam a "infligir uma derrota acachapante ao PT nas eleições municipais" e a frustrar a eventual candidatura de Lula, "liderança inquestionável" nas pesquisas.
Entre os conselheiros de Haddad, o discurso é o mesmo. Já há quem diga, aqui e ali, que o prefeito, se quiser se reeleger, terá de encontrar meios de lidar com a carga da impopularidade da presidente afastada Dilma Rousseff e do PT, sem falar na do próprio Lula, que em São Paulo enfrenta grande rejeição. Isso seria, na opinião desses assessores, o maior obstáculo de Haddad.
Assim, com a desfaçatez habitual, os petistas vão construindo a fantasia segundo a qual o problema eleitoral do PT está no eleitor – instigado pela "mídia monopolista" e pela "elite golpista" a odiar os petistas – e não no próprio partido, cujos delírios de uma revolução social financiada pelo Estado resultaram na maior crise econômica da história recente, sem falar na desmoralização da política pela via da institucionalização da corrupção.
Seria realmente espantoso se a esta altura, com a exposição escancarada da incompetência dos companheiros Haddad e Dilma, os eleitores não manifestassem repúdio ao modo petista de governar. É provável que entre os que reprovam o prefeito e a presidente ora afastada haja mesmo muitos antipetistas convictos, desses que escolhem o candidato pelo potencial para derrotar o PT. Mas é evidente que, diante do descalabro dos governos de Dilma e de Haddad, com desemprego, recessão, contas no vermelho, ruas esburacadas, ciclovias improvisadas, saúde em pandarecos, educação vergonhosa e muitas, mas muitas promessas grandiosas não cumpridas, a decisão de desalojar o PT do poder o quanto antes seja a mais racional a ser tomada na hora de votar.
A própria Dilma reconheceu isso, ainda que por obra de evidente ato falho. Em evento em uma universidade do ABC, depois de ter sido criticada por um dos presentes, a petista, sem querer, explicou por que foi afastada da Presidência: "Uma das constatações que temos que fazer é que algo não deu certo, tanto é que eles estão lá, e nós, aqui". Bingo.
(Publicado originalmente em nivaldocordeiro.net/blog)
De novo uma juíza do Rio de Janeiro, do alto de sua autoridade, determinou a suspensão dos serviços do aplicativo WhatsApp, um dos mais populares em uso para trocas de mensagens. De novo Sua Excelência, como os pares anteriores, preferiu castigar os usuários da ferramenta, o povo em geral, ao invés dos executivos da empresa dela proprietária. Teria ela ficado irritada com a negativa de quebra do sigilo das mensagens e também com uma resposta em inglês que teria recebido. Óbvio que nenhum desses fatos justificaria a violência legal determinada pela magistrada, que obviamente foi além dos seus sapatos. Em boa hora o STF corrigiu a anomalia.
Sabemos que não é apenas o aparelho policial e judicial nacional que tem olhado com ira para os fabricantes de ferramentas de comunicação. Recentemente criou-se polêmica nos EUA no caso da quebra de sigilo de um fabricante de aparelhos celulares. Um terrorista investigado teria usado um deles para troca de mensagens e polícia queria a quebra do código para acessa-las. Exorbitou também: nada justifica que uma empresa privada traia sua legião de consumidores, que nela depositam sua confiança, por submissão a um capricho judicial ou policial. Os direitos da maioria não podem ser atropelados pelo viés do delegado de polícia. O Estado que arrume meios eficazes de fazer investigação sem ter que apelar para violências desse naipe.
A lógica dos criminosos e dos seus perseguidores não pode se sobrepor ao direito da maioria à privacidade. A privacidade talvez seja o maior bem que a cidadania conquistou diante do Estado todo poderoso e ela está sempre ausente nos regimes totalitários. O Estado tem obsessão por coletar, colecionar e analisar informações sempre usando ou a lógica da investigação criminal ou a lógica da guerra (lembro aqui os grampos sobre diversos governantes que os EUA fizeram sem a menor cerimônia, inclusive da então presidente do Brasil, Dilma Rousseff). É preciso que prevaleça a lógica da paz e da honestidade e não a lógica das exceções, do crime e da guerra.
Obviamente que a senhora juíza exorbitou e foi corrigida tempestivamente pela autoridade superior. O fato notável aqui não é que houve a correção, é que tem havido sucessão de medidas atrabiliárias da Justiça em primeira instância contra o público em geral, usuário satisfeito que é dessas maravilhosas ferramentas. Os fabricantes sabem que, se trair a confiança dos muitos, matarão seu mercado. O que está em jogo aqui, todavia, é menos uma questão de mercado e mais uma questão de cidadania.
Estamos vendo em toda parte a integração dos sistemas de polícia e Justiça dos países. Não louvo isso, abomino. Não há mais agora nenhum lugar de refúgio para um indivíduo escapar das aberrações do Estado todo poderoso. Um judeu poderia se proteger dos nazistas pelo simples cruzar da fronteira (a certa, a ocidental, claro), mas hoje em dia teria dificuldade para tal. Problemas políticos podem levar pessoas à miséria pela simples decisão de seu governo determinar o congelamento ou a expropriação dos seus bens, sob qualquer pretexto. Não me falem de Lava Jato, porque não estou tratando de criminosos, mas da hipótese de alguém decidir não concordar com seus governantes. Simplesmente agora não é mais possível escapar aos mecanismos de perseguição legal, numa ordem jurídica que está singularizada por leis arbitrária e contrárias ao direito natural.
É o caso da hostilidade crescente entre os cristãos e os defensores do aborto e do gaysismo. A inclinação dos governantes é pelo vício, fazem leis contrárias à natureza e as cortes têm tomados posições “avançadas”, contrariando o sentimento da maioria. Durante o governo do PT por pouco a vida banal de um cristão no Brasil não foi integralmente criminalizada. Esse perigo é permanente.
Esse é um exemplo. O outro é a anulação prática do direito das pessoas não terem que dar satisfação dos seus bens ao Estado e sua vasta burocracia. Cada vez mais esse se fez sócio da renda e da propriedade dos particulares e, a partir dessa violência originária, criminalizou quem quer ter sua vida financeira inteiramente privada. Exemplo aqui de acúmulo de leis injustas que apenas amparam o arbítrio estatal contra as pessoas. Tudo pelo social.
Outro exemplo ainda é a legislação que regula a posse e o porte de armas. Ora, estamos vendo em toda parte o terrorismo prosperar precisamente porque os civis foram completamente desarmados, estando à mercê de qualquer um que eleve uma machadinha homicida contra si. No ataque de Nice vimos as pessoas mais desamparadas do que galinhas atacadas por raposas, sem meios de defesa. Agora, ter uma arma de defesa pessoal é um falso crime que tem posto muita gente na cadeia no Brasil. Se não temos tecnicamente terroristas atuando por aqui, temos o crime que mata 60 mil pessoas todos os anos, exatamente porque as vítimas estão inermes, sem meios de defesa. Um exemplo alucinado da falácia do Estado protetor, que faz da vítima o seu oposto, um criminoso, se do crime tentar escapar mediante o exercício natural do direito de defesa.
O sigilo da comunicação e o direito de fazer o que se quiser com os próprios bens estão intimamente associados, bem como a capacidade de autodefesa e de se praticar os valores superiores da civilização, evitando os vícios. Resistir ao arbítrio do Estado gigante e invasor é mais que um dever, é um instrumento para se viver em liberdade. O moderno Baal se tornou uma força avassaladora contra seus próprios cidadãos. A cada polícia criada, a cada regulamento promulgado, a cada burocracia que se agiganta sobre o particular vemos parte da liberdade morrer. O caso do WhatsApp é exemplar e deve ser levado às últimas consequências. Se o meganha que investiga crimes, falsos ou verdadeiros, quer arrumar provas que se vire. Não venha arranhar a liberdade de todos. Que vá para as ruas investigar e colher evidências.
(Publicado originalmente em http://www.mises.org.br/)
Certo dia, um conhecido me revelou, com um ar de superioridade, que a solução para acabar com a corrupção era "criar novas leis".
Imediatamente espantei-me com seu desconhecimento da máxima de Tácito, que já dizia que "quanto mais corrupto o estado, maior o número de leis". Mas decidi entender melhor seu raciocínio.
Perguntei a ele onde ocorria a corrupção, se na esfera estatal ou na iniciativa privada? Triunfantemente, ele soltou a resposta que julgava definitiva: "acontece dentro da esfera estatal, mas quem corrompe é sempre a iniciativa privada".
Foi então que decidi vestir uma daquelas ridículas roupas gregas da época, colocar uma barba postiça, pegar no braço de meu interlocutor, e levá-lo para uma caminhada regada por um diálogo baseado no método socrático.
E comecei as perguntas:
— Qual origem da corrupção?
— O capitalismo.
— Quem corrompe?
— Os empresários que querem assaltar o dinheiro público.
— Quem são os corrompidos?
— Os corruptos que trabalham para ou dentro do estado.
— Quem são esses corruptos passivos?
— Políticos, membros do governo, servidores, membros do partido no poder nomeados para cargos comissionados, integrantes do judiciário etc.
— Quer dizer então que os corruptos passivos estão entranhados na estrutura do estado, dificultando a sua identificação individual, ao passo que os corruptores são perfeitamente identificáveis?
— Sim.
— E quer dizer que os corruptos entranhados na estrutura do estado, além da dificuldade de serem identificados, ainda contam com a estrutura do próprio estado para não serem identificados? E, caso sejam identificados, provavelmente conseguirão a proteção daqueles a que estão vinculados?
— Sim, mas, veja bem ...
— Então quer dizer que você considera mais perniciosos os corruptores ativos, os quais podem ser facilmente identificados, e que só conseguem agir assim por causa dos incentivos formais e informais decorrentes da ação daqueles corruptos passivos entranhados na estrutura do estado, os quais são responsáveis diretos por construir esse ambiente que estimula e potencializa a corrupção e do qual são beneficiários?
— Sim, mas, veja bem...
— Então quer dizer que, sob o aspecto moral, você hierarquiza aqueles que criam o ambiente institucional e legal para dele se beneficiarem e coloca no topo da sordidez aqueles que agem como corruptos ativos porque se aproveitam desse ambiente criado pelos corruptores?
— O assunto é bem mais complexo do que você quer fazer parecer...
— Diga-me como é possível, se é possível, você defender o combate à corrupção ao mesmo tempo em que defende mais poderes para aqueles mesmos agentes que operam dentro do estado e que constroem todo um ambiente legal e institucional que os beneficia e que os permite transferir a responsabilidade da corrupção aos agentes artificialmente ativos da corrupção?
— É tudo uma questão de elegermos as pessoas certas...
— Volto a perguntar: por que há corrupção?
— Por causa da ganância dos empresários e dos maus agentes políticos.
— Bom, agora, além dos empresários, você responsabiliza os agentes políticos qualificados de forma negativa?
— Sim. Eles também são culpados.
— Vamos então partir para um exemplo prático: o que foi o Petrolão?
— Um grupo de empreiteiros pagou propina para políticos para serem eles, os empreiteiros, os escolhidos para fazer obras superfaturadas para a Petrobras.
— E de onde veio o dinheiro da propina paga pelos empreiteiros aos políticos?
— Da própria Petrobras, que, ao pagar pelas obras superfaturadas, garantiu um trocado extra para os empreiteiros, os quais então utilizaram esse trocado extra para "agradecer" aos políticos, que são conhecidos como seus "operadores".
— Ou seja, na prática, todo o dinheiro era da estatal, por isso a Petrobras ficou descapitalizada.
— É...
— Então você próprio admite que o que está dando sustento à corrupção é o dinheiro de uma estatal.
— Sim, mas, veja bem...
— Permita-me outra pergunta: você concorda que só há corrupção porque há uma entidade com o poder de decidir e de escolher ganhadores e perdedores, e que essa entidade, por ter dinheiro em abundância (dinheiro esse expropriado das riquezas produzidas por essa sociedade), se torna um verdadeiro pote de ouro?
— Sim, mas, veja bem...
— Permita-me interrompê-lo para seguirmos adiante. Você diria que uma entidade que concentra o poder de escolher ganhadores e perdedores, que possui o poder final de decisão sobre aquilo que se pode ou não fazer, e que obtém uma fonte intermitente de dinheiro porque expropria riquezas da sociedade, é uma entidade extremamente visada?
— Sim, mas é possível limitar o acesso a essa entidade.
— Como?
— Votando nas pessoas certas.
— Tá, permita-me prosseguir: você diria que aqueles agentes privados que são, de uma forma ou de outra, seduzidos por esse poder descomunal e se tornam agentes ativos da corrupção, são mais ou menos nefastos do que os próprios políticos corruptos?
— Mais nefastos.
— Como é possível estabelecer uma hierarquia que determine que estes entes são mais nefastos do que aqueles que estão dentro do estado?
— É possível sim porque o estado nos representa! E aqueles que trabalham para o estado defendem a sociedade, a coisa pública!
— Mas se o estado nos representa e aqueles que trabalham para o estado defendem a sociedade e a coisa pública, como é que podem estimular a corrupção, serem dela beneficiários e assim serem menos nefastos?
— Ah, estou sacando o seu jogo. Você está querendo me confundir e fazer sua propaganda anti-estado!
— Não quero lhe confundir nem nada. Quero entender como funciona uma mentalidade estatista.
— Você está me ofendendo...
— Imagina!
— Afinal, qual é o seu ponto?
— Meu ponto é que, quanto maior e mais poderoso um governo, quanto mais leis e regulamentações ele cria e quanto mais obras públicas ele faz, mais os empresários poderosos e com boas conexões políticas irão se aglomerar em torno dele para obter privilégios à custa dos concorrentes e da população como um todo.
Por meio de favores pessoais ou de propinas, estes empresários não apenas conseguirão licitações favoráveis (sendo pagos com dinheiro público), como também conseguirão se isentar de seguir as leis e regulamentações criadas pelo estado ao mesmo tempo em que defenderão a imposição destas leis e regulamentações sobre seus concorrentes.
— Sim, mas esse jogo sujo é a essência do capitalismo!
— Não, esse arranjo é a essência do mercantilismo, do "privilegismo", do compadrio. Aliás, esta é exatamente a característica precípua de um regime fascista, no qual tudo deve estar dentro do estado e nada deve estar fora do estado. Desnecessário dizer que essa é a antítese do livre mercado.
— Bruno, afinal, o que você defende?
— A redução máxima do estado, deixando de lhe reconhecer autoridade política sobre várias atividades que hoje ele exerce. Esse é o caminho para se lutar contra a corrupção, contra os grupos de interesse e contra os lobbies empresariais. Por outro lado, com um estado grande, intervencionista e ultra-regulador como esse que temos, lobbies, grupos de interesse e subornos empresariais sempre serão a regra. E isso não será mudado apenas "elegendo as pessoas certas".
— Bruno, você é um reacionário neoliberal fascista!
(Publicado originalmente em www.alertatotal.net)
Quando alguém examina livros, revistas e folhetos comunistas verifica m fato surpreendente. Em nenhuma parte da interminável verborréia que pretende abordar o político-social, se encontra qualquer referência ao indivíduo. Página após página, encontramos os termos massas, proletariado, burguesia, mercenários do capitalismo, reformistas, revisionistas, renegados, e sempre, em toda parte, referências à vanguarda revolucionária. Isto é, ao Partido (com maiúscula).
Sempre que se refere a qualquer membro do Partido, ele é esterilizado psicologicamente e tirada sua individualidade. É convertido no kamarada ou quadro.
Não é por acidente que o ser humano está ausente dos escritos dos comunistas. O indivíduo não tem cabimento na teoria e no programa dos partidos comunistas. A ideologia só se interessa pelo homem como membro de uma classe e, no que se refere ao programa, os indivíduos são manejados como massa.
Na medida em que o indivíduo siga sendo ele mesmo, diz-se que está animado por esperanças e interesses pessoais; é sensível às dúvidas e ao otimismo; é capaz de ser tocado pelo mistério da vida; é imprevisível e capaz de ater-se às suas próprias opiniões.
As mesmas qualidades que fazem dele um indivíduo o desqualificam para os fins partidários. Tende demasiado a não ser facilmente convencido, a mostrar-se cético, a aborrecer-se pelas reiteradas abstrações próprias da ideologia comunista, a duvidar do método, a manter uma opinião ainda mesmo depois de ter sido convertido alinha partidária e a simpatizar ou antipatizar com seus semelhantes sem permissão do Comitê Central. Em conseqüência, não é confiável. Necessita ser desenvolvido e integrado à massa, a fim de que o Partido cumpra sua missão histórica.
De conformidade com a doutrina comunista, todos os aspectos do ser humano que não se prestem à sua politização são burgueses.
*Historiador
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O texto acima foi transcrito de um dos capítulos do livro "A Hidra Vermelha", editado em 1985, e reeditado em 2016 por um grupo de amigos.
(Publicado originalmente pelo Instituto Liberal)
Resolvi escrever esse texto devido às inúmeras mentiras que tenho visto circular na internet sobre o Projeto Escola Sem Partido. É o desespero dos doutrinadores. Alguns, apenas distorcem as palavras do projeto e divulgam. Outros, nem o leram e passam as mentiras adiante. Típico de internet.
Estudei em colégio particular e público, universidade particular e pública também, e durante minha vida acadêmica, os professores só me mostraram um lado da moeda. Aquele clássico: o capitalismo é malvado, o socialismo é bonzinho, a necessidade da luta de classes, e o sócio-construtivismo. E por isso, durante grande parte da minha vida, eu odiava os Estados Unidos sem saber o porquê, também achava que o capitalismo era a raiz de todos os males e, quando entrei na universidade, comecei a achar que a religião, inclusive a minha, era o ópio do povo.
Como aluna de pedagogia, fui muito criticada quando defendi o ensino tradicional, pois todos os professores só concordavam e aceitavam a abordagem construtivista. Sabendo dessa lavagem cerebral que acontece dentro das salas de aula é que o projeto Escola sem Partido afirma que deve haver “o reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado”. Afinal, o aluno ainda está formando seu caráter, e o professor não pode se “aproveitar da audiência cativa dos alunos para promover seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias.”
Sei que a maioria dos brasileiros, apesar de gostar de discutir sobre política, não tem o hábito de ler leis, a maioria nunca nem tocou na constituição, e existem alunos de Direito que não sabem em que ano ela foi escrita. Mas, diante da minha indignação, venho aqui para mostrar a verdade sobre o Projeto.
Eu, como participante da faculdade de educação da UERJ, já presenciei dos meus colegas argumentos como: “o projeto ameaça nossa profissão”, “é a lei da mordaça”, “não tem como lecionar sem apresentar ideologias”. Mas o que é ideologia, afinal? Ideologia é a reunião das certezas pessoais de um indivíduo, de um grupo de pessoas e de suas percepções culturais, sociais, políticas, etc. Então, de acordo com o projeto, eu, como professora cristã, não poderei ensinar a um aluno espírita que minha religião é melhor que a dele, por exemplo. E isso é errado? Claro que não! Meu dever não é de evangelizar em sala de aula, não é de converter o aluno a um lado ou outro. Esse é um papel da família.
Outro argumento que ouvi foi: “O projeto é contra o senso crítico e debates de assuntos polêmicos.” O Projeto defende a neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado, neutralidade política não significa que o projeto é contra o senso crítico; pelo contrário, ele quer que seja apresentado e discutido os dois lados da moeda: “ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade – as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito da matéria.” O professor pode ser de esquerda ou de direita, mas não pode impor o que ele pensa como verdade absoluta, nem prejudicar o aluno caso ele não concorde com sua posição política: “o professor não favorecerá, não prejudicará e não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas.”
Afinal, o que tem de tão assustador no projeto para ter tanta mobilização contra ele?
A resposta está no livro Maquiavel Pedagogo de Pascal Bernardin. O autor reúne documentos e pesquisas que mostram que a doutrinação que acontece na educação atual é decorrente de uma revolução pedagógica proposital com a finalidade de mudar os valores das pessoas e implantar uma nova sociedade.
No livro, é apresentado o documento publicado pela UNESCO com o nome A Modificação das Atitudes. Nele estão listados os seguintes objetivos: realizar uma transformação profunda na sociedade, modificar as atitudes na educação para conseguir uma reconversão ou uma reeducação dos valores, manipular a cultura, entre outros, ou seja, é uma reforma cultural. E para conseguir chegar nesses objetivos, os métodos que a UNESCO descreve ser necessário usar são:
– Buscar auxilio político, midiáticos dos formadores de opiniões, ou seja, usar blogueiros, artistas, políticos;
– Ampliar o poder e influência de ação de grupos, pois grupos separados são vistos como algo bom para a revolução cultural enquanto que a família é vista com efeito negativo sobre a criança;
– Programas de ações desenvolvidas para os pais, para conseguir que eles façam parte da revolução e não atrapalhem o trabalho da escola;
– Formação ativa e direcionada para os professores, para que os professores aprendam a doutrinar.
A UNESCO afirma que para que essas mudanças sejam implantadas na sociedade é preciso bloquear outros canais de transmissão de valores, como a família, ou seja, segundo eles, deve-se tirar o poder de educar dos pais e transferir para o Estado. E perceba que é exatamente contra isso que o Escola Sem Partido está lutando quando afirma: “O professor respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.”
A revolução busca submeter o indivíduo ao Estado tanto em seu comportamento quanto em seu psiquismo e ser, ou seja, aumentando a permanência da criança na escola, a influência do professor e o poder do Estado sobre a escola, o Estado conseguirá controlar os valores das pessoas e seus comportamentos. É o admirável mundo novo de Aldous Huxley.
O Escola Sem Partido, como o nome mesmo diz, é apartidário e por isso causa tanto medo naqueles que tem como objetivo de transmitir somente suas ideias políticas e doutrinadoras aos alunos. Você não precisa ser de direita para concordar com o projeto, precisa apenas ser honesto.
*Jenifer Castilho é estudante de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.