• Alexandre Garcia
  • 29/12/2016
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PACOTE DE NATAL


                O excelente articulista Percival Puggina propõe uma pergunta: Se o Poder Público lhe oferecesse seus serviços de segurança, saúde, educação, transporte, justiça, como um pacote pago de serviços, você o compraria? No Brasil real, você pode responder que não, porque a qualidade dos serviços é péssima, mas você é obrigado a "comprar", mediante pagamento de impostos que consomem de 30% a 50% do que você ganha. Para sustentar um estado pesado, ineficiente, que dá para os seus próprios integrantes benefícios e salários bem acima dos que estão fora dele. Um estado injusto, que vende o que não tem, que cobra caro, que se endivida e que é você quem arca com as consequências, com a recessão, o desemprego, os juros altos, a falta de futuro. Um estado que é grande mais no que não precisamos e pequeno demais no que precisamos. E quando se erguem governadores, prefeitos e presidente propondo medidas para encontrar soluções, o corporativismo estatal cerra fileiras para impedir.

                Assim foi com a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista de Lula, anos atrás, ainda no primeiro mandato. A da Previdência era até mais ousada e mais completa que a atual proposta, e estava sendo tocada pelo Secretário-Geral da Fazenda, Bernardo Appy, em tempos de Palocci. A Trabalhista era negociada com êxito pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luiz Marinho, íntimo de Lula. Não foram adiante porque barradas pelos sindicatos do funcionalismo. Quando chegou o governo Dilma, aí tudo se degringolou. Agora, estranhamente, o PT está contra Temer apresentar uma proposta que era do Partido dos Trabalhadores, para salvar empregos e a previdência.

País estranho, esse. PT e PMDB eram companheiros de chapa. Os petistas votaram em Temer e os peemedebistas elegeram Dilma. E agora são os que gritam "fora Temer", e ficam contra quando Temer apresenta projetos que eram do PT. Vão lembar que foi um peemedebista que abriu caminho para o impedimento de Dilma. Pois um amigo mineiro me afirmou, na noite de Natal, que o pixuleco recebido por Eduardo Cunha é pouco para pagar o que ele fez pelo país, ao abrir caminho para que a nação se livrasse do desastre Dilma. É de pensar. Seria uma atenuante para a pena que ele vai receber? Pobre país!

Entre o Natal e o Ano-Novo, talvez a palavra mais pronunciada no Brasil seja esperança. Eu diria que quanto mais decepções e frustrações que se tenha, maior é a esperança. Como temos um presente de recessão e desemprego, o futuro fica ainda mais cheio de esperança. E a esperança em 2017 está na Lava-Jato. Que essa grande operação, tal como a Mãos Limpas da Itália, seja um marco que ponha um basta na cultura da corrupção, que impregna os três poderes nos três níveis da Federação. Que se investigue e se puna, para que possamos ter esperança em 2018, quando vamos eleger deputados, senadores, presidente e governadores. Se 2017 pegar e punir, os partidos se sentirão na obrigação de apresentar candidatos menos ruins. E pode ser que o estado se sinta constrangido a nos vender um melhor pacote de serviços a mais baixo custo.