• Geraldo Samor, Brazil Journal
  • 09 Junho 2018


 O dólar a R$4 e outras 'calamidades'

É desagradável ter que dizer — e para muitos de nós será difícil aceitar — mas merecemos esse dólar a R$ 4 e tudo o que ainda está por vir.

Merecemos os preços convulsionados que estão aí, a dúvida sobre o amanhã, as telas vermelhas mostrando que nossas casas, empresas e salários valem menos.

Enquanto o mundo trabalha para ganhar competitividade, insistimos em manter a eletricidade estatal. Enquanto o mundo avança no carro elétrico, batemos o pé no 'petróleo é nosso'. E, mesmo quando acertamos, conseguimos botar tudo a perder: inventamos o etanol como um substituto em larga escala para a gasolina, mas destruímos nossa invenção e, em pleno 2018, fazemos coisas pornográficas por um diesel mais barato.

Merecemos a pobreza relativa face o resto do mundo. Somos uma colcha de conveniências setoriais travestida de projeto de País. Somos a pátria em que todos têm que ganhar sempre, e por isso estamos destinados sempre a perder.

Agora mesmo, tergiversamos na reforma da Previdência, mesmo que o envelhecimento do País e o Estado quebrado sejam realidades objetivas, não uma questão de opinião. E, como somos incorrigíveis, mesmo se tivéssemos passado a reforma, ela teria sido meia-boca, meia bomba, chutando a latinha para a próxima esquina.

Ninguém no Brasil quer pagar o preço — então todos pagaremos juntos, da forma mais democrática possível: empobrecendo em dólar, sofrendo de inflação alta ou de juro alto (Deus nos livre, quem sabe as duas coisas).

Michel Temer merece o dólar a R$ 4. Enquanto Presidente, fez muito para avançar uma agenda mínima de reformas, mas suas limitações pessoais e bagagem histórica fizeram dele um homem insuficiente para uma travessia delicada. Desde o primeiro instante, o Presidente precisava de uma dose cavalar de humildade, abrindo mão de qualquer crédito pessoal para avançar o interesse do País. Os fatos mostram que era pedir demais.

Rodrigo Maia e o Congresso Nacional merecem o dólar a R$4. Jovem, ambicioso e poderoso, o Presidente da Câmara ajuda "no que pode", mas tinha que trabalhar em dobro. Será que não há na Câmara projetos que facilitem a vida do empreendedor? Que simplificam a burocracia no Brasil? Que atraiam mais capital externo para conter o dólar? Onde está o sentido de urgência? Ou Rodrigo Maia lidera o baixo clero, ou... Poder para quê?
Muitos empresários merecem o dólar a R$4. Muitos vivem em Brasilia pedindo uma isenção aqui, um exceção ali, uma proteçãozinha acolá. O Brasil tem uma lista de subsídios que rivaliza com a Bíblia — não na santidade, mas no número de páginas.

E todos nós, o povo brasileiro, merecemos. É verdade que ainda não votamos, mas tudo indica que estamos prestes a eleger um de dois candidatos extremos, unidos (ironicamente) por uma crença comum: que a vida econômica tem que ser organizada pelo Estado, que a Petrobras é 'estratégica', que precisamos de DOIS bancos estatais gigantescos... enfim, todas aquelas ideias que sempre sabotaram o povo brasileiro, mas ideias que o povo brasileiro insiste em eleger.

Em momentos de crise como agora, as pessoas que dizem não entender de economia falam em 'especuladores' e compram teses conspiratórias.

Mas para achar os verdadeiros culpados, basta um espelho. Quem faz o preço do dólar e dos juros é quem tem capital. O mercado é nada mais que a soma de pequenos poupadores, grandes investidores e gente que trabalha para ambos. Entre aplicar o dinheiro a 6% ao ano e ficar nesta bagunça chamada Brasil ou receber 3% e ficar numa moeda forte, o capital cada vez mais vai dizer 'bye bye Brazil.' Nada pessoal. Eles fazem apenas o que todos fazemos o tempo todo enquanto País: cada um olha o seu próprio interesse.

Num evento recente, o economista Marcos Libsoa descreveu com a simplicidade necessária a dinâmica da greve dos caminhoneiros — o verdadeiro estopim de tudo o que aconteceu esta semana, e que ainda vai render muita dor de cabeça.

Segundo Lisboa, os caminhoneiros disseram: "Olha, o diesel subiu, mas eu não quero pagar essa conta não. Você paga pra mim?"

Agora, quando o dólar a R$ 4 fará subir mais ainda o preço do petróleo e de tudo que é importado, todos pagaremos a conta: quem bebe cerveja e quem come pãozinho, quem usa transporte público e quem queria comprar um pacote pra conhecer o mundo.

Já o caminhoneiro terá seu preço garantido por todos nós. Por quê? Porque aí é Brasil, mermão!

As coisas só começarão a melhorar quando nos dermos ao respeito, reformando nossas instituições e cuidando de nossa economia como cuidamos de nossos filhos. Aí sim poderemos merecer um dólar a R$ 2, e o mercado vai concordar.
 

* Publicado originalmente no Brazil Journal. Vale a pena conhecer, aqui.

 

COMENTO
Minha única discordância em relação ao texto acima é esta: nós pagamos tudo, sempre. Pagamos o subsídio que está sendo concedido ao diesel; pagamos o frete tenha ele o preço que tiver; pagamos o dólar alto; pagamos a inflação e pagamos o desemprego e o seguro desemprego  consequentes a uma economia que não cresce.

 

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  • Dagoberto Lima Godoy
  • 07 Junho 2018


No esporte do tênis, comete dupla falta o jogador que desperdiça duas vezes seguidas a vantagem do saque. No jogo da vida, a Assembleia gaúcha cometeu dupla falta ao não permitir a realização, junto com as próximas eleições, do plebiscito sobre a privatização de estatais.

Primeiro, recusou-se a ouvir a manifestação soberana da vontade popular, a única fonte legítima do poder democrático. Essa atitude reacionária compromete seriamente a legitimidade daquela que chama a si própria de “A Casa do Povo” e põe em cheque os mandatos dos deputados que se negam a ouvir os eleitores. Ah! Se tivéssemos aqui a figura do “recall”, do direito americano, que garante a possibilidade da revogação de mandatos eletivos por votação popular!

Em segundo lugar, reafirmou a visão equivocada quanto à função do Estado nas democracias modernas, da economia movida por empreendedorismo, capacidade de inovação e competitividade em escala global. A Assembleia reincide no atavismo positivista do século XIX, preferindo garantir votos de corporações dependentes de estatais de duvidosa competência, em lugar de apoiar os esforços de um governador corajoso para recuperar as combalidas finanças de um estado que só consome e nada investe para retomar o desenvolvimento.

Menos mal que não nos cassaram também o direito de votar em representantes mais esclarecidos e dispostos a ouvir e a respeitar, sempre, a vontade de seus eleitores.

* Cidadão gaúcho.

 

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  • Prof. Wilson Ferreira Cunha/ Jornal Opção
  • 06 Junho 2018

Trecho de uma entrevista do professor Wilson Ferreira Cunha (PUC/GO) ao Jornal Opção, em 24 de setembro de 2016.
O entrevistado, antropólogo, com formação pela antiga União Soviética, cientista político e professor faz duras críticas à educação brasileira e diz que os 13 anos da era PT à frente do governo federal levaram a educação brasileira ao atraso. Segundo ele, o lulopetismo institucionalizou um patrulhamento na Educação brasileira que pode ser comparado ao que viu quando estudou na União Soviética durante o período de Leonid Ilitch Brejnev, último ditador soviético.

“Começa pelos reitores das instituições federais de ensino e até das universidades particulares, que são atrelados aos programas obsoletos do Ministério da Educação. Há um “puxa-saquismo” geral nos meios da Educação. É preciso tirar isso, o que será muito difícil, porque é um sistema orgânico inserido na Educação brasileira, que vai levar uns 50 anos”, diz.

O sr. é historiador, antropólogo, cientista político. Na sua avaliação, como ficará a imagem do PT na história?

Vai ficar muito ruim, será uma marca desastrosa. Com o PT erigiram-se alguns paradigmas na Educação brasileira que precisam ser destruídos. Por exemplo, criou-se o pensamento de que trabalho em grupo é que movimenta o ensino no País. Ora, trabalho em grupo justifica a imagem de que na universidade tudo se copia e nada se cria e isso se institucionalizou. Na verdade, um aluno faz o trabalho e os outros integrantes do grupo assinam. Então, isso precisa ser extirpado do ensino brasileiro.

Outro dano é a postura crítica, entre aspas, que se sobrepõe à absorção do conhecimento. A crítica é só para aquele que pensa o contrário, não é a crítica que constrói o conhecimento. Outro ponto é a frouxidão e a permissividade em vez da disciplina e da cobrança do aluno. Quer dizer, o aluno é um frequentador de aulas, sem nenhum compromisso, nenhuma responsabilidade. Veja que isso não existia nem na ditadura, época em que pelo menos os alunos procuravam adquirir conhecimento. Hoje, temos o analfabeto virtual dentro da universidade, que não sabe escrever nem falar direito.

Outros absurdos (Wilson consulta um texto que trouxe): a prioridade das atividades chamadas sociais; os trabalhos fora do estudo persistente, que é ajudar a incluir. Essa lengalenga de ajudar a justiça social, entre aspas, se tornou quase um padrão de direcionamento da política educacional brasileira. E, penúltimo, a valorização de pesquisadores de banalidades. Vê-se que as teses de mestrado e doutorado de excelência no Brasil não chegam a 2%, isso é constatado pelo próprio MEC. Gente que fez mestrado e doutorado por fazer, como se fosse uma indústria, sem nenhuma qualidade, sem resultado e sem nenhuma utilidade. É um autêntico besteirol, um festival de besteira nacional a nível de ensino.

Por último, a palavra metodologia virou assim um suprassumo da sapiência, um mantra. Fala-se de metodologia e está tudo resolvido, em detrimento dos conteúdos. Não se pode ter metodologia sem conteúdo, senão vai haver esse tipo de aluno que é o pior tipo de estudante não só no terceiro grau, mas também nos ensinos fundamental e médio. (enfático) Tanto que o MEC, agora sob nova gestão, dobrou a carga horária no ensino médio; de 800 passou para 1,6 mil horas e, nos três últimos anos, o aluno terá de escolher uma das áreas de interesse dele. Já é uma mudança positiva no ensino brasileiro.

Marcos Nunes Carreiro – O sr. diz que, no período petista, a educação brasileira foi posta a serviço do partido?

Educação deveria ser uma das políticas prioritárias de qualquer partido que chega ao poder, porque não se faz um país sem educação de qualidade. Aliás, a educação no Brasil virou uma massificação, principalmente no ensino universitário. Veja que o lulopetismo instalou, em 13 anos, praticamente o mesmo número de universidades federais no País que havia nos 100 anos anteriores. O resultado é baixa qualidade e o malefício maior se dá principalmente na área da saúde. Há diversas faculdades de medicina que não têm estrutura adequada para proporcionar um ensino de qualidade.

Nem precisa ir às universidades para ver, basta ir aos hospitais, ao SUS. Ao lulopetismo interessa aquele reitor alinhado e aliado ao governo federal. Na eleição de Dilma Rousseff, todos os reitores de universidades federais manifestaram apoio a ela. Isso despolitiza e deixa desânimo na população, que está percebendo isso no bolso, no dia a dia.

Euler de França Belém – Fala-se em “entulho autoritário” da ditadura. E esse “entulho petista” vai durar quanto tempo?

Na educação, deve durar cinco décadas, porque são novas gerações que terão de vir para limpar isso. Esse entulho autoritário pseudomarxista-socialista-comunista tornou de esquerda a esmagadora maioria dos professores de história. Os livros e até as questões do Enade são tendenciosas.

Cezar Santos – Sobre isso, há livros didáticos aprovados pelo MEC para alunos do ensino fundamental que trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso e elogios à gestão de Lula.

Isso é uma estratégia política de permanência no poder a qualquer custo. A corrupção do PT veio para manter esse tipo de orientação ideológica.

Cezar Santos – A história desse período só vai poder ser lida com mais realidade quando historiadores não petistas começarem a escrever os livros de análise?

Claro, e observo que os não petistas hoje são perseguidos. Há uma patrulha enorme sobre as pessoas que contestam esse sistema de interesse político esquerdista, e são poucos historiadores e antropólogos que discutem isso abertamente. Quando fazem isso são imediatamente destroçados, alijados do processo. Para se ter uma ideia, o Departamento de História da PUC tirou do currículo a disciplina antropologia. E por quê? É uma postura ideológica, porque a antropologia não se filia a nenhuma corrente, é uma concorrente ao marxismo-leninismo, é uma disciplina que não interessa a isso. Aliás, não existe neutralidade em nenhuma disciplina. O grande historiador judeu francês Marc Bloch (1886-1944), que foi fuzilado pela Gestapo de Hitler, propõe uma história na busca de problemas, uma história problemática, digamos. Esse é o foco da história: levantar os problemas do passado para não repeti-los no presente. E esse pós-socialismo, principalmente no Brasil e em países latino-americanos, está querendo introduzir de novo ideias marxistas e socialistas que foram colocadas na prateleira. Hoje, nem os próprios russos as defendem, nem os chineses; sobram aí o Vietnam do Norte, a Coreia do Norte, Cuba e talvez Equador, Venezuela. Tudo isso querendo se contrapor a um movimento globalizante, capitalista, que é inexorável. Aliás, esses ditos esquerdistas adotam as benesses do capitalismo. Eu pergunto: por que eles não trazem os economistas desses países para instaurar um modelo deles? Mas é uma questão de estratégia usar o processo representativo democrático do Brasil e utilizar eleições, com falatório de inclusão, de justiça social, de igualdade, para espalhar ideias ultrapassadas e obsoletas.

 

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  • Alexandre Garcia
  • 05 Junho 2018

 

Há dias, a presidente de um dos poderes da República, a ministra Cármen Lúcia, afirmou, acacianamente, que “democracia é o único caminho legítimo”. Por que será que tantas vezes tantas pessoas importantes aqui no Brasil expressam essa obviedade? Não ouço políticos da Alemanha, ou da França, ou da Inglaterra, ou dos Estados Unidos fazendo apelos pela democracia. Para eles, democracia é tão básico quanto as fundações de uma casa. É a infraestrutura obrigatória para tratarem do que está em cima. Nós, jornalistas, aprendemos na faculdade, que notícia é algo raro, como um homem morder um cachorro. Mas a declaração da presidente do Supremo virou notícia naquele dia.

É que aqui não se sabe que democracia é ordem, respeito às leis, limite de direito até onde começam direitos dos outros - é castigo aos que saem da lei com atitudes anti-sociais, incivilizadas. Aqui se pensa que democracia é cada um fazer o que quer, bagunça geral, primazia do mais espertalhão. Chamamos políticos de ladrões, mas saqueamos até caminhão carregado de papel higiênico, como acaba de acontecer na Bahia, ou furtamos água de um serviço público, como acaba de se constatar em 2 mil casos neste ano na capital do país. São pessoas que na verdade estão furtando de quem paga as suas contas, como os sonegadores roubam não dos governos, mas dos outros contribuintes que arcam com peso maior.

O movimento dos camioneiros lançou um grito nacional por intervenção militar - espalhou-se mais rápido que os mesmos gritos que eu ouvia nas igrejas e ruas antes de 31 de março de 64. Perguntaram ao ministro general Etchegoyen sobre esse apelo e ele contou a anedota do bêbedo que havia perdido a carteira num beco escuro mas a procurava sob a luz do poste. “Aqui está claro e eu posso ver.” O general explicou que é clara a posição legalista do Exército; então a procura deve ser onde ainda está escuro. Se a gente procurar no beco vai perceber que é a busca da ordem e amor à Pátria e às leis, que os militares representam. O que perdemos - a ética, a força da lei, a organização, a paz, não teria sido por nossa complacência, nossa alienação, nossa participação e nosso voto?

Em outubro vamos votar. Escolher nossos representantes no legislativo e nos governos. Tem gente esperançosa de que isso possa mudar o país. Mas pense que há eleitores que são saqueadores de caminhão, ladrões de água, corruptos, desordeiros que estacionam em lugar proibido. Será que vão votar em alguém que lhes tolha o “direito” de serem anti-sociais? Será que o governador e o presidente vão ter legislativos sensatos e não fanáticos? A verdade é que a mudança precisa começar na base, nas nossas cabeças. Democracia pode exigir muito esforço de nós, até que este país se democratize. Mas, como disse a ministra Cármen Lúcia, não tem alternativa.

*Pubicado originalmente em http://www.sonoticias.com.br/coluna/em-alternativa
 

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  • Darcy Francisco Carvalho dos Santos
  • 02 Junho 2018

 

Diz um ditado popular que casa onde não há pão todo mundo grita e ninguém tem razão. Não é bem isso que acontece com o nosso Brasil, porque alguns poucos têm e mais do que o pão em demasia. Mas a muita gente não tem nem mesmo o pão nosso de cada dia.

Esse pão nosso vem do trabalho (escasso) que tende a aumentar quando aumenta uma coisa que os economistas denominam de PIB, ou produto interno bruto, que é o valor de mercado dos bens e serviços produzidos pela economia durante um ano. E o valor do PIB tem reflexo direto na arrecadação dos tributos que incidem sobre o consumo e a renda das pessoas. E, com esses tributos, os governos em todos os níveis pagam salários, compram bens e serviços e fazem investimentos, etc.

Mas nosso PIB tem crescido pouco ou decrescido nos últimos anos. A partir de 2012 tivemos os seguintes índices de crescimento para o PIB: 2012: 1,92%; 2013: 3%; 2014: 0,5%; 2015: -3,77%; 2016: -3,46% e 2017: 0,99%.

Igualando-se a100 o ano de 2011 e aplicando-se essas variações em cada ano, de forma cumulativa, conclui-se que somente em 2017 (com 0,99%) que chegamos próximo ao valor de 100% de 2011 (gráfico no final).

Com isso, podemos dizer que mesmo estando em 2018 (que deve crescer muito pouco), estamos vivendo com a produção de 2011, sete anos atrás! Nesse lapso de tempo, as despesas cresceram. Os beneficiários do INSS cresceram mais de 3% ao ano, em média; as aposentadorias do setor público cresceram a uma taxa ainda maior; e os servidores da ativa tiveram suas vantagens pagas em função do tempo de serviço. Só para ficar nesses exemplos, que implicam maior despesa.

Isso explica, em grande parte, porque 90% da carga tributária líquida do governo federal é absorvida pela seguridade social (previdência, saúde e assistência social), e com todas as carências conhecidas na área da saúde.

Indo mais um pouco, cumprindo na íntegra a destinação constitucional com educação, de 18%, chegamos a 108% (já faltam 8%).

Incluindo todos os Ministérios e secretarias (mais de 30), entre eles o de Transportes, onde se aplica muitas vezes menos do que se necessita; os Outros Poderes, com seus enormes salários; e os conhecidos desvios, formamos em 2017 um déficit primário de R$ 119 bilhões, que somados aos juros, R$ 341 bilhões, vai a R$ 460 bilhões, ou 7,02% do PIB.

Quanto maiores forem os déficits primários mais a dívida aumenta e, em decorrência, mais juros pagamos ou incorporamos à dívida.

Sem querer ser dono da verdade, deixo este artigo para reflexão.

*Publicado originalmente no blog do autor: http://darcyfrancisco.com/2018/06/02/estamos-vivendo-em-2011-na-economia/
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 01 Junho 2018

 


Será que já esqueceram? O projeto de lei que dá à corrupção o estatuto de "crime hediondo" não teve origem inocente, nem sequer decente: foi enviado à Câmara em 2009 por aquele mesmo indivíduo que, acusado de inventor e gestor do maior esquema de corrupção que já se viu neste país, apostou na lentidão da Justiça como garantia de sua eterna e tranqüilíssima impunidade.

Nada mais típico da mentalidade criminosa que a afetação de honestidade exagerada, hiperbólica, histriônica. Encobrindo com uma máscara de severidade o sorrisinho cínico que lhe vai por dentro, o capomafioso não se satisfaz com ostentar a idoneidade média do cidadão comum. Não. Ele tem de ser o mais honesto, o mais puro, o modelo supremo das virtudes cívicas e, no fim das contas, o caçador de meliantes, a garantia viva da lei e da ordem.

Confiante, como sempre, na eficácia da sua performance, o indivíduo permitia-se até blefar discretamente, sabendo que, no ambiente de culto reverencial montado em torno da sua pessoa, ninguém se permitiria perceber que ele falava de si mesmo: "O corrupto é o que mais denuncia, porque acha que não será pego."

Isso era, de fato, mais que o resumo sintético de trinta anos de luta de um partido que galgou os degraus do poder escalando pilhas de cadáveres políticos embalsamados em acusações de corrupção. Era a definição do que aquele homem estava fazendo naquele mesmo momento. Mas quem, neste país, ainda é capaz de comparar a fala com a situação e distinguir entre a sinceridade e o fingimento?

Li outro dia um estudo sobre os males do botox, que, travando o jogo natural dos músculos da face, destrói a expressão emocional espontânea e confunde a leitura imediata de sinais em que se baseia toda a convivência humana.

Mais que o botox, porém, têm esse efeito as imposições legais e morais de um Estado psicologicamente prepotente e invasivo, que em nome dos direitos humanos extingue o direito às reações naturais.

Se por lei é proibido distinguir, na fala e no tratamento, entre uma mulher e um homem vestido de mulher, ou entre a voz feminina e a sua imitação masculina, se a simples associação da cor preta com o temor da noite é alusão racista, se o simples fato de designar uma espécie animal pelo seu exemplar masculino é um ato de opressão machista, todas as demais distinções espontâneas, naturais, auto-evidentes, arraigadas no fundo do subconsciente humano pela natureza das coisas e por uma experiência arquimilenar, tornam-se automaticamente suspeitas e devem ser refreadas até prova suficiente de que não infringem nenhum código, não ofendem nenhum grupo de interesses, não magoam nenhuma suscetibilidade protegida pelo Estado.

Quantas mais condutas pessoais são regradas pela burocracia legisferante, mais complexa e dificultosa se torna a percepção humana, até que todas as intuições instantâneas se vejam paralisadas por uma escrupulosidade mórbida e estupidificante, e o temor das convenções arbitrárias suprima, junto com as reações espontâneas, todo sentimento moral genuíno.

Não é de espantar que, nessa atmosfera de inibição geral das consciências, a encenação de combate moralista por um corrupto notório não desperte nem mesmo o riso, e que a proposta cínica com que ele encobre seus próprios crimes seja levada literalmente a sério no instante mesmo em que ele, brincando com a platéia como gato com rato, se permite mostrar sua face de denunciante hipócrita sem o menor temor de que alguém venha a comparar suas palavras com seus atos.

A desgraça vai mais fundo. Pouco a pouco, o código de inibições fabricado por grupos de pressão vai sendo elevado à condição de único sistema moral vigente, e ninguém parece se dar conta de que o nível de corrupção tem algo a ver com a moralidade comum. À medida que as consciências se entorpecem, as aspirações morais perdem toda ligação com a realidade e se enrijecem num ritual mecânico de poses e caretas sem sentido. Todos parecem imaginar que, num ambiente de degradação geral onde cinqüenta mil homicídios anuais são aceitos como uma banalidade indigna de discussão, é possível preservar intacto e imune um único bem – o dinheiro público –, isolado e protegido de todos os pecados. Num Estado para o qual as fantasias sexuais são mais santas, mais dignas de proteção do que os direitos da consciência religiosa e os princípios da moral popular, todo combate oficial à corrupção nunca pode passar de uma farsa – esta sim – hedionda.

 

 

*Publicado originalmente em Diário do Comércio, 19 de setembro de 2011

**Transcrito de http://www.olavodecarvalho.org/e-proibido-perceber/

 

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