• Ênio Meneghetti
  • 04 Julho 2017

 

                 Atravessamos a semana e não veio a sentença de Lula. Confirmada a condenação, começará a corrida contra o relógio, que será determinante para que o TRF-4 possa ou não endossar o veredicto a tempo de Lula ficar inelegível para a disputa presidencial de 2018.

                  A estratégia óbvia é que o PT seguirá tratando Lula como perseguido político. Mas mesmo entre os petistas, já não há consenso sobre a estratégia. Dentro da sigla já há tendências defendendo que o PT adira à candidatura de Ciro Gomes, do PDT.

                  Na prática, só resta a Lula aguardar a sentença – e a pena – que Moro irá lhe determinar e torcer para que a ruptura do iceberg representado pelo processo do tríplex não sirva para que se mostrem mais corajosos aqueles que já se atrevem a divergir dele dentro do partido. Para alguns destes líderes petistas a forma como a crise está se desencadeando pode abrir espaço para Jair Bolsonaro como um nome da direita. Na região Nordeste, reclamam os petistas, a falta de ação de Lula já teria, inclusive, proporcionado crescimento do deputado carioca.

                  A realidade é que, do tsunami que Lula aguarda, mal se viu a crista.

                  Réu em cinco ações penais, três pela Operação Lava Jato, uma pela Operação Janus e uma pela Operação Zelotes, além de alvo em outros inquéritos, fora o caso do triplex, cuja sentença sairá a qualquer momento, Lula também tem outra acusação por Obstrução de Justiça perante a Justiça Federal do Distrito Federal. Trata-se daquele caso que também envolve o ex-senador Delcídio do Amaral e outras cinco pessoas, acusadas de tentar obstruir a Lava Jato com a compra do silêncio de Nestor Cerveró.

Também, oriundo da Operação Janus, corre na Justiça Federal do DF, processo onde Lula tem outra acusação por tráfico de influência. Seria perante órgãos do governo e o BNDES, para beneficiar a Odebrecht em contratos em Angola. É o famoso caso em que também está Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher de Lula. Também da Operação Zelotes, há mais uma acusação na Justica Federal do DF que apura se Lula de fato integrou um esquema com seu filho, Luís Cláudio, com a empresa Marcondes & Mautoni, em negociações para a compra de 36 caças suecos Gripen, além da prorrogação de uma MP que concedida incentivos fiscais para montadoras de automóveis.

                Ainda pela Lava Jato, há o caso do terreno que seria usado para a construção do Instituto Lula, comprado pela Odebrecht e não utilizado. Mais o apartamento vizinho ao dele, em São Bernardo do Campo, no mesmo andar onde mora o réu. Sem esquecer da compra e reforma do sítio de Atibaia.

                Há várias outras suspeitas e inquéritos em andamento. A defesa e o próprio Lula, negam tudo, naturalmente.

                Por fim, pesquisa do Instituto IPSOS, aponta que para 64% dos entrevistados o PT ainda é o mais partido mais corrupto, mesmo com o atual esforço midiático de colocarem-se a todos na mesma vala. Seguem-se o PMDB, com 12%, e o PSDB, com 3%. 17% não souberam.

                Os bochinchos dentro do PT, certamente continuarão.
 

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  • Graça Salgueiro
  • 03 Julho 2017



(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)

Desde que tornou-se presidente dos Estados Unidos em janeiro deste ano, Donald Trump dizia que iria desfazer os acordos que seu antecessor, Barack Obama, havia feito com os ditadores da ilha de Cuba. Fiquei ansiosa por ver se, finalmente, alguém teria a coragem de chamar as coisas por seus nomes reais e fazer algo por aqueles 11 milhões de escravos de uma ditadura sexagenária, sanguinária e que sempre foi protegida por países que gozam de liberdade e têm seus direitos respeitados.

Então vieram as ameaças do delinqüente da Coréia do Norte, as crises na Síria e Líbano e nada do magnata-presidente olhar para o outro lado. Em 16 de junho, entretanto, em um evento no teatro Manuel Artime em Miami, ladeado por ilustres cubanos e cubano-americanos, Trump falou para uma platéia repleta que iria cancelar todos os acordos feito por Obama. É necessário deixar claro que não houve um “rompimento”, uma vez que as relações diplomáticas e comerciais permanecem intactas.

Quando Obama anunciou em 14 de outubro de 2016 que Cuba e Estados Unidos refizeram suas relações diplomáticas e comerciais, lembro de ter escrito um artigo denunciando as manobras protecionistas que o muçulmano fazia à ditadura mais antiga do continente em detrimento do povo sofrido, espoliado, massacrado, pois os Estados Unidos cederam a todas as exigência feitas por Raúl Castro sem nenhuma contrapartida. Numa relação entre dois países é de se supor que qualquer acordo seja feito bilateralmente. Mas com Cuba não foi assim. Raúl Castro fez todas as exigências que quis e Obama apenas disse sim.

Para que se tenha idéia da nocividade que foi esse malfadado acordo, a repressão se intensificou de tal maneira que só em março deste ano foram presas mais de 3.000 dissidentes que tudo o que desejam – e cobravam – era liberdade, em todos os níveis.

Mas Trump não agiu sozinho porque, provavelmente, não tinha conhecimento da realidade daquela ditadura. Ele contou com o apoio do senador Marco Rubio e dos deputados Mario Diaz-Balart e Ileana Ros Lehtinen, além de vários respeitados membros da comunidade cubano-americana. Segundo Diaz-Balart, Trump vinha tendo essas conversas desde o período de campanha, de modo que quando resolveu fazer o anúncio estava bem preparado.

Em seu discurso a primeira coisa que Trump disse foi que estava “cancelando” todos os acordos feitos por Obama e que negociaria um acordo “muito melhor”, para o povo cubano, não para a ditadura. Algumas de suas frases foram de grande impacto, tanto para a platéia que o aplaudia a cada anúncio, quanto para os ditadores e aqueles que apóiam a desgraça alheia.

Disse Trump: “Não levantaremos as sanções a Cuba até que todos os prisioneiros políticos sejam livres, todos os partidos políticos sejam legalizados, se programem eleições livres e supervisionadas internacionalmente e a entrega à Justiça americana de criminosos e fugitivos que encontraram refúgio na ilha”. Ele ainda desafiou Cuba a se sentar na mesa para negociar um novo acordo que seja do melhor interesse dos cubanos como dos americanos.

Trump foi enfático quando disse que qualquer mudança de sua postura em relação a Cuba dependerá dos avanços concretos que o ditador faça em direção aos objetivos propostos por ele. “Quando os cubanos derem passos concretos estaremos prontos, preparados e capazes de voltar à mesa para negociar esse acordo, que será muito melhor. Nossa embaixada permanece aberta com a esperança de que nossos países possam forjar um caminho muito melhor”. Disse ainda que restringirá muito robustamente o fluxo de dólares norte-americanos aos serviços militares, de segurança e inteligência da ilha e dará “passos concretos para se assegurar de que os investimentos de empresas americanas fluem diretamente para o povo. Implementaremos a proibição do turismo e implementaremos o embargo”.

Mas a pergunta que se impõe, é: esse acordo é melhor para quem? No mesmo dia o “Governo Revolucionário” emitiu uma nota [1] onde se coloca como uma super potência de quem os Estados Unidos dependem e cujo prejuízo com as novas exigências será dos americanos. Diz parte desse comunicado: “O Governo de Cuba reitera sua vontade de continuar o diálogo respeitoso e a cooperação em temas de interesse mútuo, assim como a negociação dos assuntos bilaterais pendentes com o Governos dos Estados Unidos. Nos dois últimos anos demonstrou-se que os dois países, como expressou reiteradamente o Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, General de Exército Raúl Castro Ruz, podem cooperar e conviver civilizadamente, respeitando as diferenças e promovendo tudo aquilo que beneficie ambas as nações e povos, porém não se deve esperar que para isso Cuba realize concessões inerentes à sua soberania e independência, nem aceite condicionamentos de nenhuma índole.

Qualquer estratégia dirigida a mudar o sistema político, econômico e social em Cuba, quer seja a que pretenda consegui-lo através de pressões e imposições, ou empregando métodos mais sutis, estará condenada ao fracasso”.

Quer dizer, Castro II reitera que, ou é do jeito deles, ou não tem acordo. Porque a ditador nenhum interessa que seu povo viva bem e feliz, que tenha os mesmos direitos e liberdades que eles da Nomenklatura se outorgaram. Para disfarçar, a Assembléia Nacional do Poder Popular está anunciando eleições para 14 de julho próximo, mas isso não é novidade. Sempre houve eleições. O “inusitado” disso é que os candidatos não são escolhidos pelo povo, mas pelos “conselhos”. O povo é obrigado a ir ratificar a escolha – que ele não fez – para os candidatos do partido único, o Partido Comunista Cubano, cujo mandatário sempre teve 100% dos votos. Dessa vez Raúl Castro não vai concorrer pois há tempo anuncia sua resignação em fevereiro de 2018 quando termina seu mandato. Mas isso é assunto para outro artigo.

Trump disse que esse decreto entraria em vigor dentro de 30 dias mas que já seria posto em prática a partir de seu anúncio. Resta saber se ele vai se manter firme em sua palavra de não fazer concessões enquanto suas exigências não forem plenamente acatadas, ou se pelo caminho – ou por pressão de algum lado – mudará de idéia e afrouxará o torniquete. Deus permita que ele se mantenha firme e tenha êxito!

Nota

[1] Ver documento completo aqui: http://www.granma.cu/cuba/2017-06-16/declaracion-del-gobierno-revolucionario-16-06-2017-19-06-41
Graça Salgueiro, escritora e jornalista, é autora do livro ‘O Foro de São Paulo – A Mais Perigosa Organização Revolucionária da América Latina‘, e apresenta o programa Observatório Latino, na Rádio Vox.

(Foto: Lynne Sladky, AP.) O presidente Donald Trump exibe a ordem executiva assinada em 16 de junho de 2017 que modifica a política dos Estados Unidos à Cuba, ladeado por cubano-americanos e cubanos da “velha guarda” exilados há décadas em seu país.

 

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  • Fernando Gabeira
  • 02 Julho 2017

(Publicado originalmente em gabeira.com.br)

O naufrágio é a perda do horizonte. Estamos todos em busca do horizonte. O período que se abre com a denúncia contra Temer tende a ser bastante confuso. Mas é, de certa forma, um passo previsível na trajetória da crise em que nos metemos.

Procuro alguns elementos na conjuntura que nos possam ajudar a navegar na neblina. Os barcos dispõem de sensores precisos. Não temos instrumentos científicos, apenas algumas intuições. Nossa neblina é mais densa que a simples condensação de água evaporada.

No entanto, algo se move e duas pequenas luzes parecem tremular ao longe. Uma delas tranquiliza: a corrupção não acabou, mas dificilmente terá, nos próximos meses, a mesma intensidade e ousadia do passado. O risco ficou maior: políticos e empresários não ignoram esse fator. A outra pequena luz é apenas uma referência. Ela indica que todas as saídas de curto prazo passam pelo Congresso. Aceitar ou não a denúncia contra Temer, eleger seu substituto ou mesmo alterar a Constituição, tudo passará por ali.

À medida que nos aproximamos do ano eleitoral, cresce o poder da sociedade sobre o Congresso. Pelo menos tem sido assim: com voto aberto formam-se maiorias que o segredo sufoca.

É verdade que esse Congresso abriu um imenso abismo entre ele e a sociedade. Mesmo assim, o instinto de sobrevivência costuma reaparecer nessa época. Não creio que a sociedade vá moldar o caminho em todos os seus detalhes, mas tem condições de escolher as linhas gerais, na medida em que as escolhas sejam postas.

Será difícil a cada instante debruçar-se sobre uma realidade deprimente, vencer a repulsa diante de um jogo político tão baixo. Mas é preciso.

De modo geral, o interesse pela política cresce nas vésperas das eleições.

A denúncia contra Temer encontra nele a mesma resistência que encontram as denúncias contra Lula. Não há provas concretas, dizem ambos, antes de atacar os acusadores, ressaltando que são perseguidos políticos.

Ela pode ser rejeitada ou não pela Câmara dos Deputados. Uma vez que o presidente duvida das provas, questiona sua concretude e conclui pela inépcia da denúncia, o ideal seria levar o tema ao STF.

Naturalmente, qualquer pessoa tem ideia do que é uma prova. Mas ultimamente essa palavra tem sido tão questionada que, ao contrário de outros povos, os brasileiros terão um grau superior de conhecimento sobre prova. Num futuro próximo talvez todos nós tenhamos uma ideia de prova, assim como temos uma escalação ideal para a seleção brasileira.

Para alguns, não há provas de que a mala com R$ 500 mil levada pelo deputado Rocha Loures tenha relação com Temer. Há apenas uma conversa entre o presidente e Joesley Batista, na qual Temer indica Loures como seu interlocutor de confiança.

Não há imagens de Rocha Loures entregando o dinheiro a Temer. Não há certidões oficiais que liguem Lula aos imóveis que a Justiça lhe atribui.

Os defensores mais ardorosos sempre poderão perguntar: onde está a imagem de Temer no táxi, recebendo a mala com que Rocha Loures saiu correndo da pizzaria? Onde está o registro de posse de Lula?

Uma das razões por que a denúncia contra Temer deveria ser aceita pela Câmara é a possibilidade de o tema ser discutido pelo Supremo, onde cada um dos juízes pelo menos já discutiu centenas de vezes o que é uma prova e os limites de sua validade. Mas mesmo no caso de a questão subir para uma decisão do STF, a sociedade está sempre sujeita, como no caso do TSE, a um conflito típico da fábula O Lobo e o Cordeiro.

A suposição é de que gastarão horas e latim para definir o que é um prova, qual a superioridade de uma prova sobre outra, antes de apresentarem o seu veredicto. Ao cabo dessa discussão podem concluir que existem provas e que são abundantes, mas devem ser ignoradas, em nome da estabilidade do País.

Creio que a sociedade esteja acompanhando tudo isso. E o fato de não se ter manifestado com ênfase se deva à própria confusão do quadro político.

O que seria eficaz nessas circunstâncias? O movimento “fora Temer”, inspirado pela esquerda, tem uma visão clara de combater as reformas. Até mesmo a reforma trabalhista, que contempla as transformações do capitalismo e uma nova correlação de forças.

Os trabalhadores reais que se viram num mundo precário não contam tanto como os sindicalizados, os que trabalham com relógio de ponto, numa disciplina fabril. Trabalhadores, para a esquerda clássica, são os que alimentam os cofres dos sindicatos com os impostos e povoam a ideia de uma classe operária dos livros marxistas do século 20.

À precarização do trabalho a esquerda responde com uma aspiração saudosista de voltarmos todos à segurança do passado, algo desejável, mas distante da vida real de quem se vira para sobreviver num mercado em mutação. Essa reforma seria importante no momento.

A da Previdência é necessária, no entanto, mais complicada. Precisaria de ter um foco no serviço público, que tem grande peso nos gastos e na cobrança da dívida das grandes empresas.

Isso só se consegue com apoio popular. As corporações têm muita capacidade de mobilização e as grandes empresas, poderosos defensores. Daí a expectativa de uma reforma da Previdência a partir da legitimidade do novo governo.

Apesar de toda a confusão, a sociedade não pode observar o que se passa como se tivesse um satélite explorando Jupiter. A crise é real, sobretudo para quem vive no Rio, onde há uma dezena de tiroteios por dia e um roubo de carga por hora.

Não se trata apenas do fracasso de um sistema político-partidário. Sem interferência da sociedade ele acabará arruinando o País por décadas.

O que fazer nessa confusão, o que escolher como prioridade para evitar o pior? Já observamos muito o caos. Talvez seja hora de atenuá-lo.

* Jornalista
 

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  • Lucas Berlanza
  • 01 Julho 2017

 

(Publicado originalmente em http://www.sentinelalacerdista.com.br)


A barulhenta capa da Revista Época esta semana revelou um claro interesse em aproveitar a entrevista de Joesley Batista para reforçar a narrativa de que o presidente da República, Michel Temer, é o grande vilão do Brasil – alguém que, à época do mensalão e do começo do grande esquema de assalto à Petrobrás revelado pela Lava Jato, sequer era vice-presidente.

Realmente, uma narrativa esdrúxula. Nada é mais criminoso nessa história toda que o lulopetismo – uma excrescência populista e autoritária que alinhou o Brasil a toda a escória internacional e nos pôs a braços com a recessão e a decadência. Não foi Temer quem financiou as ditaduras latino-americanas. Não foi Temer quem defendeu o tempo inteiro a censura desavergonhada da imprensa sob o pretexto da “democratização da mídia”. Não foi Temer quem insuflou o “exército de Stédile”. Não foi o PMDB o partido de Celso Daniel.
Perdendo a narrativa dos anos 80 de ser o partido da ética, o PT de Lula se agarra à retórica da “justiça social”, exibindo-se como o partido que representa o “povo”, mesmo que, detalhe insignificante, seja corrupto como os outros – e na verdade muito mais, pois além de empresas estatais e máquina pública, corrompeu a alma do país, e também intentou promover o máximo retrocesso de nossas aspirações republicanas.

Nada disso torna Temer inocente. Disse e repito: continuo na dúvida quanto às suas condições porvindouras de governabilidade, as reformas tendem a ser aprovadas com muita timidez e o que pesa contra ele é, sim, muito grave, independentemente de motivações partidárias de Rodrigo Janot na seleção ou tratamento de seus alvos. Não pretendo admitir um nível de tolerância “tupiniquim”; quero uma civilização digna onde imoralidades e inadequações sejam tratadas pelo nome, à revelia de circunstâncias. Não voltei atrás nisso, nem voltarei.

Contudo, Temer é uma face menos daninha de um sistema muito mais profissional e amplo do que ele próprio: aquele a que o colunista da Revista Amálgama Elton Flaubert já chamava de “consenso social democrata”: a ortodoxia política, cultural e institucional da Nova República pós-1988. O que vemos a essa altura é que o consenso se articula para atacar de novo, com a única intenção de preservar o Brasil em seu círculo, preso às suas rédeas, proibido de respirar outros ares.

É assim que já pululam manchetes nos jornais de que o ícone tucano Fernando Henrique Cardoso estaria admitindo aliança com o PT de Lula para pedir as famigeradas “eleições diretas” para agora. As investidas estariam sendo bem recebidas. Não seria a primeira vez; a briga entre PT e PSDB há muito é uma briga de comadres, um grande engodo em que ambos se enfrentam para se legitimarem mutuamente e deslegitimarem o que houver para além. Uniram-se contra Collor nas eleições de 89. As diferenças, como a oposição petista à Constituinte e ao Plano Real, se apagam quando se trata de defender essa espécie de “ethos fabricado” que lhes interessa.

O texto de FHC no jornal O Globo flerta perigosamente com o golpismo oportunista, o que não vinha sendo de seu feitio. Embora casuístico e forçado pelos interesses imediatos, o que é próprio de populismos bolivarianos e não de democracias liberais maduras, o pedido de uma emenda constitucional para eleições diretas não é considerado, por óbvio, inconstitucional. Porém, FHC não se limita a considerar a ideia interessante, o que já seria estar de acordo com o petismo – em um apelo por uma modificação em cima do laço, pouco viável politicamente, que demandaria um gasto imprevisto em meio a um clima de terra arrasada e turbulência, e em que mais adequado seria dar algum respiro à economia.

Mais que isso. O tucano diz que seria um gesto de grandeza de Temer pedir eleições gerais, pois se não houver “aceitação generalizada” da “validade” da lei, “as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto” (!). As ruas, no caso, certamente os “movimentos sociais” aparelhados pelo petismo, que são os que bradam aos quatro ventos por essa solução imediata. FHC, naturalmente, sabe que o presidente da República não tem o poder de convocar eleição alguma. Quer, no entanto, que como chefe de Estado e Governo, ele reivindique o descumprimento da regra constitucional, fazendo o que deseja o PT. Ora, se desmoralizado ele já está, quanto mais para uma manobra dessa envergadura!

O texto de Fernando Henrique nos parece irresponsável. Do ponto de vista do poderoso “consenso”, esse mesmo que ainda nos cabe romper, talvez não seja. Não faz muito tempo, o próprio Temer sinalizou que poderia conversar com Lula “em prol do país”, não é mesmo? O “consenso” é agradável, até o momento em que ele te engole.

 

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  • J. Liberal
  • 30 Junho 2017

 

(Publicado originalmente em www.institutoliberal.org.br)

O notável emburrecimento causado pela sanha ideológica progressista por mais contraditório que seja, tem partido dos ambientes acadêmicos, ou seja, de áreas de produção e de disseminação do saber, em especial, do departamento de humanidades. Como exemplo, evocou-se num “daqueles” seminários apresentados na turma de sociais, a situação precária do sistema prisional brasileiro, sobretudo o feminino. A ideia de que é preciso unir esforços para melhorar as condições sub-humanas e dar “dignidade às detentas”, sem dúvida pode e deve ser pensada com o intuito de não fazer com que o ambiente carcerário, seja uma escola de aprimoramento da prática criminal.

Contudo, o que causa certo estranhamento é o fato de a academia brasileira estar quase toda fechada em relação a apenas tratar o efeito e não a causa dos problemas sociais contemporâneos, principalmente, quando se trata da garantia de direitos de contraventores, sejam eles quem for.

Gastam tanto tempo falando sobre as condições do sistema prisional brasileiro que, obviamente, são péssimas [até porque se a saúde, a segurança e a educação no Brasil estão uma lástima, imagine como é a prisão da sua cidade?]. Entretanto, esquecem-se dos motivos que têm levado bandidos à prisão. A lista é enorme: roubos, assassinatos, tráficos, corrupção, estupros, vandalismos, etc. Tal esquecimento se dá por suas mentes serem entorpecidas pelas ideias de “salvadores da humanidade” impetradas por professores do ensino médio e superior. Ideias estas que, com uma roupagem de heroísmo, escondem em sua essência a busca pela legitimação de maus desejos e ações infames, típicas da natureza degradada do ser humano.

A neutralização da capacidade cognitiva por ideologias nefastas é tamanha que resulta no alheamento das vítimas que os bandidos(as) têm feito aos montes, deixando pais sem filhos, filhos sem pais e assim por diante. Este devaneio acadêmico, exemplificado na defesa e luta pelos direitos dos bandidos poderia começar a ser repensado a partir de uma simples proposição que pouparia tempo, dinheiro e debates alienados: “não cometer crimes!” A fórmula mágica para cortar este mal pela raiz reside, simplesmente, no cumprimento de deveres como: não matar, não roubar, não estuprar, não violar o direito alheio, não depredar patrimônio público (a lista é grande).

Fica evidente que muitas questões sociais devem ser resolvidas de imediato, assim como há outras que devem ser resolvidas a médio e longo prazo. Dar o mínimo de dignidade a alguém que teve a privação da sua liberdade [com razão, é claro] pode ser um caminho para a obtenção dos tais “direitos humanos” [cá para nós, um dos assuntos preferidos da área de humanidades]. Entretanto, numa escala de prioridades, jamais conseguiremos avançar como nação enquanto atacarmos a superfície dos problemas e não os seus fundamentos. Jamais resolveremos os problemas sociais de nossa nação enquanto vivermos com a imagem invertida da realidade, assim como falou Marx ao se referir à religião[1]. Pena que, tanto ele quanto seus adeptos adotaram para si tal imagem invertida da realidade no que concerne às questões sociais.

Igualmente, jamais escaparemos da violência institucionalizada[2] que a todo o momento espreitam nossas famílias à medida que, nos ambientes de produção de conhecimento (escolas e universidades), a prioridade da discussão e da resolução dos problemas seja (como exposto acima) a condição do sistema prisional, ao invés das condições que levam os bandidos a cometerem seus crimes. Bandidos estes que, por sinal, não caíram de paraquedas no cárcere. Estão lá porque causaram danos e violaram os direitos de seus pares. Como então priorizar a garantia de direitos a bandidos que não se importam com o direito de suas vítimas?

Ainda sobre garantia de direitos, no filme O Jardim das Aflições, recentemente lançado no Brasil, Olavo de Carvalho comenta um trecho do livro L’Enracinement, de Simone Weil, que diz “um direito não é nada senão a obrigação de alguém mais”. A impressão que se tem dos apelos acadêmicos a favor de bandidos, encarcerados ou não, é a de que seus direitos devem ser garantidos ou ampliados à custa das obrigações de suas próprias vítimas. Uma insana inversão da realidade, do tipo: “o bandido tem o direito de roubar e a vítima a obrigação de ser roubada”. Ou ainda: “o direito do bandido parte da obrigação do Estado em detrimento do direito da vítima ou de seus familiares”. Mais do que direitos, uma sociedade deve se atentar aos seus deveres para mantença da boa civilidade, da ordem e do verdadeiro progresso.

Diante disso, como não detectar um emburrecimento high level de professores e alunos, fruto de consciências entorpecidas pelo veneno ideológico “progressista” distribuído em doses cavalares na academia brasileira? Pois bem, acredite se quiser, este veneno é tomado com muito gosto por grande parte dos universitários de todo o Brasil simplesmente porque, no rótulo da embalagem, consta a seguinte dissimulação: “indicado para os defensores dos fracos e oprimidos”. Mal sabem eles que ao tomarem esta droga cumprem uma agenda globalista totalitarista que se resume no “quanto pior melhor”, privilegiando direitos e negando deveres, cuja finalidade nem de perto passa pela solução dos problemas sociais recorrentes em nossa nação.

E viva academia brasileira! Fábrica de “heróis descerebrados”!
 

  * J. Liberal é acadêmico e analista político.

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  • Rodrigo Neves
  • 29 Junho 2017


(Publicado originalmente em Gazeta do Povo)

Um fenômeno recente na internet brasileira são as piadas com as mudanças que os jovens sofrem após entrarem na universidade. A página de Facebook “Antes e depois da Federal”, recorrentemente deletada pela administração da rede social, em sua maior dimensão teve quase 300 mil seguidores e retrata casos que beiram quase a insanidade, em que adolescentes aparentemente normais e bem integrados se tornam figuras estranhas, caricatas ou simplesmente bizarras ao entrar em contato com o mundo da militância esquerdista nas universidades públicas brasileiras.

Esse fenômeno das mudanças radicais dos jovens nas universidades não é exclusivamente brasileiro. Embora as piadas tenham sido uma invenção legitimamente tupiniquim, rapidamente o fenômeno se alastrou nos Estados Unidos e na Inglaterra, à medida que as eleições desses países mostraram uma presença significativa de jovens de aparência, sexualidade e ideias confusas se manifestando como militantes radicais de esquerda.

Esses jovens, pejorativamente apelidados de “guerreiros da justiça social” (Social Justice Warriors, no jargão da língua inglesa), se tornaram notórios pela defesa de ideias extremistas no âmbito da esquerda, negando não apenas os valores da sociedade, mas até mesmo a realidade objetiva, alegando ser esse um esforço para tornar a sociedade “mais justa”.

Mais recentemente, eles se destacaram por cometer ações violentas contra oradores e palestrantes pró-Trump em universidades nos Estados Unidos, e pelo seu apoio massivo à candidatura do radical socialista Jeremy Corbyn nas eleições britânicas – um candidato notório por defender a imigração desenfreada de muçulmanos radicalizados religiosamente provenientes de zonas de conflito, uma ressindicalização dos ambientes de trabalho britânicos que levaria a Inglaterra de volta para os anos 1970, e pesados aumentos de impostos sobre a maioria da população britânica para bancar tudo isso.
?
Mas o que explica essa relação tóxica dos jovens com o socialismo? Simples: a hegemonia da esquerda não só nos meios de imprensa, mas também nos meios educacionais em que essa hegemonia é tamanha que não é anormal um estudante passar por todo o processo desde a educação básica até as universidades sem nunca sequer ter tido contato com qualquer professor que não fosse abertamente um defensor do socialismo.

No caso britânico, em que a imprensa é pesadamente regulada e controlada pelo governo e em que as escolas institucionalmente utilizam livros didáticos que promovem uma agenda politicamente correta, essa situação torna-se ainda mais agravada. E isso, é claro, tem seus reflexos eleitorais.

Os Millennials, como são conhecidos aqueles nascidos entre 1985 e 1995, são fruto de duas décadas de uma criação em que os valores ensinados não são aqueles de seus pais, mas aqueles de seus professores e de suas escolas. Cabe lembrar que é justamente essa geração a que teve o menor contato com a própria família, muitas vezes sendo chamada de “Daycare generation” (“Geração da Creche”) por ter sido, nos EUA, uma geração cujos pais massivamente colocavam seus filhos em creches desde muito cedo na infância, assim reduzindo muito o contato deles com seus pais.

É uma geração que, majoritariamente, cresceu insulada dos seus próprios pais e de quaisquer valores que não fossem aqueles de uma instituição dedicada a “cuidar” deles e “fornecer” aquilo que eles “precisavam”. No começo de suas vidas, essa instituição era a creche, que cuidava deles e fornecia alimento. Ao avançarem para a adolescência, essa instituição passou a ser a escola e a universidade – e hoje, nos Estados Unidos, as universidades cada vez mais se parecem com creches do que propriamente com instituições de ensino, tornando-se muitas vezes infames por práticas como a criação de safe spaces (basicamente, um local onde o jovem adulto se refugiaria para estar seguro contra coisas que pudessem lhe ofender – como opiniões diferentes da dele ou desafios que a vida pudesse lhe propiciar) ou de manuais de conduta regulando o que os estudantes poderiam ou não falar com seus colegas.

Alexandre Borges: Seja qual for o resultado da eleição, perdemos (6 de junho de 2017)?
Rodrigo Constantino:?A grande agenda “progressista”?(11 de maio de 2017)

Não é estranho e nem anormal pensar que essa geração que cresceu sob a eterna vigilância e “cuidado” de uma autoridade incutiu tais valores, e hoje se vê dependente dessa figura do “cuidador”. É nisso que o socialismo se torna tão atraente para esses jovens. Quando um jovem americano ou britânico vota em um socialista como Bernie Sanders ou Jeremy Corbyn, ele não está apenas fazendo uma opção política. Ele está buscando aquilo que durante toda a sua vida ele teve e que agora, na fase adulta, lhe foi tirado abruptamente: um cuidador. O socialismo fornece isso para essas pessoas. Ele dá a esses jovens a ideia de que eles podem continuar sendo tutelados por alguém – agora, o Estado – que, então, os protegerá das decisões difíceis e das adversidades da vida.

Quando esse jovem vota na esquerda, ele quer um Estado que o proteja das “opiniões malvadas” daqueles que discordam dele. Ele quer um Estado que o proteja dos “patrões exploradores” que insistem que não existe o almoço grátis que eles antes ganhavam na cantina da escola. Ele quer um Estado que garanta que, se ele adoecer, haverá um médico que lhe atenda de graça e lhe faça lembrar da enfermeira da escola que lhe atendia quando ele se machucava no parquinho. Ele quer, em suma, alguém para nutrir a figura paterna que eles não tiveram, e que durante toda a sua juventude sempre foi substituída por uma organização parecida com a do Estado. E, como solução mágica para esse problema, a esquerda lhes oferece o que eles mais desejam: um Estado-babá.

Rodrigo Neves é bacharel em História e em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo.

 

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