• Ricardo Bordin
  • 26 Junho 2017

 

(Publicado originalmente em https://bordinburke.wordpress.com)


Eis um procedimento totalmente arraigado na cultura do brasileiro: está descontente com qualquer coisa em sua vida? Socorra-se do aparato estatal e de seu poder de intervir em nossas vidas, suplicando-lhe que dite nossos comportamentos e regulamente nossas condutas. Ou seja, ao menor sinal de conflito pela frente, nosso povo costuma agir feito Olívia Palito, gritando “Popeye, faça alguma coisa”, ao invés de procurar atingir um ponto de entendimento junto aos demais membros da sociedade.

O problema é que o espinafre deste suposto herói são os impostos extraídos do setor produtivo, e sua atuação, na vida real, costuma ser mais prejudicial à desamparada donzela do que a própria truculência do vilão Brutus.
Não haveria porque ser diferente, pois, quando um consumidor considerasse “injusto” que mulheres paguem menos do que homens na entrada de bares e casas noturnas afins. Foi o que ocorreu no Distro Federal, e pode acabar repercutindo em todo o país:

No início do mês, a juíza substituta do Juizado Especial Cível Caroline Lima disse considerar “ilegal e discriminatória” a cobrança dos valores diferenciados nos ingressos masculinos e femininos. Segundo ela, a prática fere o Código de Defesa do Consumidor. O processo julgado por Caroline foi movido por um cliente contra uma produtora de eventos, que vendia meia-entrada masculina a R$ 220 e feminina a R$ 170 para uma festa no DF.
Em vez disso, a juíza decidiu enviar o caso ao conhecimento do Ministério Público, que poderia analisar a abertura de uma ação coletiva. O inquérito aberto nesta semana é resultado deste procedimento. Como argumento, a juíza considerou que o livre mercado “não pode servir de escudo para justificar práticas abusivas”. “Não se trata de um salvo conduto para o estabelecimento de quaisquer critérios para a diferenciação de preços”, declarou.
Na decisão judicial emitida, Caroline também afirma que, ao adotar preço diferente, o empresário “usa a mulher como ‘insumo’ para atividade econômica, servindo como ‘isca’ para atrair clientes do sexo masculino para seu estabelecimento”.

A lógica (ou falta de) observada no imbróglio em questão baseia-se toda em uma único conceito (ou falácia): os empresários do ramo do entretenimento em questão cobram de forma diferenciada a fim de atrair um grande número de mulheres, as quais irão servir de chamariz para os homens, resultando num cenário machista e discriminatório.
Haja paciência. Mas senta que lá vem história.

1) Os donos de balada não cobram menos de mulheres porque querem ter menos lucro, e sim pelo fato de que as circunstâncias de um mercado pouco regulado e a própria natureza dos seres humanos os induziram a assim agir.

Primeiramente, é preciso estabelecer uma premissa básica: parcela bastante significativa dos clientes destes estabelecimentos são solteiros que buscam conhecer pessoas interessadas em sair desta condição, por assim dizer – ou, no mínimo, divertir-se com pessoas erradas antes de encontrar a pessoa certa para mudar seu status no Facebook.

Entrementes, a sanha igualitária em vigor nos meios de comunicação e nas mídias sociais quer incutir em nosso senso comum, a todo custo, que ambos os sexos tendem a partir em busca de parceiros com a mesma intensidade e interesse.
A realidade, todavia, esta opressora insensível, ensina o oposto: os homens é que, na maioria das vezes, tomam a iniciativa da conquista, da azaração, da paquera. Se alguém duvida, pesquise qual animal costuma proceder à dança do acasalamento na época da procriação: se o pavão macho ou fêmea. Não vou contar para não estragar a surpresa…

Como decorrência disto, qual era o cenário que costumava desenhar-se antes do advento da prática de discriminar os clientes de acordo com seu sexo na hora de cobrar-lhes pelo ingresso na casa? Os estabelecimentos eram frequentados por muito mais homens do que mulheres, obviamente. E por que isso seria prejudicial ao andamento dos negócios do empreendimento?

Ora, considerando que nossa moral concede às mulheres (felizmente) o direito de rejeitar quantas cantadas quiser, torna-se natural que inúmeras tentativas frustradas de galanteio sucedam-se até que uma bem sucedida sobrevenha – variando de acordo com a competência do sujeito, bom que se diga.

Os homens, portanto, chegam à conclusão de que quanto mais mulheres há em um recinto, mais provável torna-se um final feliz em sua empreitada orientada pelo instinto de preservação da espécie e pela testosterona. Quanta perspicácia da rapaziada.

Só que esta conjunção de fatores determinada pela fisiologia, conforme explicado, estimula que os homens frequentem as baladas com mais frequência e mais precocemente do que as mulheres, atraindo mais clientes do sexo masculino para as baladas. Mas tal ambiente, dominado por marmanjos, não constitui aquilo que os heterossexuais procuram. Se os gestores destas empresas de entretenimento não fizessem nada a respeito, a falência seria o destino certo.

E o que eles decidem fazer a respeito? Ora, atendem ao chamado da irrevogável lei natural que relaciona procura X oferta e transferem para os homens parte do custo que as mulheres teriam para entrar em suas casas, equilibrando sobremaneira a presença de pessoas dos dois sexos.

Atingem eles, assim, o legítimo panorama de ganha-ganha: os homens não se importam em pagar mais para não ficarem cercados só de barbados; as mulheres não acham nem um pouco ruim que lhes sobre mais dinheiro ao final da noite; e os empresários ficam satisfeitos por verem clientes satisfeitos (a única forma de enriquecer sem fazer conluio com o Estado) e seus bares e baladas cheios.

2) Ninguém obriga os homens insatisfeitos por pagarem mais a frequentar tais estabelecimentos nem tampouco os impede de abrirem bares que cobrem de forma isonômica.

Item autoexplicativo: ninguém é seguro pelo colarinho e arremessado para dentro da balada, e lá mantido à força. Todos vão e lá permanecem de livre alvitre. E se acharem os desgostosos que é o caso, não há barreiras para que novos empreendedores invistam no ramo – não se trata de um setor cartelizado, como o de telefonia, de transporte aéreo ou de planos de saúde. Basta que eles, portanto, inaugurem casas noturnas com sistemas de cobrança alternativos. Se houver mesmo um largo contingente de descontentes, os protagonistas de tal iniciativa vão se dar muito bem.
É assim, ao menos, que se deve buscar resolver este tipo de conflito, sem apelar para que o Estado ponha suas garras intervencionistas de fora. Há poucos meses, um caso na Itália chamou a atenção quando restaurantes daqueles país lidaram com crianças bagunceiras de formas distintas, oferecendo serviços e condições procurando atrair perfis específicos de clientela.

Mais uma curta historieta: um apart-hotel localizado no interior de Santa Catarina, localizado próximo a um campus de universidade estadual, contava com muitos estudantes moradores. O problema é que este povo provocava muita agitação altas horas da noite, e incomodava os demais hóspedes. As providências adotadas pelo proprietário: em um primeiro momento, passou a cobrar mais dos universitários, visto que eles espantavam clientes. A tendência natural foi seu êxodo do hotel. Em um segundo momento, passou a não mais acomodar novos estudantes em seu estabelecimento. Questione-me se os rejeitados precisaram dormir na rua ou simplesmente partiram em busca de outro hotel. Pois é.

Outro exemplo mais, digamos, exótico: as casas de swing visam oferecer um ambiente propício para pessoas que curtem troca de casais. Elas não impedem, a princípio, que solteiros entrem no estabelecimento, mas costumam cobrar-lhes em torno de 5 a 6 vezes o preço cobrado dos casais. Vai uma intervenção estatal aí, gente?

Porque, se for o caso, abre-se um leque quase infinito de possibilidades para a “criatividade” dos burocratas governamentais entrar em ação. Tabelamento de preços de entradas? Ou quem sabe, em nome do bem-estar social, o governo não deveria distribuir vale-balada por aí – ao melhor estilo Cristina Kirchner comprando, com dinheiro de impostos, os direitos de transmissão dos jogos do campeonato nacional de futebol (goste o pagador de tributos argentino do esporte ou não), garantido diversão “gratuita” para todos. Melhor: que tal baladas estatais? o problema seriam as greves intermináveis em pleno verão…e por aí vai.

Já virou moda, miseravelmente. Há projetos de lei no parlamento prevendo a limitação do número de farmácias por bairro, e discute-se no meio jurídico até mesmo se um prestador de serviços pode ou não cobrar pelo orçamento. Até o preço da pizza já entrou no radar dos “justiceiros sociais”. Na dúvida, chama o governo.

Não tem jeito: ou o brasileiro perde esta mania ridícula de clamar pelo Estado em vista de qualquer contratempo, ou bizarrices do gênero seguirão ocorrendo a torto e a direito – mais a torto, com certeza. Quando dois irmãos discutem em torno do videogame e um deles chama “paiêêêê” a cada cinco minutos, a chance do pai acabar com o jogo é muito grande. Será tão difícil assim aprender esta lição?

3) As feministas devem estar extremamente felizes com o episódio.

A próxima meta das companheiras em busca da igualdade é conseguir que mulheres aposentem-se com a mesma idade dos homens. Força, camaradas!

 

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  • Rodrigo Constantino
  • 26 Junho 2017

 

(Publicado originalmente em http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino)

Fonte: Folha

Essa foi a pergunta que Joaquim Barbosa fez aos artistas em encontro recente, segundo Mônica Bergamo. Já comentei aqui sobre essa tão sonhada chapa dos artistas e “intelectuais”, com Marina Silva e Joaquim Barbosa.

A pergunta feita por Barbosa demonstra como a demagogia é e sempre será a marca registrada da esquerda. Como se a cor da pele fosse o verdadeiro problema com sua candidatura, e não qual negro pretende ser candidato!

Usaram a mesma cartada com Dilma, a primeira “presidenta” do Brasil. Deu no que deu. Porque era mulher? Claro que não. Porque era essa mulher, uma incompetente, petista, cúmplice de mafiosos, defensora do socialismo, metida a economista “desenvolvimentista”. Foi o desastre que nós, liberais, alertamos que seria.

Usaram a mesma cartada com Lula: o primeiro “metalúrgico” a ser presidente. Que narrativa linda! Que estética empolgante! Só havia um pequeno problema: esse pobre retirante nordestino era um canalha, desprovido de qualquer caráter, socialista, defensor de Fidel Castro, um crápula. Deu no que deu.

Usaram a mesma cartada com Obama nos Estados Unidos. Um negro na Casa Branca! Lágrimas de emoções. Só esqueceram que o negro em questão não era Thomas Sowell, mas um populista discípulo de Saul Alinsky, um comunista radical. Há quem considere seu legado bom: são só os “intelectuais” ou os que se “informam” pela CNN. Porque o povo americano o considera um dos piores presidentes americanos de todos os tempos, tanto que não foi capaz de fazer sua sucessora.

Usaram essa mesma cartada com Hillary Clinton também. A primeira mulher na Casa Branca! Esqueceram só que era uma golpista que, com seu marido, criou um enorme esquema de corrupção internacional com a Fundação Clinton. Deixaram de lado o fato de que se tratava de uma mentirosa compulsiva, de uma cúmplice do marido “predador” sexual contra mulheres, que também foi discípula de Alinksy. Não era, enfim, uma Thatcher, que muito antes chegou ao poder no Reino Unido, e com legado excelente. Felizmente o povo americano não caiu nessa.

E agora Joaquim Barbosa quer saber se o Brasil está pronto para ter um presidente negro. Ora, fosse Machado de Assis, estaria pronto há mais de um século! O que o Brasil não quer, não aguenta mais, é demagogo populista, gente oportunista. Também não quer covardes, que fogem de suas obrigações institucionais. E definitivamente não quer mais esquerdistas, que defendem a concentração de poder no estado.

O Brasil não está preparado para mais um presidente de esquerda, até porque nossa economia não sobreviveria. A cor da pele ou o sexo não interessam. Só aos que tentam se proteger de críticas atrás dessas características coletivistas.
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 26 Junho 2017

 

(Publicado originalmente em pontocritico.com)

"Está tudo sob controle, a democracia consolidada e as instituições funcionando".

SIM, SIM, CLARO.
A propósito, Puggina completou com absoluta certeza dizendo: - "Sim, sim, claro. E eu quero saber onde caiu a minha chupeta, pois está na hora de nanar."

RECEIO DAS INSTITUIÇÕES
Pois, passados mais de um ano a frase já está muito gasta de tanto que é usada. E justamente porque as INSTITUIÇÕES ESTÃO FUNCIONANDO é que fico cada vez mais preocupado. Sim, porque pouco ou quase nada do que as INSTITUIÇÕES estão promovendo me faz confiar e/ou acreditar no nosso empobrecido Brasil.

PARA BOIS E BRASILEIROS DORMIR
Melhor dizendo: exatamente por -CONFIAR- que as nossas INSTITUIÇÕES PÚBLICAS não mostram mínimo interesse em atacar os graves problemas que o Brasil enfrenta, estou cada dia mais convencido de que o -ESTAR TUDO SOB CONTROLE- e que -A DEMOCRACIA ESTÁ CONSOLIDADA- não passa de conversa mole para bois e brasileiros dormir.

ATUALÍSSIMO
Observem que o artigo escrito por Puggina, em 01/2016, mesmo depois de passados quase 18 meses cabe como uma luva para os dias de hoje. E, pelo andar da carruagem, vai continuar atualíssimo para amanhã e para os próximos 1000 anos ou mais.

TEXTO
Eis mais um trecho do texto do Puggina, que vale para TODAS AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS:
Não somos crianças. Falem sério! Está tudo sob controle de quem? Como ousam chamar democracia o ambiente onde agem essas pessoas que se acumpliciaram para dirigir a República? A única ideia correta na citação acima é a que se refere às instituições. Elas estão funcionando, mesmo. O Brasil que temos, vemos e padecemos é produto legítimo e acabado do seu funcionamento. Acionadas, produzem isso aí. Sem tirar nem pôr.

Eis o motivo pelo qual os figurões do governo frequentemente sacam de sua sacola de argumentos a afirmação de que as coisas sempre foram assim. De fato, embora não no grau superlativo alcançado nos últimos 13 anos, o modelo institucional republicano tornou crônicos os mesmos males. Em palestras, refiro-me a isso mediante uma analogia.

NATUREZA DA SEMENTE
Instituições, digo, são como sementes. Uma vez plantadas, germinam, ou seja, funcionam e produzem conforme determinado pela natureza da semente. É o nosso caso. À medida que a urbanização nos tornou sociedade de massa e o Estado empalmou o poder (vejam só!) de definir os valores, a verdade e o bem, decaiu o padrão cultural e moral médio, inclusive, claro, dos membros dos poderes de Estado. Eu assisti isso. Mas a sedução do modelo aos piores vícios, a destreza com que gera crises e a inaptidão para resolvê-las é exatamente a mesma ao longo do período republicano.

 

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  • Bolívar Lamounier
  • 23 Junho 2017

 

(Publicado originalmente no Estadão)


O debate sobre a reforma política arrasta-se desde a Constituinte (1987-1988) e do plebiscito de 1993 sobre o sistema de governo, com resultados práticos assaz limitados. Todo ano, aí por volta de abril, o Congresso Nacional ressuscita a questão, para gáudio do jornalismo político e dos cultores acadêmicos da matéria.

Esquematicamente, creio poder afirmar que esse ciclo anual se repete com uma notável falta de clareza quanto ao que precisa ser reformado e aos objetivos mais amplos, direi mesmo estratégicos, de uma eventual reforma. Ao longo do tempo, essas duas carências foram agravadas por um retrocesso na discussão do modus faciendi – ao “como” da reforma. Em nome do realismo, convencionou-se que a reforma haveria de ser “fatiada”, minimalista, conceito válido enquanto referência às dificuldades de aprovação no Congresso, mas que obviamente prejudica a reflexão de substância quanto ao “quê” e ao “para quê” reformar. Sem esquecer que mesmo as finas fatias que começaram a ser cogitadas desde a segunda metade dos anos 1990 não percorreram com a suavidade esperada o trato digestivo dos senhores senadores e deputados.

Neste ano da graça de 2017, a discussão retorna envolta em espessas nuvens escuras. Seu objeto já não é a uma conjuntura de instabilidade institucional considerada em abstrato, mas uma instabilidade real batendo às nossas portas. Tampouco se trata de uma situação de ineficácia governamental crônica – de “ingovernabilidade”, no jargão dos cientistas políticos –, considerada em tese, mas dos graves danos infligidos ao País pelo governo da senhora Dilma Rousseff, da inacreditável perda de tempo exigida pelo impeachment e dos riscos que se perpetuam em razão da debilidade do governo Temer. Quase três anos de recessão e o assustador aumento do número de desempregados parece ainda insuficiente para os dirigentes políticos e os quadros formadores da opinião nacional encararem com seriedade a questão da reforma.

Reformar o quê? Depois da tragicomédia do impeachment de Dilma Rousseff e do mero fato de se haver cogitado da antecipação das eleições de 2018, parece-me fora de dúvida que o cerne da questão é o sistema presidencialista de governo. O traço essencial desse sistema é, como sabemos, a rigidez. Do ponto de vista institucional, o Legislativo e o Executivo, eleitos em separado, com base em princípios distintos, nada devem um ao outro. Salvo o amargo remédio do impeachment, que inevitavelmente envolve o processo político num cipoal jurídico apenas acessível aos especialistas, um Poder não tem como influir sobre o outro. Inexiste base constitucional para tanto. Assim, seja qual for o tamanho do desastre causado por qualquer dos dois, ou por ambos, eventuais crises só podem ser superadas pela passagem do tempo. Não por ações e negociações políticas, mas pelo estrito formalismo do calendário nacional. O resto é golpe.

Essa, exatamente, é a situação em que o Brasil se encontra e que, a rigor, teve início já nas primeiras semanas do segundo mandato da senhora Rousseff. No sistema parlamentarista, o chefe de governo (primeiro-ministro) que não disponha de apoio congressual para governar pode ser afastado a qualquer tempo, tenha ou não cometido crime de responsabilidade. E a recíproca é verdadeira. Uma legislatura que se recuse a colaborar com o Executivo, aprovando em tempo razoável medidas de alta relevância para a sociedade, pode ser dissolvida, com a convocação de eleições parlamentares antecipadas. O Executivo dispõe, portanto, de uma alavanca poderosa para resolver impasses, evitando que os congressistas transformem diferenças razoáveis de avaliação num jogo estéril, num desperdício de tempo que o país não pode tolerar.

Deixei propositalmente de lado o problema do chamado “presidencialismo de coalizão”. Num quadro como o nosso, de proliferação partidária desordenada, é praticamente nula a chance de o Executivo formar uma base de apoio com duas ou três agremiações; se o maior partido dispõe de apenas cerca de 20% das cadeiras legislativas, o presidencialismo será inevitavelmente “de coalizão”. Os absurdos que tal condição implica aí estão, à vista de todos. Idealmente, portanto, a eventual adoção do parlamentarismo deve associar-se a uma freada enérgica na proliferação. Mas não concordo com a afirmação de que o conserto da estrutura partidária seja uma precondição para a mudança do sistema de governo. De fato, é comum ouvir que o parlamentarismo não pode ser implantado “com esse Congresso”, ou “com essa estrutura partidária fragmentada”. Ora, nas condições brasileiras, o que torna as alavancas parlamentaristas necessárias e urgentes é justamente o fato de termos “esse Congresso” e “esses partidos”, travas que o sistema presidencialista não tem como romper.

Reformar para quê? Aventuro-me a afirmar que a instabilidade do regime constitucional, risco intensamente considerado pelos constituintes de 1987-1988, já não é uma ameaça grave no Brasil. Muito mais séria é a ineficácia ou baixa eficiência do processo decisório (o risco da “ingovernabilidade”) – como o evidencia o sofrido andamento das reformas trabalhista e previdenciária no Congresso. Nunca é demais lembrar que o Brasil é um dos países aprisionados no que os economistas chamam de “armadilha da renda média”. Refiro-me aqui a países que chegaram até com certa facilidade ao patamar de 10 mil ou 12 mil dólares de renda anual por habitante, mas não conseguem pular para os 20 ou 25 mil, nível ainda modesto, característico dos países mais pobres da Europa, como Grécia e Portugal.


*Sócio-diretor da Augurium Consultoria e autor do livro Liberais e Antiliberais: a luta ideológica do nosso tempo” (Companhia das Letras, 2016)

 

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  • Daniel Greenfield
  • 23 Junho 2017

 

(Reproduzido de http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino)

Se você quiser saber quem tem privilégios em uma sociedade, vá atrás da raiva.
Há pessoas nos EUA que podem expressar a raiva com segurança. E há pessoas que não podem. Se você está com raiva porque Trump venceu, sua raiva é socialmente aceitável. Se você está com raiva porque Obama venceu, ela não é.

A raiva de James Hodgkinson era socialmente aceitável. Ela continuou sendo socialmente aceitável até ele extrapolar e chegar ao homicídio. E ele não está só. Existe Micah Xavier Johnson, o assassino de policial do Black Lives Matter de Dallas, e Gavin Long, o assassino de policiais do Black Lives Matter em Baton Rouge. Se você é negro e sente raiva da polícia, sua raiva é festejada. Se você é branco e sente raiva pelo bloqueio de viagens do Terror, pela rejeição ao tratado do clima de Paris, ou por qualquer causa da esquerda, você está do lado dos anjos raivosos.

Mas se você é branco e sente raiva porque seu emprego está indo para a China ou por ter escapado por um triz de ser morto por um muçulmano suicida com bombas, sua raiva é inaceitável.

Se você é um esquerdista raivoso, seu líder partidário, Tom Perez, vai gritar e xingar ao microfone, e sua aspirante a candidata à presidência, Kirsten Gillibrand, vai xingar junto, para canalizar a raiva da base. Mas se você é um conservador raivoso, então Trump canalizar sua raiva é “perigoso” porque você não tem permissão para sentir raiva.

Nem toda raiva é igual. Alguma raiva é raiva privilegiada.

A boa raiva consegue uma boquinha de comentarista na CNN. A má raiva faz você ser expulso do seu emprego. A boa raiva não é, de forma alguma, descrita como raiva. Em vez disso, ela é linguisticamente transformada em “passional” ou “corajosa”. A má raiva, entretanto, é “preocupante” e “perigosa”. Os militantes esquerdistas raivosos “clamam”; os militantes de direita raivosos “ameaçam”. A boa raiva é de esquerda. A má raiva é de direita.

Demonstrações de raiva socialmente aceitáveis, do Occupy Wall Street aos distúrbios do Black Lives Matter até as marchas contra Trump e os furiosos protestos nos campus universitários, são invariavelmente esquerdistas.

A raiva da esquerda pela eleição de Bush e de Trump foi santificada. A indignação da direita pela vitória de Obama foi demonizada. Agora, a raiva da esquerda levou um voluntário de Bernie Sanders a abrir fogo em um evento beneficente republicano, um treino de beisebol. E a mídia hesita em admitir que talvez os dois lados devam moderar a retórica. Antes de listar exemplos que tenham tendência à direita como o “Prende ela”.

Por que slogans como o “Prende ela” são desmedidos, mas os gritos de “o chefe na cadeia” da era Bush não são? Por que os comícios do Tea Party eram “ameaçadores”, mas a última marcha “Nós Odiamos Trump” é corajosa? Por que matar Trump no palco é a forma mais maneira de encenar Shakespeare enquanto um palhaço de rodeio que usou uma máscara de Obama foi massacrado por todos, do vice-governador do Missouri até a NAACP?

Nem toda raiva é igual. A raiva, como qualquer outra coisa, é ideologicamente codificada. A raiva esquerdista é boa porque os fundamentos ideológicos são bons. A raiva da direita é má porque a ideologia é má.

O que torna a raiva boa ou má não é o nível, a intensidade ou a natureza ameaçadora.

E é por isso que a esquerda recorre à violência com tanta facilidade. Todos os fins ideológicos dela são bons. Portanto, significa que desde fome maciça, gulags, distúrbios e tirania, tudo tem de ser bom. Se eu furar seus pneus por causa do seu adesivo favorável ao Obama, eu sou um monstro. Mas se você arranhar o meu carro por causa do meu adesivo favorável ao Trump, você está combatendo o racismo e o machismo. Suas táticas podem ser equivocadas, mas seu ponto de vista não é.

Não há padrões universais de comportamento. A civilidade, como tudo o mais, é limitada ideologicamente.

A teoria interseccional não desaprova a expectativa de comportamento civilizado vinda de manifestantes “oprimidos”. Pedir que os estridentes manifestantes dos campus não berrem ameaças na sua cara é “policiamento de tom”. A filha de um afro-americano milionário em Yale está lutando pela própria “existência”, diferente de um mineiro de carvão da Pensilvânia, do oficial de polícia de Baltimore e da florista cristã cujas existências estão realmente ameaçadas.

O policiamento de tom é o que protege a raiva dos esquerdistas privilegiados, enquanto a frustração das vítimas deles é suprimida. A existência do policiamento de tom como um termo específico de proteção das demonstrações de raiva da esquerda exibe o colapso da civilidade sugada pelo privilégio da raiva. A civilidade foi substituída por uma prerrogativa política à raiva.

A esquerda se orgulha de ter uma superioridade moral não conquistada (“Quando eles descem, nós subimos”) reforçada pela própria câmara de eco enquanto ela se torna incapaz de controlar os próprios acessos de raiva. O chilique nacional depois da vitória de Trump quase conseguiu calar o governo, transformou todos os veículos de mídia em alimento inesgotável de teorias de conspiração e disparou protestos que logo chegaram à violência urbana.

Mas a Síndrome da Irracionalidade de Trump é um sintoma de um problema da esquerda que existia desde antes de ele nascer. A esquerda é um movimento raivoso. Ela é animada por uma indignação pomposa cuja superioridade moral se desdobra em desumanização. E o maquinário cultural da esquerda dá glamour a essa raiva. A mídia enfeita a raiva borbulhante de modo a que a esquerda nunca tenha de encarar o próprio Hodgkinson no espelho.

A esquerda está mais raivosa do que nunca. Os distúrbios nos campus e os atentados contra políticos republicanos não são nenhuma novidade. O que está mudando é que os adversários estão começando a se igualar em raiva. A esquerda ainda se agarra à mesma raiva que tinha quando era um movimento teórico com planos, mas pouco impacto no país. A indignação contra a esquerda não é mais ideológica. Há milhões de pessoas cujos planos de saúde foram destruídos pelo Obamacare, cujo direito à livre expressão foi retirado, cuja terra foi confiscada, cujos filhos foram doutrinados contra eles e cujos meios de vida foram destruídos.

A esquerda raivosa ganhou muito poder. Ela usou esse poder para destroçar vidas. Ela está conspirando ansiosamente para privar cerca de 63 milhões de pessoas de seus votos pelo uso de seu poder entrincheirado no governo, da mídia e do terceiro setor. E ela está blindada demais pela própria raiva pelo resultado da eleição para reconhecer a raiva dos próprios abusos de poder no atacado e nos chiliques privilegiados.

Mas o monopólio da raiva só funciona em estados totalitários. Em uma sociedade livre, espera-se que os dois lados controlem a raiva e encontrem termos nos quais possam debater e resolver as questões. A esquerda rejeita a civilidade e se recusa a controlar a raiva. O único termo que ela vai aceitar é o poder absoluto. Se uma eleição não dá um resultado que lhe agrade, ela vai derrubar o resultado. Se alguém a ofende, tem de ser punido. Ou haverá raiva.

A esquerda raivosa exige que todos reconheçam a absoluta retidão da sua raiva como base do seu poder. Esse privilégio da raiva, como o policiamento de tom, é frequentemente apresentado em termos de grupos oprimidos. Mas a raiva da esquerda não desafia a opressão, ela busca a opressão.

O privilégio da raiva é usado para silenciar a oposição, para fazer cumprir postura ilegais e para tomar o poder. Mas o monopólio da raiva da esquerda é cultural, não político. A indústria do entretenimento e a mídia podem fazer cumprir as normas do privilégio da raiva através da humilhação pública, mas a difamação não pode deter as consequências do colapso da civilidade na vida pública. Não existe monopólio de emoção.

Quando a raiva se torna a base do poder politico, ela não vai parar com Howard Dean ou Bernie Sanders. Foi isso o que a esquerda descobriu na última eleição. O falso horror da esquerda foi uma reação às consequências da própria destruição da civilidade. A reação da esquerda à demonstração de raiva dos conservadores e dos independentes foi o agravamento do conflito. Em vez de se apresentar como oposição, a esquerda se tornou a “resistência”. Trump se tornou simultaneamente Hitler e traidor. Os republicanos se tornaram feras malignas.

James Hodgkinson absorveu tudo isso. A esquerda alimentou a raiva dele. E, finalmente, ele surtou.
A raiva tem de escoar.

A esquerda gosta de pensar que a própria raiva é boa raiva porque é raiva contra as tribulações de estrangeiros ilegais, terroristas muçulmanos, banheiros transgêneros, a falta de aborto na Carolina do Sul, o salário mínimo no Taco Bell, os cortes de orçamento, os cortes tributários, as prisões pela polícia, os ataques com drones e todos os outros modos em que a realidade seja diferente da utopia. Mas tanta raiva não leva a um mundo melhor, mas leva ao ódio e à violência.

Milhões de esquerdistas como Hodgkinson ouvem todo dia que os republicanos são responsáveis por tudo de errado na vida deles, no país e no planeta. Apesar de tudo o que eles fazem, de todas as petições que eles assinam, das marchas a que comparecem, dos donativos, das cartas raivosas, das arengas nas mídias sociais, os republicanos continuam a existir e até são eleitos para cargos públicos. Pra onde vai tanta raiva?

Ou nós temos um sistema politico baseado nas leis em vigor e nas normas de civilidade, ou teremos um baseado em golpes e na raiva populista da esquerda. E eles já existem aos montes ao sul das nossas fronteiras.

A raiva da esquerda é uma bolha privilegiada de arrogância que estoura eleição sim, eleição não. A opção é tentar entender o resto do país ou intimidar, censurar e oprimir, chegando, enfim, a matar os outros.

James Hodgkinson escolheu a segunda opção. A revolução esquerdista pessoal dele acabou, como todas as outras revoluções esquerdistas acabam, em sangue e violência. A esquerda pode se desfazer do próprio privilégio à raiva e examinar a própria arrogância.

Ou a violência que vem dela será o nosso futuro.

* Publicado originalmente no FrontPage Magazine, em tradução livre de Claudia Costa.
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 23 Junho 2017


Enquanto o Brasil do SETOR PRIVADO, que realmente produz e faz com que a nossa economia siga respirando, ainda que por aparelhos, um outro Brasil, GOVERNAMENTAL, ou SETOR PÚBLICO, que além de não produzir coisa alguma ainda precisa ser alimentado, de forma descomunal e obrigatória pela escorraçada sociedade PAGADORA DE IMPOSTOS.


SUFOCO
Ora, diante do peso excessivo, confirmado pelo avantajado tamanho do SETOR PÚBLICO, todos aqueles que produzem e consomem (pagadores de impostos) se veem obrigados a RENUNCIAR a muitos de seus desejos, tanto de consumo quanto de investimentos, para satisfazer a insaciável fome GOVERNAMENTAL.


PROVA DAS CONTAS PÚBLICAS
O grande e inquestionável atestado desta fome insaciável do SETOR PÚBLICO, que não demonstra mínima vontade de fazer qualquer regime de emagrecimento, está estampado, com absoluta transparência e clareza, nas ALTAMENTE DEFICITÁRIAS CONTAS PÚBLICAS, não só do país como de vários Estados e Municípios.


PROVA DO PIB
Já no que diz respeito a real, espetacular e preocupante renúncia do consumo e, consequentemente, de investimentos na produção, está registrada através do péssimo desempenho do PIB brasileiro, que nos últimos anos só experimentou quedas pra lá de lamentáveis.


CORRUPÇÃO
Como se este quadro de incompetência -propositada- já não bastasse para levar, literalmente, o Brasil para dentro do abismo, sem saber se o buraco tem fundo ou se trata de algo infinito, a CORRUPÇÃO ganhou proporção incomensurável e tudo indica que levará muito tempo para ser desvendada.


SETOR PÚBLICO
Pois, diante deste quadro complicado e de difícil solução vê-se, claramente, dois tipos de comportamento:
1- grande parte do SETOR PÚBLICO, bafejado pelas forças sindicais, não aceita, em hipótese alguma, a perda de privilégios, a realização de reformas e a necessária diminuição da elevada taxa de desemprego. Para tanto rejeitam as reformas que poderiam estimular algum crescimento econômico, ainda que tímido.


SETOR PRIVADO
2- o SETOR PRIVADO, por sua vez, ao invés de entrar em campo para apoiar e/ou exigir as reformas que levem a uma abertura do caminho e da confiança para produzir e consumir de acordo com a sua vontade e interesse, só tem se apresentado para lamentar. Com isto, as corporações, que sequer são ameaçadas, vêm colhendo vitórias em cima de vitórias.

 

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