Um país que não assegure os bens materiais e serviços mínimos indispensáveis para uma vida digna de cada filho que se disponha a trabalhar e respeitar os direitos e a liberdade dos demais não é civilizado nem é um Estado de direito democrático, e para sê-lo basta cumprir três princípios de fácil percepção numa análise profunda por mentes não submissas ao corporativismo ou à paixão ideológica.
Mesmo tão óbvios e justos, esses princípios são combatidos porque têm sua eficácia e justiça contestadas por afirmações equivocadas ou falsas, travestidas do bem e sustentadas por ilusórios emocionantes discursos populistas de solidariedade humana que, sem se perceber, perpetuam a miséria.
É essencial demonstrar o fulminante potencial desses princípios para a erradicação da pobreza aviltante e escancarar os sofismas que escamoteiam essa verdade, sendo, pois, fundamental que na campanha se cobre do candidato o compromisso inarredável de:
• atrair, incentivar, respeitar e tratar com dignidade as empresas cumpridoras da lei, constituídas por empregados e empregadores que promovem o desenvolvimento produzindo os bens e prestando os serviços que tiram as pessoas da miséria e geram o posto de trabalho essencial à dignidade humana;
• eliminar exigências inúteis, burocracia, superposição de normas e fiscalizações contraditórias, insegurança jurídica, presença desnecessária e intervenção ruinosa do governo, que além do desperdício inibem o papel crucial das empresas;
• cuidar do equilíbrio fiscal e não gastar as receitas sem obedecer a judiciosas prioridades, nem malbaratá-las com as injustiças do empreguismo, das vantagens indevidas, das aposentadorias precoces, das obras suntuárias, dos órgãos inúteis, da corrupção e do prejuízo por má gestão, práticas atuais que geram a chaga da pobreza absoluta.
Essas medidas e uma efetiva prioridade à qualidade da educação é que são a essência de um programa de governo que honrará a nação. O resto são apenas o planejamento das ações para viabilizar o enfrentamento desses desafios e as decisões justas e racionais nas prioridades dos gastos, adaptadas às circunstâncias econômicas, políticas e sociais ocorrentes no mandato.
*Presidente da Sociedade de Engenharia do RS
GEORGE ORWELL
Em 1945, quando o escritor inglês, George Orwell, resolveu escrever a magnífica sátira -ANIMAL FARM- (o título no Brasil é -A REVOLUÇÃO DOS BICHOS-, o autor, confessadamente, tinha como propósito fazer uma crítica contundente ao -PARAÍSO COMUNISTA- proposto pela Rússia na época de Stalin.
SOCIEDADE UTÓPICA
A obra é uma interessante narração de uma revolta promovida pelos animais de uma fazenda, liderada pelos porcos -Bola de Neve (Snowball) e Napoleão (Napoleon), que tinham como objetivo a criação de uma SOCIEDADE UTÓPICA.
MAIS IGUAIS QUE OUTROS
Pois, com o passar dos dias, os dois porcos, que levaram os animais da fazenda a acreditar que a partir da REVOLUÇÃO todos seriam IGUAIS, acharam que por serem os líderes deveriam gozar de certas mordomias. Para tanto acharam por bem declarar que TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OUTROS. A partir desta declaração a fauna entendeu que a REVOLUÇÃO tinha resultado numa DITADURA.
DEMOCRACIA EM XEQUE
Fiz este breve comentário acima para que os leitores entendam, através da esclarecedora obra/sátira de George Orwell, que o Brasil está longe de ser um país DEMOCRÁTICO. Só o fato de existirem mais de 38 mil agentes públicos gozando do nojento FORO PRIVILEGIADO, que nada mais é do que -ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OUTROS-, identifica que a nossa DEMOCRACIA está sempre em XEQUE. Ou que estamos mais próximos de uma DITADURA.
ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Observem a similaridade que existe entre os propósitos da REVOLUÇÃO DOS BICHOS e aquilo que está escrito na nossa Constituição Federal, promulgada em 1988. Comparem o que diz o artigo. 5º da nossa CF com a mensagem dos porcos Bola de Neve e Napoleon e tirem suas próprias conclusões: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".
STF LEGISLATIVO
Para finalizar, ontem o STF, agindo como LEGISLADOR, decidiu que só deputados e senadores (594 políticos) deixam de ter FORO PRIVILEGIADO. Ora, se resolveram LEGISLAR, os ministros da Suprema Corte deveriam estender a mesma decisão para todos os cargos públicos. Esta PORCA RESTRIÇÃO propicia que mais 38,5 mil agentes públicos federais, estaduais e municipais, incluindo governadores, prefeitos, secretários, conselheiros, delegados, entre outros, continuem sendo MAIS IGUAIS QUE OUTROS. Pode?
* Publicado originalmente em pontocritico.com
Pobre Fernando Medina, do que ele se foi lembrar: fazer um Museu das Descobertas, ou dos Descobrimentos, em Lisboa! Uma ideia que pareceria absolutamente consensual e necessária e que só pecava por tardia, parece que se transformou numa polémica que já suscitou a indignação de mais de uma centena de historiadores e “cientistas sociais”, trazida a público num abaixo-assinado de professores de diversas Universidades, portuguesas e estrangeiras — se bem que, para dizer a verdade, quase todas de segundo plano, as Universidades, e quase todos, portugueses, os professores, com excepção de alguns, que presumo brasileiros, em decorrência dos nomes que ostentam e que só podem ter origem em antepassados portugueses e não em avós balantas ou mesmo tupi-guaranis.
Antes de, com a devida vénia e indisfarçável terror, entrar na polémica, deixem-me confessar a minha ignorância preliminar relativamente a duas questões, seguramente menores: desconheço quase por completo, não só os nomes, mas, sobretudo, a importância dos ditos historiadores para o que, num português em voga mas não recomendável, chamam “a riqueza problematizante” do que ora os ocupa; e desconheço ainda mais o que faça ao certo um cientista social que o torne uma autoridade na matéria.
Isto posto, e indo ao fundo da controvérsia, estas cem excelentíssimas autoridades indignam-se, em suma, contra o maldito nome do nascituro museu. Porque a questão, dizem eles, é que chamar-lhe Museu das Descobertas ou dos Descobrimentos, “não é apenas um nome, é o que representa enquanto projecto ideológico”. Este, esclarecem, é o projecto ideológico do Estado Novo, “incompatível com o Portugal democrático”. Bravo, António Ferro, o SNI continua vivo, os Descobrimentos portugueses mais não foram do que a antecâmara do colonialismo e o Estado Novo o seu apogeu e desfecho natural! O “mar sem fim português”, de que falava Pessoa, outra coisa não era, afinal, do que o Portugal do Minho a Timor, de que falava Salazar.
Pois, bem, se a palavra “descobertas” envolve um “projecto ideológico” de conotações maléficas, isso significa que as excelentíssimas autoridades têm outro projecto ideológico que se opõe e resgata este. Qual seja, e abreviando, chamar a atenção, por exemplo, para que os povos alegadamente descobertos pelos portugueses não se terão sentido descobertos, porque, de facto, já lá estavam. É um argumento tão fantástico, que, de facto, é irrebatível. Mas, salvo desconhecida opinião, ninguém sustenta que Vasco da Gama criou do nada o samorim de Calicut, que os Jesuítas encontraram o Tibete despovoado ou que Pedro Álvares Cabral celebrou a primeira missa em Terras de Santa Cruz para uns fantasmas vestidos de índios. Não, o que eles fizeram foi encontrar as rotas, marítimas ou terrestres, que ligaram o Ocidente e a Europa ao Oriente e às Américas, pondo em contacto dois mundos até aí sem contacto algum (com a excepção parcial das viagens de Marco Polo, por via terrestre, e as viagens marítimas, sem sequência científica ou outra, dos vikings). O que se sustenta é que não foi o samorim que se deu ao trabalho de largar o seu luxuoso trono e apanhar uma low-cost para a Europa, mas o Gama que se arriscou a ir mar fora naquelas cascas de noz ao seu encontro. Na época, isso significou — em termos de navegação, de cartografia, de indústria naval, de rotas comerciais e de avanços científicos em todas as áreas — um pulo de uma dimensão nunca antes e raras vezes igualado depois, na história da Humanidade. Sem falar das terras virgens que descobrimos e dos que não descobriram povos, dos que navegaram em pleno desconhecido, movidos por um verdadeiro sentido de descoberta tão extremo e destemido que só poderemos classificar como quase demência: Bartolomeu Dias dobrando o Cabo da Boa Esperança sem saber o que iria encontrar do outro lado; Fernão de Magalhães procurando insanamente o Estreito que ainda hoje tem o seu nome, ligando o Atlântico ao Pacífico e provando que a terra era redonda e circum-navegável em toda a sua extensão; os irmãos Corte-Real desbravando o limite extremo do norte navegável. Todos eles em mar aberto e em terra de ninguém, onde seria impossível às excelentíssimas autoridades encontrarem forma práctica de dar execução a outro dos argumentos arrolados para o conceito ideológico do seu museu: “Valorizar as experiências de todos os povos que estiveram envolvidos neste processo”.
Enfim, e sempre resumindo, vem depois o argumento da escravatura. É incontornável e eu subscrevo-o: deve estar referenciado num museu sobre as Descobertas, e subsequente colonização portuguesa. Sem esquecer, porém, que não foram os portugueses que inventaram a escravatura, mas apenas aproveitaram o comércio de escravos que encontraram florescente nas costas oriental e ocidental de África. E sem esquecer também que, sem desculpar o que foi a tragédia da escravatura, não há erro mais simplista de cometer do que julgar a História pelos padrões éticos contemporâneos. E estou à vontade no assunto, pois escrevi um romance histórico cujo tema central era a escravatura em São Tomé e Príncipe e em que, apesar de ela ter durado até à primeira metade do século XX (!), não encontrei, curiosamente, entre tanta fonte pesquisada e tanto historiador preocupado, nenhum trabalho histórico de referência que a contemplasse.
Não resisto a uma palavra aos invocados historiadores brasileiros que assinam esta petição. Conheço muito, de ver e de ler, da herança história de Portugal no Brasil — e tenho um profundo orgulho nela. Todos os ciclos de prosperidade histórica do Brasil, ligados às riquezas naturais, tirando o primeiro — o do pau-brasil, irrelevante, em termos económicos — foram feitos graças a árvores levadas para lá pelos portugueses: a cana de açúcar, a borracha, o cafeeiro, até os coqueiros, que levámos da Índia. E o ouro, o célebre ouro, roubado pelo D. João V? Ah, o ouro do Brasil! Do célebre “quinto real” (tudo o que cabia à Coroa), nem um quinto cá chegou. O resto? Perguntem a todas as ‘Lava-Jato’ que saltearam o Brasil, desde 1822. Pedras, monumentos? Tudo o que ficou de pé é português: no Pará, em Pernambuco, em Salvador, em Minas, no Rio, em Paraty, onde quiserem. E o Amazonas, cujo desbravamento por Pedro Teixeira é uma aventura assombrosa de coragem e persistência e cuja colonização, que incluiu a construção dos sete fortes de fronteira, erguidos com pedras de granito levadas de Portugal a mando do marquês de Pombal, e a que o Brasil ficou a dever milhões de quilómetros quadrados de floresta virgem preciosa, e que foi, no dizer do grande historiador brasileiro Joaquim Nabuco, “talvez a maior extraordinária epopeia de todos os Descobrimentos portugueses”? É bem provável que os brasileiros não saibam nem queiram saber dessa história. Os portugueses não sabem com certeza. Mas deviam saber.
Que haja portugueses que tenham vergonha desta história e queiram reescrevê-la numa espécie de museu de autoflagelação é problema deles. Mas não pode ser problema dos outros. O dinheiro dos nossos impostos não pode servir para fazer um museu contra a nossa História, contra uma História que foi tão grandiosa que, se calhar por isso mesmo, nem a conseguimos entender, na nossa pequenez actual. Tudo isto me faz lembrar o que escreveu no início de um poema uma senhora que, por acaso, era minha mãe: “Navegavam sem o mapa que faziam/ Atrás deixando conluios e conversas/ Intrigas surdas de bordéis e paços…”.
Para terminar: já me tinha pronunciado sobre isto antes. Antes de esta irrepetível oportunidade para fazer uma coisa bem feita ter sido capturada pela intelligentsia ociosa dos abaixo-assinados. Mas volto ao que então escrevi: eu não queria apenas um Museu das Descobertas em Lisboa. Queria um Museu de Portugal e do Mar ou dos Portugueses e o Mar. Onde coubesse também a história de duas outras extraordinárias epopeias que o comum dos portugueses e dos estrangeiros que nos visitam desconhece: a nossa contribuição única e indispensável na história da pesca à baleia (juntamente com os cabo-verdianos), no Atlântico e Pacífico, e na história da pesca ao bacalhau à vela, na Gronelândia e norte do Canadá. Desse modo se tornaria patente que não foi por um simples acaso, nem para espalhar a fé e o império, ou apenas para trazer a pimenta e a canela da Índia, que este pequeníssimo povo, entalado entre o fim da Europa e o mar, escolheu o mar como destino. E, porque o espaço tem relação directa com isso, porque está miseravelmente desaproveitado, porque é lindo e porque sai mais barato aos contribuintes, queria vê-lo na Cordoaria Nacional.
*Miguel Sousa Tavares, jornalista e escritor português, ignora o Acordo. Escreve segundo a antiga ortografia.
**Publicado originalmente no jornal Expresso e reproduzido do blog A Estátua de Sal, pelo Diário do Poder.
No passado dia 30 de abril, estudantes (será?) desocuparam a Reitoria da UnB, depois de 19 dias de indisciplina, de perturbação da ordem e de atos de vandalismo, mas sem deixar de proferir ameaças de novas agressões: “Se não revogarem os avisos prévios dos terceirizados, eles estarão quebrando o acordo e nós vamos para cima de novo", declararam os insurretos. Segundo o chefe de gabinete da Reitoria, Prof. Paulo César Marques, “os estudantes (sic) não serão punidos”, como registrou o blog Eu, Estudante em 30/4/18.
Porquê? Devemos admitir que indivíduos, estudantes ou não, perturbem impunemente o normal funcionamento de uma universidade e vandalizem seu patrimônio? Seja por que causa for?
Não era assim. O Decreto nº 8.659, de 5 de abril de 1911, assinado por Hermes da Fonseca e Rivadavia Corrêa, que aprovou a lei orgânica do ensino superior e do fundamental, previa penas disciplinares a quem infringisse os princípios imprescindíveis ao funcionamento harmônico da instituição. Por exemplo, podia ser advertido particularmente ou em público quem perturbasse a ordem; podia ser suspenso, expulso da faculdade ou proibido de cursar qualquer faculdade no país quem cometesse delito sujeito às penas do Código Penal, que é o caso do crime de dano à propriedade pública.
Se nossos mais recentes legisladores tivessem tido a clarividência de manter o que Hermes da Fonseca e Rivadavia Corrêa determinaram há 107 anos e comparássemos a violência praticada pelos ditos estudantes nesses 19 dias de ocupação da Reitoria da UnB às 12 infrações listadas no citado Decreto, veríamos que eles não escapariam de punições e seriam - provavelmente a maioria – expulsos da UnB e proibidos de frequentar qualquer faculdade no país.
Mas, não. Nossos mais recentes legisladores optaram por instituir a valorização da impunidade, na universidade e fora dela, e, com isso, promover a desordem e ensinar à juventude que o que deve prevalecer é desrespeito e violência, como vimos observando, alguns de nós até sofrendo na pele, nas insurreições agressivas diárias no campo, nas ruas e nas tribunas, por ações e por palavras.
Temos de conseguir obrigar nossos políticos a voltar a defender, instituir e praticar os valores de uma sociedade harmônica e próspera, em que prevalece o respeito à vida, à propriedade, à liberdade e ao mérito, o que a Constituição não nos permite.
* Sergio Moura – autor do livro Podemos ser prósperos – se os políticos deixarem
** Publicado originalmente no Diário do Poder
Conheci a máfia da moradia realizando investigações na Polícia Civil do Distrito Federal. O esquema criminoso age usando pessoas que não têm mais nada a perder e lucra com isso.
No Acampamento Dorothy Stang, em Sobradinho, quem não pagava as taxas que garantiam luxo aos coordenadores era expulso do barraco ou tinha a residência queimada. Traficantes de drogas ganhavam passe livre.
Após perceberem que coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto estavam enriquecendo, os moradores resolveram criar uma associação legal e rasgar a bandeira da extorsão.
Em São Paulo, o incêndio em um prédio público ocupado pelos sem-teto motivou depoimentos reveladores: os moradores, mesmo sem condições, pagavam até R$ 400 aos coordenadores da ocupação, dirigentes de um movimento chamado Luta por Moradia.
A fachada de bons moços, preocupados com o drama social dos pobres, escondia uma máfia formada para lucrar com o desespero humano.
Que o episódio sirva de lição para que o Estado brasileiro deixe de ser leniente e conivente com o crime organizado, impedindo essa balbúrdia travestida de caridade que se instalou em grandes centros com o apoio da mídia e de quem não acredita que a opção pelas drogas, pela vida errante, pela fuga das responsabilidades familiares e pelo egoísmo individual seja uma escolha de cada um.
* Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
** Publicado originalmente no Diário do Poder
“Não é ético ter filhos biológicos”: assim resumiu uma entrevistada pela rede BBC os motivos pelos quais resolveu não apenas evitar ser mãe, mas também adotar uma filosofia de vida que prega que todas as mulheres do mundo deveriam assim agir. Trazer novas vidas a um mundo superpovoado e com recursos limitados seria “uma falta de responsabilidade”, ela alega.
Conhecida nos Estados Unidos como childfree, a doutrina antirreprodução ganhou contornos de produção científica por meio do trabalho acadêmico de David Benatar, diretor do departamento de Filosofia da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, intelectual que assegura que “nascer é uma profunda desgraça”.
O que move os propagadores desta concepção são dois fatores essenciais:
A) O ser humano consome recursos demais do natureza, e a expansão da população terrestre poderia significar o fim da biosfera terrestre;
B) A vida humana seria permeada de tanto sofrimento que não faria sentido trazermos a este mundo cruel mais pessoas para vivenciarem tanta injustiça;
Vale enfatizar que não se trata apenas de uma decisão particular no sentido de não gerar descendentes, mas sim de uma tentativa de persuadir (ou mesmo obrigar) a todos os demais sobre a conveniência desta resolução.
Da mesma forma que o movimento vegano não se contenta em deixar de ingerir carne, leite e ovos, mas busca difundir tal cultura por meio da propaganda ou mesmo pela aprovação de leis (isto é, fazendo uso do poder coercitivo do Estado), também os antinatalistas extrapolam a esfera de suas próprias existências e pretendem interferir nas deliberações daqueles que desejam constituir famílias.
Falta-lhes a humildade de pressupor que possam estar errados e sobra-lhes a petulância de considerarem-se os engenheiros de uma sociedade perfeita.
Vejamos porque as teses deste grupo não merecem prosperar, mas tão somente despertar nos indivíduos mentalmente saudáveis sentimentos de compaixão e pena em relação a seus adeptos.
1) Malthus estava errado. A Teoria demográfica Malthusiana foi criada por volta de 1789 na Inglaterra pelo economista Thomas Robert Malthus, e divulgada em sua principal obra, Ensaio sobre o princípio da população.
Afirmava ele que a produção de meios de subsistência (comida) crescia em ritmo demasiadamente lento, em progressão aritmética, sendo restrita aos limites naturais da Terra. Já o crescimento populacional, evoluindo a taxas geométricas, tenderia a ser 28 vezes maior que o de alimentos disponíveis nos dois séculos seguintes, o que geraria uma grande calamidade mundial, onde significativa parcela da humanidade morreria de inanição e seus sobreviventes travariam guerras por territórios férteis— um verdadeiro cenário de Mad Max.
Tais fundamentos serviram de inspiração para diversos movimentos eugenistas e abortistas ao longo do tempo, e muita gente ganhou dinheiro em cima do terror causado pela mera possibilidade de tais previsões virem a se confirmar?—?lucrar assustando os outros é procedimento bastante comum, afinal de contas (que o diga Al Gore e seu “uma Verdade Inconveniente”, refutado pela própria realidade em menos de 15 anos, mas que engordou bastante as economias do autor neste ínterim).
Só que Malthus não contava com um fator que viria a alavancar a produtividade geral e propiciar o sustento de uma quantidade até então inimaginável de seres vivos: o aumento populacional fomenta a divisão do trabalho, a qual possibilita a especialização nos mais diferentes campos laborais?—?inclusive a produção de alimentos.
Tipo assim: um náufrago solitário em uma ilha precisa fazer de tudo para sobreviver. Montar abrigo, pensar em como fugir de lá e voltar para a civilização, caçar, pescar, trepar na árvore para colher cocos, e tuti quanti.
Mas a partir do momento em que mais cinco desafortunados desembarcam por lá, torna-se possível que cada um deles seja encarregado de uma tarefa específica, e nela possa tornar-se especialista, atingindo um desempenho muito superior ao alcançado pelo habitante solitário de outrora.
A evolução dos meios de transporte, logística e comunicação ainda aprofundou este fenômeno em escala global, na medida em que nações com vocação agropecuária (como o Brasil) puderam focar ainda mais nesta atividade, a tal ponto que, nos dias atuais, somente em regiões devastadas por conflitos militares, tribais ou religiosos (como o Sudão do Sul) ou dominadas por governos ditatoriais (como a Venezuela) observam-se pessoas morrendo de fome. Nos demais recantos, a obesidade é que tornou-se um problema.
Ou seja, a escassez alimentícia anunciada por Malthus?—?e propagada por “cavaleiros do Apocalipse” preocupados apenas com suas contas bancárias?—?não se confirmou justamente por conta do elemento que deveria ser seu catalisador: a expansão da população humana.
2) Viver já foi uma experiência muito mais sofrida do que o é nos dias atuais. Este é o paradoxo que leva muitos ao desespero desnecessário diante de distúrbios de pequena monta: quanto mais estável e confortável torna-se nossa jornada, menos capaz de reagir a turbulências cotidianas nos tornamos.
Nossos antepassados, em épocas relativamente recentes, sofriam sobremaneira para obter coisas que hoje estão ao alcance de nossas mãos ou a um clique de distância. Perder contato com o sofrimento por eles vivenciado?—?e que constitui a base do conhecimento que nos brindou com tanto progresso?—?é a receita para passar a achar que “vivemos tempos terríveis”.
Diante deste falso quadro, geralmente pintado por oportunistas das mais variadas espécies, tornar-se-ia justificável entregar toda a nossa liberdade nas mãos de determinados “ungidos” pela sabedoria, a fim de que eles aliviem tanta dor e angústia.
Eis porque políticos com pretensões totalitaristas passam o dia tentando nos convencer de que tudo está desmoronando— bom, em verdade, poderia estar bem melhor, não fosse justamente por causa deles mesmos e suas medidas contraproducentes tomadas do alto de cargos eletivos.
Se aqueles que nos antecederam resolveram seguir povoando o mundo mesmo em meio à peste negra e a guerras intermináveis, seria ato de extrema covardia desistir da humanidade logo quando atravessamos sua época mais próspera e esclarecida.
3) Desestabilizar ou mesmo extinguir os núcleos familiares faz parte do plano de metas de qualquer agenda estatizante. A ajuda mútua que caracteriza o vínculo entre parentes não é interessante para quem quer distribuir assistencialismo estatal. No esforço de concentrar recursos e poder decisório na burocracia governamental, não convém que filhos prestem amparo a seus pais em idade avançada, nem que estes deixem seu patrimônio de herança para aqueles.
Melhor mesmo, nesta empreitada de submeter o povo aos governantes, é o “cada um por si”.
4) Ter medo de criar filhos é uma consequência direta da mudança cultural que se abateu sobre o Ocidente após a década de 1960.
Até então, a sociedade entendia que era dever do genitor prover os filhos apenas com o básico para sua sobrevivência durante a infância, e estes, tão logo chegassem a adolescência, já estariam aptos a trabalhar e serem remunerados?—?meu pai e minha mãe, nascidos respectivamente em 1942 e 1945, são parte da última geração criada sob este entendimento.
Ou seja, além de ser menos dispendioso ter um filho, ele rapidamente convertia-se em provedor, e logo em seguida partia para cuidar da própria vida, voava do ninho. Por isso eram tão comuns famílias numerosas: filhos deixavam de ser “despesa” e viravam “faturamento” após um curto período de criação.
Mas tudo mudou nas últimas décadas: tornou-se condenável, tanto pela legislação quanto pelos costumes, que os filhos trabalhem antes dos dezoito anos, independente da condição financeira de suas famílias. Cada vez mais comuns são os famigerados adultecentes, adultos sem responsabilidade que simplesmente não conseguem soltar da barra da saia da mãe aos quarenta anos de idade.
Além disso, cerceiam-se cada vez mais os métodos a serem empregados na educação das crianças. A moral em voga não aceita mais palmadas, castigos, falar alto, apontar o dedo…nada! Assim, criam-se monstrengos desobedientes e ainda responsabilizam-se os pais por seus atos errôneos ou criminosos.
Quer dizer, muito deste receio em ter filhos é culpa do “politicamente correto”, que busca incessantemente intervir indevidamente nas relações parentais, e dos agentes da máquina estatal que, da mesma forma, julgam estarem acima dos direitos naturais dos pais, como ocorreu com Alfie Evansno Reino Unido recentemente.
5) A suposta preocupação com uma eventual superpopulação de determinadas regiões planetárias não faz sentido quando observamos que a elevação dos índices de desenvolvimento humano, por si só, trazem em seu bojo a redução dos índices de natalidade?—?fato que na Europa, por exemplo, escasseou a mão de obra e motivou a abertura sem controle das fronteiras (o que vem aumentando os índices de criminalidade em vários países europeus).
Ou seja, sobrevoar a África subsaariana e a Ásia Meridional despejando pílulas abortivas não é de valia alguma. Devemos, sim, ajudar a liberdade a chegar a estes lugares, pois somente ela traz desenvolvimento e proporciona melhorias na qualidade geral de vida?—?reduzindo naturalmente, durante o processo, o número de nascimentos.
6) Criou-se, no imaginário popular, uma quase obrigação de “ser feliz”, de “aproveitar a vida”. Qualquer empecilho a esta busca incessante do prazer como único e verdadeiro propósito deve ser prontamente eliminado do caminho?—?e não tenha dúvida de que aqui entram os filhos.
“Fazer valer ao máximo cada momento” é uma falácia das mais mais sem-vergonhas já disseminadas. Cada momento, considerado apenas em si mesmo, é incapaz de conter tanto significado existencial a ponto de justificar nossas vidas, não interessa o que você faça nele ou quantas vezes este momento se repita.
Somente dentro de um contexto mais amplo, onde momentos ruins alternam-se com momentos bons, e onde estes momentos bons só existem porque nos sacrificamos e aprendemos durante momentos ruins, é que forma-se um todo harmonioso que faz sentido e proporciona a sensação de que vale a pena seguir em frente.
Criar filhos significa abrir mão de parte da própria vida por eles? Claro. É assim que tudo no universo funciona, um eterno trade-off onde abrimos mão de algumas coisas para obter outras. Perdemos a possibilidade de dormir até mais tarde para trabalhar e comprar aquele carro que sonhamos. Desistimos de ter infinitas parceiras sexuais para poder cultivar o amor de uma única companheira. E por aí vai.
E isso tudo, em hipótese alguma, é sinônimo de infelicidade. Pelo contrário: contemplar a obra pronta (ou os filhos criados), após anos ou décadas de relativa abnegação, é a própria felicidade em estado puro.
Conclusão: Só posso lamentar pelos antinatalistas. Sinto muito que vocês jamais possam vir a conhecer a emoção de ver uma imagem como esta abaixo. Bem-vindo ao mundo, Lucas!
Publicado originalmente em https://medium.com/@rickbordan/o-antinatalismo-%C3%A9-uma-mistura-de-ignor%C3%A2ncia-com-arrog%C3%A2ncia-das-mais-graves-a3b0684d9e4c