• Fernanda Barth
  • 27/10/2017
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REJEIÇÃO AO MEMORIAL PRESTES É LEGÍTIMA E NÃO SE ENCERRARÁ COM INAUGURAÇÃO

 

Li a matéria "Projeto antigo, polêmica recente", sobre a inauguração do memorial Prestes, publicado na ZH (27/10), e teço as seguintes considerações. Chamar de nazifascistas quem protesta contra o memorial em homenagem ao Luiz Carlos Prestes é piada. Fascista é quem adora o Estado, quem quer o controle da vida das pessoas, quem quer que todo mundo pense igual, quem não aceita a diferença e nem o contraditório, como os comunistas ou os nazistas.

A polêmica é recente porque só recentemente a sociedade descobriu o que seria aquele equipamento preto e vermelho na beira do rio. Quando o Memorial Prestes foi votado em 1990, eu tinha 17 anos, e novamente em 2008, a sociedade não teve a oportunidade de se manifestar, pois não houve a transparência que temos hoje sobre os temas que são postos em pauta. As redes digitais não estavam aí ainda. A sociedade não foi ouvida em nenhum momento.

Quem protesta contra este Memorial da Vergonha não está tampouco protestando contra "a primeira obra de Niemeyer" em Porto Alegre; isto é mais uma tentativa de distorcer os fatos. Estamos contra ter este memorial claramente ideológico, ornamentado com uma enorme foice e martelo no teto, como se fosse algo do que se orgulhar, em um dos metros quadrados mais nobres da capital. É um museu ao herói comunista, símbolo de uma ideologia que matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo. Nos países onde o comunismo causou verdadeira devastação, o símbolo da foice e do martelo foi abolido e na Ucrânia, por exemplo, comemoraram este mês o centenário da revolução Russa derrubando monumentos e não erguendo novos. Vivemos um paradoxo aqui, celebrando o fracasso e a morte.

Por outro lado, queremos um espaço plural e democrático, onde toda a história possa ser debatida, onde também possamos mostrar os horrores cometidos pelo comunismo e os crimes de Prestes. Ou que fosse um espaço em homenagem A TODAS as vítimas de regimes totalitários no mundo.

Dizer que as pessoas que se manifestaram têm pouco conhecimento de história ou dizer que só queremos chamar a atenção é mais uma tentativa de jogar a sociedade no silêncio, através do constrangimento. E é desconhecer o descontentamento legítimo de grande parcela da população com esta homenagem imprópria. É legítimo podermos debater a cidade que queremos. E esperamos que este debate sirva para revermos a forma como os terrenos públicos são doados e para que fins. Não vamos nos calar. Não somos covardes.

Por fim, querer atribuir a manifestação ao MBL é jogar uma parcela grande da sociedade para dentro do Movimento que não foi o primeiro a chamar para as manifestações. Isto demonstra uma incapacidade do jornal e da própria esquerda em compreender os processos que estão ocorrendo, pois precisam ter um adversário único. Somos muitos e não cabemos nestes rótulos. Ou a imprensa tenta entender o que realmente está acontecendo e porque estamos rejeitando este memorial ou vai ficar em uma bolha, insuficiente para sustentar comercialmente qualquer grande jornal.