• Felipe Daiello
  • 30 Janeiro 2018



          Desde a invasão romana, a antiga "Londonium", com sua ponte cruzando o rio Tamisa, será desafio e farol para o mundo. Uma ilha isolada, invadida por muitos povos, a Grã-Bretanha agrega experiência e cultura que se traduzem na atual City da Big Eye e nos novos herdeiros para o trono real, onde a Rainha Elisabeth quebra recordes de longevidade. Muitas decisões para o mundo passaram por essa cidade: Henrique VIII, Izabel a invicta, Shakespeare, Jorge I, o rei alemão, a Rainha Vitória e a consolidação do Império Britânico, a conquista da Índia, Nelson e Waterloo; as guerras mundiais, Tatcher, a dama de ferro, a Rainha Elisabeth II, a Princesa Diane, os escândalos reais e principalmente Winston Churchill, o mais importante dos líderes políticos do século XX.
Circular pelos Museus, pelos monumentos, pelos castelos e igrejas é reviver o passado. Quanta história para contar ou mesmo criar. Enredos surgem a cada esquina, em todos os pubs e mesmo circulando pelos mercados tradicionais.

Churchill, o estadista que se preparou por décadas, era o líder necessário quando Hitler resolveu alterar as fronteiras da Europa, usando as suas "Panzers" como embaixadoras. Ao receber como gesto de respeito uma chávena de chá, durante visita as tropas aliadas na África, exclamou:
"Isso é bebida para minha esposa, dê-me uma brandy".

Sempre alegre, charuto a posto, corpulento, discurso fácil e envolvente, adorava refeições completas; seguia os ritos gastronômicos apreciados pelos nobres. Mesmo nos períodos de guerra, não perdia o vinho clarete, o "Champagne" e o vinho do porto como acompanhantes de todas as refeições. Nunca perdia o apetite. Se houver tempo, visite os seus escritórios subterrâneos, de onde comandava a reação e a vitória final das forças inglesas e aliadas contra as tropas do Eixo Maligno.

"Apenas prometo sangue, suor e lágrimas até o esforço final da nossa vitória".

Churchill foi o único político a prever o perigo da ascensão de Adolf Hitler; era contrário à filosofia de ceder às pressões nazistas para manter uma paz precária. Lutou pelo rearmamento e pelo fortalecimento do exército britânico contra tudo e contra todos.

"O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo".

O Duque de Malborough, pois Winston nasceu em família de nobres; participara da Guerra dos Boeres, na África do Sul, como jornalista, onde restou prisioneiro.

Na Primeira Guerra Mundial, como Lorde do Almirantado, foi responsável pelo desastre de Galápoli, nos Dardanelos, na Turquia. Momento em que aparece um novo líder turco: Kemal Ataturk, o grande reformador, a pessoa que acaba com o Califado Otomano.

- Não adianta dizer: "Estamos fazendo o que melhor podemos, temos que conseguir o que seja necessário." -Era que afirmava como lema.
Como político, estadista, escritor e artista, recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1953. Suas memórias são obras para ler e reler. Leva tempo.
"Todas as grandes coisas são simples. Muitas podem-se expressar em uma só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança. "

Está pronto para substituir Neville Chamberlain, quando a política do pacifismo a qualquer preço não impediu a Invasão da Polônia pelas tropas nazistas.
"A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra só podemos morrer uma vez, mas na política, diversas vezes. "
Após a derrota nazista, foi um dos primeiros a desvendar o perigo da política comunista e o surgimento da Cortina de Ferro. Já previa futuros conflitos mundiais.
"Um comunista é como um crocodilo: quando abre a boca você não sabe se está sorrindo ou preparando-se para te devorar. "
Nos seus discursos era claro e direto.

"O socialismo tem por virtude a divisão igualitária da miséria ". "O comunismo é a filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja. Sua virtude inerente é a distribuição equitativa da miséria. " - Winston Churchill

Questionado por lider trabalhista,inimigo ferrenho na política , a razão pela qual o Primeiro Ministro ao entrar nos sanitários , ao vê-lo , saia correndo , replicou :
" Vocês, socialistas, sempre que enxergam algo grande e que funciona bem, vão logo metendo a mão. "

Derrotado na eleição de 1945, nunca poupou os líderes trabalhistas que deram força excessiva aos sindicatos.

Mas será reeleito mais tarde.
Mais tarde, a ministra Margarete Tatcher, repetindo as palavras de Churchill afirma:

- O socialismo funciona bem até terminar com os recursos e o dinheiro da parcela da população que trabalha, poupa e investe. Todos os que levantam sua voz contra os desmandos dos sindicatos e dos líderes comunistas, são desqualificados, considerados malditos e punidos. Os rótulos ideológicos e os chavões estão prontos.: - Inimigos do povo, reacionários, sanguessugas, burgueses opressores, fascistas, elite que despreza os trabalhadores - outros sinônimos e lemas continuam o seu espetáculo até os dias de hoje. Esquecem que Governo não cria riqueza, ao contrário, subsiste pelos impostos pagos, pelos lucros obtidos pelo trabalho, pelo estudo e pelo desenvolvimento pessoal de cada um, de cada cidadão. O trabalhador é o elo fraco nesse sistema.

Sir Winston Churchill, a falecer em 1965, teve homenagem digna de reis. Audiovisual é apresentado no memorial localizado junto às instalações subterrâneas do seu bunker em Londres. Deixou lições para futuros políticos e estadistas.

"O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê uma oportunidade em cada dificuldade. A maior lição de vida é admitir até as vezes em que tolos têm razão."

"Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo, antes mesmo da verdade ter oportunidade de se vestir."

Após exéquias na Catedral de São Paulo e do cortejo naval pelo rio Tamisa, espetáculo para não esquecer, foi enterrado junto a St. Martin´s Church, em Blandon, Oxfordshire. Seu túmulo, mármore branco, recorda o inglês que não abandonou o seu país na hora da dificuldade. Pela amizade com o Presidente Roosevelt, pela ligação de aliado com os Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, recebe o título de Americano Honorário. Sua estátua, junto ao Parlamento, erigida em 1955, mostra o herói em atitude típica, com sua bengala e casacão pesado. Ela marca sua presença eterna na Londres moderna dos nossos dias. Merecida homenagem.

• Publicado originalmente em www.daiello.com.br
  

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  • Ipojuca Pontes
  • 30 Janeiro 2018

 

Ao contrário do que diz o sambinha baiano - de indisfarçável ranço demagógico - o Rio de Janeiro continua sór-di-do (e bota sordidez nisso). Ao vasto acervo de misérias que o degradam há mais de quatro décadas, ajunta-se agora o anúncio feito por Lula, no Teatro Casa Grande (velho terreiro da esquerda “festiva”), da candidatura de Celso Amorim, o “Celsinho da Embrafilme”, ao cargo de governo do Estado do Rio de Janeiro. É karma. Como já escrevi antes, Amorim é o anti-diplomata que o Brasil teria a obrigação de desterrar mas que nenhum país democrático do mundo poderia receber.

Falo adiante sobre o “desastre” Amorim mas, antes, devo informar ao leitor que atuo no Rio como jornalista desde os áureos tempos de Carlos Lacerda, governador excepcional, probo, corajoso e realizador que, no Rio Janeiro (à época, Estado da Guanabara), fez quase tudo que nele há de importante, ainda hoje, lá se vão quase 60 anos!

Embora sem a mesma grandeza de Lacerda, cito, de memória, alguns governadores corretos, entre eles, Negrão de Lima, ex-prefeito da antiga Capital Federal, que se interpôs à bagunça comunista; Floriano Faria Lima, administrador objetivo na integração da cidade ao interior do Estado, tarefa árdua, além de construir viadutos, obras do Metrô e, na base, as usinas nucleares de Angra dos Reis; e ainda Chagas Freitas, que durante dois mandatos dialogou com os militares e empreendeu milhares de obras – e que, por isso mesmo, era odiado por Ulysses Guimarães, múmia politiqueira que nos legou uma constituição de direitos sem haveres - vale dizer, uma mixórdia que tornou o país ingovernável.

Mas quem marcou fundo a esculhambação assumida que impera hoje no Rio foi, em definitivo, Leonel de Moura Brizola, o “Engenheiro do Caos”, caudilho rocambolesco que introduziu no pedaço o permissivo “socialismo moreno”, prática política que consolidou a transformação das favelas em território livre para a exploração do narcotráfico e do contrabando de armas – ambos oficialmente imunes ao combate policial. Seus acólitos iam do malandro Carlos Imperial ao folclórico Cacique Juruna, passando por Agnaldo Timóteo, César Maia e Garotinho até chegar a Darcy Ribeiro

(“louco de pedra”) e Saturnino Braga, economista da Cepal que, eleito prefeito, decretou a falência da cidade e em seguida, por incompetência, abandonou (chorando) o cargo.

Depois do caudilho Brizola vieram os socialistas Moreira Franco (apelidado de “Vira-Bosta”, pássaro dos pampas, pelo próprio Brizola); Marcelo “Velho Barreiro” Alencar; Anthony “Trêfego” Garotinho e a consorte Rosinha; Sérgio Cabral (formado pela Juventude Comunista na decoreba de “O Estado e a Revolução”, do também assaltante Vladimir Lenin) e Luiz Fernando Pezão, herdeiro de Cabral, conhecido intramuros como “Mãozão” – todos, sem exceção, investigados, processados e alguns até condenados por ladroagem, corrupção, falsidade ideológica, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crimes de igual teor. O mais vil, Sérgio Cabral, mitificado pela mídia esquerdista enquanto candidato eleito (duas vezes), era o anfitrião de festas romanas rigorosamente “privês” oferecidas ao chefão Lula, o Chacal, no seu Taj Mahal de Mangaratiba.

No seu livro “Leviatã”, Thomas Hobbes, teórico político inglês do século XVIII, profetiza o advento de uma sociedade na qual prevaleceria a “guerra de todos contra todos”. Toucheé!

É exatamente o que se passa no Rio de Janeiro de hoje, desgovernado ao longo dos anos por mandatários socialistas absortos em propagar “direitos humanos, igualdade e justiça social”. De fato, fracionado em centenas de campos de batalha, a cada minuto policiais enfrentam bandidos bem armados, que, por sua vez, tocam fogo nas falidas UPPs (invenção e objeto de marketing cabralino) e matam militares aos magotes. Em meio a permanentes rajadas de metralhadoras, granadas e tiros de fuzil, morrem homens, mulheres, velhos e crianças vítimas de “balas perdidas” – que de perdidas não têm nada.

Por sua vez, com a mídia local voltada para a divinização de lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT) e a fervorosa campanha pela liberação da droga, o Rio aflito vive no sufoco vitimado por “sequestros relâmpago”, arrastões em praias e zonas comerciais, assaltos a restaurantes, bares, lojas e hotéis. Nos últimos tempos, intensificaram-se as explosões de caixas eletrônicos e os sequestros de caminhões transportadores de alimentos e produtos eletrônicos, embora o comunista Raul Jungmann, barbudinho ministro da Defesa, apareça toda hora nas TVs prometendo o controle dos assaltos e saques pelas tropas do Exército – saques que se sucedem, em rotina monótona, pelo menos seis vezes por dia.

Inútil assinalar ainda que o Rio, cidade de limpeza urbana ocasional, está catalogado pela Agência TripAdvisor International como “uma das dez cidades turísticas mais sujas do mundo”, ao lado de Bangkok e Bombaim, urbes 100% putrefatas. Nas suas calçadas e sob viadutos, vegetam cerca de 90 mil zumbis, alcoolizados ou maconhados e famintos, num vai e vem sem fim. Pior: nas regiões serranas, chuvas mais prolongadas colocam cidades como Petrópolis, Teresópolis e Friburgo à mercê de desabamentos fatais pelo deslizar de encostas sobre casas e barracos. Em geral, como as verbas oficiais são roubadas pelos prefeitos não há ação preventiva nem apoio aos deserdados da sorte.

Voltando ao “desastre” Amorim - o candidato do condenado Lula ao governo do Rio de Janeiro -, descobri que o espaço ficou exíguo para relatar parte mínima de suas “proezas”. Fica para o próximo artigo.

* Publicado originalmente no Mídia Sem Máscara.

* * Jornalista, cineasta e escritor.
    

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  • Gen Gilberto Pimentel
  • 30 Janeiro 2018

 

A bem da verdade, para a Justiça, não há quaisquer dúvidas a respeito dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados pelo ex-presidente no exercício do mandato. Isso não está mais em discussão. É o que se pode inferir das palavras de um dos desembargadores do TRF4 antes de proferir seu voto: “O julgamento dessa turma põe fim à discussão acerca da matéria de fato. Restando, eventualmente, se houver recurso aos tribunais superiores, exame de questão de direito, mas não mais, a rigor, questões de fato”.

Não há como desconsiderar que o réu está envolvido em diversos outros processos e que outras condenações semelhantes estão por vir.

Como falar, então, em candidatura ou pré-candidatura deste cidadão a cargo político e pior, ao mais alto cargo da Nação, o mesmo em que foram cometidos os crimes agora julgados e muitos outros ainda por serem?

Será que raciocinam com as consequências para nosso país, aqueles que ainda avaliam pública e insistentemente hipóteses que tornem viável o exercício da Presidência da República do Brasil por um condenado? E me refiro, em especial, a instituições como a mídia, políticos e setores do próprio judiciário. Será que isso é bom para uma democracia sempre em busca de se consolidar? Não seria muito mais racional abrir espaço para discutir os danos decorrentes de tal situação?

Será que por um momento imaginam as dificuldades de relacionamento de toda a ordem com as demais nações? E o constrangimento e grau de confiança de um chefe de estado ao negociar com seu colega condenado pela prática de crimes tão graves? E como exerceria sua liderança, tal governante, sobre instituições como as Forças Armadas, só por exemplo, basicamente calcadas na disciplina e no cumprimento das leis?

Pelos podres poderes remanescentes, ainda consideráveis, acumulados graças ao uso criminoso do governo, pelo seu perfil populista, que ainda lhe garante significativo índice de aceitação, sobretudo nas camadas menos esclarecidas e, também, pela extensão incomparável dos crimes cometidos - “principal articulador do esquema de corrupção do seu governo”- é, de longe, o ex-presidente, a principal figura dessa funesta geração de políticos, independente de coloração partidária.

Sua exemplar punição, sobretudo, abrirá caminho, e até certa jurisprudência, para um acerto de contas com todos os demais que não honraram seus cargos eletivos. Um golpe mortal na corrupção. O contrário seria nossa maior tragédia.

*Presidente do Clube Militar
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 29 Janeiro 2018



Quando se pergunta qual o conceito que fazemos de uma sociedade justa, a palavra "conceito" entra aí com um sentido antes americano – pragmatista – do que greco-latino: em vez de designar apenas a fórmula verbal de uma essência ou ente, significa o esquema mental de um plano a ser realizado. Nesse sentido, evidentemente, não tenho conceito nenhum de sociedade justa, pois, persuadido de que não cabe a mim trazer ao mundo tão maravilhosa coisa, também não me parece ocupação proveitosa ficar inventando planos que não tenciono realizar.

O que está ao meu alcance, em vez disso, é analisar a ideia mesma de "sociedade justa" – o seu conceito no sentido greco-latino do termo – para ver se faz sentido e se tem alguma serventia.

Desde logo, os atributos de justiça e injustiça só se aplicam aos entes reais capazes de agir. Um ser humano pode agir, uma empresa pode agir, um grupo político pode agir, mas "a sociedade", como um todo, não pode. Toda ação subentende a unidade da intenção que a determina, e nenhuma sociedade chega a ter jamais uma unidade de intenções que justifique apontá-la como sujeito concreto de uma ação determinada. A sociedade, como tal, não é um agente: é o terreno, a moldura onde as ações de milhares de agentes, movidos por intenções diversas, produzem resultados que não correspondem integralmente nem mesmo aos seus propósitos originais, quanto mais aos de um ente genérico chamado "a sociedade"!

"Sociedade justa" não é, portanto, um conceito descritivo. É uma figura de linguagem, uma metonímia. Por isso mesmo, tem necessariamente uma multiplicidade de sentidos que se superpõem e se mesclam numa confusão indeslindável. Isso basta para explicar por que os maiores crimes e injustiças do mundo foram praticados, precisamente, em nome da "sociedade justa". Quando você adota como meta das suas ações uma figura de linguagem imaginando que é um conceito, isto é, quando você se propõe realizar uma coisa que não consegue nem mesmo definir, é fatal que acabe realizando algo de totalmente diverso do que esperava. Quando isso acontece há choro e ranger de dentes, mas quase sempre o autor da encrenca se esquiva de arcar com suas culpas, apegando-se com tenacidade de caranguejo a uma alegação de boas intenções que, justamente por não corresponderem a nenhuma realidade identificável, são o melhor analgésico para as consciências pouco exigentes.

Se a sociedade, em si, não pode ser justa ou injusta, toda sociedade abrange uma variedade de agentes conscientes que, estes sim, podem praticar ações justas ou injustas. Se algum significado substantivo pode ter a expressão "sociedade justa", é o de uma sociedade onde os diversos agentes têm meios e disposição para ajudar uns aos outros a evitar atos injustos ou a repará-los quando não puderem ser evitados. Sociedade justa, no fim das contas, significa apenas uma sociedade onde a luta pela justiça é possível. Quando digo "meios", isso quer dizer: poder. Poder legal, decerto, mas não só isso: se você não tem meios econômicos, políticos e culturais de fazer valer a justiça, pouco adianta a lei estar do seu lado. Para haver aquele mínimo de justiça sem o qual a expressão "sociedade justa" é apenas um belo adorno de crimes nefandos, é preciso que haja uma certa variedade e abundância de meios de poder espalhados pela população em vez de concentrados nas mãos de uma elite iluminada ou sortuda. Porém, se a população mesma não é capaz de criar esses meios e, em vez disso, confia num grupo revolucionário que promete tomá-los de seus atuais detentores e distribuí-los democraticamente, aí é que o reino da injustiça se instala de uma vez por todas. Para distribuir poderes, é preciso primeiro possuí-los: o futuro distribuidor de poderes tem de tornar-se, antes, o detentor monopolístico de todo o poder. E mesmo que depois venha a tentar cumprir sua promessa, a mera condição de distribuidor de poderes continuará fazendo dele, cada vez mais, o senhor absoluto do poder supremo.

Poderes, meios de agir, não podem ser tomados, nem dados, nem emprestados: têm de ser criados. Caso contrário, não são poderes: são símbolos de poder, usados para mascarar a falta de poder efetivo. Quem não tem o poder de criar meios de poder será sempre, na melhor das hipóteses, o escravo do doador ou distribuidor.

Na medida em que a expressão "sociedade justa" pode se transmutar de figura de linguagem em conceito descritivo razoável, torna-se claro que uma realidade correspondente a esse conceito só pode existir como obra de um povo dotado de iniciativa e criatividade – um povo cujos atos e empreendimentos sejam variados, inéditos e criativos o bastante para que não possam ser controlados por nenhuma elite, seja de oligarcas acomodados, seja de revolucionários ambiciosos.

A justiça não é um padrão abstrato, fixo, aplicável uniformemente a uma infinidade de situações padronizadas. É um equilíbrio sutil e precário, a ser descoberto de novo e de novo entre as mil e uma ambiguidades de cada situação particular e concreta. No filme de Sidney Lumet, "The Verdict" (1982), o advogado falido Frank Galvin, esplendidamente interpretado por Paul Newman, chega a uma conclusão óbvia após ter alcançado uma tardia e improvável vitória judicial: "Os tribunais não existem para fazer justiça, mas para nos dar uma oportunidade de lutar pela justiça". Nunca me esqueci dessa lição de realismo. A única sociedade justa que pode existir na realidade, e não em sonhos, é aquela que, reconhecendo sua incapacidade de "fazer justiça" – sobretudo a de fazê-la de uma vez para sempre, perfeita e uniforme para todos –, não tira de cada cidadão a oportunidade de lutar pela modesta dose de justiça de que precisa a cada momento da vida.


* OrdemLivre.org, 1 de junho de 2011
* Incluído, no livro “O mínimo que você deve saber para não ser um idiota”. Ed. Record (2013)

 

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  • Renato Sant’Ana
  • 28 Janeiro 2018

 

Quem esquece o vandalismo das "manifestações" de 2013 e 2014? Usando máscaras, bandidos ideológicos depredavam desde edifícios públicos até casas comerciais nas grandes cidades do país. Não é por nada, mas houve receio de que coisa parecida ocorresse em Porto Alegre durante o julgamento de Lula. Ainda mais que caciques do PT e de suas linhas auxiliares, à iminência de uma condenação do réu, ameaçavam, falando de "matar", "explodir", "luta nas ruas", entre outras amenidades...

Lula foi condenado. Mas, tirante uma agressão à equipe da Band TV, nada relevante aconteceu. Por quê? Simples: o Estado cumpriu o seu papel.

O governo do Rio Grande do Sul, através da Secretaria de Estado da Segurança, congregou vários órgãos e instituiu o Gabinete de Gestão Integrada, o qual trabalhou com os dados provenientes dos serviços de inteligência.

Outra decisão do governo foi que policiais civis e militares não entrassem em férias durante o período imediatamente anterior e posterior ao julgamento. E um expressivo número de brigadianos foi deslocado do interior, reforçando a olhos vistos o policiamento nas ruas da capital.

Por fim, houve uma decisão muito eficaz e bem comunicada aos interessados: a Brigada Militar recebeu ordem de prender em flagrante e levar diretamente para o Presídio Central qualquer manifestante que usasse máscara. (Alguém de boa-fé esconde a cara?)

O resultado foi uma cidade pacificada. Por precaução, lembrando prejuízos doutras ocasiões, grande parte do comércio não abriu à tarde. Inclusive o Shopping Praia de Belas fechou. Mas nada aconteceu!

Será preciso tempo para metabolizar tudo o que houve neste dia histórico. Desde logo, porém, um aspecto merece destaque: as medidas preventivas que o poder público estadual tomou devolveram a paz a uma capital que vive sobressaltada com a violência. Ora, conforme ensinam os contratualistas, a primeira e mais elementar função do Estado é coibir abusos. E tal se deu. E foi tudo feito com firmeza, transparência e deliberações publicizadas às claras, mas sem bravatas, o que ajuda a acalmar os ânimos: tanto o governador Ivo Sartori quando o Secretário Cesar Schirmer tiveram postura de estadista.

Aliás, foi tal a sensação de segurança nas ruas neste 24 de janeiro, que muita gente em Porto Alegre está desejosa de um novo julgamento de Lula no TRF-4...


* Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.

** Publicado originalmente no blog Alerta Total

 

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  • Ricardo Sondermann
  • 28 Janeiro 2018

 

O recente filme de Joe Wright, “O destino de uma nação”, trouxe mais uma vez à baila a herança e as histórias de Winston Churchill. Sua grandiosidade como estadista e líder, especialmente construída após o termino da Segunda Guerra Mundial, inspira e motiva pessoas em todos o mundo, sejam políticos, empresários ou estudantes.

Mas no Brasil, diferentemente do resto do mundo, perdura uma indelicada e insensata necessidade de destruir tudo aquilo que porventura algum grupo ou indivíduo entenda que difira de seu modo de pensar. Churchill deveria estar acima deste tipo de mesquinharia, uma vez que foi sua ferrenha obstinação por salvar a sociedade ocidental que a democracia e a liberdade perduraram. Chamo a atenção para dois recentes artigos, um de Luis Fernando Veríssimo, publicado no jornal Zero Hora em 15 de janeiro de 2018 e outro de Ancelmo Gois, em sua coluna no Jornal O Globo em 24 de janeiro de 2018.

Veríssimo, em um artigo chamado “Cara de bebê”, alega que Churchill foi “um típico servidor do que o Império Britânico tinha de mais retrógrado e arrogante e um apologista do uso de gás venenoso contra seus inimigos... Churchill nunca mudou, mudou a sua circunstância”. Veríssimo continua dizendo que Churchill “valeu-se de outro mito, o da Inglaterra como uma ilha abençoada, descrita por Shakespeare”. Termina seu texto comentando que “Churchill foi endeusado como o salvador da pátria, com razão, mas os eleitores ingleses decidiram rebaixá-lo, de fazedor de História a herói desnecessário, no fim da guerra. Despacharam-no. Não se sabe se saiu de Downing Street desencantado”.

Churchill era um leitor inveterado e seus discursos comprovam isto. Por sinal, escrever era a forma pela qual ele garantia seu sustento e sua produção literária compreende mais de 40 volumes. Veríssimo sabe que para se escrever bem, deve-se ler em dobro. Diversos de seus discursos foram baseados em textos de terceiros como “Sangue, trabalho, lágrimas e suor”, de Giuseppe Garibaldi. Por que não beber na principal fonte da literatura inglesa e mundial? Por que não construir sobre a herança de William Shakespeare? Veríssimo sugere que Churchill plagiou o bardo. Sobre defender o uso de gás tóxico, gostaria saber a fonte da informação, ou seria mera suposição? E sim, Churchill perdeu a eleição de 1945 e a principal razão foi que ele desejava continuar a guerra e lutar contra a URSS para liberar Tchecoslováquia e Hungria. O motivo de sua derrota não foi o desencanto com seu líder, mas uma democrática mensagem do povo ao líder de que não desejavam mais guerrear. Churchill passa a partir deste momento a escrever as memórias da Guerra, seis volumes que lhe garantiram o prêmio Nobel de Literatura em 1953. Não obstante, Churchill é reeleito para um segundo mandato, entre outubro de 1951 até abril de 1955. Foi, na mesma linguagem de Veríssimo, “redespachado” para o antigo endereço em Downing street, nr. 10.

Já o texto de Ancelmo Goís é pura provocação. Baseado em uma citação proferida por Churchill em 1920 quando disse que “a política é quase tão excitante como a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, só se pode morrer uma vez; na política, muitas”, o jornalista faz uma tentativa de enquadrar o ex-presidente Lula nesta condição. Nada mais equivocado e distante da realidade. Tentar colocar o agora condenado Luís Inácio no mesmo patamar que Winston Churchill é de uma ingenuidade impressionante. As diferenças, citando algumas, são de escolaridade (embora muitos acreditem que ignorância é virtude, mas não é), caráter (ou se tem ou não se tem), personalidade (capacidade de aprender e exercer empatia), visão (de mundo versus de poder), respeito e dignidade (enorme versus nenhuma).

Destaco apenas uma: a capacidade de aprender com seus erros. Churchill cometeu diversos erros ao longo de sua vida política. A derrota da Armada Britânica em Gallipoli na Primeira Guerra Mundial, a adoção do padrão ouro antes da grande depressão, em que pese não poderia ter previsto a crise, duas trocas de partido (inadmissível para alguns ingleses) e a derrota na batalha da Noruega na Segunda Grande Guerra, foram alguns destes. Entre 1929 e 1939, Winston viveu no ostracismo político, não sendo convocado para nenhum cargo ou função em gabinetes.

O ex-presidente Lula cometeu grandes erros também, sendo que parte deles de forma deliberada. Aos erros “não forçados”, usando uma linguagem tenística, está a formação de um ministério gigante, a contratação em massa de funcionários públicos, a não realização de reformas estruturantes e a indicação da Sra. Dilma Rousseff para sua sucessão. Os erros deliberados foram a construção de uma estrutura política corrupta, em dimensões jamais vistas na política mundial e a tentativa de transformar o Brasil em uma “República Bolivariana”, com todas as consequências possíveis. Lula foi, e é, líder de uma quadrilha de bandidos e por conta disso já foi condenado em duas instâncias.

Se posso destacar apenas esta diferença entre Churchill e Lula é que erros são formas de aprendizado. Erros devem ser primeiro admitidos, demonstrando grandeza e humildade e depois, absorvidos e analisados, para que não se repitam. Churchill errou muitas vezes, portanto “morreu” na mesma quantidade. Suas “ressureições” devem-se a sua capacidade de gerar mais benefícios por suas ações positivas do que o contrário. O escritor Alvin Toffler comenta que “o analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. Sob este aspecto Churchill viveu no século XXI e Lula vive no século XIX.

As mortes políticas de Churchill serviram para modelar o homem. A morte política de Lula serve para que seus seguidores tentem criar um mártir. Quem sabe Lula possa aproveitar seu tempo na cadeia e ler, expandir seus horizontes e ampliar sua visão de mundo? SQN.

Uma das grandes lições de Churchill, que com certeza poderiam ser estudadas por Veríssimo, Góis e Lula, consta na introdução das “Memórias da Segunda Guerra Mundial” e consiste em uma síntese poderosa de sua personalidade e caráter, um resumo de sua forma de pensar e de agir.

Na Guerra: Determinação
Na Derrota: Insurgência
Na Vitória: Magnanimidade
Na Paz: Boa Vontade.

 

* Ricardo Sondermann é empresário e professor, autor da obra “Churchill e a Ciência por trás dos discursos: Como palavras se transformam em armas” em venda na Amazon.com.br e nas principais livrarias no país.

 

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