O visitante que descer no Brasil hoje e tentar se informar sobre ele a partir das manifestações da maioria dos presidenciáveis, terá a impressão de estar num país onde a saúde pública é possível, onde a democracia atenuou a pobreza, onde o empresariado é tratado como aliado e não inimigo, onde policiais estão juridicamente amparados para reprimir a bandidagem e onde os indicadores econômicos e sociais necessitam de pequenos ajustes aqui ou acolá. Mas não é assim.
Há meses em pré-campanha e agora em campanha com o nosso dinheiro, alguns desses biltres invocam soluções mirabolantes para amparar as mentiras e tolices que bradam. Outros, sem nenhum rubor ou senso de decência, requentam as grosserias e assacadilhas de embates anteriores dos quais saíram nocauteados pelas urnas. Por fim, há um pelotão formado por personagens infantilizados que insistem naquelas tolices marxistas que jamais vingaram em algum canto, ilha, hospício ou cemitério do planeta. Portanto, o que é prometido dificilmente poderá ser cumprido.
1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. Governos entraram, governos saíram e governos foram saídos. Ao longo desse período, parâmetros de vida e de administração pública sofreram alterações ou foram banidos. Já a violência adquiriu contornos bélicos. A saúde gera estatísticas aterrorizantes. A previdência social é indecente e alvo de fraudes e incúrias.
Defenestrar tudo isso é inadiável. Era de se supor, portanto, que as pautas e visões do país por aqueles que se jactam capazes mas não mencionam seus fracassos em governos municipais, estaduais e ministérios, se direcionassem objetivamente. Mas o que predominou? O blá-blá-blá enfadonho de sempre. Sim, é triste, mas pouco mudou nos discursos das campanhas presidenciais brasileiras. Os vícios e cenários dos debates modulados por quase robôs (“seu tempo acabou, candidato”) permanecem praticamente intactos. As campanhas são bolorentas, enfadonhas e a maioria dos personagens ultrapassados, alguns verdadeiramente indecentes e hostis ao próprio Brasil que juram defender.
Se de um lado é certo que dois Impeachments em menos de um quarto de século foi estrago demais para uma geração zonza por tantos borrões políticos, não é menos exato de outro que não foi suficiente para a maioria dos pretendentes refletirem seriamente em torno desse feixe de erros acumulados e, a partir dele, retirar algum tipo de proveito útil.
Convenhamos: a maioria dos atuais candidatos ao Planalto, além de agredir o vernáculo a cada frase ou intervenção, desconhecer a história do seu próprio país e mentir deslavadamente em debates e entrevistas, não distingue uma duplicata de uma promissória, mas pretende chefiar o governo, o Estado, a administração pública e as Forças Armadas. Convenhamos: é muita cara-de-pau.
De outra parte, até as crianças sabem que o que não falta para uma campanha presidencial são temas-tabus e velhas polêmicas. Política incisiva de saúde pública. Aperfeiçoamento da legislação de empregos. Redução da maioridade penal. Reforço geral nas fronteiras secas. Extinção da maior parte das agências reguladoras e do Bolsa Família. Incentivos tributários e fiscais às empresas. Privatizações. Correção anual da tabela do Imposto de Renda. Obesidade infantil. Revisão de aposentadorias e pensões. Surto de saneamento básico. Direito de portar arma. Redução das áreas indígenas. Valorização do serviço e do servidor público. Reexame da legislação de cotas. Debate nacional sobre os cassinos. Incentivo à memória nacional e ao patrimônio público. Atualização da mobilidade urbana. Repressão intransigente à prostituição infantil. Atualização da Lei de Licitações. E há mais uma meia centena de temas que a maioria dos personagens não aborda.
Ao evitar temas densos e aflitivos como os que foram acima exemplificados, a maioria dos presidenciáveis mente descaradamente, trombeteia Brasis fictícios e traça fórmulas delirantes em torno de um país que existe apenas nos seus tablets e escassos neurônios. Sem pestanejar, alguns desses desajustados despejam propostas bizarras e inexecutáveis que flertam com a improbidade administrativa. A inconsistência que transmitem reforça o sentimento de “ineficácia da política” que predomina entre os eleitores.
Periféricos, a maior parte desses indecentes não tem compromisso com a realidade. Quando se postam diante das câmeras posando de sérios, debocham da inteligência média das pessoas. E o que é pior: sem corar. Sem jamais abdicar do papel de cínicos e dissimulados, hastearam uma bandeira branca encardida e posaram de solidários após o atentado sofrido por Jair Bolsonaro. No momento que o alvejado disparou nas pesquisas, revogaram a falsa paz e retomaram os ataques torpes e caluniosos. Mas a tática não deu certo. Justamente o candidato que não dispõe de horário de mídia, que não utiliza jatinhos particulares, que não recebe dinheiro público do orçamento para a campanha eleitoral e que nos últimos dias tem feito campanha eleitoral tomando remédios e usando pijama e uma bolsa de colostomia, lidera todas as pesquisas.
Votar bem em 7 de outubro é imperioso, tanto para você e para a sua família quanto para a higienização do país. Defenestrar de vez esta horda de mentirosos contumazes e ex-ministros de governos cínicos e criminalizados é um dever patriótico.
Há opção para o progresso. Esses Brasis de prancheta editados pelas propagandas de rádio e televisão não podem derrotar o Brasil novamente.
*Advogado e professor de Direito Eleitoral