• Maria Lucia Victor Barbosa
  • 28 Maio 2019

 

As mudanças contidas nas espirais do tempo apresentam variados aspectos que espelham o tipo de sociedade e o momento histórico em que se inserem, mas a essência do poder com seus embates, ganâncias, vaidades, violências, traições, invejas é sempre o mesmo. Para entender melhor o que afirmo, convido aos possíveis leitores a uma volta ao passado, onde estão as chaves da compreensão do presente.

A Constituição de 1824 incluiu, além dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o poder Moderador, que na verdade transformava D. Pedro I em árbitro supremo dos demais poderes, sem nenhuma dependência dos mesmos, o que não impedia que persistisse o clima de empreguismo e de caça a títulos que sempre fascinaram portugueses e brasileiros.

Entretanto, nem o poder Moderador tornaria D. Pedro I imune ao fenômeno latente na América Latina: a ingovernabilidade. Isto porque, na medida em que os maiores beneficiários dos altos cargos eram portugueses, a corrente liberal dos brasileiros passou a minar a autoridade do imperador, retirando-lhe aos poucos o apoio dos senhores territoriais. A crise chegou ao auge quando ascendeu o chamado “Gabinete dos Medalhões”, acusado pelos liberais de ideologia absolutista e de “portuguesismo”. A palavra de ordem foi então obrigar D. Pedro I a reintegrar o gabinete anterior. Como ele se recusou, partiu-se para uma solução pretorianista: foi pedida a intervenção do brigadeiro Francisco de Lima e Silva, que na verdade usou a diplomacia e não a força.

Tudo terminou como se sabe e aqui não se pretende entrar nos detalhes da abdicação. O fato é que na madrugada de 7 de abril de 1831, ao imperador que proclamara a independência do Brasil e que governara amparado pelo poder Moderador, o grito de “independência ou morte” deve ter parecido uma reminiscência perdida no tempo, a reboar muito longe, sem ressonância junto ao povo, sem força diante dos novos detentores do poder. D. Pedro aprendeu que no Brasil governar é muito complicado.

Outros casos aconteceram a demonstrar a mesma coisa, mas voltemos ao momento atual. Ficou claro na recente eleição presidencial que a expressiva vitória do candidato Jair Messias Bolsonaro, que alcançou quase 58 milhões de votos, se deveu entre outros fatores ao cansaço cívico gerado pela cleptocracia petista que reinou por quase 14 anos e que, inclusive, levou o país à recessão. Amparado por um pequeno partido, sem recursos financeiros, praticamente sem tempo de televisão, o candidato Bolsonaro se fortaleceu também com um discurso voltado para valores que a esquerda destroçara.

Forças políticas desesperadas por antever perda de poder chegaram a tentar seu assassinato. Institutos de pesquisas erraram fragorosamente e decretaram que era impossível tal candidato ganhar. Mas o sistema não conseguiu evitar sua vitória, que veio através do que chamei de quinto poder, ou seja, das mídias sociais, sendo que uma de suas promessas de campanha foi não compactuar com o toma-lá-dá-cá, prática tão tradicional no Legislativo e que ficou muito evidenciada pelo mensalão instituído no governo de Lula da Silva, atualmente como presidiário.

Ao tomar posse o presidente Bolsonaro foi torpedeado por tudo que dissesse e fizesse, ridicularizado, desrespeitado. Na verdade, seu começo de mandato foi confuso e a origem disso foram influências externa e internas indevidas.

Além disso o Congresso, não como instituição em si que com os demais poderes compõe o tripé da democracia, mas com suas facções que não admitem perder privilégios e benefícios pessoais, engessaram o Executivo. De lá e de parte da mídia ressoam a palavra impeachment, apesar do governo não ter chegado a cinco meses. Dos seus alicerces fumegantes o PT e demais partidos de esquerda ou não, tramam a queda do presidente.

No momento se fala em parlamentarismo branco. De fato, amordaçado pelo Congresso, o presidente tem sofrido muitas derrotas no Legislativo que resolveu comandar a revelia do Executivo. É verdade que Bolsonaro conseguiu vencer através da recente aprovação da reforma administrativa, mas à custa da derrota do ministro Sérgio Moro que perdeu a Coaf para outro ministério. Aliás, sua luta contra a violência, o crime organizado, a injustiça, tão vitoriosa enquanto foi juiz sucumbe agora no Congresso e pela interferência de outras instituições como a OAB, o que confirma que no Brasil o crime compensa.

Estamos numa encruzilhada perigosa e precisamos ser sustentados palas forças realmente democráticas e equilibradas que existem dentro do governo. Como disse Joaquim Nabuco: “A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las e com eles é impossível governar”. De todo modo, o presidente Bolsonaro está aprendendo rápido que governar é muito complicado.

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 27 Maio 2019

 

TRÊS IMPORTANTES RAZÕES

Ontem, por tudo que li, ouvi e assisti a respeito da ordeira e sintomática manifestação dos brasileiros que foram às ruas em mais de 150 cidades do nosso imenso País, a motivação se deu por TRÊS IMPORTANTES RAZÕES:
1- apoiar ao presidente Jair Bolsonaro;
2- exigir que a REFORMA DA PREVIDÊNCIA produza uma economia de, no mínimo, R$ 1 TRILHÃO; e,
3- exigir que o COAF vá para o Ministério da Justiça.

OLHARES IDEOLÓGICOS
Dependendo dos olhares ideológicos, que, diga-se de passagem, em nada têm ajudado na construção dos indiscutíveis tratamentos que o Brasil exige para poder respirar sem ajuda de aparelhos, há quem esteja desmerecendo as manifestações. Alguns, inclusive, chegaram a afirmar que o número de manifestantes foi aquém do esperado.

REDES SOCIAIS
Ora, para estes sempre mal-intencionados é bom esclarecer que as manifestações de rua, por mais que consigam reunir milhões de pessoas, já foram absolutamente superadas pelas REDES SOCIAIS. Com um detalhe: ali as manifestações acontecem a todo momento sem hora marcada. E como se percebe, em todas elas o povo brasileiro está exigindo BOAS E VERDADEIRAS REFORMAS.

REFORMA POLÍTICA ESPECÍFICA
A propósito, no sábado, 25, li num jornal que o domingo (ontem) daria o tom da reação do Congresso, alvo central das críticas dos atos em favor do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, os senadores e deputados estariam dispostos a propor um tipo de REFORMA POLÍTICA ESPECÍFICA com o propósito de reduzir o tempo do ocupante do Palácio do Planalto, com a aprovação de um "recall" para o mandato de presidente e o fim da reeleição para cargos executivos.
GATILHO

Na prática, o texto da REFORMA POLÍTICA propõe a criação de um gatilho para tirar o presidente da República do cargo sem a necessidade de impeachment. Para isso, seriam necessárias assinaturas de, no mínimo, 10% dos eleitores que compareceram à eleição presidencial mais recente. Se aprovado, o Congresso convocaria um referendo popular para discutir se revoga ou não o mandato do presidente.

RECALL GERAL
Ora, por mais que uma REFORMA POLÍTICA seja necessária e urgente, o que me espanta é que os DEPUTADOS E SENADORES, que da mesma forma são eleitos pelo povo, não se colocaram na mesma condição dos ocupantes do EXECUTIVO. O correto é um RECALL para todos os eleitos e não eleitos pelo povo, independente dos PODERES que ocupam. Isto incluiria, além daqueles que ocupam o LEGISLATIVO, a turma do STF. Que tal?

  

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  • Paulo G. M. de Moura
  • 23 Maio 2019

 

“Só o povo nas ruas mete medo em político.” – Ulysses Guimarães

O establishment político e midiático não entendeu a vitória de Bolsonaro e não está entendo o início do seu governo. Políticos tradicionais, analistas acadêmicos e comentaristas políticos da imprensa passam o tempo todo afirmando que o presidente deveria ser assim ou assado e que o partido do governo deveria agir assim ou assado. Editorias acusam o presidente de autoritário sem que o presidente tenha praticado nenhuma atitude autoritária sequer. Pelo contrário, toda a vez em que as liberdades democráticas foram ameaças o presidente sempre se pronunciou em sua defesa.

Vivemos uma conjuntura disruptiva. Assim foi a eleição; assim prossegue sob esse governo. Quem quiser entender o que se passa precisa despir o olhar dos conceitos e categorias tradicionais com os quais se analisava a política brasileira nas décadas passadas.

O debate político do passado se travava no âmbito da polarização entre PT e PSDB, no qual o PSDB, um partido de centro-esquerda, era “a direita” do espectro político. A “verdadeira direita” brasileira, sob essas circunstâncias, desde o fim do regime militar até a eleição de 2014, se via obrigada a votar no PSDB por falta de opção. O PT, espertamente, tachou o PSDB como “neoliberal”, aprisionando a direita na armadilha que Olavo de Carvalho chama de “a estratégia das tesouras”, na qual duas forças de esquerda se alternam no poder excluindo a direita como alternativa.

A derrota de Aécio Neves em 2014, o impeachment de Dilma Rousseff, o escândalo do Petrolão e o envolvimento do próprio PSDB nos mesmos escândalos de corrupção em que o PT foi flagrado romperam o paradigma das tesouras e deram espaço para emergência da nova direita brasileira. Essa direita é composta por grupos liberais e conservadores de diversos matizes, que se mobilizaram liderando um amplo segmento social que impulsionou a vitória eleitoral do presidente Bolsonaro.

Esse segmento social é heterogêneo, composto de gente inexperiente na política e, especialmente, que desconhece a cultura partidária do século XX. Dentro desses grupos e movimentos são raros os quadros que, como Olavo de Carvalho ou outros velhos militantes esquerdistas que romperam com seus passados, conhecem essa tradição. A maior parte dessa geração de ativistas se construiu nas mídias sociais e nas mobilizações de rua, em grupos de Facebook e Whatsapp, dentro dos quais egos exacerbados e disputas pessoais são comuns e vêm a publico com frequência. Quando esses grupos eram pequenos e desconhecidos isso não repercutia. Hoje, quando esses personagens são deputados, ministros, influenciadores digitais e gente que tem poder, a política praticada como sexo explícito em praça pública torna-se um problema que Maquiavel não poderia prever em “O Príncipe”.

O presidente Bolsonaro, com todos os seus méritos e limitações, montou seu governo sem fazer concessões ao presidencialismo de coalizão. Aliás como prometeu. Seu governo é composto de três grandes núcleos de legitimação: a) um setor social conservador-liberal (o Olavismo é apenas parte dessa base); b) um setor militar; c) um setor técnico (Paulo Guedes; Sérgio Moro; etc.). De fato, a composição do governo é um pouco mais complexa, mas vou simplificar, pois esses são os setores relevantes.

Com a eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara e David Alcolumbre para a presidência do Senado criou-se a impressão de que estaria pavimentado o caminho para aprovação das reformas no Congresso. O presidente, então, encaminha a Reforma da Previdência ao parlamento.

Atenção aqui leitor. Numa democracia republicana normal os poderes Executivo e Legislativo são poderes independentes e harmônicos. O rito praticado pelo presidente Bolsonaro é o NORMAL. Encaminhou seu projeto ao parlamento e aí se encerra sua função. Óbvio que, a partir daí, o presidente precisaria ter um partido organizado e competente operando dentro do parlamento para defender esse projeto e fazer seus projetos avançarem. Mas, isso é outro departamento. O papel institucional do presidente encerrou-se ali. Mas, estranhamente, o que seria natural em qualquer parlamento, que é a tramitação do projeto transcorrer conforme o cronograma previsto, passa a sofrer problemas.

Recolhido que estava desde o início do mandato do presidente o Centrão bota suas garras de fora. Aquilo que seria o normal em qualquer democracia republicana, no Brasil tem “outro normal”. O Executivo só aprova seus projetos no Legislativo se “pagar”. Essas formas de pagamento evoluíram ao longo da Nova República, desde o governo Sarney, como simples loteamento do governo e com os partidos indo se entender com as empreiteiras, até atingir o “estado da arte” sob o governo Lula, no chamado Mensalão, em que os deputados eram comprados com malas de dinheiro vivo no plenário do parlamento mesmo.

Pois bem, o fato é que, com toda a renovação que as recentes eleições produziram, há uma bancada de cerca de 230 deputados do chamado Centrão, que, se aliada à esquerda chega a 350 parlamentares que se comporta como verdadeiros viciados em crack de olho nos cofres públicos. E essa bancada é maior do que a turma decente que saiu das unas de 2018.

Sem perceber que os tempos mudaram, o que fizeram os deputados do Centrão? Esperaram o tempo passar e, no momento em que a MP 870 (Reforma Administrativa) e a Reforma da Previdência chegou ao Congresso, METERAM A FACA NO PESCOÇO DO PRESIDENTE!

Assim mesmo, em caixa alta. Basta passar os olhos pela imprensa. O governo mal tem 5 meses e já começam a falar em impeachment do presidente sem nenhum motivo sequer. Não há precedentes de rejeição pelo parlamento de uma reforma administrativa que impeça um governo eleito de se estruturar com 20 ministérios como definiu para si. O que quer o Centrão? Impor ao presidente governar com 29 ministérios para dar cargos ao Centrão? Não há outro nome para isso senão CHANTAGEM!

E a mídia trata tudo isso com a maior naturalidade. Os ilustres comentaristas dos principais veículos da imprensa não veem nisso nada fora normal? Não caro leitor, os comentaristas da imprensa cobram do presidente que ele seja “articulador”. Os meus colegas ilustres cientistas políticos da academia não veem nada de errado nisso? Não há nada de antidemocrático nessas práticas? Antidemocrático e autoritário é o presidente Bolsonaro que, quando o STF ameaça censurar a imprensa defende a liberdade de imprensa?

O governo Bolsonaro tem seus problemas? Tem, claro. O PSL é um aglomerado de novatos; neófitos e algumas velhas raposas com interesses contraditórios que serve para tudo menos de base de apoio confiável ao presidente. A ausência daquela cultura partidária a que já me referi anteriormente, no grupo que cerca o presidente é outro problema. Essa “cultura” da política praticada como sexo explícito na praça pública na internet e repercutida na imprensa com reverberação sobre o governo gerando crises constantes é outro problema. As tensões e ameaças de ruptura do tripé conservadores/militares/técnicos, especialmente pelas tensões entre o núcleo olavista e o núcleo militar são outro problema. Seria interessante se, em algum momento o presidente conseguisse se colocar acima de todos esses grupos para botar ordem nessa bagunça, mas, isso é assunto para outro artigo.

O que interessa aqui, é que, os grupos sociais do extrato liberal-conservador que lideraram os movimentos de rua pelo impeachment da Dilma Rousseff e a eleição do presidente Bolsonaro perceberam o movimento do STF e do Centrão para asfixiar o governo e fazer retroceder os avanços conquistados nos últimos anos, especialmente da Lava Jato, e resolveram reagir convocando o povo às ruas novamente.

De uma vez por todas, o establishment político e midiático precisa entender que não está lidando com imbecis. Esse público é composto de pessoas instruídas, politizadas e que seguem permanentemente atentas, vigilantes e mobilizadas para garantir que o Brasil não voltará a ser o que era antes.

Quem convocou o povo às ruas não foi o presidente Bolsonaro, foram as lideranças desse segmento social liberal-conservador.

E se fosse o presidente, qual o problema?

Se o parlamento brasileiro se transformou numa cracolândia de viciados em dinheiro público, por que motivo o presidente deveria jogar o jogo da velha política se seu compromisso eleitoral foi exatamente o oposto e foi com esses eleitores? Por que pregam que o presidente deveria se aliar ao Centrão e não ao povo que o elegeu?

Ao contrário do que pregam vergonhosamente os editoriais do Estadão, em nenhum momento o presidente Bolsonaro incitou as massas contra o Congresso ou o STF. Pelo contrário, as declarações oficiais da Presidência da República conclamaram manifestações pacíficas, democráticas e legítimas a favor das reformas. O Parlamento que trate de se dobrar ao povo!

Se alguns segmentos da base de apoio do governo se exacerbaram ao ponto de pedirem fechamento do Congresso e do STF, o que o presidente não aprovou, isso deveria servir de alerta aos congressistas e magistrados que, ao se refestelarem entre lagostas, camarões e champanhas nos regabofes da corte, não fazem a menor ideia do tamanho da indignação da plebe.
 

* Cientista político e produtor de cinema e vídeol.

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 23 Maio 2019

 

Todos cidadãos deveriam compreender e agir com racionalidade. Tão singelo como assumir o controle da própria vida e atuar com responsabilidade. Na vida privada, quando eventos espontâneos e incontroláveis modificam a receita familiar, compulsoriamente, tomam-se medidas para reduzir custos. Sem tais ações não há como sobreviver. (Claro que no Brasil, indivíduos foram "treinados" para recorrer ao Estado provedor!). Nas empresas privadas, quando se deseja e necessita-se inovar para criar mais utilidade para os consumidores e, simultaneamente, superar concorrentes, é preciso repensar o modelo de criação de valor. A Toyota, por exemplo, a fim de ganhar em produtividade e rentabilidade, pesquisou modelos americanos e europeus de fabricação de veículos, com suas conhecidas táticas ocidentais de redução de custos, e percebeu que a única forma de competir e sobreviver seria desenvolvendo um modelo de negócios diferente e inovador: sistema Toyota da cadeia de abastecimento, logrado por meio da formação de estreitas associações colaborativas com fornecedores, redução total do desperdício e dos famosos métodos kanban e just-in-time. Inovou incentivando a base de fornecedores, pois depende de provedores de sistemas integrados que se envolvem o mais cedo possível no planejamento e desenvolvimento de novos produtos. No nível de país, a própria China comunista, entendeu que era fundamental inovar e adentrar a economia de mercado para crescer e progredir.

No Brasil aparenta inexistir racionalidade. Errar uma, duas vezes, natural. Insistir no erro, burrice. Também não é surpresa. Desde os tempos de colônia portuguesa a mentalidade estatista e intervencionista encontra-se na massa do sangue dos brasileiros. De fato, a efetiva economia de mercado só deu os ares da graça por essas bandas no tempo do Império, como um mercado vibrante por meio de empresários de todos os portes que faziam a economia girar e prosperar, mesmo assim, sendo um negócio à parte do patrimonialismo e intervencionismo da Coroa, com seus empresários clientelistas e interesseiros; aquilo que estamos acostumados a identificar atualmente. Verdadeiramente, nunca as elites políticas e a sociedade se preocuparam com a liberdade, livre iniciativa e a limitação do Estado e do governo e do próprio papel a ser desempenhado pelas Forças Armadas. Em terras pau brasilis, sempre empresários eficientes de verdade - fora aqueles do compadrio - devem perder para que o negócio seja bom para o Estado. A mentalidade estatista e intervencionista influencia sobremaneira os brasileiros - especialmente políticos populistas, demagogos e corruptos - que acreditam e confiam que o governo existe para resolver problemas individuais. Quanto mais problemas a receita quimérica ideal: mais Estado!

Desde a "grande democracia" republicana que se instalou no Brasil, ou temos políticos juristas intervencionistas ou populistas despreparados que precisam subornar os eleitores com seus programas assistencialistas e seus parceiros políticos corruptos com cargos e nomeações. Até quando se resistirá ao tradicional toma lá, dá cá? A democracia no país, pelo que se observa faz muito tempo, é a fonte de populismo, corrupção desenfreada e de serviços públicos caros, escassos e ineficientes.

No período da ditadura militar, apesar do investimento e construção da infraestrutura e indústrias básicas, as custas da supressão das liberdades individuais, a direita sempre foi dirigista, com pensamentos e ações utópicas centralistas e planificadoras. O amor pelo estatismo e intervencionismo fez - e faz - parte de uma espécie de religiosidade política da direita militar, dos social-democratas e dos socialistas tupiniquins. Desde 1500, percebe-se que a agenda política, econômica, social e cultural brasileira põe em relevo os tais direitos individuais acima dos deveres e da responsabilidade. Os brasileiros sempre foram doutrinados a acreditar no governo como provedor da liberdade e de seus "extensos direitos", longe de ser uma conquista individual. Infantilização e imbecilização de indivíduos por meio do desestímulo a educação, cultura, trabalho, espírito e descoberta empreendedora e consequente pouca geração de crescimento econômico com criação de emprego, renda e riqueza. Coerção e extorsão popular! Quem quer trabalhar cinco meses para sustentar o patrão Estado?!

O país está sempre a espera do redentor que nos livre da insana tradição estatista, patrimonialista e intervencionista. Até mesmo o social-democrata FHC, com a estabilização da moeda, algumas - importantes mas insuficientes - privatizações e abertura comercial tímida, revelou como as pessoas mais livres conseguem resolver melhor seus problemas econômicos e sociais quando os obstáculos e impedimentos estatais deixam de atrapalhar.

Prosaicamente, aqueles que se são taxados de egoístas e contra uma sociedade mais igualitária. É a experiência, doutrinação e opõem a esse nefasto status quo ineficiente, corrupto, patrimonialista e intervencionista o espírito de manada reagindo fortemente. O hábito e interesses fazem o monge!

Agora assistimos parte dos brasileiros esperneando contra uma tentativa de reação e transformação desse estado caótico das coisas no Brasil. A real agenda de liberalização da economia, capaz de inibir a presença e interferência estatal nos mercados e nas diversas esferas da vida social é rejeitada por todos aqueles da "elite" política, pelos grandes magistrados, por intelectuais, por professores, estudantes e pelos empresariado - dos laços - que se recusam a pensar no país, confiando numa "mágica" e em mais endividamento, menos riqueza e prosperidade geral, a fim da manutenção de seus benefícios e privilégios impagáveis logo adiante. Essas são as verdadeiras instituições extrativistas verde-amarelas!

A maioria da população escolheu um projeto novo para o país. Justamente optou pela maioria em detrimento de uma minoria e casta estatal de privilegiados.

O nobre "povo" foi as ruas para protestar contra os "cortes" na educação. O mesmo povo não entende que, na verdade, trata-se de contingenciamento necessário e previsto. Educação? Bem, essa quase sempre esteve aparelhada. Por vezes, contra a ameaça comunista. No mínimo tínhamos amor a bandeira verde-amarela, matemática e português... Seguramente, o aparelhamento mais ferrenho deu-se com a doutrinação de jovens inexperientes quanto ao mesmo pensamento estatizante, intervencionista e da exigência de direitos adquiridos sem a correspondente responsabilização individual. Faz parte da cartilha social-democrata e socialista, a mesma desde sempre no país, populista e enganadora, desejosa do "poderoso" Estado, a grande instituição benevolente, assistencialista e eleitora na grande democracia brasileira. O mindset estatista está encrustado na retina de incautos, desletrados, corporativistas e interesseiros com suas apaixonadas bandeiras partidárias.

O momento é crítico! Para que o mal estatista continue a defraudar a bandeira verde-amarela só é necessário que os bons homens não façam nada! A genuína elite pensante - grupo social mais valorizado e de qualidade reconhecida - despida de desejos corporativistas precisa reagir, conjuntamente com a população que votou contra o eterno estatismo empobrecedor! Primordial que a elite se posicione claramente a favor da efetiva transformação deste Estado ineficiente, caro, patrimonialista, intervencionista e gerador de pobreza e de menos oportunidades. Dessa forma, pelo menos, teremos maiores chances de apostar em uma economia mais livre, mais empreendedora, geradora de mais renda e riqueza para todos. O estatismo de sempre é receita certa para o fracasso, pobreza e submissão.
Rogai por nós! Livre-nos do pensamento colonial! Urge inovar para o bem geral da nação!


Alex Pipkin, PhD

 

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  • José Henrique Westphalen
  • 22 Maio 2019

Introdução

Os cachorros e os políticos sempre irão escolher o biscoito! Esses dias li um texto no site Nord Research, de uma amiga, a Dra Marize Schons, analisando a sabatina do Ministro Paulo Guedes no Senado, sobre o projeto da nova previdência. No texto, a professora enfatiza a vontade de Guedes em fazer um novo pacto federativo, retirando das mãos dos ministros a caneta, dando maior autonomia e poder aos municípios e legisladores.

Durante sua explanação, o Ministro é interrompido pelo Senador Lasier Martins, com a seguinte pergunta: “Quero que tu me diga com todas as letras: a Lei Kandir vai ou não vai acontecer?”

Na sua análise, Marize observa:

"Guedes quer dar a chave do cofre… enquanto o douto parlamentar está preocupado com o quanto vai receber de mesada. Alguém aponta para a Lua, uns olham para a Lua e outros olham para o dedo...

Eu consigo imaginar a frustração que é oferecer liberdade e autonomia para uma das casas mais poderosas do País e ter como respostas interesses nos velhos vícios - fundos públicos ineficientes, articulação orçamentária centralizadora que não atende logisticamente nossos 5570 municípios, planos que nunca saem do papel porque idealizam o impraticável."

Logo a seguir, ela escreve, o que para mim, é a melhor definição da mente esquerdista:

"A situação do Guedes é análoga a uma brincadeira que um aluno propôs, [...] cheguei para o Schutz, meu Chow Chow, e perguntei: “se você tivesse os meios para a própria emancipação, escolheria ser livre (estendi a mão esquerda) ou ganhar um biscoito (estendi a mão direita)?

Ele lambeu a mão direita.

Nossos senadores claramente também escolhem o biscoito, e isso não necessariamente nos impede de aprovarmos a Reforma, mas nos limita de conquistarmos esse “outro Brasil”."


O biscoito é a síntese do socialismo, o comportamento do parlamento o exemplo de como a mente esquerdista funciona. Para compreender como o socialismo atua nos tempos modernos, como o marxismo cultural se dissemina, é preciso entender algumas questões básicas, como o conceito de socialismo e como age e pensa a mente coletivista. Para a compreensão destes pontos, irei dividir o estudo em 3 partes, publicadas independentes, dando vida à “Trilogia Suja do Socialismo", sendo elas:

1. O que é socialismo
2. Capitalismo de laços
3. Jogos ocultos

Mas afinal, o que é socialismo?

Usarei a definição explicita na obra do Dr. Lyle H. Rossiter, A mente Esquerdista, para definir:

"O socialismo é tipicamente definido como um sistema de processos econômicos, sociais e políticos no qual se destaca o controle coletivo sobre a propriedade, o investimento e os meios de produção e distribuição. Por coletivo, se define um “governo centralizado” [….] Além disso, o estado socialista moderno tende a ser totalmente gerencial, tutelar e parental em suas políticas sociais. Numa sociedade fundamentada nos princípios coletivistas, o desenvolvimento da competência individual na população como um todo deve estar limitado para preservar uma relação dependente e submissa das pessoas para com o governo dominante."

Com essa dependência, ao invés de rezarmos para um poder maior, pedindo forças e orientação em nossas lutas pessoais, para servir os outros enquanto servimos a nós mesmo, nós imploramos aos nossos legisladores por um lugar no cocho político e esperamos que sejam generosos conosco.

A moralidade coletivista implica que você, o cidadão comum, não precisa fazer escolhas racionais que protejam seu sustento ou sua segurança, não precisa garantir sua saúde com plano médico, e não precisa pagar pela educação de seus filhos ou guardar dinheiro para quando for idoso, porque o governo fará tudo para você às custas de alguém.

A ascensão da agenda esquerdista transforma o Estado em uma fonte da qual se satisfaz os anseios do povo por formas de cuidado paternal. Como resposta aos políticos esquerdistas, as pessoas agora pedem a intervenção pública nos principais setores da vida: creches, educação pública escolar e pré-escolar, educação sexual, regulamentação de empregos, segurança ocupacional, qualidade e confiabilidade de produtos, ética no local de trabalho, regulação de moedas e bancos, regulação de alimentos e remédios, políticas de saúde, compensação por deficiências pessoais, segurança da aposentadoria etc.

Em resumo, o socialismo moderno não pode ser visto como reacionário ou revolucionário, mas sim, como um governo centralizado e paternalista, repleto de políticos agarrados ao biscoito. Este biscoito são as políticas públicas assistencialistas e coletivistas, que colocam o estado à frente das pessoas e o coletivo à frente da individualidade.

O projeto da nova previdência, com capitalização individual busca romper parte desse sistema. O fim de benefícios e prebendas estatais abusivas, outra parte. Contudo, assim como o Schutz, os parlamentares preferem lamber a mão do biscoito à enfrentar de vez os problemas do país.

No próximo texto, irei falar sobre o capitalismo de laços, sobre as razões da esquerda idolatrar ícones comunistas, mas não dispensar umas férias na Disney, devidamente registradas com seus Iphone.


* José Henrique Westphalen, cientista político e mestre em comunicação.

 

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  • Rafael Rosset
  • 22 Maio 2019

 

Li hoje de um professor da UFRJ que “não existe ciência sem forte financiamento estatal nos EUA”, citando como exemplo Harvard, “que tem quase 4 vezes o orçamento de todas as nossas universidades federais somadas”. Obviamente, o docente acha que o contingenciamento (não corte) de 3,75% (e não 30%) do orçamento do MEC é o fim da ciência brasileira, já que a ciência na meca do capitalismo é, segundo ele, financiada pelo pagador de impostos. O citado professor reclama ainda da “burguesia” nacional, que ao contrário da norte-americana não tem projeto de país nem comprometimento com o futuro da nação, já que não doa dinheiro para suas universidades.

Ele tem direito a achar o que quiser. Só não pode mentir nem falsear dados e informações. Harvard, assim como a esmagadora maioria das universidades americanas, são pessoas jurídicas de direito privado organizadas sob a forma de fundações. Estão nesse grupo todas as universidades da Ivy League, mais o MIT e Stanford. A maior biblioteca privada do mundo, inclusive, é a de Harvard. As universidades lá geralmente foram instituídas por um benfeitor (que costuma dar nome à instituição que fundou – Stanford, Yale, Duke e Cornell são exemplos) que doou um “endowment” (o que no Brasil denominamos “patrimônio afetado”, uma grande quantia em dinheiro que forma um fundo perpétuo cujos juros servirão para financiar as atividades da fundação, e que, no caso de Harvard, passa de US$ 37 bilhões), alimentado por “tuitions” (taxas cobradas dos alunos, que podem passar de US$ 50.000/ano no caso de Harvard), e gerido por um comitê de gestores profissionais (não por militantes do PSOL). Além delas, as Universidades financiam suas atividades através de doações (principalmente de ex-alunos bem sucedidos que desejam retribuir o que receberam de suas respectivas “alma-maters”), bolsas de estudo (company scholarships e sponsored degrees) oferecidas por empresas (por critérios de mérito fixados por quem concede a bolsa, possibilitando que mesmo os mais pobres tenham acesso ao ensino superior, desde que talentosos) e royalties de patentes geradas por suas pesquisas.

E esse último ponto é muito importante – existe por lá uma mentalidade fortíssima de resultados. As pesquisas mais valorizadas são aquelas que geram patentes, que por sua vez viram produtos e serviços que dão lucro. Isso não quer dizer, obviamente, que não são feitas pesquisas em Ciências Sociais ou Humanidades – mas há uma métrica rigorosa de avaliação, geralmente envolvendo publicação em revistas de divulgação científica e publicação de livros que atraiam prestígio para o nome da universidade. Quem não é publicado, quem não é relevante, deixa de receber dinheiro, por mais “socialmente justa” que seja sua pesquisa. As universidades americanas estão repletas de justiceiros sociais, é verdade, mas a dissertação sobre o Banheirão da Lapa jamais seria financiada pelo board de Harvard.

Não existem universidades federais nos EUA, com exceção dos institutos de formação ligados às forças armadas. Existem sim universidades públicas, mas não existem universidades “grátis”: mesmo as que recebem alguma subvenção de governos locais cobram anualidades (US$ 8.000 em média, não muito distante do que cobram as universidades privadas de ponta no Brasil) e lucram com royalties de suas patentes. É extremamente comum que empresas se estabeleçam dentro dos campi para integrar a comunidade acadêmica no desenvolvimento de seus produtos e serviços. Lá, ao contrário daqui, isso não é visto como anátema nem como violação da “autonomia universitária”, e sim como uma simbiose saudável para a universidade (que financia suas atividades sem precisar de dinheiro do pagador de impostos), para os alunos (que aplicam o conhecimento teórico adquirido na prática e já saem do curso com uma carreira útil encaminhada), para as empresas (que aproveitam a atividade criativa da academia para potencializar seus lucros e captar os melhores profissionais enquanto ainda são estudantes, antes da concorrência) e para a sociedade (que incrementa exponencialmente seu nível de vida pelas patentes de produtos e serviços geradas pela parceria empresa-universidade).

O Vale do Silício nasceu dentro de Stanford, que dispõe inclusive de incubadora para start-ups. O incentivo ao empreendedorismo, junto com a pressão por resultados, são fortíssimos.

No Brasil esse modelo é inviabilizado por interesses corporativos de professores e associações de estudantes. Qualquer iniciativa para se cobrar mensalidades, ao menos dos alunos que possam pagar, é vista como “privatização” e “elitização” (o que é irônico, dado o perfil histórico dos alunos de universidades públicas gratuitas no Brasil). Doações para universidades públicas dependem de aprovação prévia dos respectivos Conselho Técnico-Administrativo, do Conselho Deliberativo, e do Conselho Gestor, em processo administrativo que pode durar MESES; se a doação for em dinheiro, há necessidade de aprovação pela Procuradoria Geral (contei aqui minha saga para tentar doar livros para a escola em que cursei o ensino médio: https://www.facebook.com/rafaelrosset/posts/10212097093480859). Apesar de não haver vedação legal, as universidades em geral recusam doação de acessões artificiais (reformas) pela complexidade do processo administrativo exigido por lei. Se o Ministério Público entender que a doação implica em alguma contrapartida (por exemplo, a colocação de uma placa com o nome do doador, prática comum nos EUA, desde o nome das instituições até prédios e bibliotecas), pode recomendar a abertura de procedimento licitatório (sim, você leu direito - se você quiser doar a uma universidade pública no Brasil pode precisar ENTRAR NUMA LICITAÇÃO).

Não existe cultura de parceria entre a universidade pública e a iniciativa privada. Aliás, a livre empresa e o lucro são demonizados em nossas universidades públicas, principalmente nas Humanidades, mas não somente. Os poucos exemplos de parcerias entre empresas e universidades são apenas no setor privado (a SAP, multinacional alemã no setor de tecnologia, tem uma sede dentro do campus São Leopoldo da Unisinos, uma universidade católica, com investimento de R$ 120 milhões e geração de 700 bons empregos diretos).

O sistema norte-americano, privado até a alma, sem um centavo de dinheiro federal, e que qualquer professor marxista no Brasil (um pleonasmo, eu sei) qualificaria como “cruel” e “desumano”, ajudou a produzir a maior máquina de bem-estar e prosperidade distribuída que a humanidade já viu. É verdade que Harvard sozinha tem quase 4 vezes o orçamento de todas as universidades federais brasileiras, mas Harvard sozinha também produziu 42 ganhadores do Prêmio Nobel, ao passo que nossas universidades federais produziram um total de ZERO laureados. O raciocínio “mais dinheiro = melhor pesquisa” até valeria se as universidades brasileiras houvessem produzido um quarto de ganhadores do Nobel quando comparadas a Harvard, mas, como vimos, não é bem assim que funciona. Tem mais coisa aí além de dinheiro. Muito mais coisa.

Resta saber se a afirmação tão falsa e errônea, vinda de um catedrático, é má-fé ou só ignorância. Dada a irrelevância e inutilidade do que se ensina nas nossas universidades hoje, eu sinceramente acredito mais na hipótese de ignorância mesmo.

*Por extremamente valioso, reproduzido do Facebook do autor:  https://www.facebook.com/rafaelrosset/posts/10216342176925292 
 

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