• Karim Miskulin
  • 05 Favereiro 2018

 

Esta semana, o Rio Grande do Sul terá a oportunidade de iniciar o processo de reconstrução do Estado. A convocação extraordinária da Assembleia Legislativa para votar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal pode não ser a única, mas é a oportunidade real para iniciar um já atrasado processo de enxugamento estatal. Uma medida prioritária para a saúde financeira do RS e das milhares de famílias de servidores públicos que sonham em ver os seus salários em dia.

Mas, afinal, porque ainda há dúvidas sobre a aprovação da proposta? A quem interessa inviabilizar o pagamento do funcionalismo ou o retorno dos investimentos em infraestrutura, saúde e segurança? A quem interessa não permitir que o governo venda estatais que só trazem prejuízo aos cofres públicos e a cada um de nós? Em suma: a quem interessa impedir o progresso do Estado? Deputados, não podem ser os senhores.

É hora de deixar de lado as guerras políticas que têm acumulado perdas para todos nós. As disputas ideológicas apenas nos levaram para trás. Olhem o exemplo do nosso estado vizinho, Santa Catarina. Unido, não para de avançar.

Chega de colocar os interesses partidários e corporativistas acima dos interesses de todos os gaúchos. Nós merecemos a chance de ir adiante e de ter o nosso orgulho de volta. Merecemos resgatar a autoestima que nos foi tirada com anos de descaso e irresponsabilidades com a coisa pública.

Não por acaso o Rio Grande do Sul é um dos estados mais endividados do Brasil, beirando a falência. A culpa é de todos nós, que permitimos que o Estado chegasse a este ponto de descontrole fiscal. É também dos senhores, pois cabe ao Parlamento, além de legislar, fiscalizar as ações do Executivo.

Já tivemos vários governos, de diversos matizes, que não conseguiram resolver o desequilíbrio financeiro. Alguns, inclusive, o agravaram. É hora de dizer basta. O projeto de privatização da CRM, Sulgás e CEEE – esta com um passivo trabalhista que beira o abismo – é a oportunidade que temos para iniciar um longo projeto de reestruturação do Estado.

Se a questão for política, lembrem: votar contra o projeto dessa gestão será votar a favor da inviabilização do mandato dos próximos governos, sejam eles quem forem. Um futuro promissor para o Rio Grande, para nossas empresas, para nossos jovens e filhos, deve começar a ser construído agora. Depende dos senhores.

 

 

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  • Ives Gandra da Silva Martins
  • 03 Favereiro 2018

 

Qualquer analista imparcial, não comprometido com o gozo de benefícios e privilégios “autoassegurados”, em Brasília, percebe que, se políticos e burocratas não mudarem a mentalidade, o Brasil será o mais forte candidato a reeditar o drama venezuelano, em médio prazo, no cenário mundial.

Não discuto, neste breve artigo, a idoneidade dos membros dos tribunais superiores e do Ministério Público, aparentemente não contaminados pela avalanche de investigações, denúncias e condenações que atingiram os componentes dos outros Poderes, até porque, sendo o Judiciário um Poder técnico e o Ministério Público uma função essencial à administração da Justiça, seus integrantes são, na expressiva maioria, aprovados em duríssimos concursos, em que o exame de seu passado ético sofre também severa avaliação. Participei da banca de três concursos de magistratura (aprovamos, ao todo, menos de cem magistrados nos dois concursos federais e no do Estado de São Paulo, entre seis mil candidatos). Sei, portanto, do rigor e das dificuldades que lhes impusemos para conhecer sua competência e sua vocação.

Todavia tais instituições – que são técnicas, e não políticas –, ao arrepio da Lei Suprema, passaram a entender que poderiam substituir os poderes políticos dos governos, neles interferindo, como se legisladores ou executivos fossem.

O Brasil só sofreu o terceiro rebaixamento no grau de investimento, por importante agência de rating, por força da paralisação das reformas, cujo principal responsável foi o antigo procurador-geral da República. Numa nação em que a escandalosa carga tributária beneficia fundamentalmente os burocratas e políticos, sem reverter, em benefício do povo, serviços públicos na proporção de sua cobrança, é de estarrecer a decisão monocrática de respeitado ministro da Suprema Corte que autorizou aumento do funcionalismo federal que fora suspenso pelo governo em face do acentuado déficit das contas públicas.

Em outras palavras, o Brasil passou a ser um país menos confiável para receber investimentos pela incapacidade dessas autoridades de perceber que o que gera tributos (para poderem continuar nos seus postos), cria empregos e produz desenvolvimento são os investimentos, que o governo não tem recursos suficientes para estimular nem prestígio internacional para receber na proporção que a grandeza do Brasil merece.

Por outro lado, os participantes dos governos anteriores, que colocaram assaltantes públicos em empresas estatais, causando prejuízos monumentais por corrupção e incompetência na Petrobrás, no BNDES e em outras entidades públicas sustentadas pelos contribuintes brasileiros, além de provocarem inflação de dois dígitos, desemprego acentuado, PIB negativo, recessão, queda na balança comercial e monumental atraso na eventual inserção brasileira no comércio internacional, protagonizando um populismo deletério e corrosivo, continuam lutando para impedir as reformas saneadoras! E desafiam a Justiça do País, apoiados por notórios violadores da lei, especialistas em promover invasões de terras e de prédios, sob a alegação de que o “direito” por eles ditado é que deve prevalecer sobre o que foi aprovado pela Constituinte ou pelo Poder Legislativo. Investigada senadora da República, defensora no Brasil do ditador Nicolás Maduro, chegou a dizer que, se Lula for condenado e preso, haverá mortes!

Infelizmente, todo este cenário de desajustes, em que bons e maus se unem para impedir o avanço das reformas necessárias, objetivando garantir seus privilégios, concentra-se na capital do País, cidade absolutamente divorciada da realidade brasileira e em nada semelhante à de um país como, por exemplo, a Suécia, onde os magistrados da Suprema Corte vão de bicicleta ou de trem para o tribunal, o que não se vê no Brasil.

Quem estuda a Revolução Francesa se impressiona com a alienação da corte de Luís XVI sobre a realidade francesa, que resultou, em 1789, na insurreição e, dois anos depois, na derrubada do próprio Luís XVI e de sua corte, quando se instalou a denominada Era do Terror. O comportamento pessoal de Maria Antonieta e Luís XVI, mesmo na prisão, antes do cadafalso, foi de muita dignidade, lembrando que há pedido de reabertura do processo de beatificação de sua irmã. Mas foi sua brutal insensibilidade ante a realidade francesa – a frase atribuída a Maria Antonieta “se o povo não tem pão, que coma brioches” é paradigmática – que levou à queda de todo um regime, abrindo espaço aos desmandos, à execução de Robespierre e ao domínio posterior de Napoleão.

A corte de Versalhes estava distanciada da realidade francesa, como a corte brasiliense de burocratas e políticos está distanciada das necessidades brasileiras, pouco sensível ao alerta de especialistas no sentido de que, se tais reformas não vierem, o Brasil dificilmente sairá da crise, apesar de alguns resultados positivos do atual governo, não obstante as resistências, com inflação abaixo da meta (menos de 3%), PIB positivo, juros bem inferiores aos do período Lula-Dilma, emprego em alta, maior saldo da balança comercial, etc.

Quando, como mostrou Ruy Altenfelder em artigo neste jornal, a média de pagamentos previdenciários para os servidores públicos da União está em torno de R$ 15.800 mensais e para o povo, que sustenta tais benefícios (regime geral), é de R$ 1.900 – nenhuma diferença é tão grande em todos os países desenvolvidos ou emergentes de expressão –, é de perceber que a elite brasiliense, como a corte de Luís XVI, é hoje o principal obstáculo a que o Brasil progrida. A ela se acresce o populismo daqueles que levaram o País, no passado, ao caos econômico e à corrupção deslavada.

“Quousque tandem abutere patientia nostra?”, diria Cícero à corte brasiliense, se vivesse no Brasil de 2018.


* Presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-Sp
** Publicado originalmente no Estadão (24/01/2018) 

 

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  • Alexandre Garcia
  • 02 Favereiro 2018

 

O lúcido Fernando Gabeira escreveu no Estadão que “o Brasil livrou-se de um populista em 2018. Mas não se livrou do populismo.” Essa tem sido uma praga latino-americana e uma praga brasileira. Começou na ditadura Vargas e o getulismo sobreviveu por anos, até que as gerações passassem. Getúlio era o “pai dos pobres”, mas também a mãe dos ricos. Sabia que riqueza, para ser distribuída, empregos e salários para serem para todos e valorizados, teriam que partir das folhas-de-pagamento da indústria, do comércio, de empresas fortes e não maltratadas pela burocracia e pelos tributos. O estado que tentar distribuir riqueza, apenas a tira de todos para dar a alguns. E dando, humilha e vicia.

Lula e seu PT tentaram copiar Vargas, mas desandaram na corrupção quando passaram a ter o poder. E em vez de ser para todos, o poder foi exercido para favorecer o partido e o sindicalismo a seu reboque. O triplex de Guarujá - que vai ser leiloado - e o sítio em Atibaia são apenas pequenos sinais da estarrecedora ocupação do estado brasileiro, com privatização do poder por Lula e seus seguidores e aliados como Sarney, Renan e Maluf. Os grandes empresários amigos, empreiteiras e banqueiros, tiveram todos os favores, mas não a pequena e média empresa, assim como o pobre - que viajou de avião, mas não teve saneamento, escola e hospital.

Foi um longo período - quase do tamanho da ditadura Vargas - no qual os fins justificaram os meios. Agora acabou, com o julgamento em segunda instância. Virão outros processos, com igual abundância de provas. E, com certeza, virão outras condenações. O PT errou na estratégia e não se preparou para isso. Ficou um partido com dono - Lula, caudilho bem típico latino-americano. Errou na tática ao bater na Justiça e errou na estratégia ao ficar dependente, como xifópago de Lula. Sem outra liderança, Lula preso também prende do PT. Desgastado pelo mensalão e pelo petrolão, o partido só venceu no Acre a última eleição para prefeito de capital, e partidos de esquerda não querem formar chapa com o PT na eleição presidencial. Lula já não empolga ao viajar pelo Nordeste nem atrai multidões quando julgado em Porto Alegre.

Lula se vai e deixa herança. Depois de Dilma ficaram 13 milhões de desempregados, recessão nunca vista, inflação de dois algarismos, insegurança pública à razão de 170 assassinatos por dia, saúde pública quebrada, uma regressão social impressionante, maior diferença entre pobres e ricos - e seus seguidores ainda queimando pneus, invadindo; senadores rasgando seu juramento de guardar a Constituição e as leis. Depois dos governos petistas, um abismo tecnológico se abre entre o Brasil e os países que há 40 anos estavam longe, atrás de nós, como China, Coreia do Sul e Índia. O mais chocante é a crise ética, a lei das selvas, o vale-tudo. Assim como se institucionalizou a corrupção, assim se espalhou a falta de cidadania e a incivilidade. Como eu disse no Bom Dia Brasil de segunda-feira: ou nos vacinamos contra isso tudo ou vamos acabar como nossos primos primatas, vítimas da febre amarela. O voto pode ajudar a nos proteger contra a febre do populismo.
 

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  • Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 01 Favereiro 2018

 

  Ao manter, por unanimidade, a condenação imposta pelo juiz federal Sérgio Moro ao ex-presidente Lula da Silva, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região proferiu um julgamento memorável que foi assistido por milhões de pessoas. Tudo com abundante transparência, notória serenidade e estrita obediência aos ritos e códigos vigentes.

  Quem o acompanhou via internet, pelo rádio ou na televisão, pode observar que os acusados, através de seus defensores, e a acusação, tanto pelo procurador da República com assento na 8ª Turma quanto pelo assistente de acusação constituído pela Petrobrás, realizaram suas sustentações orais sem qualquer embaraço.

Na sequência, os desembargadores proferiram seus votos. Aliás, votos minuciosos e amplamente fundamentados, inclusive em precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça para demonstrar a inarredável convicção de cada julgador acerca dos crimes imputados ao ex-presidente. A tal ponto que só o voto do relator se estrutura em 430 páginas.

A primeira pergunta decorrente a partir do histórico veredito se repete: o ex-presidente poderá concorrer em 2018? Consoante o texto da Lei Complementar nº 135/10, redigida em bom vernáculo e popularizada como da Ficha Limpa ou Ficha Suja, repetidas vezes interpretada tanto pelo Tribunal Superior Eleitoral quanto pelo Supremo Tribunal Federal, aquele que for condenado por um órgão colegiado (como a 8ª Turma do TRF4) pela prática de crime de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, fica inelegível a partir da publicação da decisão, independentemente de recursos endereçados ao STJ ou ao STF buscando a reforma da pena.

Por conta disso, perante o regramento vigente e sua estável jurisprudência no âmbito dos tribunais superiores, quando o acórdão condenatório for publicado oficialmente pelo TRF4, estará tipificada uma inelegibilidade que impede Lula de concorrer a qualquer cargo eletivo no território nacional.

Outra: se é certo que o questionamento acerca da possibilidade (ou não) da sua cogitada candidatura ocorrerá somente quando (e se realmente) a mesma for requerida junto ao TSE, também é inequívoco que a avaliação daquela pelo plenário tende a ser célere e sem maiores diligências, posto resumir-se a uma questão de direito, e não de fato. Neste sentido, calha sinalar que em 28/11/2016 o TSE decidiu questão similar repetindo um entendimento lá fixado no mínimo desde 18/11/1996.

Assim, mesmo que um candidato cujo registro esteja sub judice possa efetuar atos de campanha, não há garantia liquida e certa de que numa eleição de porte presidencial o seu nome, número e fotografia sejam permitidas indefinidamente. O TSE pode limitar isso.

Embora cause rebuliço, dado que vários personagens fantasiados de adultos (alguns deles investidos em mandatos) sejam hostis à legalidade pregando desobediências e incitando à desordem (ambos, aliás, delitos expressamente previstos no Código Penal), uma eleição sem a presença de qualquer ex-presidente condenado criminalmente na forma da lei é algo amparado pelo Estado Democrático de Direito e materializado pelas normas disciplinadoras dos processos penais e eleitorais do país.

Até porque, ao menos em terras minimamente civilizadas, seria no mínimo bizarro que alguém severamente punido por crimes daquela gravidade indicasse o ministro da Justiça, o Procurador Geral da República, o Advogado Geral da União, candidatos aos tribunais superiores e por aí afora.

Resumindo e encerrando: sem registro de candidatura, não há votação válida; sem votos válidos, não ocorre diplomação; sem diploma na mão, não há posse de ninguém, em nada.


• Advogado e professor de Direito Eleitoral 

**  Consultor da Comissão de Direito Eleitoral da OAB / Nacional

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 01 Favereiro 2018

 

O Partido dos Trabalhadores sempre foi uma ilusão. Prometeu ser o partido mais ético do mundo, aquele que vinha para mudar o que havia de sujo na política, mas aperfeiçoou e levou a extremos nunca vistos a corrupção.

O PT criou uma figura populista, boa de lábia, adestrada em lides sindicais. A criatura foi endeusada, chamada de estadista e, simultaneamente, de pobre operário. Entretanto, Lula da Silva sempre foi uma farsa. Simulou ser de esquerda, mas deixou de lado a ideologia e enveredou pelo pragmatismo optando pelo lado de cima. Deu migalhas aos pobres chamando isso de inclusão, enquanto convivia muito bem com empreiteiros, banqueiros, grandes empresários. Pretendeu ser o líder da esquerda latino-americana e, para isso, cumulou os hermanosesquerdistas com recursos do BNDES, ou seja, do povo brasileiro, mas o líder da esquerda nessa parte atrasada do mundo que se destacou depois do então doente e decrepito Fidel Casto foi Hugo Chávez. Dois déspotas que, em nome da esquerda conduziram seus países à desgraça, como, aliás, Lula e o PT nos conduziram.

Lula, os companheiros petistas, os amigos do lado de cima, os políticos, que se não primavam pela virtude entraram também de modo exacerbado no roubo da coisa pública, foram longe demais. Contudo, não contavam com o fato de que as circunstâncias mudam. Sobretudo, não imaginavam o surgimento de uma novidade muito importante observado pelo jornalista Azevedo do Correio Brasiliense. Disse este, que enquanto a cúpula política não mudou e segue envelhecida mantendo os mesmos hábitos e comportamentos, uma nova elite (elite no sentido verdadeiro do termo que quer dizer produto de qualidade) surgiu no Judiciário composta por juízes, promotores, desembargadores, ministros. Acrescente-se que essa elite, nova também na idade, segue as escolas de Direito americana e inglesa, muito mais objetivas e técnicas.

Naturalmente, não se pode esquecer que permanecem no cenário jurídico os magistrados seguidores do Direito Romano, cultivadores dos discursos cheios de floreios. Eles são lentos nos julgamentos ou os protelam indefinidamente, descobrem ou criam brechas nas leis por onde a Justiça escoa.

Expoente da nova elite do Judiciário é o Juiz Sérgio Moro, que já pôs na cadeia mais de uma centena de larápios de colarinho branco e mandachuvas petistas. Com relação a esses casos nenhuma queixa do PT. Nenhum gesto de solidariedade de Lula em favor de seus fiéis companheiros ou dos amigos poderosos que interagiram com ele em falcatruas e o sustentaram nababescamente. Mas, por ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do Tríplex do Guarujá e condenando a 9 anos e seis meses de prisão pelo o juiz Sérgio Moro, tem desqualificado, insultado, ameaçado o magistrado juntamente com os companheiros.

Para piorar a situação petista, os três desembargadores do TRF4, João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus, representantes da nova elite do Judiciário, de modo eficiente, técnico, objetivo justo e legal, levaram Lula à lona ao confirmar unanimEmente a sentença do Juiz Moro, com diferença do aumento da pena: 12 anos e um mês em regime fechado. Com isso, Lula e o PT ficaram mais alucinados.

A partir daí Lula fica ou deveria ficar inelegível e ser preso. Mas no Brasil existem muitos tribunais, muitos recursos, muitos jeitos de burlar a lei e, certamente, o caso chegará ao Supremo Tribunal Federal onde se tem assistido a decisões que mudam ao sabor das circunstâncias, gambiarras judiciais para acertar certas situações, julgamentos de teor político e não legal, além da ingerência em atos que pertencem ao Executivo e ao Legislativo.

  Portanto, é nessa instância mais alta do Judiciário que Lula poderá se livrar de todos seus crimes, conforme afirmou a ré senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (Folha de S. Paulo, 29/01/2018) em que pese o ex-presidente ter chamados os ministros do STF de acovardados.

Apesar do resto de esperança, os petistas estão cada vez mais alucinados. A senadora ré fala em mortes se Lula for preso. O senador Lindbergh quer mais da “esquerda frouxa, sonha com um milhão de pessoas nas ruas para defender seu guru, aposta na violência. E o PT afirma que levará a candidatura do Lula até ás últimas consequências. Também se espalha o boato de que haverá convulsão social se o ex-presidente for preso. No fundo os petistas temem mesmo é não se eleger ou reeleger dada a desmoralização da sigla. Resta esbravejar e achincalhar a Justiça, especialmente a nova elite do Judiciário. Nada além de alucinações, bravatas, farsas.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
 

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  • Ricardo Bordin
  • 31 Janeiro 2018

 

A tônica da cerimônia de premiação dos melhores da música no ano, o Grammy, realizada domingo passado em Los Angeles, foi, a exemplo do que já ocorrera na entrega do Globo de Ouro recentemente, o combate ao assédio sexual perpetrado contra mulheres?—?mais ou menos como se Collor resolvesse nos passar um sermão contra a corrupção.

O“teste do sofá”, afinal de contas, sempre foi sabidamente uma prática corriqueira no meio artístico, solenemente tolerada durante décadas por aqueles expoentes da mídia que de tudo sabiam e poderiam, se assim quisessem, ter denunciado e revertido o quadro (como Oprah Winfrey e Meryl Streep, amigonas do peito do tarado produtor Harvey Weinste).

Sim, poderiam estas figuras proeminentes ter evitado o sofrimento de inúmeras vítimas, mas preferiram quedar-se caladas e seguir gozando de seus privilégios (para somente agora, depois de tudo vindo à tona, fingirem afetação e lucrarem chorando no púlpito).

Tudo foi temperado, claro, com uma generosa dose de ódio ao presidente Donald Trump, expressado das mais variadas e criativas formas (não que isto tenha sido bom para os negócios, visto que a audiência caiu 21% em relação ao ano anterior).

É claro que este evento não foi um ato isolado: ele está inserido em uma onda de acusações de sexual misconduct que vem tomando conta das capas de jornais na América. E a patrulha politicamente correta, como não poderia deixar de ser, já está fazendo de tudo para capitalizar em cima da dor alheia.

Nesta empreitada para amealhar poder, quanto mais melhor: já há casos de carreiras profissionais destruídas do dia para a noite por conta de revelações de abusos sexuais que teriam ocorrido há mais de trinta anos e muitas outras histórias de suposto machismo mal explicadas.

É o mesmo roteiro que observamos desenrolar-se sempre que a Esquerda resolve cooptar determinado segmento da sociedade como massa de manobra: queremos opor negros a brancos? Então qualquer traço de desigualdade será apontado como “racismo estrutural” a partir de agora, a fim de inflar o coro dos descontentes?—?prováveis eleitores, no caso; queremos opor homossexuais a heterossexuais? Então agora qualquer piadinha será vista como homofobia; e por aí vai o processo de dividir para conquistar.

Ou seja, aniquilar o senso de proporção das coisas é o primeiro passo desta estratégia de dominação, e não poderia ser diferente no caso do assédio sexual: se aqueles que se denominam “progressistas” querem chamar para si a defesa de um determinado grupo (e dele ganhar a simpatia e o apoio), quando mais elástico for o critério para fazer parte deste grupo, melhor para eles. Neste cenário, qualquer elogio, assobio, piscada ou até mesmo olhar pode virar atitude condenável típica do patriarcalismo.

O problema é que quando tudo é estupro, nada é estupro. O conceito resta banalizado de tal forma que sequer logra chamar mais a atenção do público em geral— exatamente como já ocorre com o racismo e a homofobia.

Há uma consequência não intencional deste movimento (conhecido na América como #MeToo), porém, que muito em breve se fará sentir no mercado de trabalho, e que consiste em (mais um) tiro no pé das mulheres disparado pelo movimento feminista: muitas empresas podem deixar de contratar empregadas por receio de processos por assédio sexual, como declarou o diretor de cinema Steven Soderbergh em entrevista recente.

Que dúvida que isso iria acontecer: já parou para pensar no tamanho da insegurança jurídica para um empregador se aceitarmos automaticamente como verdadeira qualquer acusação feita por ex-empregadas, décadas depois?, podendo resultar na ruína de seu empreendimento? Nem mesmo a Justiça do Trabalho representa risco tão grande, visto que o trabalhador tem até dois anos para acionar o Judiciário depois da rescisão contratual.

Existe, todavia, uma saída mais ou menos definitiva para este estado de coisas, mas ela não interessa muito àqueles tomados pela mentalidade anticapitalista: uma pessoa somente se submete a constrangimentos das mais diversas naturezas e a condições degradantes no ambiente de trabalho se não tiver outra opção para prover seu sustento.

Tipo assim: o que impede que a empregada que não aguenta mais o supervisor que a convida todo dia para ir ao motel simplesmente peça demissão e procure outro emprego? Simples: a incerteza diante da possibilidade de ficar desempregada.

A solução duradoura deste conflito, portanto, passa por estimular o empreendedorismo no país, especialmente cortando burocracias que travam investimentos e reduzindo impostos. Mais liberdade econômica implica em economia aquecida, que redunda em mais empregos, os quais consistem em mais oportunidades e opções de trabalho.

E é exatamente o que está começando a acontecer nos Estados Unidos sob a administração Trump: o desemprego da parcela feminina da população está no menor nível registrado nos últimos dezessete anos (a da parcela negra está no menor nível de todos os tempos).

Quer dizer, Trump está criando as condições econômicas necessárias para que mulheres, negros, gays, enfim, qualquer indivíduo que se sinta ofendido por seus colegas ou chefes possa conquistar sua alforria sem depender do governo, bastando partir para uma alternativa?—?e elas tanto existirão em bom número quanto mais o Estado eliminar barreiras ao setor privado.

A ironia das ironias: os apaniguados dos políticos Democratas, que tanto querem estrangular a iniciativa privada com dirigismo estatal e tributos escorchantes, vestindo preto em uma refinada festa, regada a muito luxo, para protestar pelas mulheres abusadas, sendo que as medidas governamentais que defendem só fazem expor essas mesmas mulheres ao primeiro emprego que milagrosamente lhes aparecer no horizonte— e daí aguente o que vier pela frente (na melhor das hipóteses) durante o expediente; ou isso, ou rua!

As protagonistas do #MeToo recentemente foram criticadas por artistas e intelectuais francesas. Essas alegaram, em seu manifesto, que aquelas deturparam por completo o movimento feminista de primeira onda. E não poderiam estar mais corretas: essas lutaram, em meados do século passado, pelo direito de trabalhar, dirigir e ter mais liberdade; aquelas só conseguem fazer as mulheres pagarem mais para entrar na balada, serem preteridas na entrevista de emprego e ficarem solteiras e depressivas por enxergarem nos homens inimigos mortais.

* Publicado originalmente em https://medium.com

 

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