• Fernanda Barth
  • 27 Outubro 2017

 

Li a matéria "Projeto antigo, polêmica recente", sobre a inauguração do memorial Prestes, publicado na ZH (27/10), e teço as seguintes considerações. Chamar de nazifascistas quem protesta contra o memorial em homenagem ao Luiz Carlos Prestes é piada. Fascista é quem adora o Estado, quem quer o controle da vida das pessoas, quem quer que todo mundo pense igual, quem não aceita a diferença e nem o contraditório, como os comunistas ou os nazistas.

A polêmica é recente porque só recentemente a sociedade descobriu o que seria aquele equipamento preto e vermelho na beira do rio. Quando o Memorial Prestes foi votado em 1990, eu tinha 17 anos, e novamente em 2008, a sociedade não teve a oportunidade de se manifestar, pois não houve a transparência que temos hoje sobre os temas que são postos em pauta. As redes digitais não estavam aí ainda. A sociedade não foi ouvida em nenhum momento.

Quem protesta contra este Memorial da Vergonha não está tampouco protestando contra "a primeira obra de Niemeyer" em Porto Alegre; isto é mais uma tentativa de distorcer os fatos. Estamos contra ter este memorial claramente ideológico, ornamentado com uma enorme foice e martelo no teto, como se fosse algo do que se orgulhar, em um dos metros quadrados mais nobres da capital. É um museu ao herói comunista, símbolo de uma ideologia que matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo. Nos países onde o comunismo causou verdadeira devastação, o símbolo da foice e do martelo foi abolido e na Ucrânia, por exemplo, comemoraram este mês o centenário da revolução Russa derrubando monumentos e não erguendo novos. Vivemos um paradoxo aqui, celebrando o fracasso e a morte.

Por outro lado, queremos um espaço plural e democrático, onde toda a história possa ser debatida, onde também possamos mostrar os horrores cometidos pelo comunismo e os crimes de Prestes. Ou que fosse um espaço em homenagem A TODAS as vítimas de regimes totalitários no mundo.

Dizer que as pessoas que se manifestaram têm pouco conhecimento de história ou dizer que só queremos chamar a atenção é mais uma tentativa de jogar a sociedade no silêncio, através do constrangimento. E é desconhecer o descontentamento legítimo de grande parcela da população com esta homenagem imprópria. É legítimo podermos debater a cidade que queremos. E esperamos que este debate sirva para revermos a forma como os terrenos públicos são doados e para que fins. Não vamos nos calar. Não somos covardes.

Por fim, querer atribuir a manifestação ao MBL é jogar uma parcela grande da sociedade para dentro do Movimento que não foi o primeiro a chamar para as manifestações. Isto demonstra uma incapacidade do jornal e da própria esquerda em compreender os processos que estão ocorrendo, pois precisam ter um adversário único. Somos muitos e não cabemos nestes rótulos. Ou a imprensa tenta entender o que realmente está acontecendo e porque estamos rejeitando este memorial ou vai ficar em uma bolha, insuficiente para sustentar comercialmente qualquer grande jornal.

 

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  • J. R. Guzzo, em Veja
  • 25 Outubro 2017


Durante um programa de entrevistas na televisão, pouco mais de um ano atrás, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, teve a ideia de perguntar a um dos entrevistadores, o jornalista José Nêumanne Pinto: "Você não acredita na Suprema Corte do seu país?". Um ministro do STF não deve perguntar essas coisas hoje em dia. Se perguntar, arrisca-se a receber, como de fato recebeu, a resposta mais sensata para a indagação que tinha feito. "Não", disse o entrevistador. "Eu não acredito." E por que alguém haveria de confiar, Santo Deus?

Os onze ministros insultam-se publicamente entre si. Faltam ao serviço. Um deles levou bomba duas vezes no concurso para juiz de direito. Outro mantém negócios privados e julga causas do escritório de advocacia em que trabalha a própria mulher. Há um que conseguiu asilo no Brasil para um quádruplo homicida condenado legalmente pela Justiça da Itália, e outro que foi o juiz preferido do ex-governador e hoje presidiário Sérgio Cabral, réu em quinze processos de corrupção. Agora, em seu último feito, o STF decidiu que cabe ao Senado Federal punir ou perdoar o senador Aécio Neves — flagrado numa conversa gravada tentando extorquir 2 milhões de reais de um bilionário, réu confesso e atualmente domiciliado no sistema penitenciário nacional. Os ministros tinham decidido o contrário, tempos atrás, com o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que por causa disso perdeu o cargo, o mandato e está preso até hoje. O que vale, então?

Nossa Corte Suprema parece ter conseguido, nesse tumulto, algo inédito no direito internacional: errou nas duas decisões. Perguntaram aos nossos magistrados máximos quanto dá 2+2; na primeira vez eles responderam que dá 5, e na segunda que dá 7. Erraram nas duas vezes porque em ambas se meteram a resolver coisas que não têm o direito de resolver — invadiram a área de outro poder, e uma vez feito isso não conseguem acertar mais nada. Com certeza o poder que invadiram, o Congresso Nacional, é uma espécie de Monga, a Mulher-Gorila, ou alguma dessas aberrações exibidas no circo; mas é o eleitorado, e não o STF, quem tem de consertar isso. Com sua intromissão, os ministros pariram Mateus; agora têm de embalar a criatura, dar de mamar, levar ao pediatra e esperar mais uns dez ou doze anos para ver qual o sexo que ela prefere. Enquanto o STF cria a criança que não podia ter parido, os brasileiros ficam sem saber o que está valendo. As decisões finais sobre corrupção no Poder Legislativo são do Congresso? São do Poder Judiciário? Vai saber. Talvez fique valendo o que resolverem na próxima vez.

O caso de Aécio é especialmente tenebroso. Começa que o grupo de ministros que queria punir o senador veio com uma punição de mentirinha — "afastaram" o homem do cargo e decidiram, com imensa coragem, proibi-lo de sair de casa à noite, como se alguém só começasse a roubar depois que escurece. É uma piada, para fazer bonito a preço de custo com intelectuais e artistas de novela, mas o foco da infecção não está no tipo do castigo. Está na pretensão de entregar o que não poderia ser entregue. O ministro Luís Roberto Barroso argumentou que seria uma injustiça deixar "três peixes pequenos" presos e o "peixe grande" solto. Mas Barroso não está lá para medir o tamanho dos peixes, e sim para cumprir a Constituição. Tem todo o direito de não gostar dela; mas não pode escolher quando vale e quando não vale o que está escrito ali. Aécio Neves não é peixe graúdo nem miúdo — é senador da República, por mais que isso se revele um disparate. É senador porque foi eleito. Se o povo votou errado, paciência — a lei não obriga o eleitor a votar certo. Mas obriga a todos, incluindo os ministros do STF, a obe­decer à regra segundo a qual um senador só pode ser punido com a autorização do Senado.

Sem Aécio, o Brasil seria um lugar mais justo, mais sadio e mais limpo — sem ele e todos os outros que vêm do mesmo saco de farinha, a começar por seus inimigos e todos os parasitas, mentirosos e ladrões que mandam no país e fingem ser diferentes entre si. Mas ele é membro do Congresso, e esse Congresso, que positivamente está entre os piores do mundo, é também o único que existe por aqui. Também só existe um STF e só uma Constituição, essa mesma do "Dr. Ulysses" — antes adorada de joelhos como grande fonte de "direitos populares" e hoje tida como um manual de estímulo à roubalheira. Fazer o quê? Acabar com tudo?

Ou dar ao STF o poder de decidir quem é punido e quem é premiado? Está garantido que não vai dar certo.

  

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 25 Outubro 2017


 “A civilização brasileira, como a personagem de Machado de Assis, chama-se veleidade, sombra coada entre sombras, ser e não ser, ir e não ir, a indefinição das formas e da vontade criadora” - Raymundo Faoro.


Tudo indica que nossa veleidade se acentuou neste quase admirável mundo novo Ocidental, no qual o ser humano se desestabiliza, se angustia e se perde nas dúvidas. Prevalece a ditadura da esquerda, não a do proletariado porque essa não vingou, mas do politicamente correto através do qual ser tachado de intolerante, preconceituoso, conservador, estigmatiza quem ousa ostentar tais características.

Não é possível relembrar em um pequeno artigo as teorias de Marx e Engels, passando por Lenin e Stalin até chegar à Antonio Gramsci e Louis Althusser que enfatizaram a importância das superestruturas. Porém, há um pensamento comum entre eles que está sendo utilizado atualmente.

Marx e Engels enfatizarem a importância fundamental do que chamaram de infraestrutura (base econômica, modos de produção). Também pregaram o fim da propriedade burguesa, da liberdade e da individualidade burguesas, da família burguesa, da moral e da religião burguesas, que são as superestruturas, para que estas se harmonizassem com a infraestrutura.

Gramsci distinguiu na superestrutura a “sociedade política” e a “sociedade civil”, sendo que esta última se assenta na persuasão e diz respeito à ideologia em todos seus aspectos (religião, filosofia, direito, ciência, arte, cultura, etc.) e às instituições que as criam e difundem (escolas, igrejas, meios de comunicação). Como a sociedade civil, na visão do pensador é “primitiva e gelatinosa”, a revolução socialista pode se limitar ao essencial: apropriar-se do aparelho coercitivo do Estado e em seguida desenvolver uma verdadeira sociedade civil em harmonia com a infraestrutura.

Observe-se que Louis Althusser voltou ao tema e apresentou o problema da autonomia relativa das superestruturas, que chamou de aparelhos ideológicos do Estado (A.I.E), como o religioso (Igreja), o educacional (escolas, universidades), o familiar, o jurídico, os partidos políticos, o sindical, a mídia, o cultural (teatro, belas artes, literatura).

Destaca-se, segundo Althusser, a escola, que tem posição privilegiada por inculcar a ideologia dominante desde a infância. Donde se conclui, que será fundamental que o Aparelho repressivo do Estado domine completamente os Aparelhos ideológicos.

O que acontece hoje mostra que a esquerda não desapareceu sob o fracasso soviético ou debaixo dos escombros do Muro de Berlin. Revive através de táticas mais sutis, baseadas na superestrutura e a escola se torna o grande foco através do qual se pode despersonalizar a delicada mente em evolução de crianças e jovens através do ensino da permissividade, da amoralidade, da dúvida sobre o sexo.

Afrouxam-se, assim, normas sociais consensuais e intuições da consciência são neutralizadas para que não mais se distinga entre o certo e o errado. Abole-se diferenças entre os sexos e decreta-se que não existem mais meninos e meninas. Isso é ensinado em escolas “moderninhas” em obediência a diretrizes do MEC.

Imagine-se as futuras gerações que poderão advir desse processo, despersonalizadas, problemáticas, cheias de dúvidas, sem parâmetros morais em que possam se amparar. Entusiasmados, os sub-humanos servirão ao Estado totalitário comunista com fervor e sujeição. Será algo que nem Marx em toda sua imaginação poderia conceber. Especialmente, se a tecnologia e a ciência, que avançam com grande rapidez, forem apropriadas pelo partido único ou dominante, ou melhor, pela nomenclatura.

Alguns dirão que incursionei na ficção científica. Será? Especialmente durante o governo petista foi concreto e não ficcional o incessante trabalho feito nas escolas junto às crianças e jovens no tocante a chamada ideologia de gênero. Nisso se notabilizou o então ministro da Educação, o petista Fernando Haddad.

Nas universidades se acentuou a doutrinação de esquerda, feita não por “intelectuais orgânicos” oriundos do proletariado como profetizou Gramsci, mas por professores da classe média convertidos ao petismo ou docentes oportunistas que se intitulam petistas para obter os privilégios e regalias que só são dados aos companheiros.

No tocante a destruição da família composta por mãe, pai e filhos, impressiona a doutrinação homossexual feita através de novelas, revistas e jornais. Destaca-se a TV com sua poderosa influência sobre comportamentos, costumes e valores, que antes eram transmitidos pela família e pela religião, instituições que aos poucos vão perdendo a capacidade educativa e de influência.

E eis que surge uma especial “arte” com seu apelo à zoofilia, à pedofilia, à homossexualidade.

Nesse tempo de dúvidas, algo também se desenvolve sobre o que se denomina de esquerda e de direita. Permanece a dicotomia do “nós contra eles”, mas à luta de classes difícil de ser levada à efeito, foi substituída pela luta racial (negros contra brancos), pela luta de “gêneros” (heterossexuais contra homossexuais) e outras esquisitices, mantendo assim a chama do ódio entre os contendores.

Ser de esquerda, como reza o politicamente correto, é ser intrinsecamente bom, a favor do aborto, antissemita, contra os Estados Unidos, defensor de ditaturas venezuelana como a cubana, a venezuelana, etc. e ser amoral.

A direita é classificada sempre de radical, fascista, intolerante, preconceituosa, conservadora, atrasada.

Mas nem a esquerda nem a direita como são taxadas, existem. Quando pessoas se revoltam contra a manipulação mental de seus filhos ou da dita arte, não são de direita, mas expressam seus valores morais e religiosos.

No momento a esquerda brasileira conta com a volta de Lula da Silva para se consolidar. O futuro dirá se queremos ser escravos de nós mesmos.

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

 

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  • Ricardo Bordin
  • 24 Outubro 2017

 

Não, não foram os burocratas das casas legislativas dos Estados Unidos que elaboraram leis determinando que os comerciantes devolvessem o dinheiro dos consumidores arrependidos por terem efetuado determinada compra: foi a concorrência entre os empresários que os induziu, na ânsia por atrair clientes, a possibilitar o desfazimento de uma transação livremente realizada entre as duas partes, sem nem mesmo cobrar maiores esclarecimentos a respeito da decisão do comprador desgostoso.

Alguns estados, no máximo (como a Flórida), exigem que os estabelecimentos que não efetuam devoluções informem aos clientes tal deliberação, seja por meio de avisos afixados na própria loja, no recibo de compra ou por meio da internet. Mas a decisão de adotar o procedimento ou não, em si (bem como os princípios que irão reger seu sistema), é exclusiva do próprio empreendedor, tendo em vista seu desejo de impulsionar suas vendas a partir do exacerbamento do ímpeto dos fregueses em possuir certo produto gerado a partir desta medida.

Sim, pois a possibilidade de devolver uma mercadoria diminuiu a reflexão do consumidor no momento da compra. Ora, se eu posso vir a declinar aquele item caso venha a decidir que não foi um bom negócio, reduz-se naturalmente o tempo de avaliação de sua real necessidade e conveniência antes daquela aquisição.

No mesmo sentido, pesquisar preços e condições nos concorrentes antes de concretizar a operação comercial torna-se menos oportuno neste cenário, o que faz com que o consumidor, de forma muito mais frequente, decida-se pela compra tão logo sinta-se atraído pela oferta, por puro impulso – o qual pode ser consertado a posteriori, se for o caso.

No final das contas, entre devoluções efetuadas e compras feitas no calor do momento, tanto consumidor quanto fornecedor costumam sair ganhando: o primeiro por não precisar pensar mil vezes antes de comprar algo; o segundo por aumentar suas vendas e, no saldo, ver seu lucro majorado – e caso isso não ocorra, ele pode rever suas diretrizes internas a qualquer momento.

Cada empresa está livre na América para estabelecer suas próprias regras para devolução de mercadorias, determinando prazos para tal e fixando normas para sua realização – como manter a etiqueta em uma roupa ou guardar a nota fiscal, ou mesmo se irá devolver o dinheiro do cliente ou oferecer crédito para compras na mesma loja. Ou se, simplesmente, não vai aderir à política.

E foi o ambiente favorável ao empreendedorismo nos Estados Unidos que instou os comerciantes a adotarem tal procedimento, a partir da forte concorrência produzida por esta conjuntura voltada ao livre mercado – leia-se: facilidade para abrir (e fechar) empresas, taxa de juros praticada bastante baixa, garantia de cumprimento de contratos, segurança jurídica, tributação mais racional, pouca intervenção estatal na economia, dentre outros fatores.

Mas sempre que tal assunto vem à tona, levanta-se a seguinte questão: será que isso funcionaria no Brasil? É inegável que o forte sentido de ética do americano médio contribui para que esta política de devolução dê certo. A liberdade econômica costuma vingar em sociedades onde os indivíduos respeitam (na maioria das vezes, ao menos) os acordos firmados, dispensando a atuação estatal intermediando as trocas.

Quanto tempo demoraria até que brasileiros começassem a litigar judicialmente contra o regulamento de devolução das empresas? Ou até que o Legislativo passasse a ditar normas para tal – muito provavelmente motivado por lobby financeiro de determinados segmentos interessados em minar a competição? Ou para que os Procon inviabilizassem por completo a política de devolução de produtos?

Para efeito de comparação, narro uma experiência pessoal: certa feita, fui devolver uma jaqueta comprada em Chicago/Ilinóis, adquirida às pressas pelo fato de que não esperava deparar-me com tanto frio logo na chegada à terra de Al Capone. As circunstâncias levaram-me a comprar a peça de roupa na primeira loja que entrei. Mas logo percebi, nos dias seguintes, que o preço cobrado estava muito acima do observado nas demais lojas do gênero. Quando fui atendido no departamento de devoluções, indagaram-me o motivo da decisão, ao que respondi com total sinceridade. Prontamente, o próprio empregado do balcão, sem chamar o gerente nem nada parecido, disse que cobriria o preço da concorrência, devolvendo-me a diferença, caso eu desistisse de retornar o produto. Aceitei.

Ou seja, estão incluídos no caldo do relato exitoso para todos os lados a honestidade de, no mínimo, três pessoas: a do consumidor (pois eu poderia ter mentido qualquer preço na ocasião), a do empregado (a qual permite que o empregador lhe delegue tamanho poder sem temer desfalques no caixa), e a do empreendedor, o qual busca manter uma clientela cativa – e obter lucro, mesmo que em uma perspectiva de longo e médio prazo – agradando seus consumidores, e não orando ao Estado por privilégios e tratamento diferenciado.

Retirado qualquer um destes elementos de cena, provavelmente abrir-se-ia brecha para que o governo, em seu infinito afã de dirimir conflitos entre os cidadãos (cobrando um altíssimo preço pelo “serviço” e, por óbvio, sempre provocando novos conflitos a fim de aumentar a demanda por “apaziguamento” estatal), se apresentasse como o salvador da pátria.
Ou seja, estamos mesmo muito distantes desta realidade, e, por ora, vai ser difícil que esta política de devolução de mercadorias surja por estas bandas protossocialistas.

* Publicado originalmente em https://bordinburke.wordpress.com
 

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  • Sérgio Da Costa Franco
  • 23 Outubro 2017

 

Cogita-se agora de inaugurar em Porto Alegre um memorial ou monumento a Luiz Carlos Prestes, obedecendo a um projeto assinado pelo seu correligionário Oscar Niemeyer. Poucas vezes se viu ideia tão desarrazoada quanto essa, e mais afrontosa à grande maioria dos cidadãos porto-alegrenses. Salvo durante um triênio, entre 1924 e 1927, quando as guerrilhas de sua coluna rebelde geraram uma lenda de habilidade tática e de invencibilidade, Prestes nunca empolgou a opinião pública. Depois, no auge da fama de grande tático, quando dele se esperava que assumisse a chefia militar da revolução de 1930, defraudou as esperanças, desviou os mil contos de réis que recebera dos líderes do movimento e aderiu ao comunismo de Stálin.

As ferramentas do Partido Comunista, o culto à personalidade, mais o texto brilhante de Jorge Amado, criaram para ele a imagem do Cavaleiro da Esperança, que, por algum tempo, seduziu parcela da juventude e da intelectualidade brasileiras (inclusive este desavisado articulista, quando muito jovem). A condenação pelo Tribunal de Segurança Nacional e a entrega de sua mulher à Gestapo de Hitler alimentaram a infalível piedade vitimista, para orná-lo com uma auréola de mártir. Mas esse pseudomártir e herói fabricado nunca foi unanimidade e desde a década de 1930 sempre foi discutido, não apenas pelos conservadores, senão também pelos inúmeros dissidentes da esquerda, trotskistas, socialistas democráticos e trabalhistas.

Luiz Carlos Prestes não se trata, portanto, de um herói esquecido, de molde a justificar a ereção de um memorial. Mesmo que tenha subido por um momento aos altares da fama, logo caiu deles, causou graves prejuízos ao Brasil com o levante armado de 1935, dando forte pretexto para a implantação do Estado Novo de 1937 e, quando o Partido Comunista obteve sua legalização em 1945, logo deu mostras de total inabilidade política, arrastando o Partido outra vez para a clandestinidade e para a perda dos mandatos parlamentares que havia conquistado.

Colocando os pingos nos “is”, Prestes não passou de um produto perverso do tenentismo das décadas de 20 e 30, agravado pela adesão ao criminoso stalinismo, que ele jamais repudiou, mesmo depois de revelados todos os seus crimes. Nem ele nem seus parceiros da chamada Coluna Invicta jamais foram intérpretes ou mensageiros da democracia. Não se conhece dele um texto de discurso ou de manifesto que ficasse imune ao sectarismo, ou que trouxesse ideias originais para a solução dos problemas brasileiros. Foi sempre, e apenas, um porta-voz da Internacional ou do Cominform, obediente repetidor das fórmulas e ditames do partido soviético.

Talvez a melhor criação do líder comunista haja sido essa filha, Anita Leocádia, cuja entrevista apareceu na Zero Hora do dia 5 de janeiro. Embora fazendo, obviamente, a defesa do pai e de sua memória, não exagerou na dose e, como estudiosa de História, admitiu verdades que antes nenhum prestista admitia, como os homicídios ordenados pelo Comitê Central e referendados por Prestes. Na entrevista, a historiadora nos promete agora uma biografia política do pai, o que deve ser aguardado com algum interesse, apesar de sua natural suspeição.

 

* Historiador
* Publicado originalmente em Zero Hora do dia 11 de janeiro de 20143
 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 23 Outubro 2017

MEMORIAL DA VERGONHA
Ontem, domingo, 22/10, fiz questão de participar da manifestação liderada pela valente e correta pensadora Fernanda Barth, pela pluralidade e democracia, contra os regimes totalitários e, notadamente em repúdio ao Memorial Luiz Carlos Prestes, ou Memorial da Vergonha, que está para ser inaugurado no próximo domingo, 28, em Porto Alegre.


HOMENAGEM A UM ASSASSINO
Porto Alegre, infelizmente, volta a se colocar na contramão da história, ao inaugurar um memorial comunista, como refere Fernanda Barth carregada de total razão.
Para quem não sabe, mas precisa saber enquanto há tempo, Luiz Carlos Prestes foi um líder comunista e um assassino e mesmo assim será homenageado em Porto Alegre. Mais: o memorial Luiz Carlos Prestes, ou Memorial da Vergonha, todo preto e vermelho, com uma gigantesca foice e martelo em sua cobertura, se nada for feito será inaugurado no dia 28 de outubro, pouco antes do centenário da Revolução Russa.


IDEOLOGIA SANGRENTA
Realmente inacreditável ver glorificada a ideologia sangrenta que matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo todo e foi responsável pelo massacre de Holodomor, na Ucrânia. Enquanto no resto do planeta os símbolos comunistas são proibidos pelos crimes que foram praticados em seus regimes, em Porto Alegre continuamos enaltecendo-os. Retrocesso total!
Ouso chamar de Memorial da Vergonha, enfatiza F.Barth. - Este espaço deveria é ser destinado a memória de todas as vítimas dos regimes totalitários no mundo, mas não a um falso herói, que friamente mandou executar a menina Elza e causou terror com sua Coluna Prestes. Mas como isto aconteceu?


IDEIA LAMENTÁVEL
Em 1990, ano da morte de Luiz Carlos Prestes, o então vereador Vieira da Cunha (PDT), teve a lamentável ideia de construir um Memorial em homenagem ao sangrento comunista Luiz Carlos Prestes. A infelicidade foi aprovada por maioria na Câmara de Vereadores e homologada pelo então prefeito Olívio Dutra, que indicou terreno público, em área nobre, próximo às margens do Guaíba para a futura construção.
Como as condições financeiras não permitiram que o projeto saísse do papel, a ideia ficou na gaveta, na espera da oportunidade. Em 2008, a construção do memorial comunista acabou sendo viabilizada, graças a necessidade que a Federação Gaúcha de Futebol tinha de construir uma sede própria e que, como contrapartida a doação de uma parte do terreno pela prefeitura, bancou a obra. O novo projeto foi novamente aprovado por maioria na Câmara de Vereadores. Pode?


PROJETO MAIOR
Mas esta é só uma parte de um projeto maior que prevê de um lado a obra do Memorial Prestes com seu ornamento comunista e do outro o Memorial Caminhos da Soberania. Se o primeiro Memorial muitos só ficaram sabendo a poucos dias o que seria, o segundo quase ninguém ouviu falar. Pois no mesmo ano fatídico de 2008, durante o governo Fogaça, saiu a Lei nº 10.390, de 22 de fevereiro, que autorizou o Executivo Municipal a conceder uso de área situada na Subunidade 01 da Unidade de Estruturação Urbana (UEU) 1044 da Macrozona (MZ) 01 à Fundação Caminho da Soberania, para a implantação do Memorial Caminho da Soberania, para abrigar acervos dos líderes trabalhistas Leonel Brizola, João Goulart e Getúlio Vargas.


LONGE DOS OLHOS DA POPULAÇÃO
Tal concessão de uso terá vigência de 60 anos, prorrogável por igual período. A área concedida tem 23.255,80m², equivalendo a vários estados de futebol e fica no quarteirão formado pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva e o Lago Guaíba, tendo como limite a Nordeste a Avenida Edvaldo Pereira Paiva numa extensão de 400 metros. Ou seja, é na beira do rio, ao lado do Anfiteatro Pôr do Sol. O presidente do conselho diretor da Fundação Caminhos da Soberania é Vieira da Cunha (PDT). O mesmo que teve a ideia do Memorial Luiz Carlos Prestes.
Isto tudo foi feito longe dos olhos da população, entre gabinetes de poder, entre vereadores e prefeitura, que acabaram por, de certa forma, privatizar partes da Orla de Porto Alegre para projetos de partidos políticos. Cada um com seu Memorial, fazendo propaganda da sua ideologia. De um lado os comunistas e de outro os trabalhistas. Porto Alegre merecia destino diferente.


MEMORIAL EM HOMENAGEM A TODAS AS VÍTIMAS
Cabe agora refletirmos como os espaços públicos da cidade são ocupados e com qual destinação. A sociedade não foi ouvida em relação a construção deste memorial da vergonha e nem em relação a concessão do outro terreno ao PDT. Caberia aos vereadores a sensibilidade de destinarem este prédio e o terreno a fins mais nobres, como um Memorial em Homenagem a TODAS as Vítimas de Regimes Totalitários.
Queremos que os vereadores se manifestem e façam a redestinação do prédio, transformando-o em um memorial mais “plural e democrático”. 

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