• Maria Lucia Victor Barbosa
  • 02 Dezembro 2016


Em1959, ano em que Fidel Alejandro Castro Ruz e seus barbudos derrubaram a ditadura corrupta de Fulgencio Batista, começou o grande amor da esquerda latino-americana pelo líder revolucionário, paixão que continua até hoje apesar de Castro ter se tornado, como bem definiu o presidente norte-americano recém-eleito, Donald Trump, “um ditador brutal de uma ilha totalitária”.

Inicialmente a retórica de Castro parecia ser a de um democrata e no seu documento, A História me Absolverá (1953), o jornalista Ruy Mesquita relatou não haver encontrado “nenhum traço de marxismo, de comunismo ou de esquerdismo”.

Entretanto, Fidel declarou mais tarde que sempre fora marxista-leninista e que a falsa imagem de democrata foi usada apenas para não assustar. Condizente com sua verdadeira ideologia ao assumir o poder Castro cancelou as eleições livres que prometera, suspendeu a Constituição de 1940 que garantia direitos fundamentais aos cubanos e passou a governar por decreto. Em 1976, impôs sua Constituição baseada na da URSS e nela havia, entre outros artigos, os que limitavam os direitos dos cidadãos de se associarem livremente. Pela opressão, por suas próprias leis o tirano de Cuba governou despoticamente durante 49 anos. Assassinou, prendeu, torturou, matou milhares de cubanos que não concordavam com sua ditadura. E não é à toa que Cuba foi chamada de Ilha Cárcere.

Algo a ser ainda esmiuçado através da História é a ligação de Castro com a União Soviética. Possivelmente isso foi planejado antes dele derrotar Batista e selado através de um pacto muito favorável para ambas as partes: Cuba seria sustentada pelo império vermelho e Castro teria proteção com relação aos Estados Unidos. Os soviéticos, através do caudilho puseram uma pedra no calcanhar dos norte-americanos e reforçaram a cultura antiamericana que se tornou fortíssima na América Latina. A pequena e insignificante Ilha produtora de charuto e rum podia ser, na perspectiva das URSS, um posto avançado para disseminar o comunismo em toda América Latina.

A morte aos 90 anos do último ícone da esquerda latino-americana provocou muitos louvores dos adeptos do neosocialismo. Lula, por exemplo, disse que Castro foi como seu irmão mais velho, o maior de todos os latino-americanos. Dilma também não poupou elogios. Até o Papa Francisco se disse triste com o passamento do ditador sanguinário.

Sua Santidade certamente perdoou o que Castro - na juventude estudante em colégio jesuíta - fez com a Igreja. Em 1961, expulsou 131 padres, marginalizou instituições religiosas e, aos que expressavam sua fé punia com a proibição de acesso à universidade e às carreiras administrativas. Até a celebração do Natal foi proibida.

Não vi a opinião dos gays de esquerda, mas li no Livro Negro do Comunismo que homossexuais eram tratados como “pessoas socialmente desviadas” e que por isso eram presos, sofriam maus tratos, subalimentação, isolamento. Na Universidade de Havana foram julgados em público e obrigados a reconhecer seus “vícios” antes de serem demitidos e presos.

Não vi tampouco a opinião das feministas de esquerda ou da deputada petista, Maria do Rosário. Mas na mesma obra consta que centenas de mulheres foram presas em Cuba por motivos políticos. Eram espancadas, humilhadas, entregues ao sadismo dos guardas e seus maridos eram obrigados a assistir suas revistas íntimas. Horrores se passaram nas medonhas masmorras cubanas para homens e mulheres e ainda passam, pois existem presos políticos em Cuba.

Foi-se o mais importante símbolo esquerdista da América Latina deixando como legados o fracasso econômico e o inferno social para seus compatriotas. Seu irmão Raul, que governa desde que a doença abateu o tirano caribenho, está com 85 anos. Quem sucederá na ditadura hereditária dos Castros depois que Raul também se for? Chávez, o verdadeiro herdeiro de Castro na América Latina partiu antes. Como Cuba, a Venezuela é a imagem do fracasso, da brutalidade governamental, da ausência dos direitos humanos, que configuram o Socialismo do Século 21. As figuras que remanescem no poder classificadas como de esquerda são subprodutos de caudilhos. No Brasil afunda Lula e seu PT depois de terem arrebentado o país.

Enquanto isso, transformações estão em curso no mundo: Trump foi eleito presidente nos Estados Unidos e vários líderes europeus, também de direita poderão se tornar presidentes de seus países em 2017.

Ao final desse pequeno artigo faço minhas as palavras do editorial do Estadão de 29/11/2016: “O espetacular fiasco da experiência socialista e castrista em Cuba deveria servir como prova definitiva da inviabilidade desse modelo e da natureza irresponsável, despótica e corrupta do regime de Fidel”.

Maria Lucia Victor Barbosa é professora, escritora, socióloga, autora entre outros livros de O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a Ética da Malandragem, Editora Zahar e América Latina – Em busca do Paraíso Perdido, Editora Saraiva.


 

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  • Roberto Rachewsky
  • 02 Dezembro 2016

 

A todos os esquerdistas, de FHC e Aécio a Lula e Dilma, Coletivistas estatistas, que sonham em transformar o mundo, que se acham engenheiros sociais, que se vêem como pais de todos, fura bolo e mata piolho, aprendam a seguinte lição de lógica, sociologia e filosofia:

Errado: Fidel era um assassino, mas sonhava com um mundo mais igualitário.
Certo: Fidel era um assassino porque sonhava com um mundo mais igualitário.

Somos desiguais porque a natureza nos fez desiguais, não existe igualdade possível entre dois seres humanos. Quando nascemos já somos diferentes, parecemos diferentes porque somos diferentes, pensamos diferente porque somos diferentes, conquistamos resultados diferentes porque somos diferentes, nascemos, pensamos e vivemos como diferentes porque somos diferentes. Nossas diferenças acabam quando morremos é por isso que todos aqueles que querem transformar o mundo num lugar de seres iguais são todos assassinos. Assassinos de oportunidades, Assassinos de potenciais, assassinos da liberdade, assassinos de pessoas.

Fidel não pode entrar para a galeria dos sonhadores, sonhadores sonham e fazem sonhar. Fidel era um produtor de pesadelos, ele deve entrar para a galeria dos assassinos, tiranos, genocidas. Seu lugar é ao lado de Hitler, Mao, Stalin, Pol Pot, Arafat, Pinochet, Videla, Franco, Chávez, todos assassinos sonhadores de uma igualdade impossível.

Parem de sonhar com a igualdade de oportunidades, de resultados. Sonhem com a igualdade política, a igualdade perante as leis, o fim dos privilégios que Fidel tinha e os políticos brasileiros têm como ninguém. Sonhem com a liberdade, respeitem as diferenças e as desigualdades. Respeitem o indivíduo.

Uma sociedade justa não é aquela que é livre das diferenças, onde todos são obrigados a serem tratados e a se comportarem como se fossem iguais. Uma sociedade justa é aquela que é livre para sermos o que somos, seres únicos, respeitados por sermos diferentes, e reconhecidos como indivíduos desiguais.

Abraços,


Roberto Rachewsky

 

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  • Alexandre Schwartsman
  • 02 Dezembro 2016

(Publicado originaçmentena Folha)


Há economistas no Brasil que se autointitulam "desenvolvimentistas", embora sejam mais bem descritos como keynesianos de quermesse. Dessa tribo, os que se designam "neodesenvolvimentistas" pretendem se diferenciar dos demais quermesseiros por uma suposta ênfase na necessidade de equilíbrio fiscal, "[rejeitando] a noção equivocada de crescimento sustentado pelo deficit público. (...) As contas públicas devem ser mantidas equilibradas".

No entanto, como se diz, o teste do macarrão consiste em colocá-lo na água e ver se amolece. E, no teste do macarrão, a vertente "neoquermesseira" amolece bonito. Apesar da retórica a favor do equilíbrio fiscal, quando colocados diante de um problema concreto, os neoquermesseiros imitam santo Agostinho: ajuste sim, claro, mas não, por favor, agora...

O exemplo mais recente (e não o único) foi cometido aqui mesmo, nas páginas da Folha, por Nelson Marconi e Marco Brancher, que se posicionaram contra a proposta que cria um teto para o gasto público no Brasil.

Começam argumentando que "a participação de despesas e receitas no PIB permaneceu relativamente estável entre 2010 e 2013 nos três níveis de governo", o que é a) falso; e b) irrelevante, dado o aumento recente.

De fato, no período o gasto público primário aumentou de 33,8% para 34,9% do PIB, lembrando que cada ponto percentual do PIB corresponde hoje a R$ 65 bilhões. Não mencionam, ademais, que nos 12 meses até junho deste ano esses mesmos gastos haviam pulado para 38% do PIB.

A propósito, se tivessem feito algum esforço para estimar, como eu fiz, o gasto do setor público nos últimos 20 anos, teriam chegado a números na casa de 29%-30% do PIB em 1997, o que dá uma ideia clara do aumento da despesa nos últimos 20 anos.

Isto dito, à parte repetir a ladainha do ajuste por 20 anos (falsa, dado que em dez anos a indexação do gasto poderá ser revista), criticam a proposta, afirmando que a reforma da Previdência teria que vir antes, como se passar meses discutindo esse tema para lá de complexo fosse algo absolutamente sem custo ante a crise pela qual passamos.

Mais curiosa ainda é sua proposta de reforma: aumentar impostos para financiar os gastos crescentes dessa rubrica. Como se jamais tivéssemos tentado esse truque, que, diga-se de passagem, foi exatamente o que nos trouxe à situação atual.

Não se engane: aumentar os impostos pode, no máximo, adiar mais um pouco o encontro com a realidade, que, ao acontecer, será ainda mais doloroso do que no presente momento.

Também na linha de curiosidades, os autores admitem que a evidência internacional sugere que o teto leva a maior eficiência na distribuição dos recursos e traz o debate orçamentário para o Parlamento, mas que não funcionaria no Brasil, talvez por nos encontrarmos abaixo da linha do Equador, o que, segundo quermesseiros de todas as matizes, inverte também as consequências de políticas devidamente comprovadas.

Agora, caso queira se divertir, sugiro a leitura de artigo do mesmo Marconi aqui na Folha, em agosto do ano passado, que jurava ser possível fazer o ajuste fiscal apenas contendo os desperdícios, possibilidade abandonada em sua última contribuição.

Pode ter mudado de ideia. Mais provavelmente, porém, apenas buscou novos argumentos para justificar a gastança.

Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia.
 

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  • Prof. Eduardo Federizzi Sallenave
  • 01 Dezembro 2016

 

O Conselho Superior do Instituto Federal de Brasília -- instituição onde trabalho -- autorizou que uma comissão formada por grevistas, alunos e diretores de ensino definisse a programação de uma "semana de estudos e discussões". Comunicaram a nós professores que os eventos da tal semana seriam atividades letivas, portanto, caso algum aluno quisesse participar, não poderia receber falta nas aulas regulares. Bem, se os eventos se resumissem a palestras e apresentações artísticas, a determinação do Conselho Superior não seria tão absurda. Porém, o evento do último dia foi um claro convite às manifestações de hoje na Esplanada dos Ministérios.


A decisão do Conselho Superior foi totalmente irresponsável! Quer dizer que eu deveria dar presença para um aluno que estivesse na esplanada em pleno confronto com a Polícia Militar? É brincadeira! Palhaçada! E se um aluno menor de idade tivesse sido ferido? Irresponsáveis! Mil vezes irresponsáveis!


Colocaram na programação de uma semana de “estudos e discussões” uma manifestação na qual as chances de tumulto eram altíssimas! É surreal gestores do IFB tentarem nos vender a ideia de que a instituição não está tomando partido, que está apenas promovendo o “debate”. Quer fazer greve, faça! Mas que não se instrumentalizem as instituições públicas para tanto. Evento de greve é evento de greve. Atividade letiva é atividade letiva. Que não se misturem as coisas!


Prof. Eduardo Federizzi Sallenave
 

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  • Pedro Corzo
  • 01 Dezembro 2016

 

(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)

Sua morte não deve significar esquecimento, ao contrário, um firme e exultante jamais deixaremos de ser cidadãos, devemos clamar um e todos os cubanos.

Seu legado, do qual não se pode excluir seu irmão Raúl porque seus aportes foram essenciais para a sobrevivência do regime, é um prontuário delitivo que apequena o de qualquer outro ditador do hemisfério.

Castro irrompeu na política através do bandoleirismo universitário. Não pôde aceder à liderança da Federação Estudantil Universitária, e se associou com os dois grupos mais violentos que operavam na década de 40 na Universidade de Havana.

Sua capacidade para sobreviver se desenvolveu entre aquelas famílias mafiosas. Lá aprendeu a misturar o assassinato com a adulação. Audaz, inteligente e manipulador, se rodeou de um grupo de incondicionais que lhe foram fiéis por décadas.

Mais tarde, um inimigo sem convicções lastreado pela corrupção, lhe permitiu converter umas escaramuças rurais em uma epopéia digna de Homero. A classe dirigente cubana e a imprensa nacional, salvo honrosas exceções, fizeram deixação de sua soberania. O populacho foi consumido por um novo César que desde o princípio lhes deu circo e pouco a pouco lhes roubou o pão.

O totalitarismo se deu novas leis. As paródias de processos legais permitiam assassinatos públicos. Fuzilou-se em parques, cemitérios e detrás das escolas. Militarizou-se a sociedade. Implantou-se o terror. Impôs-se um paradigma que promovia o ódio e o estalido das metralhadoras para resolver as diferenças. As bases culturais e morais da nação, como parte de um Plano Nacional que pretendia recriar a consciência cidadã, foram quebradas para introduzir novos valores e dogmas.

A escola foi quartel e centro de doutrinação, as gerações emergentes cresceram em um ambiente de triunfalismo no qual a fronteira era definida pela frase: “Com a Revolução tudo, contra a Revolução nada”.

Dezenas de milhares de pessoas foram para a prisão. Milhares mais partiram para o exílio. A liberdade intelectual desapareceu. Estabeleceu-se um estrito controle dos meios informativos. As religiões foram enclausuradas em seus templos. Uma espécie de nova devoção impôs sus próprias tradições, cultos, lutos e festas.

Paradoxalmente, o chauvinismo que o oficialismo impulsionou de que Cuba e o cubano era melhor e superior, foi se transformando em um profundo sentimento de frustração, segundo o indivíduo foi vivendo os fracassos e padecendo as contradições do regime.

O “companheiro” ficou de imediato sem os suportes teóricos que por décadas lhe haviam sido insuflados. Ele deu-se conta de que havia se formado em um ambiente no qual as palavras de ordem substituíam os pensamentos e a mentira se convertia em verdade e em pouco tempo voltava a ser mentira, que a fraude procedia desde as mais altas esferas e que a igualdade era outro grande estelionato.

O medo e a conveniência substituíram o conceito do direito pessoal. Um amplo setor do país se conduz com feroz individualismo, pratica o cinismo mais grosseiro e conforma uma massa coloidal que se adapta à situação que demande menos esforço.

Os promovidos progressos cubanos, esporte, educação e saúde, foram outra decepção. Acabaram-se as contribuições estrangeiras e o milagre social desabou.

Na ilha estabeleceu-se uma nomenklatura que desfrutou sem interrupção do poder absoluto. Instituiu-se uma aristocracia artística, desportiva e intelectual, subordinadas ao compromisso político. As Forças Armadas serviram como exércitos mercenários, e hoje são geradoras de fortunas para seus generais. O movimento operário é outra empresa do Estado.

A extorsão, a vulgarização da linguagem e dos costumes, a massificação do cidadão fizeram desaparecer o indivíduo e, por conseguinte, a privacidade.

O pudor escorregou para a promiscuidade e a prostituição, presentes em toda a sociedade, porém sempre questionadas, se reconciliaram com a comunidade para ser aceitas como práticas comuns, porque a primeira coisa era “resolver”, sem se importar como.

A corrupção, o abuso de poder e o cisma provocado pelo sectarismo moral e ideológico de uma nação, alcançaram níveis nunca imaginados. Décadas de castrismo espargiram uma dolorosa sombra no presente e prometem um angustioso alumbramento de futuro.

O castrismo é o principal responsável pela corrosão moral que ameaça se estender a toda a Nação.

Atualmente a economia é parasita, mendiga, dependente da generosidade de outros países como Venezuela e China. Fala-se de reformas econômicas, porém não se pode negar que o regime reprimiu o desenvolvimento de uma economia independente por décadas.

Fidel deixa uma herança penosa. Os números estão em vermelho, não só porque a economia está destruída, senão pela frustração de milhões de pessoas que compraram o sonho que lhes foi roubado, pela amargura dos que enfrentaram o sistema sem êxitos e por uma sociedade que, salvo exceções, perdeu as esperanças.


Tradução: Graça Salgueiro
 

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  • Yuri Vieira
  • 28 Novembro 2016


(Publicado originalmente no Midia Sem Máscara)

Ao afirmar que a História julgará Fidel Castro, Obama prova mais uma vez — tal como lemos em A Nova Era e a Revolução Cultural, de Olavo de Carvalho — que não passa de um reles politiqueiro revolucionário. Quando o sujeito é incapaz de reconhecer uma Causa Transcendente da realidade espaço-temporal, adere então, com unhas e dentes, ou ao espaço (discípulos da Nova Era e ambientalistas radicais) ou ao tempo (socialistas, comunistas e revolucionários políticos em geral), passando a adorá-los. Em vez de encarar a Criação como um caminho para Deus, adoram-na como um ídolo. E a História não é senão a "deusa" dos adoradores do tempo.

Por mais que acreditem estar comemorando a morte do indivíduo Fidel Castro, os cubanos exilados nos EUA, assim como seus descendentes, estão apenas comemorando o ocaso de um tirano: o povo sempre aguarda pela morte daquele que o oprime. O indivíduo Fidel Castro, parafraseando Fernando Pessoa, quando tentou tirar a máscara de tirano, notou que ela já lhe pregara à cara. Se é que tentou tirá-la... Fidel Castro, de fato, já estava morto como homem há muito tempo. A misericórdia divina alcança todos os recantos: mas Deus não é um ditador, não obriga ninguém a adorá-Lo e a caminhar com Ele. Os fuzilamentos, as prisões por crime de consciência, o encarceramento de todo um povo, a fome e a miséria... pesaram algum dia em sua consciência? Não vimos sinal disso. E, após a morte do corpo, haverá tempo para o arrependimento? É possível, mas talvez seja ainda mais difícil do que já é aqui. A crermos em C.S. Lewis e Swedenborg, o inferno há de ser a ilusão pura, a armadilha dos próprios desejos, um local onde revolucionários poderiam acreditar que a "luta continua"... eternamente, hasta la vitoria. Se eu acredito na imortalidade da alma? Como dizia Hilda Hilst: "Eu acredito na imortalidade da minha alma. Se você não parar de coçar o saco, talvez não tenha tempo para formar uma".

Com a declaração de Fernando Henrique Cardoso, também vemos quem nosso ex-presidente realmente é:

"A morte de Fidel faz recordar, especialmente a minha geração, o papel que ele e a revolução cubana tiveram na difusão do sentimento latino-americano e na importância para os países da região de se sentirem capazes de afirmar seus interesses.
"A luta simbolizada por Fidel dos ‘pequenos’ contra os poderosos teve uma função dinamizadora na vida política no Continente. O governo brasileiro se opôs a todas as medidas de cerceamento econômico da Ilha e, desde o governo Sarney até hoje as relações econômicas e políticas entre o Brasil e Cuba fluíram com normalidade.
"Estive várias vezes com Fidel, no Brasil, no Chile, em Portugal, na Argentina, em Costa Rica etc. O Fidel que eu conheci, dos anos noventa em diante, era um homem pessoalmente gentil, convicto de suas ideias, curioso e bom interlocutor.
"Os tempos são outros hoje. Do desprezo altaneiro aos Estados Unidos, Cuba passou a sentir que com Obama poderia romper seu isolamento. As nuvens carregadas de Trump não serão presenciadas por Fidel. Sua morte marca o fim de um ciclo, no qual, há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social, não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas.
"Junto com meu pesar ao povo cubano pela morte de seu líder, quero expressar meus votos para que a transição pela qual a Ilha passa permita que a prosperidade aumente, mas que se preserve, num ambiente de liberdade, o sentimento de igualdade que ampliou acesso à educação e à saúde." (FHC)

Em suma: Fernando Henrique é outro adorador da História, isto é, da paródia do Reino de Deus que futuramente — tal como crê todo revolucionário — surgirá na Terra mediante o poder político. E, no entanto, não há como mudar a natureza das coisas. Por mais que tentem os revolucionários, o resultado haverá de ser sempre a morte, a dor, o sofrimento, o isolamento, a miséria...
E FHC, claro, atribui o obscurantismo a Trump, que não é senão um homem prático. Se o povo americano o elegeu, não foi por adorá-lo, não foi por "populismo". Sua vitória não foi sua vitória: foi o símbolo de que o senso comum ainda faz sentido para a maioria das pessoas — ora, é o senso (sentido) comum! — por mais ideologias loucas que os intelectuais, a imprensa e os políticos do mainstream tentem lhes impingir. E, como homem prático, Trump, até o momento, foi o único a se pronunciar sobre a morte do ditador Fidel como um verdadeiro estadista:

"O legado de Fidel Castro é de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos humanos fundamentais.
“Enquanto Cuba continua sendo uma ilha totalitária, é minha esperança que hoje marque um afastamento dos horrores suportados por muito tempo, para um futuro em que o maravilhoso povo cubano possa finalmente viver em liberdade.
“Embora as tragédias, mortes e dores provocadas por Fidel Castro não possam ser apagadas, nossa administração fará tudo o que puder para garantir que o povo cubano possa finalmente iniciar sua jornada em direção à prosperidade e à liberdade.” (TRUMP)

Ninguém elegeu Trump como quem elege um salvador comunista, um Lula, uma Dilma, um Maduro, um Correa, isto é, alguém que possa salvar o povo da dureza da realidade, da lei da escassez, do suor na testa... Trump foi, sim, eleito para salvar o povo dessa gente revolucionária — porque o "mundo melhor" só existe se criado por cada um em sua vida particular, com sua família, com aqueles que ama. E o Estado não tem de interferir nisso. "Ah, mas e as injustiças do mundo?" Já foi respondido: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." (Mt 5. 6)





 

 

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