Apesar de ofuscada pela divulgação da lista da Odebrecht, a prisão do ex-secretário de Saúde de Cabral não me surpreendeu. Desde 2010, quando imaginei poder competir com essa gigantesca e sedutora máquina de corrupção, apontei, diretamente, para os desvios na Saúde. Minha ideia era simples. Havia corrupção em toda a parte, mas era preciso priorizar as denúncias. Na Saúde, a corrupção mata. É mais fácil passar a mensagem, embora em outros setores ela também produza grandes estragos.
A variedade de escândalos, desde aluguéis de carros que valiam mais do que os próprios carros, ao superfaturamento da compra de material elementar, como gaze, até equipamentos complexos, não deixava dúvida: roubava-se em tudo. No fundo, todas as pessoas informadas estavam alertas como a vizinha de Sérgio Côrtes, na Lagoa. Ela pediu ao porteiro que a acordasse, a que hora fosse, quando a Polícia Federal viesse prender o assecla de Cabral. O interessante nas gravações reveladas pela Lava-Jato é constatar como a equipe de Cabral pensa, agora que foi descoberta. Sérgio Côrtes queria combinar uma delação premiada com o cúmplice, tomando o cuidado de omitir as cifras roubadas, senão teria que devolver o dinheiro. A condenação pública e a própria cadeia não são os fatores que preocupam Côrtes, mas, sim, uma fórmula de reter o dinheiro acumulado. Tudo de valor que poderia ter sido apreendido em sua casa foi vendido, inclusive obras de arte. Para que servem as obras de arte, senão para serem convertidas em dinheiro? Por isso são compradas pelos corruptos brasileiros. Na verdade, a prisão de Côrtes não surpreendeu a ninguém, nem mesmo a ele. A demora serviu apenas para que se preparasse e salvasse um pouco da grana, uma vez que sempre contam com cadeia curta.
A lista da Odebrecht saiu num momento difícil para mim. Meu avião partia às 6h para Roraima. A opção era dormir ou pesquisar todos os detalhes dos pedidos de inquérito. Matérias tão amplas e vazadas parcialmente acabam trazendo um pouco de confusão. É o ônus do mundo on-line. Lula e Dilma não estavam na lista. Não têm foro privilegiado. Mas alguns admiradores que, no passado, defendiam-nos com o argumento de que todos recebiam dinheiro foram um pouco mais longe: insinuaram, agora, que todos, menos o Lula e a Dilma, receberam. São um espanto.
O tempo vai mostrar que o sistema político brasileiro sofreu um grande baque, e só sua renovação interessa. A esquerda sonha com a vitória de Lula porque acha que vitória na eleição absolve. Nesse quadro mental, a aplicação das leis passa pela contagem de votos. É um caminho para a instabilidade, porque processos legais seguem seu ritmo. Urnas não lavam um passado de crimes. Da mesma maneira, o PSDB terá que reduzir seu leque de candidatos. Os que foram denunciados pela Odebrecht estariam sujeitos também à mesma instabilidade no poder. A diferença entre os dois partidos é o fato de a esquerda se apoiar apenas no nome de Lula. Como é um líder carismático, milhares acreditam nele, mesmo com tantas evidências contrárias. A estratégia é vencer as eleições para escapar da prisão. No caso do PSDB, sem líderes messiânicos, os eleitores tendem a se comportar de uma forma mais severa. Uma candidatura, apenas para se salvar da polícia, seria tão desastrosa que morreria ao nascer. Não foi apenas o quadro da eleição presidencial que se abalou com as delações da Odebrecht. Foi todo o sistema partidário, o modo de fazer eleições — esses temas que já estavam no ar antes da aparição da lista.
Os jornalistas pediram tempo de análise, diante de tantos nomes e fatos surgidos na delação da Odebrecht. Apesar da rapidez que a tecnologia impõe, faria bem a todos que discorrem sobre o tema ler com cuidado toda a massa de informações. Por isso, divido a prisão de Côrtes com a lista. Esta última ainda merece reflexão e debate, algo difícil para mim agora, trabalhando na fronteira com a Venezuela. O caso de Côrtes e da quadrilha de Cabral, no entanto, é um terreno mais seguro. Algumas pessoas costumam dizer que não se alegram com a prisão do outro. Compreendo que sejam assim, mas seria falso admitir esse sentimento em mim. Certas prisões me alegram. Pessoas que roubam na Saúde, superfaturam remédios e próteses, inventam desnecessárias cirurgias e ficam podres de ricas com isso, merecem cadeia. Muitos anos de cadeia.
A sofrida população do Rio, por exemplo, os milhares de rostos anônimos, de corpos doloridos jogados em macas nos corredores dos hospitais, todos estão incluídos no conceito de ser humano. E às vezes escapam dos radares dos autointitulados progressistas que votaram em Cabral, com a bênção de Lula. Vivemos um momento pantanoso, o país precisa de tolerância e alguma unidade para enfrentar seus problemas. Mas existe uma linha divisória incontornável. Os brasileiros precisam responder qual é o seu lado: o de quem roubou ou de quem foi roubado.
(Publicado originalmente em www.institutoliberal.org.br)
Abaixo, listo as perguntas que devemos fazer após ouvirmos algumas afirmações socialistas. São perguntas simples e objetivas, porém, que nunca são respondidas. Provocam apenas eufemismos, retóricas, tentativas de desqualificar o autor das perguntas ou simplesmente faniquitos às vezes sentimentais, às vezes agressivos.
1 – O capitalismo exclui os pobres.
Você quer dizer que o capitalismo é o sistema que dedica-se a produzir joias, roupas de grife, carros esportivos e aviões executivos?
2 – O capitalismo gera pobreza.
Essa é a sua conclusão ao comparar a lista dos países de melhor qualidade de vida com a lista dos países com maior liberdade econômica?
3 – O capitalismo cria desigualdades.
Você poderia apontar um regime socialista no qual seus líderes usufruem dos mesmos confortos que a população comum?
4 – O capitalismo não valoriza os esforços do trabalhador.
Como o socialismo valoriza os esforços do trabalhador se ele cobra que todos os trabalhadores de uma mesma categoria devem receber os mesmos salários?
5 – O capitalismo destrói a natureza.
Você consegue imaginar quantas árvores deixaram de ser cortadas desde o surgimento da informática e da internet?
6 – Os bancos exploram as pessoas mais pobres.
Você já comparou o quanto uma pessoa comum paga de anuidade de cartão de crédito em relação ao quanto esta mesma pessoa paga de impostos ao governo num único dia?
7 – A publicidade capitalista induz as pessoas ao consumo.
São as propagandas na TV e os outdoors na rua promovendo a maconha, a cocaína e o crack que fazem as pessoas a consumir essas drogas?
8 – A mídia manipula a população contra o governo.
Em qual sentido, já que a mídia há 12 anos noticia sucessivos casos de corrupção e mesmo assim o PT está em seu 4° mandato consecutivo?
9 – O capitalismo cria necessidades que as pessoas não têm.
Necessidades do tipo… produtos de higiene pessoal, medicamentos, roupas, energia elétrica, meios de comunicação mais confiáveis do que pombos-correios, moradias mais confortáveis do que cavernas, veículos de transporte mais rápidos do que cavalos e armazenamento de dados mais eficientes do que pedras?
10 – O capitalismo oprime o consumidor.
Você quer dizer que o capitalismo oprime as pessoas ao oferecer produtos e serviços cada vez mais variados e a preços cada vez mais baixos?
11 – Os países escandinavos são exemplos de sucesso do socialismo.
Você considera exemplos de países socialistas aqueles que registram as menores participações do Estado na economia, os maiores níveis de liberdade econômica, as maiores taxas de poupança, as legislações que mais garantem a propriedade privada e as políticas que mais restringem a imigração?
12 – Eu falo dos programas sociais desses países.
Se você enxerga que programa social é a mesma coisa que sistema político-econômico, então, devo considerar que você também enxerga como países socialistas Alemanha, Suíça, Canadá, Austrália, Singapura, Japão, Coreia do Sul e, claro, Estados Unidos, já que eles empenham amplos programas sociais?
13 – Como escreveu Marx, o socialismo é inevitável, já que o capitalismo está fadado ao colapso.
Sendo assim, qual a razão do ativismo revolucionário socialista?
14 – Marx foi deturpado.
Você pode explicar como o socialismo científico de Marx seria viabilizado com sucesso sendo que ele ignora completamente o calculo de preços e, em consequência, o princípio da escassez?
15 – A burguesia é egoísta, racista, fascista e homofóbica.
Você se sente uma aberração genética e social por ser branco, nascido e criado na burguesia mas, a despeito disso, tem a mente e o coração voltados apenas para o bem da humanidade?
16 – Os capitalistas são preconceituosos.
Os socialistas não são preconceituosos ao afirmar sobre o caráter e sobre o merecimento das pessoas a partir dos seus endereços e de suas contas bancárias?
17 – Os mais pobres estão se conscientizando sobre os males do capitalismo.
Você poderia apontar alguma pesquisa que mostra que a maioria da população mais pobre não tem ambições capitalistas, que não deseja acumular capital e propriedade?
18 – O liberalismo defende que as grandes empresas tenham liberdade para fazer o que bem entenderem.
Qual foi o último livro de autor liberal que você leu?
19 – Os empresários só pensam no lucro.
Você sabia que para um empresário obter lucro, antes ele precisa pagar salários, fornecedores, impostos, encargos e ainda satisfazer seus clientes?
20 – Os empresários nunca pagam salários justos.
Você não acha que já está na hora dos socialistas montarem suas próprias empresas e começar a produzir de acordo com as relações de trabalho que eles tanto pregam?
21 – O Estado tem que cobrar mais impostos dos mais ricos.
Você aceitaria que o condomínio onde você mora decidisse cobrar mensalidades e taxas proporcionais à renda de cada morador?
22 – O governo faz bem ao gerar emprego em sua própria máquina administrativa.
Você aceitaria que o condomínio de seu prédio contratasse ascensoristas?
23 – O trabalhador tem que ter estabilidade de emprego, não pode ficar a mercê da vontade do patrão.
Você contrataria alguém que não possa demitir?
24 – A iniciativa privada corrompe o Estado.
Seguindo este raciocínio, o policial corrupto deve ser tratado como vítima?
25 – O capitalismo corrompe a arte.
Você já procurou saber que a grande maioria dos eventos e projetos culturais são bancados pelo governo?
26 – O governo tem que proteger a sociedade do capital financeiro.
Quem protege a sociedade do governo?
27 – O Estado tem que proteger a sociedade dos monopólios privados.
Quem protege a sociedade do monopólio estatal?
28 – A iniciativa privada também comete seus abusos e oferece maus serviços.
O que lhe causaria mais indignação: ser assaltado por um ladrão qualquer ou por um policial?
29 – Enquanto o Estado não controlar os principais meios de produção, a sociedade será refém da ganância e da corrupção dos capitalistas.
Quem garantiria à sociedade que os agentes do governo que viessem a controlar os principais meios de produção não seriam igualmente ou mais gananciosos e corruptos que àqueles que viessem a ser depostos?
30 – É papel do Estado promover a justiça social.
Como o Estado conseguiria saber o que cada indivíduo merece?
31 – Não é justo uns poucos terem muito enquanto a maioria tem tão pouco.
Quando você passa por um bairro rico e por um bairro pobre você consegue, só de olhar, saber que todos os moradores do primeiro são pessoas de péssima índole e que todos os moradores do segundo são pessoas dotadas de caráter admirável?
32 – A diminuição da maioridade penal não diminuirá a violência urbana.
Devemos, então, deixar solto um assassino, já que sua prisão não resolveria o problema da violência urbana?
33– A violência urbana é uma reação das classes mais baixas à ostentação burguesa.
Sob esta ótica, o estupro é uma reação dos homens solitários à forma sensual com a qual algumas mulheres se vestem?
34 – Todos têm direito a vida.
Por que, então, cada indivíduo não pode defender sua própria vida?
35 – A liberação do porte de armas aumentaria a violência.
Seguindo seu raciocínio, se liberarem o consumo de drogas como você defende, mais pessoas passariam a se drogar?
36 – Todos têm direito a educação, saúde, moradia, alimentação, lazer e transporte.
E se todos resolverem parar de trabalhar e esperar que o governo lhes ofereça tudo isso?
37 – As mulheres devem ter mais espaço na política.
Elas querem?
38 – A ditadura militar brasileira foi financiada pelos Estados Unidos.
Os grupos que lutavam contra a ditadura brasileira eram patrocinados por quem?
39 – Os interesses coletivos devem prevalecer sobre os interesses individuais.
Sendo assim, uma sociedade de maioria homofóbica tem o direito de intimidar, perseguir e matar gays?
40 – O socialismo luta pelos direitos dos gays, dos negros e das mulheres.
Por que, então, os socialistas repudiam os Estados Unidos, o país governado por um negro de origem pobre, onde os gays e as mulheres mais gozam de liberdade?
41 – Todos devem ser tratados igualmente.
Por que, então, vocês cobram tratamento especial a gays, negros, mulheres e líderes dos movimentos de esquerda?
42 – Cobrar o fim da CLT é uma atitude fascista.
Mas a CLT não foi criada por Getúlio Vargas, o ditador brasileiro que inspirou-se em Mussolini, o ditador fascista italiano?
43 – Eu só quero que mais pessoas tenham acesso aos produtos, serviços e tecnologias produzidas pelo capitalismo.
Como o socialismo espera atingir esse objetivo agindo contra o capitalismo?
44 – A pobreza na África é resultado do capitalismo.
Você quer dizer que antes a África era um próspero continente povoado por inúmeras tribos que amavam umas as outras?
45 – O governo deve controlar o lucro das empresas.
E se os donos das empresas não aceitarem?
46 – O Estado deve intervir para fazê-las funcionar em função do interesse social.
Lembrando que isso já foi feito em muitos países e deu tragicamente errado em todos eles, qual a garantia de que com vocês tudo seria diferente?
47 – Não sou comunista.
Como você enxergaria alguém que vota e defende pessoas e partidos que realizam eventos e fazem referência positiva a ideias, personagens e símbolos nazistas?
48 – Cuba foi vítima do embargo econômico dos Estados Unidos.
Lembrando que uma das principais ideias da Revolução Cubana era o rompimento das relações comerciais com os Estados Unidos, por que Cuba não se desenvolveu economicamente relacionando-se com outros países?
49 – A medicina de Cuba é muito avançada.
Onde são fabricados os equipamentos utilizados na medicina cubana?
50 – A educação cubana é uma das melhores do mundo.
Ao cidadão cubano, para que lhe serve a educação?
51 – Ninguém morre de fome em Cuba.
Cuba é uma ditadura do bem?
52 – Eu não defendo o governo de Cuba, nem da Venezuela.
Quais suas críticas aos dois governos?
53 – Eu apoio a Rússia, o Irã e a Palestina apenas por eles fazerem frente ao imperialismo norte-americano.
Então você, que defende a causa dos gays, dos negros e das mulheres apoia governos oficialmente homofóbicos, racistas e machistas apenas por eles fazerem frente aos Estados Unidos, aquele país construído por imigrantes, cuja presidente de sua maior empresa privada é uma transexual?
54 – É hipocrisia crucificar o PT. Não foi ele quem inventou a corrupção.
Devemos, então, deixar solto um estuprador, já que não foi ele quem inventou o estupro?
55– O PT reduziu drasticamente a pobreza no Brasil.
Considerando que o governo do PT estabeleceu que uma pessoa só deve ser qualificada como pobre se tiver renda abaixo de R$ 291, em qual classe social você enquadra o porteiro do prédio onde você mora?
56 – O PT é vítima de uma conspiração das elites capitalistas.
O PT é inocente de quais acusações?
57 – Não há base legal para um processo de Impeachment contra Dilma.
Você pensaria da mesma maneira se as mesmas acusações pesassem sobre um presidente da república de um partido não alinhado à suas convicções ideológicas?
58 – O governo FHC quebrou o Brasil.
Devo concluir que você reconhece os governos Sarney e Collor-Itamar como ótimas administrações?
59 – As classe mais baixas reconhecem que foi graças ao PT que elas melhoraram de vida.
Você conhece a pesquisa realizada pelo Instituto DataFavela em 63 favelas brasileiras, na qual comprova-se que apenas 4% de seus moradores afirmam ter melhorado de vida por causa de programas do governo?
60 – Não sou petista.
De quais acusações o PT é culpado?
Era uma crespa noite de inverno londrino. Eu tinha convidado para um jantar na embaixada brasileira, ao fim dos anos 70, o grande filósofo liberal francês Raymond Aron e dois sociólogos radicados na Inglaterra, Ralf Dahendorf e Ernest Gellner, este último professor de José Guilherme Merquior, meu conselheiro de embaixada. Na curva do conhaque, quando filosofávamos sobre nominalismo, realismo e existencialismo, contei uma piada que Aron achou divertida. Era a definição de "realidade" por um irlandês, revoltado pela interrupção de suas libações alcoólicas à hora do fechamento dos pubs. "A realidade", disse ele, "é uma ilusão criada por uma aguda escassez de álcool".
Quando partiram os hóspedes, resolvemos, Merquior e eu, em rodadas de uísque, testar duas coisas. Primeiro, a teoria irlandesa do realismo alcoólico. Segundo, nossa capacidade de recitarmos, de memória, aquilo que poderíamos chamar de "leis de comportamento sociopolítico" de variadas personagens e culturas. Alternávamos nas citações, que registrei num alfarrábio que outro dia desenterrei numa limpeza de arquivos. Ei-las:
A lei de Lenin: "É verdade que a liberdade é preciosa. Tão preciosa que é preciso racioná-la".
A lei de Stalin: "Uma única morte é uma tragédia; 1 milhão de mortes é uma estatística".
A lei de Krushev: "Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes mesmo quando não há rios".
A lei de Henry Kissinger: "O ilegal é o que fazemos imediatamente. O inconstitucional é o que exige um pouco mais tempo".
A lei de Franklin Roosevelt: "Um conservador é um homem com duas excelentes pernas, que contudo nunca aprendeu a andar para a frente".
A lei de Lord Keynes: "A dificuldade não está nas idéias novas, mas em escapar das antigas".
A lei de Bernard Shaw: "Patriotismo é a convicção de que o país da gente é superior a todos os demais, simplesmente porque ali nascemos".
A lei de Hayek: "Num país onde o único empregador é o Estado, a oposição significa morte por inanição. O velho princípio de quem não trabalha não come é substituído por um novo princípio: quem não obedece não come".
A lei de Mark Twain: "Um banqueiro é um tipo que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol, e exige-o de volta quando começa a chover".
A lei de Lorde Kelvin: "Grandes aumentos de custos com questionável melhoria de desempenho só podem ser tolerados em relação a cavalos e mulheres".
A lei de Charles De Gaulle: "As promessas só comprometem aqueles que as recebem".
A lei de John Randolph, constituinte na Convenção de Filadélfia: "O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros".
A lei de Getúlio Vargas: "Os ministérios se compõem de dois grupos. Um formado por gente incapaz, e outro por gente capaz de tudo".
A lei do governador Mario Cuomo, de Nova York: "Faz-se campanha em poesia e governa-se em prosa".
A lei de John Kenneth Galbraith: "A política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso".
A lei de Sócrates: "No tocante a celibato e casamento, é melhor não interferir, deixando que o homem escolha o que quiser. Em ambos os casos, ele se arrependerá".
No último uísque, Merquior me contou um chiste anônimo, que circulava em Londres: "A natureza deu ao homem um pênis e um cérebro, mas insuficiente sangue para fazê-los funcionar simultaneamente". Ao confidenciar a Merquior que pretendia aposentar-me do Itamaraty para ingressar na política, lembrou-me ele a lei de Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos na administração Lindon Johnson, que dizia: "É verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados".
Tendo em vista minhas ambições políticas, combinamos fabricar conjuntamente uma lei, que passaria à posteridade como a lei Campos/Merquior: "A política é a arte de fazer hoje os erros do amanhã, sem esquecer dos erros de ontem". Ao nos despedirmos, já mais sóbrios, lembrei-me de duas leis. A lei do King Murphy, que assim reza: "Não estão seguras a vida, a liberdade e a propriedade de ninguém enquanto a legislatura estiver em sessão". E a lei do sábio Montesquieu, o inventor da teoria da separação de poderes: "O político deve sempre buscar a aprovação, porém jamais o aplauso". Em minha vida política no Senado e na Câmara procurei descumprir a lei do King Murphy e cumprir a lei de Montesquieu. Sem resultados brilhantes nem num caso, nem no outro...
*Artigo de 19/12/1999
No começo dos anos 1990 eu atuava em uma emissora de rádio FM, e comecei a ler algumas coisas sobre um projeto para um futuro distante: um tal de MP3 – promessa de arquivos bem menores com qualidade de CD, que naquela época era uma grande novidade, de tal modo que o pessoal ia ao Paraguai para comprar ou trazia dos Estados Unidos.
Não demorou tanto tempo assim, e eu já estava pesquisando como o tal MP3 funcionava. Instalei o Winamp e baixei Losing My Religion, da banda REM.
O primeiro MP3 a gente nunca esquece!
Baixar aquele software demorou um tempão – linha discada, modem de 56k, aquele barulho lindo da conexão (escorreu até uma lágrima aqui).
Depois de pouco tempo, surgiu o Napster e, para desespero do Lars Ulrich - dinamarquês que é um dos fundadores e líder da banda de heavy metal Metallica -, o mundo da música nunca mais foi analógico.
Artistas e gravadoras até conseguiram barrar o "aplicativo", mas o estrago estava feito.
Quem realmente entendeu a coisa toda foi um tal de Steve Jobs (já ouviram falar neste cara?) – o iTunes chegou e, bem, hoje você consome música com mouse e fone de ouvido.
Eu nem sou tão velho (idoso, para os imbecis do politicamente corretos), mas já vi várias transformações como essa. Lembrem que o computador acabou com a máquina de escrever, com o fax, com as cartas e um monte de outras coisas. Só para lembrar de coisas jurássicas: fitas K7, VHS, CD, cartuchos de videogame, telegramas, calculadoras…
A Blockbuster virou o que, mesmo? E a Kodak, faz o que hoje em dia? Quantas pessoas andam com cheque nos bolsos? Até dinheiro caiu em desuso – “Pode pagar no débito?"
O novo sempre vem.
Assim como as gravadoras e o Metallica, os taxistas esperneiam à toa.Terão o mesmo sucesso de cocheiros que, em agosto de 1911, protestaram contra a chegada dos taxistas (eita, cavalo!) na Estação da Luz, em São Paulo
Mesmo que matem o Uber, Cabify ou outro aplicativo para transporte privado de pessoas, dando à estas a plena e total liberdade de escolha, que é o bem mais precioso de cada indivíduo e que é o principal alvo da caçada promovida pelos candidatos a ditadores, saibam todos: a brincadeira acabou.
Quando fui para os EUA primeira vez, logo que desembarquei em Atlanta, na Georgia (on my mind), lembro que gritei “táxi" para parar um carro amarelo. Foi divertido imitar cenas que vi em centenas de filmes ao longo da vida. No passado, peguei meu celular e aguardei o carro parar à minha frente.
A cidade de São Francisco discute sobre carros autônomos enquanto o legislativo brasileiro está "regulamentando" os aplicativos de transporte privado de livre escolha, tais como Uber e Cabify. Se acabarem com o Uber, em pouco tempo vem o Fluber, ou o Gluber; Se acabarem com o Cabify, teremos o Cabidry ou CabiFly.
Nesta mesma linha, o que dizer das operadoras de telefone? Ainda não se conformaram com o whatsapp. A cada hora tentam impedir a chamada de voz dentro do aplicativo. Mesmo que consigam, surgirá outro aplicativo, com outra solução.
Não gostou? Melhor ir brigar com Schumpeter. Apenas para ilustrar, Joseph Schumpeter é considerado um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, e foi um dos primeiros a considerar as inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento. Ah, sim. Ele faleceu em 1950.
E as TVs a cabo? Ainda não descobriram uma forma de conter o avanço da Netflix. A ideia brilhante foi tentar, em conjunto com as operadoras, limitar o consumo de dados para determinados aplicativos. Imagino que os diretores de Vivo, Sky, Net, Claro e Oi sejam extremamente bem remunerados.
É lamentável que a única saída encontrada pelos bem remunerados executivos e grupos de sindicalistas que não querem perder as "boquinhas livres e mamatas", e acabam por ter o mais absoluto apoio da classe política, seja por meio de tentar frear a inovação.
A má notícia para essa gente toda é que o melhor é se preparar para a mudança, não adianta nada brigar com novos modelos.
Isso vale para todos!
Podem até fazer barulho, mas não vão resolver a vida de ninguém, nem fazer o mundo parar de girar.
Lembrem que o CD matou o disquete, mas foi morto pelo pen drive.
Não sei muita coisa nem sou tão inteligente assim, mas o que eu sei é que neste novo mundo, não haverá espaço para taxistas, locadoras de DVD e o Netflix veio para ficar, nem que seja como modelo, e é loucura seguir olhando para o mundo como era antes.
Bons e verdadeiros profissionais se adaptam às mudanças.
Pessoas honestas a promovem.
A propósito: um conhecido me mostrou um "print screen" (fotografia da tela do computador ou smartphone) da tela de seu celular. Ele trabalha para o Cabify. Vejam só! A deputada federal Maria do Rosário votou a favor do projeto que acaba com os aplicativos de transporte privado, mas ela usa. A imagem que foi mostrada, apresentava a foto da política fazendo um chamadinho básico.
*Jornalista
(Publicado na edição impressa de VEJA)
Os brasileiros não param de ouvir, já faz um certo tempo, advertências informando a todos que é preciso tomar muito cuidado com o que estão ouvindo por aí. Essa história de dizer que os políticos são uma completa desgraça em sua conduta e em seus resultados, por exemplo, é um perigo. Segundo os autores dessas recomendações de cautela, não se podem desmoralizar os políticos, pois isso desmoraliza as “instituições”, e aí vai tudo para o diabo — sem eles e sem elas, como ficaria o país? O Judiciário, então, é um tema mais delicado ainda: por mais absurdo que esteja se tornando o Brasil que constrói passo a passo com as suas decisões, como fazer pouco dos nossos mais altos magistrados? Além dos políticos e dos juristas, é preciso prestar muita atenção, também, antes de falar mal dos partidos, das lideranças nacionais e dos homens públicos em geral. Por piores que sejam, não há democracia sem a presença de todos eles – a única solução, portanto, é aguentar. Tudo bem, mas os personagens desse elenco fazem o possível e o impossível para despertar contra eles, como diria o ex-deputado Roberto Jefferson, os instintos mais primitivos da população. Fica difícil desse jeito.
Seu último prodígio, uma obra de autoria coletiva que soma os esforços de juristas, políticos e partidos, é o que poderia se tornar conhecido como “o Caso da Chapa”. A assinatura oficial da obra é da “Justiça Eleitoral” – uma das peças mais notáveis do acervo em exibição no Museu de Horrores do Estado Brasileiro, com o seu Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais, mais de 20 000 funcionários e funções desconhecidas em qualquer democracia bem-sucedida do mundo, onde jamais se julgou necessário criar uma “justiça eleitoral” para fazer eleições. O Tribunal Superior Eleitoral, como se sabe, está examinando desde o fim de 2014 um processo para decidir se a chapa vencedora das eleições presidenciais, de Dilma Rousseff e Michel Temer, recebeu dinheiro ilegal na campanha. É um fenômeno: esse delito tornaria “inelegível” uma chapa que já foi eleita dois anos e meio atrás, deporia de novo do cargo uma presidente que já foi deposta e mandaria para a rua o presidente atual, que termina o mandato já no ano que vem — o que obrigaria o Brasil a ter mais um presidente aleijado e de vida breve, o terceiro de 2015 para cá. Para piorar ainda mais a qualidade da charada, o relator do processo julgou necessário escrever um relatório de 1 032 páginas sobre o caso — mais que isso, só a Bíblia. Na semana passada, sempre na esperança de fazer esse disparate desaparecer pelo cansaço, ou pela sua própria falta de nexo, o TSE resolveu deixar tudo do jeito que está.
Depois de todo o tempo que já passou desde o começo do caso, os ministros acharam que seria preciso dar ainda mais uns dias aos advogados de Dilma para que apresentassem sua defesa; para garantirem que nada aconteça, resolveram também que as partes ainda podem chamar testemunhas — enfim, acabaram de adiar tudo de novo, e o caso, que ninguém já levava a sério, entrou definitivamente na área da palhaçada. Mais uma vez, como vem ocorrendo nos últimos 500 anos, “prevaleceu o bom-senso”, como observou um dos marechais de campo da tropa política de Brasília. Nem é preciso avisar: quando o cidadão ouve alguma figura pública brasileira dizer que prevaleceu o bom-senso, pode ter certeza de que estão lhe batendo a carteira. O que prevaleceu, mesmo, foi o interesse de cada um. Ninguém gosta do presidente, ou diz que não gosta, mas todos querem que o presidente fique. O PT finge que está em guerra com o governo: na rua, os militantes gritam “Fora, Temer”, na conversa para valer, os chefes do partido dizem “Fica, Temer”. O PSDB, que começou a ação para anular a chapa Dilma-Temer, reduziu sua cobrança pela metade: como Dilma já foi, quer que Temer fique. O senador Renan Calheiros, ninguém menos que ele, se transformou de vinho em água e todo dia requisita os jornalistas para dizer-lhes que é agora um homem da oposição, aliado de coração do ex-presidente Lula e inimigo mortal de Michel Temer. Ninguém, enfim, quer o que diz — nem o TSE quer julgar coisa nenhuma. Estão todos pensando, apenas, em como tirar proveito do que pode acontecer em 2018, e em permanecer fora do xadrez até lá. É o circo marambaia.
Se você não percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc. escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, pense um pouco. Em menos de um minuto vai ver que o palhaço é você.
Era uma vez uma civilização. Nela, havia a arte. E a arte que nela havia abria vias até o céu. Céu pleno de Vida — Vida nova, verdadeira, Vida que desconhecia fim. Ali, existia o Amor autêntico, tão belo quanto se diz.
Infelizmente hoje, caros amigos, nada mais daquilo resta. Nada, senão as sombras das realidades que foram; ruínas e despojos de noções e virtudes que se pensavam eternas. Nada mais subsiste além do sonho, do desejo, da oração, da confiança em um milagre para a restauração universal. O milagre do Amor onipotente.
Perguntai-vos entrementes, que fazer? Amai-vos vós outros, exilados das verdades esquecidas. Encontrai-vos e amai-vos, pois sois ora vós os últimos. De modo que sereis os primeiros. Cada coração verdadeiro é monastério, ei-la a nossa situação nestes dias escuros. Deveis salvar, entre as muralhas do pensamento individual, cada fascículo ainda sobrevivente dos impérios olvidados, para prover uma vez mais ao cultivo dos bens incultos, campos abandonados e aldeias desertas que o novo tempo acumula, a nova paisagem revela.
Agora, os homens crêem que tudo no mundo — quando não o mundo mesmo, vezes tantas — seja convenção, arbítrio, livre disposição. Não reconheceriam autoridade suprema sequer se postos face a face ao Criador. A terra, porém, conhece uma só Lei, e essa mesma terra os há de chamar pelo nome. Tal é a natureza das coisas: sopram as areias do tempo, mas, por mais que pareça enuviar-se, nenhum bem verdadeiro em verdade se perde: comunicam o Bem, que no eterno perdura.