• Ingrid Carlqvist e Lars Hedegaard
  • 17 Julho 2016

(Publicado originalmente pelo Gatestone Institute)

  • Quarenta anos depois do parlamento sueco ter decidido, por unanimidade, mudar a homogenia Suécia de outrora para um país multicultural, os crimes violentos tiveram um crescimento de 300% e os estupros de 700%. A Suécia já está em segundo lugar em estupros, perdendo apenas para Lesoto no sul da África.
  • Chama a atenção o fato do relatório não tocar na questão do background dos estupradores. Contudo é necessário ter em mente que nas estatísticas, a segunda geração dos imigrantes são considerados suecos.
  • Em um impressionante número de casos os tribunais suecos demonstraram compaixão pelos estupradores, absolvendo suspeitos que alegavam que a menina queria ter sexo com seis, sete ou oito homens.
  • A estação de rádio da Internet Granskning Sverige perguntou aos importantes jornais Aftonbladet e Expressen porque eles descreveram os criminosos como "suecos" quando na verdade eram somalis sem cidadania sueca. Eles ficaram muito ofendidos quando questionados se sentiam alguma responsabilidade de avisar as mulheres suecas para ficarem longe de determinados homens. O jornalista perguntou porque isso deveria ser responsabilidade deles.

Em 1975 o parlamento sueco decidiu, por unanimidade, mudar a homogenia da Suécia de outrora em um país multicultural. Após quarenta anos as dramáticas consequências desse experimento estão emergindo: crimes violentos aumentaram 300%.

Se examinarmos os números de estupros, o aumento é ainda pior. Em 1975 foram prestadas queixas à polícia de 421 estupros, em 2014 foram 6.620. Um aumento de 1.472%.

A Suécia já está em segundo lugar na lista global de estupros. De acordo com umlevantamento de 2010 a Suécia com 53,2 estupros por 100.000 habitantes perde apenas para o minúsculo Lesoto no sul da África com 91,6 estupros por 100.000 habitantes.

De acordo com os números publicados pelo Conselho Nacional Sueco de Prevenção ao Crime (Brottsförebyggande rådet, conhecido como Brå), agência subordinada ao Ministério da Justiça, 29.000 suecas, em 2011, relataram que foram estupradas (o que indica que são prestadas queixas à polícia em menos de 25% dos casos).

Explanações esquisitas
Em vez de tomar providências em relação ao problema da violência e do estupro, os políticos suecos, autoridades e a mídia fazem o possível para racionalizar os fatos. Seguem algumas dessas explanações:

 

  • os suecos estão mais inclinados a denunciar crimes.
  • a lei mudou, de modo que mais crimes sexuais são agora considerados estupro.
  • os suecos não estão conseguindo lidar com o aumento da equidade dos sexos e reagem com violência contra as mulheres (talvez a mais fantasiosa de todas as justificativas).
  • Um mito feminista de longa data é que o lugar mais perigoso para uma mulher é a sua própria casa, onde a maioria dos estupros são cometidos por algum conhecido. Essa alegação foi refutada pelo relatório do Brå:
  • "em 58% dos casos o criminoso era totalmente desconhecido da vítima. Em 29% dos casos o criminoso era conhecido e em 13% dos casos o criminoso era próximo da vítima".

O Brå relata que não há diferença significativa entre mulheres com background sueco ou estrangeiro quando se trata do risco de ser estuprada. Chama a atenção o fato do relatório não tocar na questão do background dos estupradores.

Sem paralelo
Nos idos de 1975, o ano em que os políticos decidiram que a Suécia deveria se tornar multicultural, a população sueca era de 8.208.442 habitantes. Em 2014 ela aumentou para 9.743.087, um crescimento de 18,7%. O crescimento se deve exclusivamente à imigração já que as suecas dão a luz a 1,92 filhos comparado à média de 2,24 das imigrantes. Contudo é necessário ter em mente que nas estatísticas, a segunda geração dos imigrantes são considerados suecos.

O recente crescimento da população sueca não tem paralelo. Nunca antes na história do país o número de habitantes cresceu com tanta rapidez. A Suécia é atualmente o país com ocrescimento mais rápido da Europa.

Nos últimos 10 a 15 anos a maioria dos imigrantes veio de países muçulmanos como o Iraque, Síria e Somália. Será que esse enorme ingresso de imigrantes pode explicar a explosão dos casos de estupro na Suécia? É difícil dar uma resposta precisa porque a legislação sueca proíbe registro com base na religião ou nos ancestrais. Uma explicação plausível é que, na média, os povos do Oriente Médio veem a mulher e o sexo de maneira totalmente diferente da dos escandinavos. E apesar do esforço do establishment sueco em convencer a população de que todos aqueles que aportam em solo sueco se tornam exatamente iguais àqueles que estão aqui por dezenas de gerações, os fatos apontam para uma direção completamente diferente.

O último levantamento estatístico sobre a criminalidade dos imigrantes comparado com o dos suecos foi realizado em 2005. Os resultados não são quase nunca citados. Como se isso não bastasse, qualquer um que ousar falar desses resultados, como por exemplo nas redes sociais, é implacavelmente atacado.

Denegrir grupos étnicos
Michael Hess, político do Partido Democrata Sueco, incentivou jornalistas suecos a se familiarizarem com o ponto de vista do Islã em relação às mulheres, com relação aos estupros que ocorreram na Praça Tahrir no Cairo durante a "Primavera Árabe". Hess diz o seguinte: "quando vocês jornalistas irão entender que está profundamente enraizado na cultura islâmica estuprar e maltratar mulheres que se recusam a respeitar os ensinamentos islâmicos. Há uma forte ligação entre estupros na Suécia e o número de imigrantes de países do Oriente Médio e Norte da África (MENA em inglês)".

Essa observação fez com que Michael Hess fosse acusado de "denegrir grupos étnicos" (hets mot folkgrupp), o que é considerado crime na Suécia. Em maio do ano passado ele foi condenado, mas teve a pena de prisão e multa suspensa, a suspensão se deu devido ao fato dele não ter nenhuma condenação anterior. Houve um recurso contra o veredito em um tribunal superior.

Por muitos anos Michael Hess morou em países muçulmanos, ele está bem familiarizado com o Islã e como o Islã vê as mulheres. Em seu julgamento ele apresentou provas de como a lei da Sharia lida com o estupro e estatísticas indicando que os muçulmanos estão super-representados entre os estupradores na Suécia. Mas o tribunal decidiu que fatos não são relevantes:
"O Tribunal (Tingsrätten) observa que o fato do pronunciamento de Michael Hess corresponder à verdade ou não, ou parecer ser verdade para Michael Hess, não tem importância nesse caso. A declaração de Michael Hess deve ser julgada com base no timing e contexto. ... Na época do delito, Michael Hess não citou nenhum levantamento reconhecido nem fontes islâmicas. Foi somente por conta de seu indiciamento que Michael Hess tentou encontrar sustentação em pesquisas e escritos religiosos. Por esta razão, segundo o tribunal, o pronunciamento de Michael Hess obviamente não fez parte de uma exposição equilibrada (saklig) ou digna de confiança (vederhäftig). O pronunciamento de Michael Hess deve, portanto, ser visto como uma forma de desprezo em relação aos imigrantes de fé islâmica".

Provas estatísticas
O que se pode concluir das estatísticas disponíveis?
Como parte das provas apresentadas no tribunal por Michael Hess, ele fez uso de todas as estatísticas ao seu dispor sobre a criminalidade de imigrantes na Suécia antes que as autoridades responsáveis pelas estatísticas parassem com as avaliações. Michael Hess tentou encontrar respostas para duas perguntas:
1. há alguma relação entre a incidência de estupros e o número de pessoas com background estrangeiro na Suécia?
2. há alguma relação entre a incidência de estupros e algum grupo específico de imigrantes na Suécia?
3.
A resposta às duas perguntas foi um inequívoco "sim". Vinte e um relatórios de pesquisas dos anos de 1960 até hoje são unânimes em suas conclusões: não importa se o cálculo foi realizado levando em conta o número de estupradores ou suspeitos de estupro, homens de descendência estrangeira foram super-representados em relação aos suecos. E essa maior representação daqueles com background estrangeiro continua aumentando:
? 1960 aos anos de 1970 – 1,2 a 2,6 vezes mais que os suecos
? Anos de 1980 – 2,1 a 4,7 vezes mais que os suecos
? Anos de 1990 – 2,1 a 8,1 vezes mais que os suecos
? Anos 2000 – 2,1 a 19,5 vezes mais que os suecos
?
Ainda que fossem ajustados quanto às variáveis como idade, sexo, posição social e residência, a enorme discrepância entre imigrantes e suecos se mantêm.

Relatórios de pesquisas sobre crimes na Suécia se tornaram uma raridade, mas nos dezoito relatórios feitos entre os anos de 1990 e os anos 2000, onze lidaram com estupro. Dois dos relatórios tratam da relação entre estupro e imigração e ambos confirmam que há uma ligação.

Os dados estão disponíveis para as autoridades, políticos e imprensa, ainda assim eles insistem que os dados não refletem a realidade.

Discrepância gritante
Como explicar então que em 2008, a Dinamarca, vizinha da Suécia tinha apenas 7,3 estupros por 100.000 habitantes comparado com 53,2 na Suécia?

A legislação dinamarquesa não difere muito da sueca e não há nenhum motivo aparente do porquê das dinamarquesas estarem menos dispostas a prestarem queixa do que as suecas.

Em 2011, foram prestadas queixas à polícia de 6.509 estupros e apenas 392 na Dinamarca. A população da Dinamarca é cerca da metade da sueca, de modo que, ainda que fosse ajustada à da sueca a discrepância continuaria sendo considerável.

Na Suécia as autoridades fazem de tudo para esconder a origem dos estupradores. Na Dinamarca o departamento oficial de estatística do estado, Estatística da Dinamarca, revelou que em 2010 mais da metade dos estupradores condenados tinham background de imigrantes.

Estrangeiros super-representados
Desde 2000 apareceu somente um relatório de pesquisa sobre crimes de imigrantes. O relatório foi realizado em 2006 por Ann-Christine Hjelm da Universidade de Karlstads.

Constatou-se que em 2002, 85% dos sentenciados a pelo menos dois anos de prisão por estupro em Svea Hovrätt, um tribunal de recursos, eram estrangeiros de nascença ou segunda geração de imigrantes.

Em um relatório de 1996 do Conselho Nacional Sueco de Prevenção ao Crime concluiu que os imigrantes do norte da África (Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia) são 23 vezes mais propensos a cometerem estupro do que os homens suecos. Os dados sobre homens do Iraque, Bulgária e Romênia são respectivamente, 20, 18 e 18. Homens do resto da África são 16 vezes mais propensos a cometerem estupro, e homens do Irã, Peru, Equador e Bolívia, 10 vezes mais propensos do que os homens suecos.

Estupros coletivos
Uma nova tendência chegou à Suécia com força total nas últimas décadas: estupro coletivo, virtualmente desconhecido na história criminal sueca. O número de estupros coletivosaumentou de maneira espetacular entre 1995 e 2006. Desde então não houve mais estudos sobre esse assunto.

Um dos piores casos ocorreu em 2012, quando uma mulher de 30 anos foi estuprada por oito homens em um projeto habitacional para requerentes de asilo na pequena cidade de Mariannelund. A mulher era conhecida de um homem do Afeganistão que morou na Suécia por alguns anos. Ele a convidou para sair. Ela aceitou. O afegão a levou a um conjunto habitacional para refugiados deixando-a lá totalmente indefesa. Durante a noite ela foi estuprada repetidamente pelos requerentes de asilo e quando seu "amigo" voltou ele também a estuprou. Na manhã seguinte ela conseguiu chamar a polícia. O Promotor Público da Suécia classificou o incidente como o "pior crime de estupro da história criminal sueca".

Sete dos acusados foram sentenciados de 4,5 a 6,5 anos na prisão. O cumprimento da pena normalmente é reduzido por um terço do tempo, de modo que logo eles estarão prontos para novos ataques, presumivelmente contra mulheres infiéis.

Em casos de estupro coletivo tanto os acusados quanto as vítimas são, com muita frequência, jovens e quase sempre os criminosos têm background de imigrantes, na maioria dos casos de países muçulmanos. Em um impressionante número de casos os tribunais suecos demonstraram compaixão pelos estupradores. Diversas vezes os tribunais absolveram suspeitos que alegavam que a menina queria ter sexo com seis, sete ou oito homens.
 

*Tradução: Joseph Skilnik

 

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  • Jayme Eduardo Machado
  • 16 Julho 2016


(Publicado originalmente em Zero Hora)

Em poucos meses elegeremos um prefeito, e já se assanham na mídia pré-candidatos que, pela biografia conhecida, seriam incapazes de administrar um sanduiche. Mas miram Porto Alegre, uma capital que já foi referência nacional na racionalidade e eficiência do transporte público urbano, na pavimentação e iluminação de suas ruas e avenidas, na limpeza periódica de seus passeios, praças e jardins. Nas podas programadas de árvores, no trânsito ordenado por guardas civis, na segurança pública exercida por policiamento militar em colaboração com vigilantes noturnos civis, e o mais que sua população perdeu. Tudo isso, é verdade, ficou guardado no baú do saudosismo, ficou velho e não há mais como desfrutar porque já passou. Mas o que há de novo, e ainda não passou, pois que a realidade não disfarça, é a ausência de vocação dos administradores contemporâneos. E que não raro se mostram indiferentes à nossa tradição de “cidade sorriso” – lembram dela? -, pois que a maltrataram ao ponto de torná-la mal-encarada, suja e perigosa.

Administradores desdenhosos e incrédulos até na possível inteligência dos cidadãos, obrigados a ouvir explicações do gênero “ ... queremos que a transparência absoluta continue imperando...porque tudo que está na esfera pública tem de ter conhecimento público”(sic). Explicações dadas pelo nosso burgomestre a propósito da matéria em que este Jornal denunciou que a limpeza das “bocas de lobo”, tarefa de responsabilidade do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), na verdade abrira mais uma “boquinha” para as terceirizadas desonestas e mal fiscalizadas. Os constantes alagamentos, a cada chuvarada, não bastaram a que ditas autoridades desconfiassem de que “algo” estava entupido. E que está longe o tempo em que os bueiros serviam só para escoar águas da chuva, que hoje até por eles escorrem “maracutaias”. Foi necessário que uma reportagem investigativa particular realizasse um serviço público de verificação e comprovação que cabia exclusivamente ao Município.

Mas, voltando ao tema eleitoral. Num pleito local, o mínimo que se deve evitar é a estupidez da fragmentação pelo embate partidário que divide o país. E que têm como único objetivo manipular o eleitor submisso à cultura ideológica da luta pela conquista e permanência no poder. Quem sabe seja a oportunidade de retornar ao bom debate, centrado apenas nos princípios éticos e programáticos. Antes será preferível escolher quem, ao juízo de cada um, ao menos consiga bem administrar o nosso sanduiche.
 

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  • Manoel Luiz Prates Guimarães
  • 16 Julho 2016

 

O STF está preocupadíssimo com o crescimento do encarceramento feminino. E com o encarceramento em geral, diga-se de passagem. Aliás, muitos Ministros, magistrados em geral, intelectuais, políticos e professores andam muito preocupados com muitos assuntos. A preocupação da sociedade também é grande com o aumento do consumo de entorpecente no Brasil. E com o crescimento da violência, dos abusos sexuais, da criminalidade, o preconceito e a educação. E tantas outras coisas. Todos esses são ou podem ser grandes problemas. Frequentemente, porém, essas preocupações se dão atentando-se unicamente a uma imaginação do que idealmente deveria ocorrer, sem nenhuma preocupação com a realidade e as consequências concretas das propostas desse imaginário ideal (não que as metas não sejam importantes, mas a realidade e a inserção daquelas nesta, são ainda mais fundamentais). O combate a quaisquer problemas não pode ser meramente nominalista, como, diante da realidade da violência, uma marcha pela paz, com faixas e cartazes de conscientização.

A violência não é um ente abstrato que pode ser removida da realidade removendo-se-a antes do pensamento das pessoas. A violência não ocorre nem apenas nem principalmente porque seu agente pensa nela, mas porque quer ter lucro ou adquirir bens sem trabalhar, e aceita causar dano a outros para tanto, porque não se consegue controlar a libido, ou o ciúme, ou porque, diante de uma contrariedade surge o desejo de vingança que não é contido, ou por razões semelhantes. No Brasil, uma gama imensa de crimes acontece com a finalidade simplesmente de se manter a organização criminosa, seu poder e influência, seus negócios, enfim. Em nenhum desses casos, a violência é um fim, mas um meio tranquilamente visto como aceitável para alcançar os objetivos do criminoso. E, em nenhum desses casos, o criminoso é minimamente atingido pelos slogans de paz e “violência não”.

Pior ainda acontece – e acontece frequentemente – quando essa preocupação e essa tentativa de combate em abstrato a um problema reduzido a um nome permanece tão alto na idealidade, longe da realidade, que acaba se voltando, no concreto, contra justamente os combatentes efetivos do mal que nominalmente se quer evitar. Isso acontece claramente quando, por exemplo, em tais passeatas pela paz, reclama-se da violência da polícia, e não do criminoso, da repressão ao uso e tráfico de entorpecente, ao invés do próprio uso ou tráfico. Imaginar que policiais possam combater o crime oferecendo flores ou chamando à consciência os infratores, com argumentos racionais ou ideais é inconcebível. Se o voltar-se para a idealidade, cegando-se à realidade explica esses erros grosseiros, não raras vezes parece que a inversão é proposital. Ligações perigosas indicam que nem apenas de ingenuidade e alienação vivem erros assim.

A questão do chamado “encarceramento” é um grande exemplo. E dele tratarei, dentre os demais do primeiro parágrafo, devido ao especial interesse do Ministério Público no tema. Aliás, com frequência, há manipulação de dados na matéria, como em tantas outras áreas. O Brasil não é um campeão de encarceramento, como certos setores da mídia e da intelectualidade querem fazer parecer. Mas o problema lógico é anterior. O encarceramento só é um problema em si mesmo, se for injusto. Se o encarceramento é justo, o problema não é ele, mas o crime que o gerou. Aqui me recordo da cena inicial do filme “Tropa de Elite 2”, em que o professor de história, que representa mais ou menos o Deputado Marcelo Freixo, analisando que a população carcerária estava aumentando mais do que a população em geral, conclui que, no futuro, a população carcerária seria maior do que a população geral do país, causando comoção na plateia de estudantes manipulados. Quanta alienação!

Voltando-se para a realidade, é fácil verificar o que ocorre. O aumento do encarceramento não caiu do céu. Veio como fruto do aumento da criminalidade. Aumento – e vertiginoso – dos números de homicídios, latrocínios, roubos. E não veio por um enrijecimento do Direito Penal. Não! Se as legislações não apresentam um abrandamento significativo de penas, as novas correntes doutrinárias e interpretações judiciais têm feito esse trabalho, estas últimas em alguma medida com a justificativa do aumento do encarceramento e das desumanas condições do sistema carcerário. E os indultos de Natal, ano a ano, como têm vindo? Têm mantido mais ou soltado mais apenados dos presídios? Soltado mais, evidentemente. Muito mais! Ou será que o aumento do encarceramento se dá pelo aumento no aparelho repressor. Mais polícia nas ruas tem levado a um índice maior de crimes solucionados ou remediados pela prisão em flagrante (diminuição da cifra negra), o que tem sido responsável por esse aumento no encarceramento? Será que é isso? Claro que não! As penas têm sido mais brandas, o percentual de crimes solucionados e que geram prisão tem sido menor, os indultos têm sido mais complacentes, e não há razão para se crer que as condenações injustas tenham aumentado. O aumento no encarceramento, se existe, em que pese todos esses aspectos em contrário, tem sido causado por um brutal aumento na criminalidade. O problema, portanto, é este aumento da criminalidade, não do encarceramento em si, que é mera consequência.

Há aqui também muita ideologia ligando esse aumento da criminalidade (e do encarceramento) à injustiça social, ao modelo econômico, à cultura patriarcal, à rigidez no conceito legal de família, à educação tradicional, voltada para os conteúdos formais e não para a formação da consciência social, e por aí vai. Nada mais fora da realidade. Basta ver os fatos. A grande exceção da listagem supra parece ser a questão do modelo econômico, que, salvo por adaptação a novas tecnologias e à praxe do mercado internacional, parece ser rigorosamente o mesmo desde a época da ditadura, passando por todos os governos subsequentes até o atual, claro, com algumas variações – e alguns planos salvíficos, pretensa ou efetivamente – mas dentro de um contexto geral uniforme, com constante aumento da carga tributária. O restante parece estar caminhando exatamente como os ideólogos “desencarceramentistas” (que alguns estão chamando de bandidólatras) sonham. No entanto, a constância do modelo econômico não tem impedido o aumento da criminalidade.

De fato, cada governo que passa tem se vangloriado de incluir um contingente maior da população em benefícios assistenciais e previdenciários contínuos, e isso quase esgota o conceito, não o meu, mas o dos “desencarceramentistas”, de justiça social. E, se não é o bastante para eles, havemos de convir que o país não suporta um percentual maior da população sendo sustentada pelo contingente produtivo. Mas todo esse aumento, ainda que longe do ideal para alguns, da justiça social, não tem levado a uma diminuição na criminalidade. A cultura, por sua vez, tem se tornado, a cada dia, menos patriarcal. A importância da presença da figura feminina em todos os meios tem crescido, o que tem sido ótimo. Talvez isso não baste para os críticos do patriarcalismo, mas não se pode negar que se tem caminhado em direção contrária a ele. Mas tal não tem servido para diminuir a criminalidade. O conceito de família, por sua vez, tem sido amplamente alargado, quando não pela lei, por decisões judiciais. Mesmo a união “multiafetiva” já tem sido admitida como entidade familiar, com todas as consequências jurídicas inevitáveis. E nada parece obstar a que grupos afetivos cada vez maiores, e abrangendo seres de natureza cada vez mais ampla (animais e cadáveres seriam talvez os primeiros passos, mas, por exemplo, fez sucesso nas redes sociais o sujeito que queria se casar com sua mão esquerda; há os bonecos infláveis e, como se sabe, a criatividade humana é grande). Mas, ainda que se queira talvez ampliar muito mais o conceito de família, a ampliação do conceito tem havido. Em nada parece, porém, estar contribuindo para uma contenção na criminalidade.

A educação, a seu turno, nunca ensinou tão pouco português, matemática e ciências, trocando-os por projetos de “educação sexual”, “educação ambiental” ou “educação no trânsito” (desprezando-se que, sem aqueles, estes são mera repetição de ideias, sem a capacidade real de os educandos compreenderem a importância ou não das coisas), ou, ainda, pelo aprendizado da “pedagogia do oprimido”, “consciência latinoamericana” e dos graves problemas do Brasil, como violência institucional, violência policial, o aparato estatal como instrumento de dominação burguesa, a criminalização de condutas como meio de controle social e assim por diante. Mas essa “revolução na educação” não tem contribuído para a diminuição da criminalidade.

É preciso fazer justiça a muitos defensores de um ou mais pontos mencionados nos parágrafos anteriores. Muitos os defendem sem imaginar qualquer reflexo na seara criminal. Defendem-nos por si mesmos. No entanto, os argumentos supra são válidos porque, de fato, os desencarceramentistas, questionados sobre o aumento da criminalidade, apontam esses fatores. Por vezes, defendem obstinadamente o desencarceramento geral sem se preocupar com as questões criminais. Preocupam-se, evidentemente, com os encarcerados, mas não com o restante da população que foi e, com o desencarceramento, voltará a ser vítima dos crimes deles. De outro lado, os que ao menos dizem se preocupar com a criminalidade, apontam as causas acima expostas. É preciso concluir aqui que, se houvesse realmente qualquer relação real entre uma necessária diminuição da criminalidade e fatores como aqueles mencionados, referentes à “justiça social”, família, educação, etc, a criminalidade precisaria estar caindo. Está aumentando. Em sentido contrário, poder-se-ia aventar, quiçá, de uma vinculação no avanço dessas pautas e o aumento da criminalidade, o que não pode ser objeto de análise aqui; jamais, todavia, com sua diminuição.

Demonstre tudo isso a um desencarceramentista e o que ele responderá? Ideólogo que é, a realidade não lhe diz nada, apenas o futuro ideal que imagina. Dirá, talvez, que os avanços nessas áreas não tem sido o bastante, que é preciso mais justiça social, mais dirigismo estatal na economia, menos patriarcalismo, mais abertura no conceito de família, mais revolução na educação. Aí sim se reduzirá a criminalidade. Poder-se-ia voltar a objetar que ao menos algum refreio na criminalidade se deveria ver com tanto avanço naquelas pautas, mas não se pode esperar que um desencarceramentista, como qualquer ideólogo, volte atrás pela demonstração de fatos.

Pior ainda se dá quando o desencarceramentista se aprofunda na ideologia e passa a fazer raciocínios invertidos. Quando, por exemplo, passa a ver o problema do encarceramento e da criminalidade, não no crime, mas na sua conceituação. Então, a injustiça não está em que o sujeito furte, comercialize entorpecente, estupre, roube ou mate, mas em que a sociedade e o Estado a isso cominem a pena de prisão. Para os crimes patrimoniais, há o reforço do ideário marxista, amplamente difundido, pelo qual toda propriedade é usurpação, pelo que furto e roubo só podem ser manifestações de justiça e sua criminalização, instrumento de coerção para a mantença do poder nas mãos da burguesia. Para os referentes a entorpecentes, há o reforço dos falsos conceitos de liberdade, também amplamente difundidos, liberdade pessoal de uso, liberdade contratual, liberdade de pensamento e expressão, todos desvirtuados para abranger condutas que atacam a saúde e segurança públicas.

Mas, independentemente desses reforços pontuais, o argumento de fundo é mais amplo. A existência de crimes definidos em lei seriam em si mesmos opressores e geradores das condutas rebeldes contra esse sistema opressor, e seus perpetradores agora são arbitrariamente taxados de criminosos. A ideia de que, a criminalização do homicídio ou do furto se dá, não porque é preciso proteger a vida humana ou a propriedade, ou a saúde, a integridade física, a liberdade, a intimidade, a liberdade sexual, a paz e incolumidade públicas e assim por diante, mas para oprimir a todos os cidadãos, ou a uma ou mais classes sociais, raças, gêneros ou religiões me parece simplesmente doentia. Mas, conceda-se a dúvida, em exercício supremo de abstração. No momento seguinte, fico aliviado em recordar que cem por cento das confissões de furto que recordo ter ouvido alegaram ser a motivação do crime realmente econômica, não um protesto contra a opressão, bem como serem todos os homicídios motivados por ciúmes, vingança, por disputa criminosa mesmo ou similares, nenhum por raiva de uma sociedade que arbitrariamente teria criminalizado o homicídio.

Também é evidentemente doentio imaginar que essa criminalização gera em algumas pessoas uma quase compulsão a cometer tais crimes, como revolta pela sua arbitrariedade. No entanto, por vezes, é exatamente assim a argumentação. Por vezes, é bom recordar, ela vem adornada de altos ideais, em especial a visão de uma sociedade perfeita, em que qualquer criminalização seria desnecessária e absurda, porque todos se amariam, vivendo em perfeita harmonia e que a violência, a rispidez da ameaça estatal de uma pena privativa de liberdade geraria uma tal quebra nessa harmonia (que ainda não existe, porque essa sociedade não existe, mas, novamente, isso pouco importa ao desencarceramentista, como a qualquer ideólogo, pois a realidade não lhe interessa, apenas seu projeto perfeito de sociedade futura), que por isso mesmo acaba gerando os crimes. É preciso objetar que nem essa sociedade existe, nem é lógico imaginar que a criminalização de condutas ameaçadoras à sociedade seja injusta ou gere qualquer desejo de cometer tais condutas. Mas não é possível convencer o desencarceramentista. E mesmo que digamos que nunca ouvimos uma confissão no sentido de que a motivação do crime fora a revolta contra a criminalização dessa conduta, essa objeção é até fácil de responder. A motivação rebelde existe e é a principal. Apenas, dela não está consciente o pobre infrator. O criminoso pensa que matou por vingança, ou furtou para obter o dinheiro. Mas não! Na verdade, no fundo, era apenas uma revolta contra a sociedade opressora que criminalizou essas condutas. Contra tal tão evidente desvario é simplesmente impossível argumentar. Prossiga o sr. desencarceramentista, então, em seu mundo ideal, mas que opine apenas lá, porque aqui, no mundo concreto, não é possível admitir tais absurdos.

Enfim, toda a repercussão e discussões sobre “o problema do encarceramento” não passa de falácia. É apenas a criação de uma fantasia (de que o problema é esse, e não o crime), criando-se, a seguir, uma atmosfera de urgência e pânico, a exigir solução breve, solução que será certamente geradora de problemas maiores, e que, aliás, a nada solucionou. E essa urgência tem servido para impedir uma análise mais acurada, que levaria à inexorável conclusão de que o problema não é o encarceramento, mas o crime, permitindo-se a proposição das mais estapafúrdias alternativas. Ao invés de se aceitar a idealidade proposta pelos intelectuais ideólogos, é necessário voltar-se à realidade, tanto para se analisar o que ocorre efetivamente, quanto para se estudar a aplicabilidade real dos conceitos adotados e o impacto concreto das soluções propostas. Só assim se pode avaliar qualquer situação. No caso do encarceramento, mister se faz esquecer a baboseira ideológica a respeito e passar a pensar no problema concreto da criminalidade. Diminuição de contingente, sucateamento e falta de qualificação dos agentes de segurança pública, implementação de novidades processuais que servem apenas para gerar impunidade, tendências doutrinárias e jurisprudenciais alienadas, garantistas ou abolicionistas, e tantos outros males. Isso é o que se precisa avaliar e reverter, ainda que não apareça na grande mídia, nos meios intelectuais ou acadêmicos. O bem da sociedade é o que cumpre defender.

É preciso voltar a falar sobre o tema, e seriamente, ante tantas questões reais e relevantes até aqui não abordadas, mas que devem aguardar seu momento próprio, dado que já se alongou aqui por demais, não se devendo abusar da paciência dos leitores.
 

 * Promotor de Justiça

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  • Fernanda Barth
  • 15 Julho 2016

(Publicado originalmente em fernandabarth.com.br)

A hegemonia petista chega ao fim. A vitoria esmagadora de Rodrigo Maia, do DEM, eleito nesta madrugada o novo presidente da Câmara dos Deputados, foi muito mais sobre o PT do que sobre Rosso e mostra claramente que a hegemonia petista acabou em Brasília. Petista, não estou falando em hegemonia de esquerda, que tenho tratado em outros posts.

O candidato Marcelo Castro, por quem Lula estava trabalhando "forte" nem ficou entre os dois primeiros colocados. Pessoas como a deputada Maria do Rosário retiraram sua candidatura porque sabiam que não teriam nenhum voto. Bom, talvez o seu próprio. Isto mostra que Lula já não tem mais o poder simbólico que tinha antes, que não tem mais a credibilidade e a capacidade de aglutinar poder. Seus interlocutores já percebem que o rei está nu e com os dias contados. Isto é também um forte sinalizador para o impeachment de Dilma acontecer definitivamente. Resumindo, agora de forma irrefutável, o PT já não manda mais em Brasília.

O DEMocratas volta ao protagonismo depois de 20 anos!!!!!! Fico muito feliz com isto, pois mostra que estamos dando os primeiros passos para endireitar este país e torço, apesar dos Maias serem a ala mais à esquerda dentro do DEM, para que ventos mais liberais soprem neste país. Isto também fortalece qualquer projeto majoritário do DEM para 2018, leia-se Ronaldo Caiado como presidenciável.

É inegável que temos eleições difíceis pela frente e reformas que têm que ser feitas. Mas o MAIS importante, Maia está em um partido que NÃO está envolvido na Lava Jato, que trabalhou forte pelo impeachment e que vai priorizar as 10 Medidas Contra a Corrupção. Não aceitaremos nada diferente disto, muito menos que ele encabece acordões contra a operação mais importante que o Brasil já viu acontecer. Maia tem a chance da vida dele de mostrar que tem luz própria, para além do pai, César Maia e acho que não a desperdiçará.

Imagino que ele vá se aconselhar e se unir com gente boa dentro do DEM nacional, como o senador Ronaldo Caiado e o deputado gaúcho Onyx Lorenzoni, que abriu mão da pré-candidatura a prefeito de Porto Alegre, provavelmente já mirando o projeto nacional. Pessoas como Onyx devem ter sido fundamentais para a articulação política que acabou por eleger Rodrigo Maia, que saiu do primeiro turno com 120 votos, apenas 14 votos na frente de Rogério Rosso, que fez 106 no placar, e conseguiu conquistar em poucas horas mais 165 votos, fechando em 285 a 170 votos. Votos estes que contaram com o apoio de gente do PDT, PCdoB, PR e PTN, motivo de crítica por alguns liberais e conservadores.

É preciso entender que a direção da casa, cuja presidência tem que dialogar com a maioria E com a minoria, precisa agir de forma diplomática, como Maia mesmo disse em seu discurso de posse, "para pacificar a casa". As questões ideológicas direita x esquerda deverão ficar no embate das votações, nas pautas a serem escolhidas e na condução das mesmas. Nestes pontos, até segunda ordem, Maia é um deputado do Democratas, e deverá agir como um liberal. Espero, verdadeiramente, que trate das questões de forma mais republicana, mais transparente e visando uma política de resultados para a população. Tem que ser estratégico neste momento e aproveitar a chance histórica de fazer entrar na agenda temas de viés mais liberal e menos estatista.Muito menos estatista.


 

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  • Christian Gomez
  • 13 Julho 2016

 

(Publicado originalmente no The New American, 02 outubro de 2012).
[http://www.thenewamerican.com/world-news/asia/item/13069-russian-red-jihad].
Tradução. Bruno Braga.

Em um recente e exclusivo artigo para o World Net Daily [1], Ion Mihai Pacepa, ex-Tenente-General do serviço de inteligência do bloco soviético romeno, escreveu como a recente onda de radicalismo islâmico no Oriente Médio, da Primavera Árabe aos ataques em Bengasi, não foram obras de ataques espontâneos, mas resultado de uma operação planejada cuidadosamente por décadas pela União Soviética.

Em julho de 1978, o Presidente americano Jimmy Carter concedeu asilo político ao Tenente-General Pacepa, que tornou-se um cidadão dos Estados Unidos. Pacepa é o oficial de inteligência de mais alta patente que já desertou do bloco Soviético. Ele auxiliou a CIA e recebeu dela elogios por fornecer "uma contribuição importante e única para os Estados Unidos".

No seu artigo, Pacepa observa que "o dia do assassinato do nosso embaixador, 11 de setembro de 2012, foi o dia em que o Kremlin celebrou um aniversário significativo - 125 anos do nascimento de Feliks Dzerzhinsky, fundador da KGB, nomeada agora FSB". Pacepa continua:
"Minha experiência no topo do grupo de inteligência do bloco Soviético me dá uma base sólida para afirmar que os ataques Muçulmanos contra as embaixadas americanas e o assassinato do nosso embaixador na Líbia, levados a cabo com lançadores de granadas de fabricação soviética, Kalashnikovs e coquetéis Molotov, são tão 'espontâneos' quanto as paradas das Festas de Maio, em Moscou - e que eles têm os mesmos organizadores".

Comunista inspirado fora da Rússia? É exatamente o que Pacepa quer afirmar. Ele cita um encontro pessoal, em 1972, com Yuri Andropov, então presidente da KGB, no qual Andropov traçou um plano soviético secreto para fermentar revolução no mundo Islâmico utilizando propaganda anti-Americana e anti-Semita, o que incluía os "Protocolos dos Sábios de Sião", traduzido para o Árabe e disseminado pelo Oriente Médio.

"A idéia era pintar os Estados Unidos como um país Sionista, belicista, financiado com dinheiro judeu e dirigido por um ganancioso 'Conselho de Anciãos de Sião' (epíteto escarnecedor da KGB para o Conselho americano) com o objetivo de transformar o resto do mundo em um feudo Judeu", Pacepa relembra o que Andropov lhe disse.

Pacepa refere-se a Andropov como o "Pai do terrorismo internacional e do anti-Semitismo de hoje". Ele especialmente recorda:
"Andropov frisou que um bilhão de adversários poderia causar um dano maior do que apenas 150 milhões. Nem Maomé, disse ele, limitou sua religião aos países Árabes".
O chefe da KGB descreveu o mundo Muçulmano como uma placa de Petri, na qual nós poderíamos nutrir um tipo virulento de ódio contra os americanos, crescendo da bactéria do pensamento Marxista-Leninista. O anti-Semitismo islâmico é profundo, ele disse.

Pacepa falou especificamente sobre o seu papel no projeto:
"Antes de deixar definitivamente a Romênia, em 1978, o meu serviço de espionagem romeno - e apenas ele - tinha enviado por volta de 500 agentes secretos para vários países Islâmicos. A maioria deles era de agentes religiosos, engenheiros, médicos, professores e instrutores de arte. De acordo com uma estimativa recebida de Moscou, em 1978, o grupo inteiro de inteligência do bloco Soviético tinha enviado ao mundo Islâmico por volta de 4.000 agentes de influência desse tipo".

Ninguém sabe ao certo o grau de influência que tiveram tais esforços, diz Pacepa, mas "deve ter causado algum impacto". Um ano depois da comunidade de inteligência do bloco Soviético enviar 4.000 agentes de influência para o mundo Islâmico, os revolucionários muçulmanos derrubaram o Xá no Irã, invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, fazendo reféns americanos.

Desde então os Estados Unidos tiveram que lutar contra o terrorismo Islâmico, especialmente contra o Hezbollah e a al-Qaeda. Em 1983, o Hezbollah se apresentou ao mundo bombardeando o quartel da Marinha americana, em Beirute. Dez anos depois, o Hezbollah promoveu ataques terroristas no edifício da Associação Mutual Argentina Israelita, em Buenos Aires, Argentina.

O terrorismo logo atingiu a costa dos Estados Unidos, quando Osama bin Laden e sua rede al-Qaeda bombardearam o World Trade Center, em Nova Iorque, pouco tempo depois da destruição das embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia. Em 2000, a al-Qaeda atacou o "Cole", destroyer da Marinha americana. Em 2001, eles orquestraram os ataques terroristas de 11 de setembro no continente americano. O terrível ataque resultou na destruição de quatro aviões comerciais, destruição das Torres Gêmeas, graves danos ao Pentágono e a perda de aproximadamente 3.000 vidas americanas.

O terrorismo islâmico tem custado caro aos Estados Unidos, mas pode-se dizer com precisão que ele, pelo menos em parte, é resultado de operações Soviéticas secretas?

Os críticos dessa teoria descartam rapidamente a noção de colaboração entre Muçulmanos e Soviéticos, citando a aparente incompatibilidade entre comunismo-ateísmo e Islã. Mas um estudo diligente sobre o Islã na União Soviética revela uma história altamente relevante, embora pouco conhecida, especialmente à luz do recente caos no Oriente Médio.

O poder soviético e o Islã.

Em 1984, a agência de imprensa Novosti, em Moscou - controlada pelo Partido Comunista - publicou um pequeno folheto, intitulado "Poder Soviético e Islã" ["Soviet Power and Islam"]. Esse folheto detalhava a história da colaboração Soviética-Muçulmana, começando com a infame Revolução de Outubro de 1917. Muçulmanos da Rússia Central e Oriental apoiaram inicialmente Lênin e sua Revolução Bolchevique contra o governo do Tsar - visto por eles como anti-Islâmico. O folheto cita a seguinte declaração do Conselho Muçulmano da Rússia, e tem a data de 15 de setembro de 1923:
"Pela infinita misericórdia de Allah, a revolução que tem lugar na Rússia eliminou a cruel e despótica autocracia que perseguia a religião do Islã".

Em 25 de outubro de 1926, o Congresso Pan-Russo do Clero Muçulmano - patrocinado pelos Soviéticos - foi aberto com o seguinte telegrama, endereçado ao Partido Comunista da União Soviética:
"Em nome de todos os Muçulmanos, o Congresso expressa gratidão e devoção ao poder Soviético, o defensor do povo oprimido do Leste, e se compromete a apoiar as medidas do governo Soviético para consolidar as conquistas da revolução".
A União Soviética organizou Conselhos Muçulmanos especiais, que eram responsáveis pela "Supervisão das mesquitas e orientação da vida espiritual dos muçulmanos na URSS", de acordo com o folheto. Os Conselhos Muçulmanos incluíam:
. O Conselho Muçulmano da Ásia Central e Casaquistão, com sede em Tashkent;. O Conselho Muçulmano da Sibéria e da Parte Européia da URSS, com sede na cidade de Ufa;. O Conselho Muçulmano do Norte Cáucaso e Daguestão, com sede em Makhachkala;. O Conselho Muçulmano da Transcaucásia, com sede em Baku.

A devoção dos Muçulmanos ao poder Soviético torna-se mais evidente em 1970, quando os países Árabes se lançam na guerra contra Israel:
"Depois da quarta guerra Árabe-Israelense, em outubro de 1973, os líderes das instituições religiosas Muçulmanas da União Soviética convocaram uma conferência para os dias 13 e 14 de novembro, 1973, sob o lema 'Pelo apoio à justa luta dos povos das nações Árabes pela Libertação dos seus Territórios, pela Independência Nacional e Progresso Social'".

A conferência contou com a presença de delegados do Egito, Iraque, Líbia, República Árabe do Iêmen e do Kuwait. Ela também adotou um "Apelo a todos os Muçulmanos e Povos de Boa Vontade", que declarava:
"Nós, Muçulmanos da União Soviética, expressamos nossa completa solidariedade para com os fraternais povos Árabes que lutam pela unidade, liberdade, independência e soberania nacional de seus países. De acordo com o nosso dever religioso, insistimos no estabelecimento da justa e definitiva paz no Oriente Médio - a terra sagrada dos seguidores de várias religiões. Para promover o estabelecimento de tal paz, exigimos a implementação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, de 22 de outubro de 1973, a retirada imediata e incondicional das tropas Israelenses de todas as terras Árabes ocupadas, e o reconhecimento dos direitos legítimos do povo Árabe da Palestina para determinar o seu próprio futuro".

Essa noção de auto-determinação tinha sido a chave histórica para as revoluções e insurgências apoiadas pelos soviéticos na China, Cuba, Vietnã, Nicarágua, El Salvador, Uruguai e Angola. Percebendo a natureza particular do Oriente Médio, a União Soviética sabia que não podia depender do tradicional Marxismo-Leninismo ou do rosto branco russo para fermentar a revolução anti-Capitalista e anti-Ocidental. Por isso, o Kremlin adaptou a sua retórica a um tom mais Islâmico e utilizou os Muçulmanos que já viviam na União Soviética.

O folheto citou a seguinte declaração, feita por Kazi A. Kolonov, um representante do Conselho Muçulmano da Ásia Central e Cazaquistão, em nome dos fiéis e do clero Muçulmano do Tajiquistão:
"Os Muçulmanos acolhem a nova [1977] Constituição da União Soviética, que em cada linha mostra distintamente uma preocupação com o homem. Eles estão completamente satisfeitos com o seu sábio conteúdo e grande humanismo. Nós a aprovamos completa e irrestritamente".
Conexão do Terror Soviético-Muçulmano.

Outra publicação que fornece informação relevante sobre a penetração Soviética e a exploração do Islã para promover a revolução é "New Lies for Old", escrita em 1984 pelo desertor da KGB Anatoly Golitsyn.

Antes de desertar para o Ocidente, em 1961, Golitsyn serviu como membro do ultra-secreto Departamento D da KGB, que trabalhava com desinformação de longo alcance. O Departamento D era subordinado apenas ao Comitê Central do Partido Comunista e tinha "acesso aos ramos executivos do governo e aos departamentos do Comitê Central para permiti-lo preparar e conduzir operações que requeriam a aprovação e o apoio da liderança do partido", disse Golitsyn.

Golitsyn também confirmou a colaboração Soviética para o mundo Muçulmano ser utilizado como instrumento de guerra contra o Ocidente:
"Em março de 1965, a Primeira Conferência de Muçulmanos da Ásia e da África foi realizada em Bandoeng. 35 países estavam representados. O Mufti da Ásia Central e Cazaquistão, Babakhanov, chefiou a delegação soviética. A conferência discutiu a utilização de sociedades de proselitismo muçulmano como arma contra o imperialismo. A necessidade de aproveitar o Islã para servir a revolução tinha sido abertamente discutida pelos estrategistas comunistas. Com base na experiência soviética na Ásia Central, o problema de conseguir isso era difícil, mas solúvel".

Ele também explicou as raízes por trás do patrocínio soviético do terrorismo:
"O objetivo da violência é criar caos e anarquia, impor pressão adicional sobre os partidos democráticos governantes, eliminar seus líderes mais competentes, forçá-los a recorrer a medidas anti-democráticas e mostrar para o público a inabilidade deles para manter a lei e a ordem, deixando o campo aberto para o partido comunista legal se apresentar como a única força alternativa efetiva".

Além de Golitsyn, o General Alexander Sakharovsky, chefe da Diretoria Principal da KGB (responsável pela inteligência internacional de 1956 a 1971, disse, "no mundo de hoje, em que as armas nucleares tornaram obsoleta a força militar, o terrorismo deve ser nossa principal arma".

Considerando as evidências de Golitsyn e Sakharovsky, temos muitas razões para acreditar que o jogo final de Moscou para o terrorismo Islâmico foi o estabelecimento do comunismo. No "Relatório do Comitê Central do PCUS" para o XXVI Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o líder Soviético Leonid Brezhnev disse para a assembléia de delegados do Partido Comunista, "a bandeira do Islã pode levar à guerra pela libertação".

Esta é ainda a política da Rússia? Pouco antes de ser assassinado por envenenamento de polônio, em 2006, Alexander Litvinenko, desertor da KGB/FSB, disse: "O centro do terrorismo global não está no Iraque, no Irã, Afeganistão ou na República Chechena. A contaminação do terrorismo rasteja dos gabinetes da Praça Lubyanka e do Kremlin para o mundo todo".

Praça Lubyanka refere-se à sede da KGB, agora FSB. Em 2008, o Tenente-Coronel Konstantin Preobrazhensky, desertor russo da KGB/FSB, publicou o livro "KGB/FSB's New Trojan Horse: Americans of Russia Decent". Nele, Preobrazhensky observa que, diferente das apolíticas CIA ou MI-6 britânica, a FSB "é um departamento do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética".

Ele descreve a FSB como uma "unidade armada" do Partido Comunista que permaneceu intacta após a reestruturação da União Soviética, em 1991, na moderna Federação Russa. "A FSB e o Partido Comunista compartilham as mesmas ideias". Preobrazhensky escreve: "os chequistas [nome dado aos oficiais da KGB/FSB] até hoje permanecem Comunistas nos seus corações".

Um "chequista" bem conhecido ou ex-agente da "unidade armada" do PCUS é Vladimir Putin, o atual Presidente da Rússia, um admirador de Yuri Andropov.

Andropov foi o chefe da KGB de 1967 a 1982, e contou pessoalmente ao Tenente-Coronel Pacepa sobre a necessidade de utilizar o mundo Islâmico, especialmente o Oriente Médio, para incitar o sentimento anti-Americano e anti-Israelense em prol da revolução Marxista-Leninista.

Os motivos próprios de Putin podem ser deduzidos da declaração que ele fez em 2005, como Presidente: "O colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século".

No seu segundo livro, "The Perestroika Deception", publicado em 1995, Anatoly Golitsyn escreveu: "Quando chegar o momento certo, as máscaras serão retiradas e os Russos - com a ajuda dos Chineses - irão impor com as suas próprias condições o seu sistema ao Ocidente. Será a culminação da 'Segunda Revolução Socialista de Outubro'".

Com o Oriente Médio submerso numa revolução Islâmica em curso, só resta aguardar para ver qual será o resultado de tudo isso. Mas uma coisa é certa, conforme os relógios se aproximam de 2017 - marcando o Centenário da primeira Revolução Socialista de Outubro - não se deve descartar o papel da Rússia.


REFERÊNCIAS.

[1]. PACEPA, Ion Mihai. "A brand new cold war". WND, 23 de setembro de 2012 [http://www.wnd.com/2012/09/a-brand-new-cold-war/].

ARTIGO RECOMENDADO.

GOMEZ, Christian. "As raízes russas do Estado Islâmico". Trad. Bruno Braga. The New American, 09 de março de 2015 [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/04/as-raizes-russas-do-estado-islamico.html].
Postado por Bruno Braga às 11:13 AM

 

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  • Francisco Ferraz
  • 13 Julho 2016

Brasil: país do slogan único

Slogans quando ‘pegam’ se reproduzem como coelhos.

Na medida mesmo em que se reproduzem em larga escala perdem aquelas qualidades que levaram tantos a adotarem-no, copiando e sinonimizando-o.

A lógica do slogan, contudo é outra. Com ele se deseja alcançar o maior número de consumidores (marketing comercial) ou eleitores (marketing político) possível. O slogan gruda no produto ou no candidato de forma exclusiva. Seu alcance se amplia, mas seu referente é um só. Coca Cola é sempre o mesmo produto que serve de referência objetiva (existencial) ao slogan que lhe é exclusivo.

No Brasil, tinha que ser diferente.

Se universaliza o slogan e ele passa a ser adotado, por toda a sorte de produtos.

Desde a primeira eleição de Lula e, seguindo o exemplo de sua candidatura, abusa-se do uso de slogans contendo expressões que substituem o candidato, o partido, a coligação, à doutrina, à ideologia por uma vaga referência à coletividade: “somos”; “todos”; “juntos”; “unidos”.

São expressões encapsuladas em slogans que levam a substituir, a autoria e responsabilidade identificável comprometida com um objetivo a ser realizado, por uma identidade coletiva, vaga e vazia, que se resume a um jogo de palavras meramente publicitário cujo significado no mundo real é inexistente.

Busca-se, com este exemplo de mau profissionalismo, a aceitação fácil, ufanista e sem conteúdo que se encontraria numa unidade social, sem nenhuma objetividade no mundo real: “somos”; “todos”; “juntos”; “nós”; “unidos”, mesmo aplicando-se a tarefas que supõem execução individual ou grupal, mas, em todo o caso competitivas.

É a propaganda enganosa que ninguém contesta, mas também que não informa quem é o responsável e em que medida, pela execução do objetivo que se apresenta como coletivo na sua aspiração e forma de realização.

Implicitamente argui-se que a maneira certa de realizar algo (qualquer algo) é a maneira coletiva. Que qualquer outra forma que se afaste do modo coletivo é uma distorção, é uma forma imperfeita e até mesmo desvirtuada de realização.
Como não é possível negar a divisão do trabalho, com a inevitável especialização, competência, responsabilidade individual ou de grupo, à propaganda do coletivismo corresponde a práxis do líder individual e absoluto que comanda a totalidade livre de responsabilidade.

Não surpreende então que, algumas autoridades, quando cobradas por suas faltas ao governar evitam responder e recorrem à técnica dos 3 macaquinhos: Não vi, Não ouvi, Não falo.

É a voz do líder autoritário, com todos os poderese nenhuma das responsabilidades.

A seguir uma lista desses slogans ‘placebos’, recolhidos facilmente de algumas horas de TV.
• Juntos para Competir
• Juntos podemos muito mais (PSC)
• O Brasil todo dança junto. (cartaz programa do Faustão)
• Movimento vamojunto – Casas Bahia
• Todos juntos fazem um trânsito melhor –
• Todos juntos para fazer o Brasil trabalhar melhor – FAT
• Fox: torcemos juntos
• Todos contra o Aedes Aegypti
• Juntos somos mais fortes que o mosquito
• Juntos podemos - PSOL
• Unidos vamos trabalhar por um Brasil mais inteligente – PSL
• Juntos podemos vencer esta luta (Mutirão limpeza nos prédios)
• Juntos fazemos acontecer )
• Juntos somos mais fortes ) Publicidade sobre Olímpiada
• Juntos somos todos Brasil )
• Unidos contra o Aedes (avião fumaça em Copacabana)
• Vamos juntos somar forças (Gov. Federal)
• Somos todos campeões (Olimpíadas; isto que ainda nem começaram!)
• Juntos em prol do impeachment (Antagonista)
• Juntos por um mundo melhor (Ambev)

Como se constata nessa pequena porção de exemplos, parece que não é difícil fazer publicidade... Em todo o caso não se exige mais necessariamente criatividade e imaginação.

Além disso, essas expressões são usadas por partidos e políticos de situação e oposição; de direita, centro, esquerda e a “soi disant” extrema esquerda; para fazer o impeachment e para evita-lo; sempre presente nos programas partidários gratuitos na TV e rádio; serve para ganhar (Olimpíada), para liquidar (Aedes Aegypti), para dançar (todos juntos???), para corrigir o trânsito, para vender cerveja, eletrodomésticos e móveis (Casa Bahia); para o modesto objetivo de construir um mundo melhor ...
 

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