• Donald Boudreaux
  • 09 Maio 2019

Os ricos e poderosos nunca precisaram do capitalismo.

Responda rápido: quem realmente foi o grande beneficiado pelo capitalismo?

Se você respondeu "os ricos", você nunca estudou história.

A história nos mostra que todo o progresso industrial, todos os aperfeiçoamentos mecânicos e elétricos, todas as grandes maravilhas tecnológicas da era moderna, e todas as grandes conveniências e facilidades que hoje nos são disponíveis teriam significado relativamente pouco para os ricos e poderosos em qualquer época da história.

Por exemplo: um sistema moderno de saneamento básico, com rede de esgoto e água encanada, teria trazido benefícios adicionais para os ricos da Grécia Antiga? Dificilmente, pois eles tinham servos para lhes garantir todas essas comodidades. Os servos faziam o papel da água corrente.

Os nobres da Roma Antiga teriam maior qualidade de vida caso houvesse televisão e rádio? Improvável, pois eles podiam ter os principais músicos e atores da época fazendo apresentações exclusivas em suas mansões, como se fossem seus serventes.

Roupas manufaturadas, máquinas de lavar, microondas e supermercados? Os ricos e poderosos nunca precisaram se preocupar com essas coisas. Roupas e alimentos eram feitos e mantidos por seus serventes, que lhes entregavam tudo em mãos.

Que tal coisas mais modernas, como máquinas fotográficas ou mesmo smartphones para fazer selfies? Isso teria trazido pouquíssimos benefícios adicionais para os aristocratas da antiga, pois eles podiam simplesmente ordenar que os melhores e mais talentosos artistas do reino pintassem quadros com seus retratos e os retratos de outros membros da realeza.

Avancemos as comparações agora para o mundo moderno. Hoje, no smartphone de cada cidadão comum há inúmeros aplicativos que trazem grandes comodidades. Irei destacar dois: o GPS e os serviços de transporte, como Uber, Cabify e Lyft.

Pergunta: como exatamente os ricos e poderosos são beneficiados por um GPS e pelo Uber? Eles dificilmente precisam dessas duas comodidades, pois raramente dirigem por conta própria e ainda mais raramente pegam um taxi. Além de terem motoristas particulares, eles andam de limusines próprias e viajam de jatinhos, e possuem toda uma equipe de funcionários para esquematizar e cuidar de todos os detalhes de suas viagens.

Por outro lado, pense nos enormes benefícios que o GPS, a Uber e o Cabify trouxeram para o cidadão comum, que agora não apenas pode ir a qualquer lugar com seu próprio carro como também pode se deslocar de forma barata e luxuosa em sua própria cidade. E sem precisar de toda uma equipe de funcionários para fazer os preparativos e arranjos.

Os exemplos são inúmeros e podem ser expandidos infinitamente: desde toda a enciclopédia de informações trazidas pela internet ao cidadão comum (os ricos e poderosos nunca tiveram dificuldade de acesso à informação), passando pelas facilidades de lazer, entretenimento e cultura (hoje, você lê todos os livros em seu smartphone e assiste a todos os filmes na comodidade de sua casa, sob demanda; acesso a livros e filmes nunca foi problema para os ricos e poderosos), e culminando na fartura e na facilidade de acesso à alimentação e moradia.

Nada disso nunca foi problema para os ricos e poderosos. Já o capitalismo disponibilizou tudo para o cidadão comum.
Por isso, Ludwig von Mises sempre dizia que o capitalismo não é simplesmente produção em massa, mas sim produção em massa para satisfazer as necessidades das massas. No capitalismo, os grandes inovadores não produzem artigos caros, acessíveis apenas às classes mais altas: produzem bens baratos, que podem satisfazer as necessidades de todos.

Ao passo que, séculos atrás, toda a produção funcionava a serviço da gente abastada das cidades, existindo quase que exclusivamente para corresponder às demandas dessas classes privilegiadas, o surgimento e a expansão do capitalismo geraram a produção de artigos acessíveis a toda a população. Produção em massa para satisfazer às necessidades das massas.

Por isso, todas as grandes conquistas do capitalismo resultaram primordialmente no benefício do cidadão comum. Essas conquistas disponibilizaram para as massas confortos, luxos e conveniências que, antes, eram prerrogativa exclusiva dos ricos e poderosos.

Uma porção desproporcional dos benefícios do capitalismo, do livre mercado, da inovação, da invenção de novos produtos, do comércio e dos avanços tecnológicos vai para o cidadão comum, e não para os ricos e poderosos.
Eis o que disse Joseph Schumpeter sobre o poder do capitalismo em aprimorar o padrão de vida dos comuns:
O motor do capitalismo é, acima de tudo, um motor de produção em massa, o que inevitavelmente também significa produção para as massas. [...]

Verificar isso é fácil. Sem dúvidas, há bens e serviços disponíveis hoje ao cidadão comum atual que o próprio Luis XIV adoraria ter: por exemplo, a odontologia moderna. [...] Por outro lado, a luz elétrica não representaria um grande conforto ou dádiva para uma pessoa poderosa o suficiente para comprar um grande número de velas e ter servos para mantê-las constantemente acesas. Até mesmo a velocidade com que se viajava à época não deve ter sido objeto de grande consideração para um cavalheiro tão distinto.

Roupas fartas e baratas, fábricas de seda e algodão, sapatos, automóveis e vários outros bens são as típicas façanhas da produção capitalista. Por si sós, elas não representam aprimoramentos que mudariam enormemente a vida do homem rico e poderoso.

A Rainha Elizabeth sempre teve meias de seda. A façanha do capitalismo não consiste em fornecer mais meias de seda para as rainhas, mas sim em disponibilizá-las para as mulheres trabalhadoras em troca de quantidades de esforço continuamente decrescentes.

Apenas leia esse último parágrafo de novo. Deveríamos estar ensinando isso para as nossas crianças. No entanto, o que elas estão sendo ensinadas neste exato momento é que, sob o capitalismo, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. O exato oposto da realidade.

Conclusão
Progressistas que dizem que todos os ganhos de uma economia de mercado vão para os ricos são ignorantes da realidade que os cerca. Apenas pense no tanto que essas pessoas estão erradas da próxima vez que você usar seu laptop, tablet, smartphone, GPS, Spotify, ou se deslocar utilizando Uber, Lyft ou Cabify.

A única entidade que pode afetar, atrasar e atrapalhar todo esse progresso incrível, dificultando o acesso do cidadão comum a essas comodidades que melhoram seu padrão de vida, é o governo e suas políticas que destroçam a economia e o poder de compra das pessoas.

* Donald Boudreaux foi presidente da Foudation for Economic Education, leciona economia na George Mason University e é o autor do livro Hypocrites and Half-Wits.
**https://imb17.azurewebsites.net/Article.aspx?id=2646&ac=230369
***Publicado originalmente em https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2646, em 10/03/2017
 

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  • Roberto Campos
  • 08 Maio 2019

 

"Esperemos que os socialistas, que no passado adoraram o Deus da História, aprenderão suas lições. Dar-se-ão conta, afinal, que não apenas a economia de comando fracassou, mas também que o Estado social democrático assistencialista é um Deus que falhou". Deepak Lal

As esquerdas brasileiras (ou será que só restam canhotos?), mesmo após a derrota mundial do socialismo, que elas consideram apenas um sucesso mal explicado, se atribuem duas superioridades: maior decência ética e maior ternura pelos pobres. Na realidade, sucumbem a interesses do corporativismo burocrático, em detrimento das massas, e reduzem a velocidade do crescimento econômico. E este é o único remédio efetivo para a pobreza.

Um esplêndido livro recente "The political economy of poverty, equity and growth" (Clarendon Oxford Press, 1996), de autoria de dois economistas asiáticos -um indiano, Deepak Lal, e outro birmanês, H. Myint-, ambos testemunhas da ineficácia do socialismo dirigista em seus respectivos países, desmistifica ilusões sobre o socialismo e sobre seu filho dileto, o "welfare state". É uma análise filosófica, política e econômica dos sucessos e insucessos da luta contra a pobreza em 21 países (inclusive o Brasil), entre 1950 e 1985.

As conclusões são interessantes:
. O crescimento rápido sempre alivia a pobreza, independentemente dos esforços da burocracia assistencialista;
. Não há um efeito claro e certo do crescimento sobre a disparidade nos níveis de renda, podendo esta aumentar ou diminuir durante o processo de rápido crescimento. Mas a experiência dos tigres asiáticos desmente o fatalismo da chamada "Lei de Kuznets", segundo a qual a distribuição de renda pioraria inicialmente no desenvolvimento capitalista, para só melhorar depois;
. O instrumento mais eficaz para a correção da pobreza absoluta não é o Estado Interventor, fantasiado de engenheiro social benevolente, e sim o Estado Liberal (ou seja, o Estado Jardineiro).

Este libera as energias produtivas do mercado, tributa pouco e procura assistir os pobres e desvalidos por benefícios específicos para eles direcionados, preferencialmente através de entidades privadas, e não por esquemas globais de seguridade social, administrados por políticos e burocratas.

A pobreza pode assumir vários aspectos: a pobreza "estrutural", ou de massa, que até a revolução industrial parecia uma fatalidade humana; a pobreza "conjuntural", que tradicionalmente advinha de desastres climáticos ou de guerras e conflitos políticos, mas que, na civilização moderna, provém também de ciclos econômicos que provocam desemprego e recessão; e o "desvalimento", ou seja, a situação dos que não têm capacidade de trabalho por deficiências físicas ou mentais.

No tocante à questão global da pobreza, há um conflito histórico entre duas visões do mundo que se apresentam em várias formas e graus: o liberalismo e o dirigismo.

Os liberais insistem em separar duas questões que são habitualmente confundidas no debate corrente: a cura da pobreza e o igualitarismo. A extinção da pobreza absoluta é realizável e deve ser um objetivo social. O igualitarismo é utópico, e todas as tentativas de alcançá-lo geraram ineficiência ou despotismo.

Os liberais certamente lutarão pelo alívio da pobreza; mas rejeitam o igualitarismo socialista. Em outras palavras, consideram a "equidade" desejável e a "igualdade" impossível.

São várias as razões por que é fútil pretender-se, através do intervencionismo governamental, alcançar uma distribuição igualitária das rendas: 1) Deus não é socialista e distribuiu com profunda injustiça os dotes de inteligência, criatividade e diligência; 2) inexistindo normas objetivas de justiça, ou justiciadores sábios e benevolentes, torna-se perigoso tentar corrigir as injustiças divinas pela "justiça social" ditada pelo ideólogo, burocrata ou político de plantão; 3) fazer justiça social pela abolição da propriedade (solução comunista) ou pela tributação distributivista (solução socialista) redunda em tirania política e expurgos em massa, ou então, em perda de eficiência econômica (a supertributação desincentiva a criatividade e o esforço).

Donde ser melhor, como propõem os liberais, que o Estado seja mais modesto: deve buscar a extinção da pobreza absoluta sem tentar implantar o igualitarismo. Por isso os liberais não falam em "seguridade social universal" e não simpatizam com a "previdência pública compulsória". Preferem falar em "redes de segurança para os desvalidos" ou em "garantia de renda mínima" para os realmente pobres. No Brasil, a coisa é ainda mais rudimentar: a cura da inflação é prefácio e precondição da cura da pobreza.

Uma das deformações dos sistemas assistenciais desenvolvidos nas sociais democracias é aquilo que George Stigler chama de "privilégios dos diretores", isto é, a captura de benefícios pela classe média. Esta, nas sociedades industrializadas, é politicamente muito mais numerosa que os ricos e muito mais articulada que os pobres.

Cria-se assim o "Transfer State", isto é, o Estado Transferidor, de que o nosso INSS é modelo exemplar. O "Transfer State" morde os ricos pela tributação e pune os pobres com aposentadorias ridículas, desviando recursos para o bem-estar da classe média -professores, jornalistas, magistrados, militares, congressistas e burocratas, que gozam de aposentadorias precoces, desproporcionais às contribuições. São os chamados "intitulamentos políticos".

A única maneira de se evitar que o poder político da classe média puna a produtividade dos mais eficientes e explore a passividade dos pobres é substituir o sistema de previdência pública compulsória pela capitalização individual.

É o sistema de cadernetas de poupança previdenciária, onde cada cidadão depositaria sua contribuição, sabendo que os benefícios futuros disso dependem. É o sistema chileno, no qual a contribuição compulsória, anteriormente paga ao governo, é aplicada em fundos de pensão privada, não havendo assim transferências imerecidas de renda.

O governo não intervém para redistribuir rendas, limitando-se a fiscalizar o sistema e a complementar a renda daqueles que, ao fim de sua vida laboral, não recebam um mínimo vital para sua sobrevivência. O curioso é que o tão vilipendiado general Pinochet, sem alardear superioridade ética ou sensibilidade social, intuiu duas coisas fundamentais para a diminuição da pobreza -o crescimento sustentado e a correção dos abusos do "Transfer State".

Lal e Myint demonstram a precariedade das tentativas de distributivismo social em países de baixa taxa de crescimento. Durante algum tempo, Costa Rica, Sri Lanka e Uruguai foram exibidos como exemplos de países bem-sucedidos nessa conciliação. Isso durou pouco porque esses países entraram em crises fiscais, ou estagnação econômica, tendo o Uruguai tido que rever seu pesado Estado Providência a fim de absorver ideias do modelo chileno.

A cura da pobreza não depende da decadência do político, da boa vontade do burocrata ou da piedade do clérigo. Depende do crescimento econômico. E as molas clássicas do crescimento continuam sendo a poupança, a produtividade e o espírito empresarial. Priorizar a realidade humilde, em vez de entronizar a utopia fugaz, é a grande virtude do liberalismo.

*Publicado na FSP no domingo, 1 de dezembro de 1996

 

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  • Harley Wanzeller
  • 08 Maio 2019

 

 “Seu Nazista!”

“Nazista!”

“Nazista, Nazista, Nazista!”

Mais que um adjetivo, denota um verdadeiro xingamento usado de forma inapropriada e corriqueira contra qualquer um que ouse desafiar o establishment e seu discurso politicamente correto alimentado pela esquerda progressista.

Nestas bocas, a palavra é acompanhada de salivas raivosas e proferida como cuspe de fel na cara de muitos, em um ato terrível apto a provocar vergonha, seja ela pessoal, quando o interlocutor de fato defende esta forma de totalitarismo e suas atrocidades, ou mesmo alheia, quando o dono do discurso demonstra sua ignorância sobre o que se põe a falar.

Creio que para qualquer debate acerca do Nazismo e sua posição histórica, devemos como em muitos debates buscar a honestidade intelectual. E para isso, nada melhor do que avaliar o movimento por seus princípios instrutores, proclamados pelo próprio Adolf Hitler e consolidados no documento historicamente conhecido como a certidão de nascimento do partido nazista. A partir deste texto, extraímos a verdadeira inspiração para o totalitarismo executado pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ao longo de sua existência.

Os traços comuns com outros tipos de ideologias totalitárias não encerram mera coincidência.

Portanto, sem maiores celeumas, deixo aqui minha visão, e por ela esgoto a participação em qualquer futuro debate. A retórica nazista e seus princípios bastam para a suficiente elucidação do tema, apequenando qualquer tentativa argumentativa por parte deste autor.

Porém, não ficarei no muro das dúvidas e lamentações.

De fato, comunismo e nazismo não são a mesma coisa.

São, porém, irmãos gêmeos univitelinos que possuem nomes diferentes, vestem roupas diferentes, adotam cores diferentes e, como não poderia ser diferente em uma índole totalitária, “brigam” diabolicamente entre si pela conquista e dominação de espaços para imposição de seus objetivos.

São, sim, diferentes.

Mas não negam a origem comum.

São filhos da mesma besta, e dela se alimentam.

Tirem suas conclusões.
 

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  • Samir Keedi
  • 08 Maio 2019

 


Há décadas defendemos que o rodoviário é o modo de transporte mais caro que existe. Acima do aéreo. A priori, ficam todos surpresos. A ideia geral é considerar o aéreo o mais caro.

Enquanto sempre se considerou que havia apenas uma categoria de custos, era verdade. Começamos a disseminar a ideia que havia outra categoria de custos, que tornava o rodoviário o mais caro.

Antes se considerava apenas o que chamamos de custos visíveis, quais sejam, custo do veículo, depreciação, manutenção, custos operacionais, estrutura, etc.

Mas, há outra categoria de custo nunca considerada. De custos invisíveis. Estavam lá, mas não eram vistos e computados. Ou seja, um frete indireto sobre o produto, não considerado no preço de venda, pois pago antes da compra.

Assentamos esses custos invisíveis do rodoviário em três pernas. Utilização de estradas e vias públicas em geral, sem pagamento pelo uso. Produtividade do trabalhador. Poluição ambiental.

A primeira perna é a utilização de vias públicas, que o transporte rodoviário usa de terceiros.

Bem diferente do ferroviário, que além de ter as locomotivas e vagões, tem a sua via férrea. Ou seja, transita no que é seu e tem custo direto. E ainda assim é mais barato que rodoviário.

Ao se produzir uma mercadoria, se usa matéria prima, energia, mão de obra, estrutura, etc. Aí são incluídos impostos, lucros, custos de transporte, distribuição, etc. Quando essa mercadoria chega ao ponto de venda ao consumidor, ela já recebeu os mais diversos custos e é vendida por um preço "X".

Aí se considera esse preço de venda como o pago pelo consumidor por aquela mercadoria.

Um engano. Como vimos, nenhum caminhoneiro é dono de estrada. Assim, anda na estrada do governo. O governo é o povo. Assim, ao se pagar um preço "X" pela mercadoria, ele não é o preço total, pois, antes, já se pagou impostos e os governos construíram as estradas. Fora a manutenção. No qual os veículos andaram e quase nada pagaram por elas.

Aqui nos permitimos um aparte, para não considerar os custos dos pedágios, embora caros. Pela simples razão de que temos no país cerca de 1,7 milhão de quilômetros de estradas. E "apenas" 21.000 são pedagiadas, pouco mais de 1%. Assim, não podemos considerar uma quantidade "tão pequena" como relevante. Isso ocorrerá quando 20-30% das estradas o forem. Aí não se poderá mais construir qualquer veículo rodoviário por inviabilidade econômica no transporte.

Assim, já vimos que o preço final do produto não é o pago pelo consumidor. Ele já pagou parte antes.

E temos a segunda perna, a poluição, que é mais um custo invisível. O rodoviário é o modo mais poluente. E quem paga o "conserto" do meio ambiente é a sociedade e não os transportadores.

A terceira perna é a produtividade do trabalhador. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, trabalhadores perdem no trânsito, facilmente, 3-4 horas por dia.

Qual a produtividade do trabalhador que saiu de casa antes do sol e chegou depois dele se pôr, não brincou com o filho? Qual a produtividade do que saiu depois do sol, chegou antes dele se pôr, brincou com o filho, tomou aquela cervejinha com os amigos? A mesma? Claro que não. Quanto o país perde com isso? E sabemos que a produtividade do trabalhador brasileiro é até quatro vezes menor que a do norte-americano.

Está claro que o preço da mercadoria pago pelo consumidor é muito maior do que aquele preço da prateleira.

Em 2014 a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro fez um estudo mostrando que o país perdia R$ 98 bilhões por ano, 2% do produto Interno Bruto pelo uso do rodoviário apenas nas cidades de São Paulo e rio de Janeiro.

Mas, isso faz do transporte rodoviário um modo ruim? Claro que não. Costumamos defende-lo como o melhor que existe. Somente ele pode fazer quase tudo sozinho, sem depender de outros modos. Com ele se pode fazer transporte para quase todo o mundo. E todos os demais dependem dele.

Assim, o problema não é o transporte rodoviário, mas, o uso que fazemos dele. Cruzamos o país de norte a sul, de leste a oeste transportando carga por ele. E ele é um veículo adequado para distribuição de carga, pequenos trajetos, auxiliar dos demais modos que quase nada representam sem ele.

Assim, precisamos mudar o uso desse veículo, e a nossa matriz de transporte, hoje talvez a pior da Via Láctea. Precisamos de mais logística, por mais trivial que seja, com a utilização da intermodalidade, e menos transporte direto com o rodoviário.

Acorda Brasil!

Ske Consultoria Ltda
*    Publicado originalmente no blogdosamirkeedi.com.br
    

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 07 Maio 2019

 


Todo mundo sabe - ou deveria saber - que com a desgastada ladainha da luta de classes - socialistas e "socialdemocratas" elegeram a pauta dos direitos humanos, das minorias raciais, da igualdade de gênero, de grupos como LGBTs, da diversidade e, é claro, da "proteção" do meio ambiente, como pautas preferenciais em sua plataforma política. Nessa linha, o belo "tudo é permitido" passou a ser a regra. Muito poucos se atrevem a exercer o seu livre arbítrio e julgar. O julgamento logo assume a forma de preconceito e de discriminação. Que homofobia, racismo, misoginia... Nesta atmosfera, não tenho dúvida de que nossa cultura foi mediocrizada e banalizada. Nas artes, na literatura, na música, na arquitetura, na poesia, o belo autêntico - aquele que evoca nossas necessidades de cunho moral e espiritual e nos auxilia na ponte com o transcendente (divino) - foi substituído pelo pós-moderno "original e cool", aquilo que inova e choca. Tudo é cultura, tudo é arte! O tributo a feiura impera e degrada. A nudez foi banalizada e os segredos entre quatro paredes foram expostos ao mundo. Quanto mais, melhor! Tudo pode! Quanto mais desaforado e grosseiro mais eficiente e bonito. Tudo que é do "povo", compulsoriamente é sinônimo de belo! É o diferente que agora críticos "especialistas" definem como o melhor e o padrão a ser seguido. Pergunto-me, aonde foi parar a tão necessária criatividade, ou seja, talento e inteligência reais?!

Sem me preocupar com rótulos, sou fervoroso defensor do livre mercado e da livre iniciativa. Só com a liberdade encontraremos o caminho do desenvolvimento econômico e social. No que diz respeito aos costumes, devo ser conservador, pois para mim o copo já transbordou e faz tempo. O choque de feiura e hediondez "inovador", pelo efeito da repetição sistemática é extremamente entediante e estúpido.

Todo mundo sabia que Bolsonaro representava não só o antipetismo, como também enfatizado em promessa de campanha, a suposta defesa e introdução nas políticas e instituições, de valores considerados conservadores, ligados a família, a religião, aos costumes e a moral tradicionais. Para uma parcela da população, por isso foi eleito.
Grande parte dos intelectuais e da mídia, defensores intransigentes da pauta do tudo é permitido, critica veementemente o presidente e todos aqueles que pensam distintamente deles e que discordam desta agenda "liberalizante". Ninguém deve julgar! Claro que as feministas, os gays e outras minorias devem expor livremente seus pontos de vista e interesses. Defenderei até a morte o direito das pessoas de se expressarem, embora possa discordar! Ironicamente, todos esses grupos, querem impor a sua própria verdade para toda a sociedade, transformando-se eles mesmos nos verdadeiros discriminadores.

O que choca e me incomoda, na verdade, é a forma! A gritaria e o ranço que vem da mídia, de intelectuais e de certos indivíduos, uma vez que são tomadas ações pelo governo, segundo suas promessas conservadoras de campanha, é intolerante, parcial e interesseiro. Quer dizer que só um lado pode se manifestar? É a liberdade de expressão?
Falando em beleza - harmonia não pode; é old fashioned - como são belas as pichações nas universidades federais, não? É a expressão popular... No recente caso da propaganda do Banco do Brasil, posso até discordar de que continha alguma "coisa extravagante", embora o único representante faltante tenha sido o que realmente é diferente da diversidade! O que me preocupou mesmo foi o custo envolvido! Que horror!

Enfim, da mesma forma que a pauta dos ditos de esquerda tem todo o direito de ser apresentada e defendida dignamente, sem entrar no mérito da questão, impressiona-me como esses mesmos esquerdistas criticam severamente e querem cercear a liberdade daqueles que defendem iniciativas contrárias e outras. A liberdade irrestrita deve ser ampla e para todos! A discriminação é nefasta e deve ser sempre combatida. O que não se pode querer proibir é a liberdade para todos os lados expressarem suas visões de mundo. Tá muito berrante e chato só um lado! Podem, logicamente, é discordar de maneira sensata!
 

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  • Géssica Hellmann
  • 07 Maio 2019


Já mencionamos de passagem em diversos artigos desta série sobre os oito benefícios fundamentais da Educação Clássica, a importância do reconhecimento da herança cultural greco-romana sobre o desenvolvimento da inteligência e do pertencimento a uma civilização. A influência greco-romana sobre o modo como vivemos em nosso país e nossa civilização é assunto para muitos milhares de páginas, estendendo-se, por exemplo, a Tecnologia (odômetro, a roda d’água e o relógio despertador), à Política (república, democracia, senado, eleições periódicas, voto), ao Direito (leis, procedimentos judiciais, terminologia jurídica), à Arte (conceitos de teoria musical, escultura, pintura), à Arquitetura e Engenharia (arcos, colunas, anfiteatros, estádios), à Literatura (poesia, narrativas, teatro), aos costumes (feriados, esportes e competições, jogos olímpicos, procissões religiosas, festas públicas, carnaval), à Ciência e à Filosofia (por herança direta), entre muitos outros.

Pela óbvia limitação de espaço e tempo, enfatizaremos neste artigo apenas um aspecto fundamental da Educação Clássica que, por si, já representa um inarredável compromisso com nossas origens: o estudo do latim.

Estudo do Latim e a formação da inteligência

O historiador argentino Rúben Calderón Bouchet (1918-2012) expôs de forma muito clara o modo como o latim é um elemento definidor de nossa civilização:

“O idioma latino, cunhado com justeza nas exigências da expressão jurídica, tem o privilégio de se adequar com precisão ao intercâmbio das ideias mais universais. É, provavelmente, a melhor língua feita para dizer tudo aquilo que os homens necessitam dizer quando se tratam de assuntos de interesse geral. Léxico de juristas, se converteu facilmente em veículo idôneo da filosofia grega e de tudo o que havia de radicalmente essencial nos helênicos. Ao ser expressado em fórmulas latinas, o pensamento grego ganhou em concisão e segurança denotativa o que perdeu, talvez, em riqueza expressiva”.

É fato que, sem conhecer a origem histórica das palavras que pronunciamos, é impossibilitada a compreensão mais profunda de seu sentido e, consequentemente, esteriliza-se toda a discussão em torno delas num oceano de confusões, ambiguidades, enganos e, no limite, engodos. Alceu Garcia, em elucidativo artigo, apresenta-nos alguns exemplos:

“JUSTIÇA SOCIAL – Justiça deriva do latim justitia, exprimindo conformidade com o Direito, não necessariamente o Direito Positivo, legislado, que pode ser, e frequentemente é, injusto (…), mas os princípios gerais derivados dos valores que formam a Ética de um determinado grupo, que antecedem e informam as leis objetivas e sua interpretação, consubstanciado no mister de dar a cada um aquilo que é seu, como diziam os juristas romanos. (…). Social vem de sociale, relativo à sociedade (do lat. societate), ou seja, uma coletividade humana. Ora, se justiça é dar a cada um o que é seu, infere-se necessariamente que a existência de mais de um indivíduo é sua condição sine qua non. (…) O adjetivo “social” é, pois, redundante e dispensável”.

O autor multiplica os exemplos, demonstrando como, a partir da origem grego-romana das palavras, expressões tão em voga nos debates públicos como “justiça social”, “política pública”, “direitos humanos”, “desigualdade social”, “lógica do capitalismo” e “direitos das minorias”, não passam de redundâncias destinadas a induzir o raciocínio a conclusões equivocadas.

Olavo de Carvalho observa que a degradação da herança linguística de um povo pode conduzir, no limite, ao seu desaparecimento:

“Mas o fato é que as nações nascem das línguas, e não estas daquelas. Por isto mesmo é impossível conservar um senso de identidade nacional quando, à força de conformar-nos a uma atualidade sociológica criada pela mídia e pelo imperialismo cultural, abdicamos de conservar o senso de unidade histórica da língua, o qual só pode ser sustentado com base na tradição literária perpetuamente revivificada pelo ensino. (…) Ora, se o ensino da gramática rompe com a tradição literária, adaptando-se ao fato consumado sociológico determinado por fatores extranacionais e antinacionais, a tradição mesma acaba sendo rompida, o gosto literário cai, a língua se torna confusa e tosca, os debates públicos caem para o nível dos slogans brutais, o próprio nacionalismo assume o sentido de uma revolta suicida”.

George Orwell, em seu célebre artigo “Politics and the English language” (A Política e a Língua Inglesa) explica como esse uso “ligeiro” da linguagem sem o domínio do real alcance e significado das palavras representa uma solução cômoda para quem deseja apenas escrever sem realmente pensar:

“Com o uso de metáforas, símiles e expressões idiomáticas requentadas, você poupa muito esforço mental ao custo de deixar vago o seu significado, não somente para seu leitor, como para si mesmo. (…) O único objetivo de uma metáfora é conjurar uma imagem. Quando essas imagens colidem – tal como em ‘O polvo fascista emitiu seu canto de cisne…’ – dê-se por certo de que o escritor não contempla uma imagem mental dos objetos que nomeia; em outras palavras, que, de fato, não está pensando”.

O Professor mestre Ricardo Santos David, em resumo bibliográfico simples e didático, reconhece o quanto o estudo do latim é necessário para um autêntico estudo da Gramática de nosso idioma. Um trecho de significado inequívoco:

“O latim é necessário nos estudos de gramática da língua portuguesa, uma vez que é necessário compreender o significado das palavras em sua origem e terminologia, e a partir disto melhor compreende também os significados do sistema linguístico cultural brasileiro”.

Para além do estudo da Gramática, Napoleão Mendes de Almeida1, no prefácio à sua “Gramática latina”, após afirmar enfaticamente e demonstrar com fatos que é totalmente falsa ideia de que o principal benefício do estudo do Latim seria a facilitação do aprendizado da Língua Portuguesa, explica porque é um desastroso equívoco uma concepção de Educação que exclua o estudo do Latim:

“Não encontra o pobre estudante brasileiro quem lhe prove ser o latim, dentre todas as disciplinas, a que mais favorece o desenvolvimento da inteligência. Talvez nem mesmo compreenda o significado de ‘desenvolver a inteligência’, tal a rudeza de sua mente, preocupada com outras coisas que não estudos.

O hábito da análise, o espírito de observação, a educação do raciocínio dificilmente podemos, pobres professores, conseguir de um estudante preocupado tão só com médias, com férias, com bolas, com revistas.

Muita gente há, alheia a assuntos de Educação, que se admira com ver o latim pleiteado no curso secundário, mal sabendo que ensinar não é ditar e educar não é ensinar. É ensinar dar independência de pensamento ao aluno, fazendo com que de per si progrida: o professor é guia. É educar incutir no estudante o espírito de análise, de observação, de raciocínio, capacitando-o a ir além da simples letra do texto”.

Sobre o papel do estudo do Latim no desenvolvimento da inteligência, Cheryl Lowe (1945-2017), fundadora da editora Memoria Press e da Highland Latin School, observa que os objetivos de uma disciplina estão muito além do seu conteúdo informativo, imprimindo seus princípios, métodos e fundamentos ao próprio funcionamento da mente do estudante:

“As disciplinas escolares fazem mais do que prover informação. Elas são formativas. As disciplinas formam a mente do estudante quando nela imprimem suas próprias qualidades. (…) Por exemplo, a disciplina de Literatura ensina a compreender, perceber e a compadecer-se da condição humana. A disciplina de História desenvolve o julgamento, o discernimento, o acume e a sabedoria; a disciplina de Matemática ensina a precisão e a Lógica. Analogamente, a mente do estudante educado em Latim assume as qualidades do Latim: lógica, ordem, disciplina, estrutura. O Latim exige e ensina a atenção aos detalhes, a acurácia, a paciência, a precisão e o trabalho completo e honesto”.

Esse ponto de vista é partilhado pelo Padre Milton Luís Valente, S.J.2, na introdução da obra “Ludus Primus”, onde disserta sobre o latim como requisito imperativo para estudo de uma Ciência:

“A Ciência jurídica baseia-se no Direito Romano. Estudar o Direito Romano sem conhecer o latim é absurdo.

A maioria dos termos da Medicina e de todas as Ciências Naturais é de origem latina, e decorar esses termos sem lhes penetrar a força íntima não é digno de um ser racional, muito menos de um cientista.

Por isso, costumava dizer Carlos de Laet: ‘Admitindo aos cursos superiores moços não devidamente preparados em Letras Clássicas, seria criar não médicos, mas curandeiros, ainda que peritos; não jurisconsultos, mas rábulas; não engenheiros ou arquitetos, mas simples mestres de obras’.

Mas o maior bem que vos ministra o Latim é a sólida formação preparatória para a Ciência. O que o ensino do Latim pretende em nosso ginásio é ainda aguçar a vossa inteligência, é fortalecer a vossa vontade, é desenvolver vosso espírito para, quando chegardes aos complexos problemas da Ciência, poderdes observar, raciocinar, discutir, julgar com critério e emitir com clareza vossa opinião. Assim formados, estareis aptos para seguir nas universidades os professores de qualquer Ciência em suas pesquisas e lucubrações”.

Observações finais

O estado de absoluta confusão que podemos testemunhar em todas as discussões públicas no Brasil de hoje e, especialmente, o baixíssimo nível das conversas entabuladas por brasileiros portadores de diploma de cursos superiores sobre todos os assuntos imagináveis nas redes sociais são um indício bastante claro da degradação coletiva, em massa, da inteligência em nosso país, como resultado do abandono dos estudos clássicos e do idioma Latim por nosso sistema educacional, indício ainda mais eloquente quando os comparamos com a situação de 50-60 anos atrás, quando nosso país ainda contava com excelentes escritores e oradores. A ausência das ferramentas essenciais do raciocínio impede a definição apropriada dos problemas nacionais; a ausência de definições precisas dos problemas impossibilita seu equacionamento; a falta de equacionamento reduz a uma quimera as expectativas de que um dia esses problemas verão a luz de uma solução. A esperança de melhorias efetivas em nosso país não deve recair neste ou naquele governante ou partido, cujo poder é sempre transitório, mas numa nova geração de homens e mulheres formados nos princípios da Educação Clássica, com raciocínio e inteligência refinadas, movidos por interesses muito mais elevados do que, no amargo dizer de Napoleão Mendes de Almeida, “médias, férias, bolas e revistas”. As crianças homeschoolers, educadas no amor do lar, com o coração enternecido pela fé cristã e com a inteligência forjada pela Educação Clássica representam uma grande fonte de esperança para que nosso país recupere a trilha da Verdade, da Beleza e da Justiça, com todas as consequências benéficas dela resultantes.


• Por Géssica Hellmann em Educação Clássica, Valorizando o conhecimento
1ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática latina. São Paulo: Saraiva, 2000, 29ª edição, p. 8.
2VALENTE, Pe. Milton Luís. Ludus Primus: 1ª série ginasial. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1949, pp. 12-13.

 

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