(Pubicado originalmente no Diário do Poder)
“Não há terra mais dificultosa de governar que a pátria, nem há mando mais malsofrido, nem mais mal obedecido, que o dos iguais”. A frase é do Sermão da Dominga Vigésima Segunda depois de Pentecostes, pregado pelo padre Antonio Vieira “na ocasião em que o estado do Maranhão se repartiu em dois governos, e estes se deram a pessoas particulares moradoras da mesma terra” (Sermões, vol. VI, pág. 225).
Se não o foi, deve ser lido por Michel Temer e Carmen Lúcia, presidente da República e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cujas dificuldades de presidir e de mandar saltam aos olhos de quem acompanha o que se passa em Brasília.
O Dr. Michel Temer é conhecido pelas versatilidades que o fizeram deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e presidente da República. Logrou sobreviver à queda do governo Dilma Roussef, escapou de ser atingido pelo impeachment, e se safa das acusações do Dr. Rodrigo Janot, cuja aljava continha inesgotável número de flechas.
Pouco conhecida fora de Minas Gerais, a Dra. Carmen Lúcia chegou quase desapercebidamente à Alta Corte. Dedicada aos estudos, discretamente elegante, de poucas palavras, fala mansa, permaneceu longos anos protegida pelo anonimato. Tudo que se sabe dela é positivo, como o fato de ser exigente consigo e com os servidores que lhe prestam assistência. Superou galhardamente a sabatina a que se submeteu no Senado, graças à reputação ilibada e invejável saber jurídico.
A História recente do Supremo Tribunal Federal divide-se em dois períodos: antes e depois da transmissão das sessões, ao vivo, pela televisão. Confrontadas com o passado, a conduta dos novos ministros experimentou mudanças radicais. A modéstia deu lugar à vaidade, espartana simplicidade ao cuidado com a cabeleira e a gravata, o recato às explosões de temperamento, a economia de palavras à prolixidade, a cordialidade a pugilatos verbais como viram os brasileiros na sessão de 26 de outubro. De um lado iracundo ministro Gilmar Mendes e do outro o cordato, mas incisivo ministro Luís Roberto Barroso, tendo a presidente Carmen Lúcia ao centro impotente para contê-los. Foi deplorável. A televisão transmitia cenas inimagináveis no cenário da Alta Corte, com magistrados quase chegando ao desforço físico. Não foi a primeira vez que aconteceu e, pelo andar da carruagem, não será a última.
O Supremo e os Tribunais superiores estão acima de medidas corretivas. Quando exerci o cargo de Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho senti-me obrigado a afastar oito juízes (desembargadores) de determinado Tribunal Regional do Trabalho por quebra do decoro público. A medida foi referendada pelo Pleno do Tribunal Superior do Trabalho e restabeleceu a credibilidade da Corte perante os jurisdicionados.
Quem passou pela vida pública conhece o poder da televisão. Com a facilidade que tem para difundir boas imagens, poderá destruí-las. Não acreditem os senhores ministros que o STF conserva a credibilidade que mereceu em distante passado. Está prestes a igualar-se em descrédito ao Poder Executivo, à Câmara dos Deputados e ao Senado.
Pregava o mesmo padre Antonio Vieira que “o juízo dos homens é mais temeroso do que o juízo de Deus; porque Deus julga com o entendimento, os homens julgam com a vontade”. Recentes julgados do Supremo expressam julgamentos de vontade: vontade de absolver ou de procrastinar. “Quem julga com o entendimento pode julgar bem, e pode julgar mal; quem julga com a vontade nunca pode julgar bem”.
A presidente Carmen Lúcia carrega a responsabilidade de repor o Supremo no caminho de decisões fiéis ao espírito da Constituição, fundadas na ética e na moralidade, em harmonia com o anseio geral de combate à corrupção, que não cedam diante do nome, partido político e posição social dos acusados.
O destino do Estado de Direito democrático depende do STF. Não permita a Corte que o descrédito abra caminho para o retorno do regime autoritário, como aparentemente desejam os brasileiros revoltados contra a impunidade.
* Almir Pazzianotto Pinto é advogado; foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Autor do livro A Falsa República.
Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis.
A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus.
Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra.
Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela — e contra a Igreja — o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza.
Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a "justiça social" do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso.
Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.
Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma.
Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.
* Publicado originalmente no Jornal da Tarde, em 17 de junho de 2004
** Transcrito de www.olavodecarvalho.org
O vídeo da Prager University com tradução e legendas do sempre excelente site Tradutores de Direita, que você pode e deve assistir aqui, apresenta uma importante reflexão a respeito da influência britânica no mundo, coisa que a historiografia de viés esquerdista dominante no sistema de ensino descura, quando não reescreve a história adaptando-a a uma narrativa conveniente ao processo comunista dito 'revolucionário' cujo legado tem sido a opressão, a fome (vide a Venezuela e Ciuba) e os assassinatos em massa.
Portanto vale muito a pena ver este vídeo sintético mas que oferece de forma didática informações e reflexões fundamentais para entender os fundamentos da cultura ocidental que vêm sendo vilipendiados sobretudo no que diz respeito à questão moral. Aliás, uma velha tática da doutrinação comunista. Aliás, a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e eleição de Donald Trump nos Estados Unidos são dois eventos que se combinam e constituem os marcos fundamentais dessa batalha em defesa da civilização ocidental que postula manter seus fundamentos culturais, econômicos e políticos, justamente aqueles disseminados pelo velho Império Britânico.
Recomendo também que leiam o texto a seguir dos Tradutores de Direita comentando o conteúdo do vídeo. Informações como estas que jamais aparecerão na grande mídia, muito menos no deletério Fantástico, programa da Rede Globo especializado em promover a lavagem cerebral bundalelê imoral e pervertida. E não permitam que os cérebros de seus filhos sejam conspurcados pelo veneno esquerdista da mentira destilada pelas escolas. Leiam:
Um império surge quando uma nação domina várias outras. Muitas pessoas reagem imediatamente ao som desta palavra por associa-la a opressão, submissão, roubo, etc. A história revela que praticamente nenhum continente esteve imune ao surgimento dos império, nem mesmo a América, que conviveu com o Império Inca, Asteca e Maia. O tema deste vídeo da Prager University diz respeito a influência do Império Britânico e seu legado no mundo que, apesar das nuances, permitiu avanços extraordinários aos países que governou. Entender a influência do Império Britânico, que deixou suas impressões digitais nos territórios que controlou, decorre de entender a história da Inglaterra visto que tamanha influência e poder não poderiam ter existido se não fossem as sólidas raízes de sua cultura.
Talvez o primeiro grande marco para a liberdade tenha começado com a promulgação da Magna Carta, que conferia mais poderes aos aristocratas diante de um rei que tudo podia e que não pagava por seus erros. Mais tarde, na época da dinastia Tudor, o pais foi se consolidando religiosa e militarmente, atingindo por fim, o controle dos mares após derrotar a Incrível Armada espanhola, iniciando ai o seu período de colonização no além-mar. Um pouco mais adiante, as invasões napoleônicas que se alastraram ferozmente pela Europa foram barradas (por terra e mar) pelos ingleses, os únicos capazes de confrontar de igual para igual o exército francês. No entanto, na época, o ambiente cultural já criava raízes na Grã-Bretanha, garantindo o crescimento intelectual, que daria mais tarde origem a revolução industrial e a noção de livre mercado, fatores que mudaram não somente a história econômica do mundo mas também atingiram populações fora do âmbito do Império Britânico. Dentro deste período a veia abolicionista, cultivada por religiosos fervorosos, se tornou realidade, fazendo com que o Império Britânico fosse o primeiro no mundo a proibir a escravatura em seus territórios. A Inglaterra livrou tribos árabes do Império Otomano e acabou dando aval para a criação do moderno Estado de Israel. Lutou contra a opressão e teve um papel preponderante nas duas grandes guerras mundiais, acabando por ceder mais tarde a autonomia, ou liberdade, a vários de seus territórios pondo um ponto final a seu domínio imperial. Mesmo assim, alguns países preferiram permanecer debaixo do cetro da Inglaterra visto que o legado de liberdade já se fazia sentir, sem a necessidade de ressentimentos.
E quais foram essas impressões digitais que os britânicos deixaram por onde passaram? A construção de uma pesada infraestrutura (barragens, portos, estradas-de-ferro, rodovias, pontes, etc) que ainda hoje garantem o funcionamento de várias de suas ex-colônias. A influência da Common Law, cujo sistema permite uma mudança pratica e ativa da lei, que não fica somente nas mãos de reis ou parlamentos, mas também dos tribunais, cujo sistema de casos precedentes desburocratiza boa parte das decisões tomadas adiante. O legado político, filosófico e econômico, que se faz sentir ainda hoje, mesmo em países que estiveram fora de sua alçada. A noção de liberdade religiosa, individualismo e igualdade dos cidadãos perante a lei. A influência cientifica que abriu portas para uma revolução sem precedentes que ainda hoje nos tem guiado para novos mundos e ideias. E muito mais se pode dizer, visto que tentar encaixar séculos de contribuição em um pequeno post nunca fará justiça a rica história e o legado deixado pelos britânicos ao mundo. Não foi à toa que a língua inglesa se sobrepôs ao francês e ao latim com sua hegemonia cultural repercutindo no mundo até os dias de hoje e nesse vídeo, o historiador e autor H.W. Crocker III explica os motivos pelos quais devemos refletir sobre o que aprendemos a respeito do Império Britânico.
No princípio era o caos - a frase se aplica ao gênesis do governo Temer. Quando a presidente saiu, deixou inflação acima de 10%, 13 milhões de desempregados, recessão, descrença, falta de disposição de investir, só o agronegócio sustentando o país, com o comércio e a indústria perdendo produção e vendas. E em menos de ano e meio, o Brasil voltou a crescer, faz seis meses que cai o desemprego, aumentou o poder aquisitivo do assalariado, a inflação está em 2,5% ao ano, o superávit comercial vai bater recorde de 70 bilhões de dólares, os índices de confiança do consumidor, do comerciante e do industrial, na Fundação Getúlio Vargas estão em alta, a taxa básica de juros está reduzida a 7,5%, deixando os juros reais em 3% ao ano e, embora com tanta insegurança pública, os investimentos estrangeiros nos últimos 12 meses chegaram a 83 bilhões de dólares.
Meus amigos se perguntam “Que governo é esse?”. Eu perguntaria, como Francelino Pereira, que país é este? Paradoxal, pois sempre que a economia vai bem, o governo vai bem na opinião pública. Mas este praticamente, não tem popularidade alguma. Está com míseros 3% de aprovação - e menos de 3% de inflação e 3% de juros reais. Paradoxal. Ora, dirão que é a administração de Meirelles, o Ministro da Fazenda e de Ilajn Golfeinj, do Banco Central, mais o novo rumo que Pedro Parente dá à maior estatal, a Petrobrás - que já foi antro da bandidagem apurada pela Lava-jato. Mas quem segura essa barra é o Presidente, chefe deles.
Não ter aprovação popular é vantagem, porque faz o que é preciso, sem preocupação de perder o que não tem. O presidente Lula, quando recebeu de seu Ministro da Fazenda Palocci o projeto da necessária reforma da Previdência, em 2006, desistiu por ameaça das centrais sindicais de se mobilizarem contra o governo. Com medo de perder popularidade, Lula desistiu da reforma e o déficit se agravou geometricamente.
O ex-presidente disse agora, em sua campanha para 2018, que Temer gastou 14 bilhões para comprar a derrubada das denúncias de Janot. Boa parte da população acredita nisso, porque não sabe que emendas de parlamentares ao orçamento de 2017 têm que ser liberadas no mesmo ano. Nada que não estivesse no orçamento. A propósito, o Estadão mostra o cálculo do professor da FGV Carlos Pereira sobre os gastos políticos do governo com ministérios para partidos e emendas orçamentárias. Num índice de zero a 100 de custo da governança, Temer tem 15, Dilma chegou a 88 e Lula a 95. Conhecedor do Legislativo, Temer governa com o Congresso e vem obtendo resultados. Ano que vem, prevê o Banco Mundial, vai aumentar a onda de crescimento que já começou nas economias avançadas e nas emergentes. Isso reforça o impulso brasileiro. A previsão para o Brasil é de, no mínimo, 3% a mais no PIB, ano que vem. O Grande Eleitor de 2018 pode ser o crescimento e o emprego.
Toda cultura tem seu próprio estilo de conversação que muitas vezes inibe o diálogo genuíno. No Japão, por exemplo, a divisão de estudiosos e cientistas em universidades e institutos de pesquisa em senpai (idosos) e kohai (juniores) obstrui a busca da verdade através do diálogo. Um estudioso japonês ou cientista acha extremamente difícil discordar abertamente, mesmo com uma pequena observação feita por seu sênior. Qualquer oposição deve ser expressada de forma indireta.
Chie Nakane, um antropólogo social na Universidade de Tóquio, descreve um intercâmbio típico entre um senpai e um kohai: "Primeiro, quem for objetar deve apresentar uma longa avaliação da parte do trabalho do senpai em questão, usando termos extremamente honrosos e, em seguida, gradualmente, expõe sua própria opinião ou oposição em um estilo que dará a impressão de que sua oposição é insignificante... O ranking de senpai e kohai, portanto, sufoca a livre expressão do pensamento individual ". [1] Como resultado, cientistas japoneses ganharam cinco prêmios Nobel no século XX, o mesmo número que os cientistas na Bélgica, que tem um duodécimo da população japonesa. Um quarto dos cientistas do mundo são japoneses - mais do que Grã-Bretanha, França, Alemanha Ocidental e Itália juntos. No entanto, o governo japonês acredita que o trabalho de seus 490.000 cientistas está atrasado na América do Norte e na Europa em originalidade.
O estilo de conversação da classe alta bem educada na Inglaterra é o oposto do dos estudiosos japoneses. A antropóloga Ashley Montagu confessa que esse estilo foi concebido como um "inglês rígido e de camisa engomada, que considerava que qualquer exibição de emoção era de classe baixa. Exibir cortante sagacidade, não importa o quão desagradável fosse, quão desconsiderado fosse ao interlocutor, era um comportamento correto. "[2] Uma observação espirituosa exige uma resposta mais inteligente. Essa batalha de inteligência torna impossível o diálogo, embora seja frequentemente divertido testemunhar.
Alexis de Tocqueville observou que os americanos "nunca se inclinam a tomar a palavra do mestre na confiança, mas sempre tendem a procurar o lado fraco de seu argumento". [3] Na vida americana contemporânea, nenhum mestre é reconhecido e, de fato, os três grandes professores da humanidade - Buda, Sócrates e Jesus - são vistos como apenas três vozes entre muitos. De fato, se alguém apresentar um mesre a ser seguido, os americanos irão intencionalmente ignorar ou demitir essa pessoa, uma vez que chega de desigualdade. Por causa dos princípios da igualdade social que a maioria de nós tem assumido sem dar-se conta, não confiamos na autoridade de qualquer pessoa e temos um forte "desgosto em aceitar a palavra de qualquer homem como prova de qualquer coisa". [4] Quando ouvimos atentamente outra pessoa ou lemos atentamente o que um pensador escreveu, fazemos isso para identificar uma falha para a qual possamos dizer "não!", e dessa forma, nenhum interlocutor ou autor jamais será superior a nós.
Muitas vezes simplesmente não ouvimos coisa alguma; como indivíduos isolados e autônomos, não nos interessamos pelo que os outros têm a dizer, embora esperemos que eles nos escutem. Consequentemente, muitas conversas americanas não são mais do que uma série de monólogos.
Para nos envolvermos em um diálogo, devemos ser bons ouvintes, buscando ouvir uma perspectiva visão, por vezes formulada de maneira pouco clara até para quem fala; no entanto, pode haver ali conteúdo digno de exploração. Shunryu Suzuki, um Mestre Zen moderno, dá outro elemento-chave do diálogo: "Quando não pensamos em alcançar algo, quando não estamos interessados em nós mesmos, então somos verdadeiros aprendizes". [5] O diálogo nos coloca no caminho para questionamentos genuínos que inspiram a verdadeira aprendizagem. Se tivermos a abertura de um verdadeiro iniciante, então podemos descobrir que o que realmente conta é nunca ser dado por inequívoco. A realidade é estranha, incrível e mais profunda do que parece ser ao senso comum ou à formação cultural.
* O autor é Ph. D. em Física Teórica na Universidade de Michigan e colaborador de The Imaginative Conservative
** Tradução de Percival Puggina
Notas:
[1] Chie Nakane, Japanese Society (Berkeley: University of California Press, 1970), p. 34.
[2] Ashley Montagu, entrevista Dennis Wholey, descobrindo Happi-ness: Conversas pessoais sobre como tirar o máximo proveito da vida (New York: Avon, 1988), p. 37.
[3] Alexis de Tocqueville, Democracy in America, trans. George Lawrence (New York: Harper & Row, 1966 [1835, 1840]), p. 459.
[4] Ibid., P. 430.
[5] Shunryu Suzuki, Zen Mind, Beginner's Mind (Boston: Shambhala, 2006), p. 2.
Aos 9 de abril de 1865, o general Robert E. Lee encontrou o general Ulysses S. Grant na Casa McLean, em Appomattox, Virgínia, com o propósito de entregar a rendição do Exército da Virgínia Setentrional. Lee pedira pelo encontro e preparou-se endossando seu melhor uniforme: uma nova, longa casaca de colarinho alto, abotoada até o topo; um par de botas de cano longo com esporas; ao flanco, uma espada cravejada. Grant compareceu com seu traje rotineiro, o uniforme simples de um soldado comum: casaco curto e liso, botas sem esporas, todo salpicado de lama.
O contraste ao vestir acompanhou o contraste entre os homens: Lee era alto, de porte ereto e igual maneira. Barba e cabelos de um branco prateado circundavam sua face e perfilavam o vulto digno de um rei. Grant era mais jovem e dez centímetros mais baixo, algo encurvado e dotado de uma rala barba castanha. Ele estava claramente pouco à vontade na presença de Lee e, nervoso, tentou estabelecer uma conversação corriqueira. Grant disse lembrar-se ainda muito bem de Lee desde um seu encontro durante a Guerra Mexicana, quase duas décadas antes. Lee confessou não recordar coisa alguma da ocasião. Ouvir a resposta de Lee deve ter sido um momento embaraçoso para Grant.
Essa cena culminante da Guerra Civil Americana foi com frequência citada como o emblema de um divisor de águas históricas: a rendição alegórica do Velho Mundo, com suas personalidades régias, vínculos cavalheirescos e riquezas hereditárias, a um Novo Mundo personificado por Grant, um homem de origens humildes que repetidamente fracassara nos negócios e fez-se, finalmente, ao lutar na guerra (se bem que com esmagadoras vantagens em homens e materiais ao seu lado). E de fato foi assim.
Mas também foi mais. Menos notado é o descuidado desrespeito de Grant por Lee ao deixar de vestir-se apropriadamente para sua reunião. Escusas foram levantadas sobre Grant ter acorrido ao encontro às pressas, pressionado por negócios urgentes; por ter estado, naquela manhã, sofrendo há dias de enxaqueca, e que, consequentemente, “trivialidades” tais como uma própria vestimenta eram as coisas mais distantes de sua mente. Os admiradores de Grant chegam a apontar suas vestes rudes como uma insígnia de honra: aí estava o soldado duro na queda, o americano da fronteira, o verdadeiro democrata, cujo valor se encontrava em sua disposição interior, em sua perseverança, e não na superficialidade de seus trajes, preocupação efeminada de uma era afetada e decadente.
Mas as aparências importam. Quando estudante, o jovem George Washington certa vez realizou um exercício de cópia intitulado “Regras de Civilidade e Bom Comportamento em Companhia e Conversação”, baseando-o em um texto jesuíta do século XVI. No topo da lista de suas cento e dez regras, uma guia-mestra: “Cada ação feita em Companhia há de ser desempenhada com algum sinal de Respeito por aqueles que se encontram Presentes”. Essa máxima presidiu a cultura ocidental desde a Idade Média, exemplificada pelos modos corteses das classes elevadas, onde e quando quer que se encontrassem: dos cavaleiros do reino franco aos nobres elisabetanos, chegando à classe aristocrática do sul americano, por Lee e Washington representada. Aonde as classes altas conduzissem, as demais as seguiam. As boas maneiras comunicavam-se, de forma que o trabalhador comum, na Londres do século XIX, ao usar seus trajes de domingo, tentava emular os hábitos de seus melhores. Cartola e colete podiam ser batidos e de qualidade inferior, mas ele os portava altaneiro, nada obstante.
Hoje, a noção de que o cultivo de boas maneiras deveria ser parte essencial da educação pessoal foi perdida quase por completo. Ela parece ter morrido junto a sua maior defensora contemporânea, Emily Post. “As maneiras são a personalidade”, escreveu Post, “a manifestação aparente do caráter inato e da atitude que alguém tem perante a vida”. Provas de seu falecimento estão por toda a parte ao nosso redor: o uso aberto de linguagem chula pelas ruas, não apenas da parte de uma juventude desleixada e mal-educada, mas por bem-vestidos empresários de meia idade; a estridência em nossos ouvidos de algo equivocadamente tratado como música por seus adeptos desde as janelas dos automóveis; as curvas e mudanças de faixa por motoristas pouco afeitos à cortesia de dar sinal; a violação rotineira de nosso espaço pessoal por transeuntes sem qualquer pedido de desculpas, e, mais óbvio e espantoso, o horrível declínio nos padrões de vestimenta. Com efeito, camisetas, jeans e tênis tornaram-se indumentária padrão para adultos nas “sextas-feiras casuais” do mundo dos negócios, e, ainda mais sofrível, também nas missas de domingo. As pessoas se aventuram de suas casas, saindo a público em pijamas para seus afazeres das manhãs de sábado. Hoje é a classe mais baixa da sociedade a determinar os padrões dos trajes para todos os demais. Jovens adotaram versões exageradas de uniformes presidiários como roupa quotidiana, mormente calças por demais folgadas, vezes tantas usadas tão baixas que suas roupas íntimas (e mesmo o derrière) ficam expostos para todos verem.
A sociedade de boas maneiras começou sua agonia na América durante os anos 1960. O primeiro golpe letal foi-lhe desferido pela Esquerda radical, política e cultural, que pregava serem os paletós, os modos polidos e o asseio pessoal símbolos da opressão das classes médias burguesas. Por sua vez, trajar camisetas tingidas, jeans rasgados, chinelos de dedo, barba desgrenhada e cabelos despenteados sobre a face e a cabeça, ensinava a Esquerda, era a via para produzir a revolução igualitária que corrigiria as injustiças sociais.
A obra iniciada cinco décadas atrás pela Esquerda do espectro político foi exacerbada pela Direita anos depois. Grandemente em resposta às gélidas formas do que ficou conhecido como “politicamente correto”, imposto pelos radicais nos campi universitários, direitistas libertários, a partir dos anos 1990, adotaram o mantra de que “ninguém tem direito a não ser ofendido”. Em uma transformação decisiva do antigo adágio libertário sobre o direito de alguém terminar no direito de outrem, esses novos libertários alegavam que sua liberdade de expressão era completamente independente das sensibilidades religiosas alheias ou do apropriado senso de decoro. Portanto, pornografia, sátiras ultrajantes das crenças religiosas e linguagem grosseira eram aceitáveis em praça pública. A quem se ofendesse por tais coisas, esses libertários pregavam ser problema do ofendido, não do ofensor. Com efeito, os libertários arguiam que seu direito de vomitar o que quisessem pela palavra escrita e falada não era limitado pelos olhos e ouvidos alheios. Diziam aos ofendidos: “—Você que se vire!”
Assim os inimigos das maneiras, tanto à Esquerda quanto à Direita, juntos constituíram os Jacobinos de nossos dias, determinados não apenas a derrubar um sistema injusto de governo, mas a obliterar o próprio tecido social, destruindo para tanto todos os padrões de decoro. Este paralelo com a Revolução Francesa aproxima-nos ao pensamento do grande estadista anglo-irlandês Edmund Burke, para quem os Jacobinos da França estavam, acima de tudo, lançando um assalto às “maneiras”. Por “maneiras”, aqui, Burke entendia algo mais amplo que aquilo hoje entendido. Algo próximo ao costume. Para Burke, os costumes eram quase sinônimos de civilização. “As maneiras são mais importantes que as leis”, escreveu ele. “Maneiras são o que nos atormenta ou apazigua, corrompe ou purifica, exalta ou rebaixa, barbariza ou refina, por uma constante, determinada, uniforme, imperceptível operação, como aquela do ar que respiramos”.
Maneiras – e a própria civilização –, Burke sustentou, dependiam de duas coisas: a religião e o “espírito dos cavalheiros”. Robert E. Lee acreditava no mesmo. Como presidente do Washington College nos anos seguintes a Appomattox, ele reduziu as regras da escola a uma única frase: “Cada estudante deve ser um cavalheiro.” Para Lee e para Burke, um cavalheiro era aquele que demonstrasse virtude cristã, como a incorporada no código medieval de cavalaria, um elaborado sistema de comportamento adequado para com os outros – maneiras no sentido estrito do termo.
A qualidade da humildade cristã reside na raiz da cavalaria. Um cavaleiro cavalheiresco (a palavra “cavalheirismo” compartilhando com “cavaleiro” a mesma raiz, como no francês “chevalier”) humilha-se em sociedade perante todos os demais. Eis como estava vinculado por obrigações não apenas a seu senhor, seu superior, mas para com os mais fracos, especialmente as mulheres, cuja virtude inocente era sua missão proteger, e também para com os pobres, cuja frágil condição era obrigado a aliviar. Basta lembrar de São Martinho de Tours, que famosamente cortou metade de sua capa militar para dar de vestir a um homem que nada tinha. Adotar uma filosofia de individualismo, pela qual é rejeitado o zelo sobre os outros, teria sido inimaginável para o cavaleiro cristão.
É preciso ter em mente quão únicas foram a noção cristã de humildade e sua idéia correlata de cavalheirismo ao longo da história mundial. No antigo mundo pagão, por exemplo, a humildade era considerada um sinal de fraqueza. Igualmente, em muitas sociedades modernas não-cristãs, é esperado dos superiores que sejam rudes com seus subalternos, assim mantendo cada qual em seu devido lugar. Os poderosos, em muitos tempos e lugares, impuseram brutalmente seu jugo como forma de manter o status quo.
Mas o cavalheirismo cristão, Burke acreditava, “faz o poder gentil” e servia para “embelezar e amenizar a sociedade privada”. Ele harmonizava as relações humanas. Sem ele, a sociedade só poderia manter-se pela força bruta e pela racionalidade fria. Ido andaria o calor das corteses relações humanas, corrompida estaria a moral dos homens, e todos seriam reduzidos a escravos.
É claramente impossível delimitar o momento exato quando o declínio do cavalheirismo e das boas maneiras teve início no Ocidente. Burke por certo encontrou o processo bastante avançado na Europa aos tempos da Revolução. “A era do cavalheirismo é finda”, escreveu Burke nas suas Reflexões sobre a Revolução em França. “Aquela dos sofistas, economistas e calculistas há triunfado, e a glória da Europa foi extinta para sempre”. Talvez, na América, o brusco declínio das maneiras tenha começado mais tarde, em um humilde lar ao centro-sul da Virgínia, onde o último cavalheiro do Velho Mundo deitou sua espada em derrota, dando lugar à Nova Ordem Mundial de governo centralizado, capitalismo de compadres e de um narcisista Homem Novo, cuja preocupação principal viria a ser o lucro e a felicidade pessoal, não a piedade e a preocupação humilde pelos demais.
* Tradução de Leonardo Faccioni
** Publicado originalmente por The Imaginative Conservative
*** Reproduzido de http://www.leonardofaccioni.org/