O comércio exterior brasileiro é uma gangorra, desde sempre. Não consegue se estabilizar. Aumenta durante alguns anos, diminui em outros. Mas o pior é ter a média histórica de 1,0% do comércio mundial e aproximadamente 18% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Para se ter ideia do que isso representa, a média mundial tem variado entre 40% e 48% do PIB mundial, na última década.
Considerando potencialidades, o comex brasileiro é irrisório. Nossa exportação chegou a ser 2,37% da mundial em 1950 e, nos últimos anos, de 1,44% em 2011.
Assim, percebe-se que temos uma grande possibilidade de chegarmos a percentuais bem maiores. Portanto, apenas o crescimento pode ser esperado. Nas últimas décadas, em que passamos de primordialmente exportadores de produtos agrícolas para industrializados, houve melhoria da esperança. Mas, nos últimos anos nossa exportação voltou ao passado.
Precisamos industrializar o País, agregar valor às nossas commodities. Exportar mais óleo e menos soja in natura. Mais cintos, sapatos, bolsas do que couro bovino. E assim por diante. Claro que, sem abandonar a exportação de produtos agrícolas. Temos que equilibrar as duas coisas. Agregar valor aqui deve ser prioridade. Não podemos mais continuar exportando produtos primários e importando industrializados feitos com nossas matérias-primas.
O desenvolvimento agropecuário do Brasil é extraordinário. De dar inveja ao mundo. Atingimos um patamar que poucos países têm. Agora temos de pensar na industrialização.
Parece que agora, novamente, temos uma esperança disso acontecer. Com o novo governo, entendemos que, como poucas vezes, temos uma nova chance. Comércio exterior parece voltar a ser prioridade.
O governo tem falado em mais integração com países ricos, mais acordos comerciais, redução das nossas tarifas internas na importação. Finalmente, entende-se que são países ricos que trazem oportunidades, fazem mais compras, fornecem máquinas e equipamentos mais adequados. E, com a redução de tarifas, mais acordos comerciais, cria-se uma condição muito mais adequada de melhorar nossa capacidade industrial e produtiva geral.
Sempre defendemos, e temos uma infinidade de artigos a respeito, bem como livros, de que a melhor forma de desenvolvimento de um país, qualquer um, é o comércio exterior. Aumenta-se muito a quantidade de consumidores. Coloca-se a qualidade ao julgamento de muito mais consumidores. Criando uma condição impar de desenvolvimento e melhoria de produtos.
Esperamos que este governo, que começou bem nesse sentido, falando o que se quer ouvir, coloque em prática essas ideias.
Mesmo tendo uma participação diminuta no comércio exterior mundial, somos líderes na exportação de diversos produtos. Somos líderes, por exemplo, na exportação de frango, com quase 45% do mercado mundial. Líderes na carne bovina, suco de laranja, café, soja, açúcar, etc.
Se considerarmos que nunca fomos um país em que o comércio exterior tenha sido prioridade, é extraordinário. Tudo, até hoje, tem sido por obra de empresários voluntariosos, desejosos de melhorar o País. Claro que devemos considerar que o capitalismo visa produção e lucro e todos desejam ganhar. Mas, independente disso, temos de louvar os empresários, já que é normal ter o governo como inimigo comum.
Muda, Brasil! Já passamos muito da hora. E vamos parar de pensar que temos tempo, que somos um país novo. Ninguém com mais de cinco séculos é novo. É tempo muito além do suficiente para ser grande e desenvolvido. Vide, por exemplo, a Austrália e Canadá, mais novos do que nós como países, e muito, muito mais desenvolvidos.
*Publicado originalmente na revista Cist News de março-Abril/2019
Samir Keedi
ske consultoria ltda
blogdosamirkeedi.com.br
Resolveu levar o neto ao circo, para que conhecesse a alegria pura e inocente, como aquela que tinha vivido na sua infância. A expectativa de ambos era enorme.
Chegando ao local quis comprar pipoca, mas foi informado que não era mais comercializada, pois a ANVISA não permitia a venda de alimentos com gordura trans. Também não encontrou algodão doce, pois a SMIC não liberara a carrocinha de venda da guloseima.
As frustrações estavam apenas começando.
Foi até a bilheteria e soube que não haveria espetáculo, o vendedor de ingressos começou a enumerar os motivos:
A bandinha fora proibida de tocar, pois deveria recolher uma taxa para o ECAD. O elefante fora afastado por ordem do IBAMA. O domador do leão havia ingressado com uma reclamatória trabalhista, alegando periculosidade. O picadeiro não podia ser montado, pois faltava areia, proibida pela FEPAM, e a serragem não era certificada, podendo configurar risco ambiental. O trapézio havia sido interditado pelo MPT, pois poderia oferecer risco aos acrobatas. A mulher barbada e o palhaço anão estavam processando o dono do circo por bullying, alegando dano moral. O mágico não poderia se apresentar, pois o PROCON entendia que o ilusionismo era uma forma de enganar o consumidor. O encarregado da limpeza forçou sua demissão para ficar no seguro desemprego. O engolidor de fogo não obteve PPCI do Corpo de Bombeiros para apresentar seu número. As duas ginastas oficializaram sua união e abandonaram o circo. As motocicletas do Globo da Morte foram apreendidas pela EPTC, pois estavam com a surdina incompleta. O equilibrista foi vetado pela DRT, pois não usava paraquedas. O fornecimento de energia foi cortado, pois o circo deveria instalar uma subestação, às suas expensas, para recebê-la. O homem bala não poderia ser arremessado pelo canhão, pois a arma não estava registrada na Polícia Federal. O apresentador era estrangeiro e não podia trabalhar, pois não era cubano. Os macacos estavam proibidos de atuar, por força de uma Ação Coletiva de uma ONG Darwinista. Foi ajuizada uma ACP pedindo a interdição do circo. Houve uma autuação fiscal cobrando ISS, o contador ficou com stress e entrou em licença saúde.
O dono do circo, que era o verdadeiro malabarista, pois tinha de pagar todos os impostos com uma receita insuficiente, tinha entrado em depressão.
Sentado num tamborete, viram um homem triste, com o rosto pintado e vestido de palhaço.
Então o menino perguntou:
“Vô, mas o palhaço não é alegre?”
E ele respondeu:
“Pois é, levaram embora a alegria dele. Acho que vais ter que voltar a brincar com teus videogames ou assistir desenhos na TV”.
Em 2013, o protesto “passe-livre” apareceu na rua. De cunho esquerdista era composto por um grupo de jovens que tinham carro, mas reclamavam do aumento de vinte centavos no preço dos ônibus. A esquerda jamais poderia imaginar o que viria depois. De forma inédita começaram atos espontâneos, sem lideranças, de milhares de brasileiros de todas as classes sociais que foram para as ruas reivindicar qualidade de serviços públicos, especialmente os da Saúde e da Educação, clamar contra a corrupção, os gastos da Copa etc.
Como não podia deixar de ser, apareceram críticas de analistas, cientistas políticos, jornalistas. Diziam que os atos não tinham foco, que as aspirações eram difusas, que as manifestações eram passageiras.
Entretanto, apareceram resultados. Despencou a popularidade da presidente petista Dilma Rousseff, espantaram-se os políticos de todos os partidos e o Congresso aprovou a toque de caixa projetos parados ou esquecidos.
As manifestações não foram passageiras e seguiram retomadas nos anos seguintes com foco no “fora Lula”, “fora Dilma”, fora PT. O brado era entoado pelos milhões que foram às ruas protestar e pedir o impeachment da presidente. O Congresso entendeu o recado e obedeceu a vontade popular, pois políticos sobrevivem através da opinião pública onde buscam votos.
E o impeachment aconteceu. Ironicamente, o PT que tentara o impeachment de outros viu um dos seu ruir estrondosamente. Foi como um míssil no coração do partido que sempre se rotulou o maior de esquerda da América Latina. A partir dai o declínio foi se verificando. Isto significa que o movimento verde-amarelo das ruas deu resultado.
No ano passado impressionantes multidões foram para as ruas, desta vez pelo candidato Jair Messias Bolsonaro. Inclusive, foi em uma destas enormes aglomerações que um matador de aluguel, que não se sabe quem enviou, esfaqueou o candidato.
É bom frisar que nenhum candidato à presidência teve algo assim em termo de massas. Nem Lula nos seus melhores tempos. Aliás, as últimas caravanas do agora presidiário foram um completo fracasso. Quando espalharam que se Lula fosse preso haveria convulsão social, a prisão aconteceu sem que ninguém se atirasse no meio da rua rasgando as vestes e arrancando os cabelos. E nem mesmo a cena teatral da prisão quando Lula se acoitou no sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo, fez multidões incalculáveis aparecerem para proteger o líder.
Uma vez empossado, Bolsonaro continua a ser atacado incessantemente por “milícias” da mídia e de entidades de esquerda. E quando foi anunciado corte na Educação, um contingenciamento que ainda não aconteceu, movimentos de esquerda, voltaram às ruas no dia 15 de maio com o aparente motivo de salvar a Educação. Nenhum protesto da UNE, das Centrais Sindicais e dos chamados Movimentos Sociais foi feito quando Lula e Rousseff, como afirmou em artigo Rapphael Curvo (Ao Som das Ferraduras, 1 de junho de 2019) “sacaram da Educação 30 bilhões.
Porém, agora existe de parte da sociedade respostas, reações, contestações ao que acontece. Um fenômeno pouco percebido, assim como o que chamo de Quinto Poder das redes sociais. Isso explica o porquê da resposta às manifestações do dia 15.
Anteriormente, o anúncio dos atos do dia 26 foi duramente criticado por cientistas políticos, analistas, jornalistas, partidos políticos e até por partidários do presidente da República. Dizia-se que era um tiro no pé, que seria um fiasco, que era precipitado.
Então, os on-line foram para as ruas e os atos foram um sucesso. Defendeu-se as reformas pelas as quais o Executivo luta no Congresso e se houve críticas ao Legislativo e ao STF não foram no sentido de acabar com esses Poderes, mas a certas atitudes de seus membros. Tudo correu de forma pacífica, democrática e sem queima de ônibus.
E deu resultado: a reforma administrativa foi aprovada no Senado. O presidente da Câmara falou em se afastar do “Centrão”. Foi feito um pacto entre os três Poderes pelas reformas. A força do presidente da República confirmou-se pelo apoio do povo sem que ele interferisse anteriormente ou participasse com seus ministros das manifestações.
No dia 30 de maio, em uma tréplica da esquerda uniram-se de novo a UNE, a CUT, as outras Centrais Sindicais, o MST, o MSTS. Foram liberados das aulas em todo país os estudantes universitários e os do segundo grau. Alguma coisa foi dita sobre educação, houve muitas faixas com o mote “Lula Livre”, palavras de ordem sindicais, queima de um boneco do presidente Bolsonaro e pedido do seu impeachment.
O resultado das manifestações da esquerda foram pífias e não produziram resultado, que é o que interessa. Portanto, ponto para o presidente Bolsonaro e para os 0n-line que foram para as ruas mostrar como funciona o Quinto Poder.
* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
A TAREFA DE GOVERNAR
O povo brasileiro, em geral, acredita, piamente, que a tarefa de GOVERNAR o País, os Estados e os Municípios cabe, exclusivamente, aos ocupantes dos cargos do PODER EXECUTIVO, ou seja, ao presidente, aos governadores e aos prefeitos.
TRÊS PODERES
Pois, para este universo de convencidos -equivocados- é importante, e necessário, esclarecer a todo momento que a tarefa de GOVERNAR um país, estado ou município cabe aos ocupantes dos TRÊS PODERES, ou seja, do EXECUTIVO, LEGISLATIVO e JUDICIÁRIO.
PODER EXECUTIVO
As obrigações do ocupante do PODER EXECUTIVO se resumem, basicamente, em aplicar as leis vigentes, administrar órgãos públicos de serviços à população e, se for o caso, PROPOR as mudanças que levaram a maioria dos eleitores a decidir seu voto, quer seja para presidente, governadores e prefeitos.
PODER LEGISLATIVO
Como o EXECUTIVO, em países que adotam o REGIME DEMOCRÁTICO, precisa da concordância da maioria dos ocupantes do PODER LEGISLATIVO para implementar as mudanças acordadas e avalizadas pela maioria dos eleitores, fica mais do que evidente que os destinos do País, Estados e Municípios dependem da vontade destes DOIS PODERES. Ambos, portanto, não apenas GOVERNAM como são responsáveis pela boa ou má governança.
PODER JUDICIÁRIO
Em tese, ao PODER JUDICIÁRIO cabe JULGAR se as leis criadas pelo PODER LEGISLATIVO estão de acordo com as REGRAS CONSTITUCIONAIS. Entretanto, no nosso empobrecido Brasil, esta importante tarefa de promover JULGAMENTOS, infelizmente tem sido conduzida quase sempre levando em conta a cabeça ideológica dos membros julgadores. Assim, pouco importa a vontade dos eleitores, que nada têm de SOBERANOS.
DECISÕES
Vejam, por exemplo, quantas boas e necessárias iniciativas que vem sendo tomadas pelo governo Bolsonaro, todas elas fortemente apoiadas pelos eleitores que querem e exigem UM NOVO BRASIL, vem sendo sistematicamente reprovadas pelo PODER LEGISLATIVO. Da mesma forma, outras tantas, tem sido repelidas pelo PODER JUDICIÁRIO, usando justificativas absurdas e nada convincentes.
Fica claro, portanto que os resultados de um BOM OU MAU GOVERNO deve ser atribuído às decisões tomadas pelos ocupantes dos TRÊS PODERES!
Vai estourar! É só uma questão temporal - e é atemporal - como de costume! O Brasil é um veículo - de modelo não tão velho assim - rodando com quatro pneus bem carecas e extraviados. Os buracos com um pouco de asfalto também não ajudam! O problema maior e insolúvel em algum momento, é que os dois pneus dianteiros já adentraram aos arames de aço e, tristemente, só há um estepe, igualmente na mesma debilitada situação. Inexistem condições de continuar rodando sem uma reforma nos cinco pneus, e muito provavelmente, também em outras partes sistêmicas do veículo brasileiro.
O país depende de várias e novas edificações - dignas e não maquiagens - para continuar respirando sem tubos de oxigênio. A reforma da Previdência é apenas o começo de uma longa lista de mudanças que o país necessita para ser atrativo ao investimento - interno e externo - a fim de gerar empregos, renda e riqueza. Por óbvio, é preciso deixar os brasileiros mais livres e menos expropriados coercitivamente.
A realidade real torna proibitivo que se performe o tradicional papel de vítima dos yankees capitalistas exploradores! Adeus ao usual álibi! O ponto relevante, ou seja, a verdadeira culpa, é de nossa cultura entranhada e prática estatista, intervencionista e patrimonialista que se materializa por meio de políticas irresponsáveis e assistencialistas com o dinheiro público. Tal cultura e prática resulta que o rio corra para o mar: déficit crônico no orçamento da União! No país de Macunaíma, essa peça contábil é representada pela despesa; sinônimo de autorização para gastar, e receita, um número fictício com o qual não se têm nenhum compromisso efetivo, pois sempre há o famoso jeitinho brasileiro para identificar alguma brecha na monstrenga estrutura e legislação do gigante Estado verde-amarelo. Ademais, impostos são impessoais e anônimos (O pessoal não sente...). O político tupiniquim age e gasta eleitoreiramente como se o poço nunca tivesse fundo! Claro que tem, mas esse sempre só chegará no limite na próxima legislatura... Imoralmente, ano após ano, sabe-se que o orçamento brasileiro é "pra inglês ver"!
Os brasileiros de todas as estirpes, faz pouco, começaram a dar-se conta que o dinheiro que financia gastos públicos absurdos (vide STF e sua singela farra alimentar) e parasitismo estatal, além de programas assistencialistas, populistas e eleitoreiros, é subtraído do esforço e do trabalho popular, por meio de impostos aviltantes e de políticas clientelistas que inibem e obstaculizam à iniciativa privada a produzir eficientemente, gerando emprego e renda.
Cabe igualmente frisar que não se pode despejar a culpa no capitalismo - aquele "de verdade", embasado em genuíno livre mercado e concorrência, nunca passou por aqui, e tampouco ao liberalismo, que episodicamente tivemos, no tempo do Império e em algumas iniciativas no governo social-democrata de FHC.
O avanço no sentido liberalizante da economia é uma questão de sobrevivência! Claro que sempre existe uma força contrária da mesma intensidade, tentando barrar o processo de "modernização" brasileira. Embora a realidade pragmática da experiência mundial comprove a falácia de veias marxistas, é fácil jogar para a torcida, especialmente no meio político. O populismo é a conduta inconsistente e inconsequente a serviço da política eleitoreira. Por aqui, muito Estado para abancar uma minoria que se locupleta com as benesses do poder, juntamente com seus empresários "favoritos e especiais". O governo é campeão em eleger "seus campeões" (quais são as regras objetivas; reais determinantes e critérios?!) para exercer - como sempre - seus atos de bondade divina decorrentes de enormes privilégios para empresas que não deveriam depender de dinheiro público. Notadamente, por aqui há uma relação umbilical entre políticas industriais ativas e corrupção. Além disso, quanto mais bu(r)rocracia melhor, afinal existe muita gente no inchado Estado que têm que fazer - ou não fazer - muitas coisas improdutivas, sem nenhum sentido de real agregação de valor à vida dos indivíduos.
De fato, o Brasil precisa não só da reforma da Previdência, mas de uma reforma tributária que simplifique a selva de tributos, não penalize a produção, e que deixe transparente - e com vergonha - a tributação indireta e a voraz fome governamental para impor tributação escorchante que hoje passa quase que despercebida pelo cidadão comum. Igualmente, é imprescindível algum critério que premie o comportamento virtuoso e penalize a irresponsabilidade fiscal e gerencial de administradores estatais ineptos e/ou mal-intencionados.
Reformas nos "pneus" estatais previdenciário, tributário e administrativo são urgentes e vitais. Não há mais espaço para populismo e demagogia! O povo acordou! Reformas orçamentária e fiscal que simplifiquem, reduzam "direitos" anacrônicos e deem visibilidade àquilo que parlamentares populistas fazem com o dinheiro público, contrariamente a políticas saudáveis de sustentabilidade, simples conta entre receita e despesa.
Chegou a vez do darwinismo das ideias finalmente prosperar! De ideias e inciativas liberalizantes por meio de privatizações, com critérios objetivos que melhorem custos, preços e serviços a população - eliminando as graves e notórias fontes de corrupção. Da real abertura ao capital estrangeiro, que encontra-se bloqueado em setores protegidos para "empresários" nacionais, impedindo a concorrência e os ganhos em escala e a efetiva participação nacional nos fluxos tecnológicos e de inovação, em especial das grandes transnacionais. Além disso, faz-se necessário eliminar intervenções absurdas, tais como exigências de altos "conteúdo nacional" nos insumos, manifestação meramente populista e eleitoreira que inibe a participação de empresas nacionais nas cadeias globais de valor, reduzindo nossa produtividade e competitividade. Igualmente imperativo é a premência da desburocratização e agilização de processos relacionados a iniciativa privada - tais como abertura de firmas e documentos exigidos, por exemplo - a fim de criar um ambiente de negócios mais propício aos investimentos.
O povo saiu as ruas para protestar, espontaneamente! Foi as ruas para defender as inadiáveis reformas e mostrar sua indignação para com os políticos populistas, corporativistas e interesseiros, que enxergam mas se negam a ver a indeclinável e urgente necessidade de tais reformas estruturantes e fundamentais para o momento presente e para o futuro nacional. Mais um teste de força contra parlamentares preocupados em se servir da nação. O movimento pode até ter impacto franzino, pelo conhecido bunker parlamentar, mas a pressão social é, sem dúvida, o meio de causar um certo sobressalto na conduta e costumeiras iniciativas eleitoreiras e/ou interesseiras desses "políticos".
No Brasil, um dia quem sabe, haja verdadeiro temor do constrangimento social e/ou da potencial rejeição nas urnas. Esperemos. Tomará que antes de estourar, pelo menos, dois dos extraviados pneus brasileiros!
Só se fala naquilo! O mantra do dia é inovação! Não é por menos, empresas que não se adaptam, passando a moldar o ambiente competitivo a seu favor, que não focam no crescimento e que não inovam em processos, produtos, serviços e experiências, tendem a desaparecer. Que o digam Mesbla, J.H. Santos, Casa Masson, Blockbuster, Kodak e por aí afora.
A noção é trivial: é preciso criar consistentemente um valor superior para o cliente, e manter e lucrar a partir desse valor. Tal valor diferenciado e percebido pelos consumidores é, na realidade, a entrega de uma combinação de benefícios na forma de utilidade funcional, emocional, social e de autorrealização. A configuração de como uma organização resolve melhor, contínua e especificamente os problemas dos consumidores, dá-se por meio de constantes inovações de valor, podendo serem transformacionais e/ou incrementais. Tais inovações é que permitem que empresas gerem mais valor para seus clientes e, por sua vez, alcancem uma maior lucratividade. Que tarefa hercúlea esta! Neste século XXI, apenas 9% das empresas no mundo inteiro conseguiram atingir uma modesta taxa de crescimento lucrativo ao longo de dez anos seguidos! Johnson & Johnson, Procter & Gamble, Walmart, Amazon, Apple, IKEA, entre outras.
Já que a inovação é tão saliente, o que eventualmente poderíamos aprender sobre ela, a partir da filosofia política do conservador inglês Edmund Burke, figura proeminente no cenário político e social europeu no século XVIII? Muito! Burke, distintamente daquilo que o senso comum caracteriza como conservadorismo, enxergava a mudança como fruto de heranças, tradições e experiências vivenciadas na vida e nas interações sociais entre os indivíduos num determinado contexto. Segundo ele, novas ideias e inovações surgem a partir de melhorias graduais de padrões antigos, conhecidos e testados; aqueles que justamente resistiram ao "teste dos tempos". Burke afirma que, por natureza, os homens são atraídos pela novidade e para a excitação. Sua preocupação central é que somente se os indivíduos ficarem comovidos com a "beleza" do que receberam - pela história e tradição - podem ver suas vantagens e se tornar propriamente céticos e cautelosos sobre sua destruição. (Na vida empresarial real, muitos executivos pensam em o que fazer para inovar; poucos refletem sobre o que não se deve fazer, inovando erroneamente!).
Muitas inovações abruptas e aquelas drásticas rupturas de padrões, verdadeiramente, poderiam produzir resultados até mesmo destruidores de valor, em especial pela usual impudência deste tipo de inovadores - e pela falta de aderência a tais mudanças por parte de pessoas (de carne e osso!) no mundo real, não abstrato.
Bem, habitamos no mesmo "velho novo mundo", em que a única coisa constante é a mudança. Lógico que essa hoje é muito mais rápida e em alguma medida mais intensamente transformacional.
No contexto da vida empresarial, organizações inovam seus processos, produtos, serviços e experiências através de inovações que rompem os padrões existentes, desconstruindo fronteiras setoriais tradicionais, ou inovando incrementalmente por meio da melhoria de processos, produtos, serviços e experiências em toda a cadeia de valor. De fato, por meio da melhoria e evolução de seus recursos físicos, humanos e organizacionais que, desse modo, possibilitam uma maior diferenciação em relação aos concorrentes em um determinado negócio.
Contudo, é essencial enfatizar que inovações que conduzem a um verdadeiro crescimento lucrativo e ao aumento de valor com utilidade para os consumidores, originam-se fundamentalmente do core business empresarial, de um ou dois negócios centrais fortes. O core business é o conjunto de produtos, recursos, clientes, canais e áreas geográficas que delimita a essência do que a empresa é ou aprende ser para atingir sua meta de crescimento sustentável e lucrativo. É aquilo que a empresa faz de melhor, onde ela inova sistematicamente e se constitui em seu principal ativo intelectual.
Tal visão é muito distinta daqueles que apontam que a inovação surge da simples identificação e exploração de novas oportunidades e ideias de crescimento sobre mercados inexplorados. Minha ênfase recai na experiência, na tradição, no conhecimento acumulado, nas rotinas de alta performance que foram construídas com base em investimentos financeiros, gerenciais, tecnológicos e de pessoas ao longo do tempo dentro de determinada organização. A capacidade de inovar está enraizada e inserida nos seus processos e, assim, está condicionada por sua história, sendo mais difícil de ser reproduzida pelos competidores. Inovações são descobertas a partir das circunstâncias envolvidas e construídas encima daquilo que a empresa já faz melhor.
Inovações efetivam-se para solucionar de forma melhor e de maneira inovadora os problemas dos consumidores frente a circunstâncias e situações pontuais. Emergem do mesmo tronco de uma mesma árvore - e de seus respectivos galhos - tendo em vista que foram cultivados e regados ao longo de uma história, de investimentos e aprimoramentos sucessivos. O "conservadorismo", nesta direção, advém da adaptação de um negócio e de competências existentes - mesmo que por vezes ocultas - para a criação de processos, produtos, serviços e experiências diferentes para condições fundamentalmente novas no futuro. Essa visão é muito discordante de, singelamente, inovar em novos negócios, aparentemente, mais "quentes"! Mesmo em ambiente de quarta revolução industrial, a tecnologia não altera essa lógica, na medida em que não muda necessariamente o negócio, não altera a "prescrição organizacional", ou seja, os pontos fortes organizacionais. Evidente, impacta na forma, isto é, no "como" entregar uma combinação de valor e seus relativos benefícios ao cliente ao longo de toda uma cadeia de valor. Mudanças tecnológicas, compulsoriamente, impelem as empresas a uma revisão de seus modelos de criação de valor.
O pensamento "conservador" de Burke nos vaticina que mesmo que um modelo de criação de valor antigo e testado não funcione para sempre, é preferível construir o novo e as novidades a partir de bases sólidas, construídas ao longo do tempo de operações, e melhorar o que precisa ser aperfeiçoado desde aí. Extremamente melhor e mais produtivo do que começar do zero, desde uma ideia ainda não testada sobre um suposto modismo ou de um negócio quente, do momento.
Burke, além de nos oferecer um modelo de mudança gradual, evolutiva, a partir daquilo que comprovadamente se constitui no principal ativo intelectual desenvolvido por uma organização, alerta-nos para as aparentes vantagens - enganadoras - de uma eventual revolução. Em especial, sobre novidades que emergem de qualquer ponto ou lugar, e que estão, com efeito, desconectadas do core business da empresa.
Burke aponta que a inovação é fundamental e que todos os indivíduos deveriam obedecer à grande lei da mudança. Entretanto, suas ideias nos ajudam a compreender que inovações de valor (efetivo), manifestam-se de uma essência robusta, de fundamentos e foco concebidos cuidadosamente, de forma gradual, considerando a tradição, a prescrição e a ordem.
Talvez por falta de uma lógica burkeana, não revolucionária, muitas empresas tenham perdido o foco, buscando crescer em supostas adjacências, que não raras vezes diferem das competências construídas e diferenciadas pela tradição, produtoras de autêntico valor superior para um grupo específico de clientes. Exemplos desta perda de foco são abundantes, tais como nas principais companhias aéreas que buscaram equivocadamente crescimento em negócios de agências de aluguel de carros e outras extensões de marca e, nos fabricantes de produtos farmacêuticos, que entraram no negócio de cuidado pessoal. Perda da disciplina estratégica e de dinheiro!
O conservador inglês nos chama a atenção para o fato de que aquilo que realmente importa acontece nas interações sociais - e nas relações de mercado - entre os diversos atores econômicos e sociais. Em tempos de cadeias regionais e globais de valor, ele nos auxilia a atentar para o estabelecimento e desenvolvimento de relacionamentos colaborativos e de longo prazo com parceiros complementadores na agregação de valor e diferenciação dentro dos diversos ecossistemas empresariais em que empresas estão envolvidas. As competências organizacionais são heterogêneas, o que impulsiona os atores econômicos e sociais a associação e cooperação! O foco não deve estar somente numa solução individual ofertada ao cliente, mas sim estar na criação de valor a partir de todos os players importantes no sistema que contribuem para a geração de valor econômico para um cliente específico.
A leitura diligente de Burke nos remete a antiga tradição de que as novas ideias, a inovação e o empreendedorismo, distintamente daquilo que modismos e falaciosas teorias "modernas" apregoam, ocorra a partir de ideais e soluções de fora da organização. Especialmente - e meramente - que aflorem de pequenas e médias empresas e startups inovadoras. A história de grandes corporações comprova cabalmente que o empreendedorismo interno nessas organizações é capaz de gerar novas ideias, processos, produtos, serviços e experiências que melhor solucionam os problemas no cotidiano dos consumidores. Não, a inovação não depende somente de pequenos e médios empreendedores; é hora de atentar para os empreendedores de dentro de empresas de todos os portes! A tradição e a cultura empresarial exercem um papel crucial aqui!
Ah, como Sir Edmund Burke, com seus ideais conservadores mal-entendidos, atiça-nos no que concerne as inovações! Em especial o seu clamor pelo respeito a tradição, não porque essa representa práticas que começaram há muito tempo, mas essencialmente porque tais práticas sobreviveram e evoluíram por um longo processo de tentativa e erro, sendo capazes de gerar verdadeiras e úteis soluções de valor para os clientes. A história e a tradição são aquilo que genuinamente são, provas de valor, e simbolizam o que uma organização de melhor faz e onde ela é capaz de inovar com utilidade e de forma contínua!
Se o conservadorismo de Burke significa verdadeiramente não mirar fixamente para trás, mas um olhar prudente, para frente em que o presente é sempre melhor que o passado, e representa que organizações estão realmente comprometidas com a manutenção e o aperfeiçoamento dos meios pelos quais se tornaram melhores, facilitando e gerando inovações de valor útil no futuro, honestamente, espero que tenhamos mais conservadores empresarias que partilhem desta mesma visão.
De inovadores revolucionários - muito pouco úteis - correndo atrás de negócios aparentemente quentes que, no entanto, não agregam progresso e benefícios na vida dos consumidores, seguramente, não precisamos. O mercado já se encontra repleto!
Alex Pipkin, PhD