• Fernando Fabbrini
  • 27 Agosto 2020

 

Meu pai cuidava com carinho e ciúmes do seu velho radio Pilot, um monstrengo envernizado em tons escarlates. Sintonizado na Rádio Nacional ouviu os choros de Jacob do Bandolim; sambas do Bando da Lua e acompanhou as transmissões internacionais dos jogos das Copas de 58 e 62 na voz do locutor que oscilava em meio aos chiados da estática.

Pontualmente às 8 da noite ele postava-se ao lado do Pilot para escutar “o primeiro a dar as últimas”, o seu "Repórter Esso". Viajando pelo éter, desde os pampas até os cafundós da Amazônia, os quilohertz da Nacional atualizavam milhares de brasileiros com notícias do país e do mundo. O que chegava através do rádio no timbre potente e dramático de Heron Domingues era a verdade indiscutível – e estamos conversados.

- Ouvi ontem no "Repórter Esso"!

Com a expansão das TVs, novos porta-vozes assumiram os papéis de arautos das boas e más notícias. Durante décadas os programas jornalísticos vinham revestidos dessa estranha infalibilidade; recheados de sapiência; incontestáveis nas informações que espalhavam.

- É verdade; deu no "Jornal Nacional".

Otto von Bismarck, o chanceler de ferro, ponderou que os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis. Caso vivesse hoje, o prussiano certamente ampliaria seu mote inserindo ao final, após salsichas e leis, o complemento “...e as notícias”.

Além dessa pretensa primazia, protegida num pedestal soberano, a televisão ainda criou filhotes especializados em economia, esportes, sociologia, beleza, moda, gerenciamento de riscos, medicina, psicologia, acidentes aéreos, naufrágios, sobrevivência na selva, criação de cangurus e sabe-se lá mais o quê. Tais figuras pontificavam; mantinham-se firmes, serenas e, sobretudo, muito bem pagas pelas emissoras com contratos de exclusividade.

Daí, as redes sociais surgiram e bagunçaram tudo. Umberto Eco já alertara para os milhões de idiotas que ganhariam voz pela internet. Porém, não se pode negar o lado bom da coisa: a rede abriu canais de informação, comunicação e discussão até então inéditos. As emissoras levaram um susto, sentiram o golpe e continuam atordoadas até agora. De repente, não detinham mais a exclusividade da notícia, da interpretação conveniente do fato e – pior! - do viés político-ideológico com o qual manipulavam o conteúdo em função de seus próprios interesses e dos interesses de seus anunciantes. Perderam a valiosa exclusividade, milhões de telespectadores e patrocínios vultuosos.

Feito um petardo desorientado, o estrago alcançou de tabela os especialistas em assuntos diversos da TV. Antes, tinham as agendas cheias (e bolsos idem) como convidados de honra e palestrantes em seminários, congressos, encontros empresariais, universidades, eventos diversos. Emanavam confiança, orientação e sabedoria naquilo que diziam ao microfone para a plateia atenta. Uma dessas famosas jornalistas-especialistas chegava a atender a quatro ou cinco compromissos por semana, pelos quais recebia cachês na faixa de dezenas de milhares de reais.

Vários deles tentam se adaptar como podem ao modo “streaming” de viver. O problema é que, antes, gozavam da blindagem provida pela via de mão única da televisão: falou para a câmera, transmitiu, acabou. Já agora, pelas redes, se expuseram à realidade da interação imediata. Falam e são bombardeados em segundos por internautas; devem conviver com a crítica sem filtros, “haters”, anônimos e demais personagens. E mais: a cada dia perdem a concorrência para youtubers, influencers e novas celebridades reveladas no embalo caótico - mas democrático - da internet.

Agora, todo mundo tem um celular – esta pequena e fantástica emissora que levamos no bolso. Cada cidadão ganhou voz própria e virou testemunha ocular da história, como dizia o slogan do velho "Repórter Esso".

*Publicado originalmente em O Tempo, de BH, em 20/08/20
 

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  • Luiz Pereira Lima
  • 25 Agosto 2020

 

Parece definitivo que a pandemia do coronavírus está com seus dias contados. Não poderia ser diferente. Esta, de paixão, tornou-se amor, e amor não deve terminar, sob pena de sequelas indeléveis. Boa parte da população, influenciada por parcela significativa da mídia,do receio passou ao medo e deste ao terror em relação a um novo vírus. Economias foram devastadas, entretanto a mortalidade final , dependente exclusivamente deste agente etiológico, não mostrou-se distinta das causadas por muitos outros vírus que já passaram pelo planeta.

E a política? Sempre ela, fez com que a mediocridade intelectual pudesse viscejar, oportunizou que desconhecidos do verdadeiro meio acadêmico - que exige conhecimentos sólidos de experiências pretéritas – fossem guindados as manchetes dos meios de comunicação. Inventaram um método inédito de conduta social, obrigando humanos a permanecerem escondidos, enclausurados e desfigurados pelas máscaras compulsórias. O acesso a imensidão das areias, e do próprio mar, foi negado sob pena de reclusão. Empregos foram surrupiados e o trabalho que dignifica, de modo inédito impedido. Agora o pior: as mortes não foram impedidas e o prazer da vida foi sonegado!

Descobriram que o vírus tem hábitos circadianos. Agride com maior fervor nos horários vespertinos, tendo clara preferência pelos pequenos comércios. O agente patológico não medra em supermercados e lá a população pode refugiar-se. Frequenta restaurantes à noite, evidentemente sentado em confortáveis poltronas. A atitude dos detentores do poder de controlar, e quem sabe, apoiar o prolongamento da pandemia faz ser crível o supra mencionado.

Salvo foram alguns egos revelados, que até então eram apenas conhecidos entre seus pares. Vulgarizaram o verdadeiro significado da palavra ciência, tão cara aos estudiosos. Esta era bradada com uma intimidade inaudita, até porque o desconhecimento é o matiz da ignorância. Se o vírus fosse esvanecido, o prestígio, e porque não a eventual pecúnia, poderiam estar juntamente com o agente viral sucumbindo diante da inevitável capacidade imunitária dos seres humanos.

O vírus, como nunca, teve muitos torcedores que serão responsáveis em futuro não distante, por uma morbidade social constrangedora já no alvorecer do século XXI .A história os identificará , não como torcedores do vírus, mas muito mais como verdadeiros virais adeptos.

* Luiz Pereira Lima é Professor de Medicina
 

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  • J.R. Guzzo
  • 24 Agosto 2020


O Supremo Tribunal Federal do Brasil é hoje um partido político. Abandonou, já há um bom tempo, as aparências de uma corte de Justiça, e no momento funciona praticamente em tempo integral como um escritório de despachantes que se dedica a servir os interesses ideológicos, pessoais e partidários dos seus onze ministros. O ministro Edson Fachin acha que as eleições de 2018 para presidente não foram “legítimas”, e que as de 2022 também não vão ser, porque o seu candidato não ganhou a primeira e, a menos que seja dado um golpe jurídico, não vai ganhar a segunda. O ministro Gilmar Mendes sustenta que é preciso reduzir os poderes que a lei dá ao presidente da República, como se o país estivesse num regime parlamentarista — e que é possível fazer isso sem um plebiscito ou qualquer outro tipo de aprovação popular. O ministro Luís Roberto Barroso quer escolher o sistema econômico que o Brasil deve seguir; o “liberalismo”, segundo ele, tem de ser eliminado.

Não importa saber, realmente, se as eleições de 2018 vão ser mesmo anuladas e se o STF vai declarar vago o cargo de presidente da República. Também não vem ao caso perder tempo tentando adivinhar se o Brasil vai acabar com o regime presidencialista no tapetão — ou se os ministros baixarão uma liminar mandando adotar o socialismo na economia nacional. Nada disso está no mundo das coisas que são possíveis na prática e neste momento. O que é preciso registrar é a interferência aberta, abusiva e inconstitucional do STF na política brasileira, e o uso das suas funções legais como tribunal de Justiça para favorecer os propósitos das forças que hoje se colocam contra o governo federal. Essa conduta não sai de graça. Agride diretamente o Estado de Direito, o império da lei e a democracia no Brasil. Como resultado, a principal corte de Justiça brasileira é hoje, pela deformação patológica que lhe está sendo imposta por seus ministros, o principal fator de instabilidade política, econômica e social deste país.

“O STF está sendo utilizado pelos partidos de oposição para fustigar o governo”, disse dias atrás o ministro Marco Aurélio Mello. “Isso não é sadio. Não sei qual será o limite.” Quem está falando isso não é nenhum “blogueiro de direita” ou militante “contra a democracia”, desses que o ministro Alexandre de Moraes persegue com batidas policiais, apreensão de celulares e censura do que dizem nas redes sociais. É um ministro; supõe-se que o presidente Dias Toffoli e seus outros colegas não vão abrir uma investigação secreta contra o homem. Se ele, Marco Aurélio, não sabe qual é o limite, imagine-se então nós outros. Onde vai parar esse negócio? Não há precedentes, na história brasileira, de um tribunal supremo que tenha se comportado de forma tão abertamente ilegal quanto esse, nem abusado tanto dos poderes que a lei lhe confere, nem agido como uma organização política. Nunca tendo acontecido isso antes, também não dá para saber o que vai acontecer agora.

Fachin, como a maioria dos outros dez ministros, não aceita o Brasil como ele é.
O que se tem de concreto são os fatos. O mais recente deles é o surto de manifestos do ministro Fachin a respeito de como o Brasil deveria ser governado, e por quem — e as suas sentenças de condenação contra o povo brasileiro, que ele considera uma gente insatisfatória, desprovida de virtudes cívicas e incapaz de votar direito para presidente da República. De acordo com o ministro, a eleição de 2018, que escolheu o atual governo, está com problemas. O ex-presidente Lula, segundo Fachin, tinha de ter sido candidato; o sujeito oculto da frase é que ele não participou porque foi uma vítima de “perseguição política”. A candidatura de Lula, que na ocasião estava preso num xadrez da Polícia Federal em Curitiba, cumprindo pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, teria “feito bem à democracia” e reforçado “o império da lei”. Como assim — “império da lei”? É o contrário: Lula não foi candidato, justamente, porque naquela ocasião a lei estava valendo. No caso, a Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados pela Justiça em segunda instância como Lula (que, na verdade, acabaria sendo condenado em três) se candidatem a cargos públicos.

O que o ministro Fachin faz é mais do que uma falsificação da realidade. Ele está dizendo, simplesmente, que a eleição presidencial de 2018 não foi legítima. Se um candidato, de acordo com a sua opinião, foi “impedido” de concorrer, então a eleição não vale. Fachin não apresentou nenhuma sugestão prática sobre o que fazer a respeito desse problema. Tira o presidente do palácio? Deixa, uma vez que ele está lá mesmo? Não se sabe. Mas o ministro já avisa que a eleição de 2022 também pode estar “comprometida”. Pelo que se pode deduzir do que falou, Jair Bolsonaro teria laços “com milícias”, não condenou “atos de violência cometidos no passado” e faz a democracia viver “riscos”. Na sua opinião, o governo estaria fazendo nas intenções o que o STF faz todos os dias na prática: valer-se da legalidade para destruir o Estado de Direito. Para completar, o ministro diz que o povo brasileiro é culpado de “alienação eleitoral”. Nas últimas pesquisas de opinião, o presidente teve índices de aprovação muito altos — e Fachin acha que ser a favor de Bolsonaro é ser alienado. O eleitorado, em suma, não tem qualificação para eleger o presidente da República e se Bolsonaro ganhar em 2022 a eleição não pode valer.

É um espetáculo simultâneo de autoritarismo, pregação a favor de um golpe de Estado e desprezo explícito pelo povo brasileiro — a quem Fachin acusou de apatia e de contribuir para o que considera ser uma “bárbara progressão de desconfiança no regime democrático”. Não ocorre ao ministro perguntar por que, afinal, existe essa desconfiança em relação à democracia — e, especialmente, se a sua conduta, e a conduta dos seus colegas de STF, não tem nada a ver com isso. Como poderia ser diferente? Fachin, como a maioria dos outros dez ministros, não aceita o Brasil como ele é; quer, na condição de “editor” que lhe foi dada pelo colega Dias Toffoli, criar um modelo de país e encaixar nele o Brasil que existe; quer escolher o que o povo deve pensar, e em quem ele deve votar. Gente assim é capaz das coisas mais esquisitas. As presentes lamentações de Fachin têm como fato gerador a decisão de um comitê da ONU, que não tem autoridade para mandar num carrinho de pipoca, decretando que a Lei da Ficha Limpa não valia e que Lula tinha de ser candidato em 2018. O ministro ficou a favor desse disparate — e perdeu por 6 a 1 na reunião que manteve a validade da lei brasileira no Brasil e o veto a uma candidatura ilegal. Pior que isso, num plenário de sete votos, só mesmo perdendo de 7 a 0; mas Fachin acha que todos os outros estão errados e só ele está certo.

Em matéria de desrespeito por parte da população, o STF não pode piorar

Não adianta nada ficar dizendo que “respeita” a decisão; se ele de fato respeitasse não estaria dizendo por aí as coisas que diz. Mas o Supremo de hoje é isso mesmo. O que esperar de uma corte de Justiça presidida por um cidadão que foi reprovado duas vezes seguidas no concurso público para juiz de direito e, portanto, considerado oficialmente incapaz de ocupar um cargo de magistrado? Esse mesmo tribunal parece envolvido em atingir a meta de 100% de aproveitamento nas sentenças que dá para tirar bandidos ricos da cadeia. O ministro Moraes conduz há quase um ano e meio um inquérito inteiramente ilegal contra militantes políticos e jornalistas de direita; mas a ministra Cármen Lúcia não quer que o Ministério da Justiça investigue suspeitos de praticar banditismo político de “esquerda”. Quer dizer: o STF, na vida real, persegue os amigos do governo e protege os seus inimigos. É o modelo de imparcialidade da Justiça em vigor no Brasil contemporâneo.

O Supremo Tribunal Federal é hoje a entidade pública mais desprezada do país. Em matéria de desrespeito por parte da população, não pode piorar, da mesma forma que o morto não pode morrer mais do que já morreu. Como diria o ministro Marco Aurélio: “Não é sadio”.
 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 24 Agosto 2020

 

O desejo de igualdade impossível da visão esquerdizante, estatista, é genuinamente uma ânsia de que o outro, aquele que se prepara, se esforça e produz, tenha que ser forçosamente nivelado para baixo.

O sofrimento adora companhia e é o pilar da mentalidade socializante, que se baseia em sentimentos negativos de frustração, de ressentimento, de inveja e de ódio.

Nada mais atual e verdadeiro!

As castas estatais, sobretudo o Judiciário, demonstram todo o seu ódio pelos comuns e sua completa insensibilidade em relação a calamitosa situação econômica e social em que se encontra a grande massa dos cidadãos brasileiros.

Não importam os outros, "eu quero meu salário integral, meus direitos adquiridos, meus penduricalhos, e mais, quero aumento salarial"!

Essa mentalidade narcisista, do egoísmo e do perverso mecanismo da estabilidade do emprego, literalmente matou a sociedade brasileira; somos reféns passivos de uma Constituição corporativista que concede direitos, porém se mostra despreocupada com aqueles que criam a riqueza e que coercitivamente tornam-se obrigados a sustentar tais castas.

O peso desse gigante Estado privilegiado tornou-se insustentável!

O próprio sistema perverso e contra os empreendedores e a produção fará ruir não só a vida dos reles tupiniquins, como o observado, como também da própria linhagem das elites estatais.

Essa hora já chegou; eles disfarçam não perceber, a la Freud, a compulsão, a repetição mortífera, entretanto eles seguem cavando a própria sepultura, o surto mental cega quanto aos limites para aquilo que seguramente tem um fundo!

Pois bem, as consequências do sonho lunático desses JUSTICEIROS DA INJUSTIÇA serão trágicas e dramáticas para TODOS OS BRASILEIROS.

O futuro breve mostrará inexoravelmente; quer apostar?

 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 23 Agosto 2020


BOMBA DESATIVADA
Antes de tudo é importante salientar o excelente trabalho de 316 deputados que se dedicaram, ontem, na tarefa de DESATIVAR A BOMBA FISCAL que havia sido colocada pelos 42 SENADORES TERRORISTAS no dia anterior, artefato este que causou um terrível MAL ESTAR no Brasil, pelos efeitos catastróficos que produziriam nas já combalidas CONTAS PÚBLICAS.


CONVOCAÇÃO DOS TERRORISTAS
Os 42 SENADORES TERRORISTAS, visivelmente incomodados com a importante decisão tomada pela maioria dos deputados, achou por bem convocar o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que compareça ao plenário do Senado para explicar o que classificou como um CRIME CONTRA O PAÍS. Ora, se possível for eu também gostaria muito de ser convidado pelos TERRORISTAS, pois poderia explicar as razões pelas quais APOIEI TOTALMENTE a afirmação dada pelo ministro Guedes.


DECISÕES CRIMINOSAS
Feito o registro, proponho um outro tema de grande importância: neste momento em que a Pandemia dá sinais claros de recuo, oportunizando assim uma abertura cada dia maior da economia como um todo em vários Estados e Municípios, vejam o MAL TERRÍVEL que inúmeros governadores e prefeitos promoveram através de suas conscientes decisões CRIMINOSAS.


LOCKDOWN CRIMINOSO
Tentando justificar o fatídico LOCKDOWN como forma para SALVAR VIDAS, os maus e criminosos governantes deveriam ser condenados por explosivos DANOS MENTAIS na população. Ou seja, não só pelas mortes de pessoas e pelas centenas de milhares de empresas e empregos. Neste particular, aliás, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Mensal (PNAD Covid19), divulgada ontem, 20, pelo IBGE, informa que a população ocupada, cerca de 3,2 milhões estavam sem a remuneração do trabalho, o que representa 32,4% do total de pessoas afastadas do trabalho.


ESTUDO FEITO PELO CENTRO DE CONTROLE DE DOENÇAS DOS EUA
Como se isto não bastasse, um outro problema -gravíssimo- já se pronuncia por força do LOCKDOWN, ou -FIQUE EM CASA- na cabeça dos mais jovens, mais precisamente da nova geração. Falo dos complicados DISTÚRBIOS MENTAIS E PSICOLÓGICOS, como revela o estudo divulgado pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, o CDC, que foi publicado recentemente no Brasil por Guilherme L.Campos, pelo correspondente Internacional, criador do 'Direto da América'.


SAÚDE MENTAL
Atenção: o estudo diz que 40% dos jovens-adultos sofreram dificuldades psicológicas e mudanças comportamentais relacionadas à crise do COVID-19 e medidas incluindo distanciamento social e ordens para que as pessoas FICASSEM EM CASA.
“Adultos mais jovens, minorias raciais / étnicas, trabalhadores essenciais e cuidadores adultos não remunerados relataram ter experimentado resultados de saúde mental desproporcionalmente piores, aumento do uso de substâncias e elevada idealização suicida.”, diz o relatório.


SUICÍDIO
Entre jovens de 18 a 24 anos, cerca de 25% consideraram seriamente TIRAR A PRÓPRIA VIDA nos 30 dias anteriores a entrevista, segundo o levantamento. Dos 5142 adultos entrevistados pelo órgão, 11% disseram ter cogitado o suicídio no mesmo período. Cerca de um terço dos entrevistados disse ter sofrido com SINTOMAS DE ANSIEDADE ou DEPRESSÃO. E 26,3% relataram ter sofrido TRAUMA E TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ESTRESSE por causa da pandemia.
Para lidar com o estresse do surto do coronavírus, outros 13,3% disseram ter recorrido a substâncias como álcool, medicamentos controlados ou drogas ilícitas.

 

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  • Padre Paulo Ricardo
  • 21 Agosto 2020

 

“Branca de Neve”, “Cinderela”, “A Pequena Sereia”, “Rapunzel”, “A Bela Adormecida” são histórias que povoam há séculos a imaginação das meninas. Popularizadas pelas produções da Disney, versões diferentes desses contos de fadas, particularmente da Cinderela, têm cruzado as divisas das culturas e do tempo.

Todas essas histórias fantásticas seguem um roteiro parecido. Geralmente há uma mulher mais velha — que pode ser uma mãe, uma bruxa ou uma rainha —, em uma posição confortavelmente superior, até alguém ameaçar o seu lugar por ser, por exemplo, “a mais bela de todas as mulheres” [1]. A jovem donzela precisa ser detida a qualquer custo. A partir disso, os contos de fadas se desenrolam rumo a um desfecho comum: as coisas não se dão bem para a bruxa má, e a jovem donzela e seu príncipe vivem felizes para sempre.

Há muitas lições que podem ser extraídas desses contos de fadas, mas a primeira delas diz respeito ao vício atemporal da inveja. Embora pareçam equivaler-se, ter inveja e sentir ciúmes são, na verdade, duas coisas bem diferentes uma da outra [2]. A inveja eleva o ciúme de uma pessoa a um novo patamar, como se quem possuísse o objeto de seus desejos, ou fosse um obstáculo para alcançá-lo, estivesse roubando algo dela. Não sem razão a palavra inveja vem do latim invidere, que significa, literalmente, olhar para o outro com um “olho mau”, cheio de ódio e de malícia. Ela alimenta o impulso de destruir o próximo.

Embora seja um pecado capital tanto para homens quanto para mulheres, a inveja parece estar profundamente enraizada no coração feminino, desde o tempo de Eva. Até mesmo no Jardim do Éden é possível ver a inveja em ação. A serpente, ao tentar a primeira mulher com o fruto da árvore do bem e do mal, procura ao mesmo tempo colocá-la contra Deus, como se Ele estivesse retendo algo bom e que certamente era de seu direito. “Oh, não! — tornou a serpente — vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3, 4-5).

O que acontece, então, se tomarmos este vício atemporal da inveja e o aplicarmos a nossa própria cultura? Existe por acaso uma conexão?

Sim, ela existe, mas o lugar em que se sobressai pode parecer inesperado para muitos: trata-se do feminismo radical. A primeira e talvez a segunda onda do feminismo até podem ter sido construídas sobre ideias nobres, mas a corrente atual é movida por nada menos do que a inveja.

Um dia, a fantasia da ideologia feminista finalmente virá abaixo e será revelado, então, aquilo que ela realmente é: uma grande e espalhafatosa mentira.

Nós vemos a inveja atuando, primeiro e sobretudo, na relação que as mulheres chegam a manter com os próprios filhos. A ideologia por trás da liberação do aborto é de que “as mulheres precisam tocar suas vidas”. A vida de uma criança seria uma ameaça ao sucesso e à felicidade de sua mãe. Assim como em Branca de Neve, aqui também um ser humano a desabrochar é detido (literalmente envenenado, muitas vezes) e destinado a dormir um sono profundo (só que, desta vez, sem jamais poder acordar). Como as pessoas são capazes de exultar com um ato de tamanha destruição, ou chamar de “empoderamento” ao ato de contar a história dos próprios abortos na internet (como pretende um movimento recente nos Estados Unidos, chamado Shout Your Abortion)?

E quanto aos homens? Eles geralmente não são retratados como vilões nos contos de fadas, mas a versão contemporânea da trama tem os colocado no centro das atenções. As mulheres decretaram que só serão felizes se levarem a mesma vida que os homens levam. A atitude delas em relação a seus pares revelam as marcas destrutivas e depreciativas da inveja. As mulheres não abraçam mais o bem que os homens têm a oferecer à sociedade; antes, vêem-no como um mal que tem de ser eliminado. Os importantes instintos de proteção e responsabilidade que desde sempre impulsionaram os homens à grandeza foram reduzidos à categoria de “machismo”. O mantra feminista, nas entrelinhas, é: “Homens, ainda que nós queiramos ser como vocês, vocês devem mudar.” Todos os dias nós vemos o veneno da inveja sendo destilado em direção aos homens, particularmente nos comerciais ubíquos de TV, onde todos eles agem de modo atrapalhado, até que uma sábia mulher venha em socorro deles.

E como as feministas tratam aquelas mulheres que não abraçam seus ideais? Mulheres que escolheram ter muitos filhos e/ou preferiram a família à própria carreira são frequentemente tidas como idiotas, “parideiras”, pessoas que preferiram ficar “presas” em casa, ao invés de gozarem da liberdade que vem com a independência e autonomia financeiras. Assim o movimento feminista alimenta a “estranha ideia de que as mulheres são livres quando servem os seus empregadores, mas escravas quando ajudam os seus maridos” [3].

Infelizmente, as mulheres cristãs não estão imunes à destruição ideológica do feminismo radical, que está praticamente onipresente em nossa cultura. Ao longo dos anos, estas pelo menos têm mostrado possuir uma capacidade profunda de ajudar e encorajar outras mulheres — virtudes que são difíceis de viver e até mesmo de ter em alta conta, quando a cultura, de uma maneira geral, apresenta o ciúme e a inveja como “virtudes” indispensáveis para sobreviver econômica e socialmente.

A primeira e talvez a segunda onda do feminismo até podem ter sido construídas sobre ideias nobres, mas a corrente atual é movida por nada menos do que a inveja.

Mas como podemos combater este velho pecado de Eva?

Primeiro, é importante termos consciência da inveja e das múltiplas formas sob as quais ela se apresenta no mundo à nossa volta. O mais importante de tudo, porém, é olharmos para nossos próprios corações, onde este pecado muitas vezes se esconde, permeando nossas palavras, atos… e omissões.

Em segundo lugar, podemos consultar esses velhos contos de fadas à procura de ajuda. A mulher invejosa preza pelo próprio status, esteja ele em sua juventude, em sua riqueza, em seu poder ou em sua influência (ou mesmo em tudo isso junto). Todos esses aspectos materiais, no entanto, não cobrem por completo o que significa ser uma mulher de Deus. Há uma camada mais profunda de vida para as mulheres, camada a qual nós perdemos de vista em nossa própria cultura. Trata-se de maturidade e de sabedoria. Esses atributos não aparecem simplesmente com o passar dos anos, mas devem ser adquiridos por meio de atos deliberados de esforço para conquistar as virtudes da humildade, da paciência, da confiança, da pureza etc.

A chave para isso está na consciência profunda de que Deus é nosso Pai, cuida com carinho de cada um de nós e tudo o que nos acontece faz parte de sua vontade providente. Quando descobrimos que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8, 28) e rejeitamos a mentira de que estaríamos órfãos neste mundo, então a inveja passa a não ter mais lugar em nossas vidas. Um espírito de gratidão por esse relacionamento com nosso Criador e por todos os dons que recebemos, por mais pequenos e insignificantes que pareçam, é o que precisamos para dissipar o veneno da inveja.

Como todo bom conto de fadas, nós sabemos que, no fim, a beleza, o bem, a verdade e a honestidade verdadeiras não podem ser vencidos, mas tão somente escondidos ou desprezados. Um dia, a fantasia da ideologia feminista finalmente virá abaixo e será revelado, então, aquilo que ela realmente é: uma grande e espalhafatosa mentira.

Notas
1. A expressão “fairest of them all”, aqui traduzida ao pé da letra, faz referência à frase com que a personagem da madrasta má se dirigia ao espelho mágico na história da Branca de Neve: “Mirror, mirror on the wall, who’s the fairest of them all?” (“Espelho, espelho na parede, quem é a mais bela de todas?”, literalmente). Na versão portuguesa desse conto de fadas, a frase que ficou famosa e mais sonora em nosso idioma foi: “Espelho, espelho meu, existe alguém neste mundo mais bonita do que eu?”.
2. Essa diferença é cuidadosamente explicada na Suma Teológica: enquanto os ciúmes (zelus, em latim) são considerados pelo Aquinate simples efeitos do amor (cf. I-II, q. 28, a. 4), pelo que vão abordados no tratado sobre as paixões, a inveja é sempre má e pecaminosa (cf. II-II, q. 36, a. 2), constando da seção da Suma que trata sobre a moral.
3. Trata-se de uma frase, famosa, de G. K. Chesterton, já usada inúmeras vezes em outros textos nossos. Tomamos a liberdade de acrescentá-la aqui, a fim de enriquecer a matéria e completar a linha de raciocínio de sua autora.
* Publicado originalmente em https://padrepauloricardo.org/blog/a-maca-envenenada-da-ideologia-feminista, em 08/01/2018
 

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