Valterlucio Bessa Campelo
Como não fazia há tempos, resolvi ver durante a última semana os jornais das TV’s, tentando responder a uma inquietação: “De que realmente está falando a grande imprensa?”. A percepção evidente é que está falando de COVID, responsabilizando o governo federal pelo contágio e mortes, insuflando cizânias políticas, gerando crises ilusórias, sustentando presepadas jurídicas das altas cortes e, no conjunto, promovendo a queda, por qualquer meio, do presidente Jair Bolsonaro. Ao modo do youtuber Felipe Neto, a imprensa manda a mensagem “primeiro a gente derruba, depois a gente vê”.
Não há muito mais do que isso. De cima a baixo, da maior à menor, de manhã à madrugada, como em um acordo obsceno com jornalões e jornalinhos, revistonas e revistinhas, os noticiosos e programas de debates e entrevistas macaqueiam-se uns aos outros, repetindo à exaustão as mesmas notícias, com praticamente o mesmo enfoque e os mesmos comentários de ataque ao governo. A parcela da mídia que, antes da internet, denominamos de imprensa brasileira, perdeu o compromisso e a conexão com os fatos e com a verdade, transformou-se em plataforma de ativismo político-ideológico. Não por acaso, a sua credibilidade vem caindo ano a ano conforme pesquisas publicadas. Atualmente, nos salvam os inúmeros sites de notícias e canais em diversas plataformas de fácil acesso.
Sumiram das TV’s também as crises internacionais. Dá-se a mínima ou nenhuma importância para as múltiplas tensões russas, para a miséria progressiva da Argentina, para a ditadura venezuelana, para a fome na África, para a perseguição de cristãos, para o acirramento da crise migratória na fronteira americana etc. Até a indefectível agenda verde deu uma folga e só apareceu com força nos últimas dias, para defenestrar o ministro Ricardo Salles e, como vimos nesta quinta-feira, 22/04, tentar impor uma narrativa que inviabilize o estabelecimento de relações profícuas do Brasil com parceiros na Europa e nos EUA. Os ditos especialistas se oferecem em baciadas aos holofotes com o mesmo intento, ainda que nos custe caro cada afirmação que fazem suas “excelências científicas”.
Toda essa militância é, aliás, muito semelhante à que aconteceu no ano passado contra o presidente Trump nos Estados Unidos. Sem saber que estava sendo gravado, recentemente o diretor técnico da CNN, uma das maiores redes americanas de TV, Charles Chester, declarou: “Olha o que nós fizemos, nós conseguimos tirar o Trump. Eu acredito 100% que se não fosse pela CNN eu não acho que o Trump teria perdido.”. A TV americana trabalhou duramente para beneficiar o candidato democrata (socialista) enquanto demonizava o republicano.
Pensando nisso e em como a nação se enfraquece quando a imprensa se transforma em samba de uma nota só, lembrei algo que li há alguns anos e, sugiro, seja lido ou relido especialmente por quem faz as notícias que nós, cidadãos comuns, consumimos diariamente. Refiro-me à conferência de Ruy Barbosa “A imprensa e o dever da verdade”, editada primeiramente em 1920, da qual recorto os trechos abaixo.
“A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alveja, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça.”
“Já lhe não era pouco ser o órgão visual da nação. Mas a imprensa, entre os povos livres, não é só o instrumento da vista, não é unicamente o aparelho do ver, a serventia de um só sentido. Participa, nesses organismos coletivos, de quase todas as funções vitais. É, sobretudo, mediante a publicidade que os povos respiram.”
“Entre as sociedade modernas, esse grande aparelho de elaboração e depuração reside na publicidade organizada, universal e perene: a imprensa. Eliminai-a da economia desses seres morais, eliminai-a, ou envenenai-a, e será como se obstruísseis as vias respiratórias a um vivente, o pusésseis no vazio, ou o condenásseis à inspiração de gases letais. Tais são os que uma imprensa corrupta ministra aos espíritos, que lhe respiram as exalações perniciosas.”
“Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de idéias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.”
Vê-se aí quanto Ruy, uma das mais sábias mentes brasileiras considerou elevados os compromissos da imprensa com a sociedade. Em outra oportunidade, disse: “...jornalista é que eu nasci, jornalista é que sou, de jornalista é que não me hão de demitir, enquanto houver imprensa, a imprensa for livre e este resto de liberdade nos indicar que a pátria respira”. Era, pois, como todo jornalista verdadeiro, um jornalista de uma imprensa livre.
Eis que 101 anos antes, em um texto primoroso, o grande Ruy Barbosa parece dar um carão na imprensa que temos hoje, autoritária, corrompida por interesses antinacionais, que nega o contraditório e serve a uma banda exclusiva e minoritária da sociedade, oferecida como revolucionária com base em um ideário tão falso quanto desgraçado em todas as oportunidades que teve na história.
A corrupção da imprensa em sua finalidade e razão de ser, pondo-a em alinhamento político-ideológico extremado, funciona no caso da pandemia como força motriz de dissolução do sistema, ratificando Jane Fonda, ex-atriz, militante da esquerda americana que em videoconferência (AQUI) disse: “A COVID foi um presente de Deus para a esquerda”. Ou, se preferirem, é endosso ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (AQUI) que disse: “Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”. As duas celbridades, talvez sem querer, arreganharam a práxis socialista que não contabiliza mortes desde que sua marcha tenha avanços.
A conferência de Ruy Barbosa, cujos termos confrontavam a imprensa chapa-branca da época, faz todo o sentido hoje, mas em direção contrária, dado que temos uma espécie de imprensa chapa-preta, tipo CNN, para a qual não havendo convergência nem as costumeiras negociações com o governo, tudo pode ser feito para derrubá-lo.
*Enviado ao site pelo autor Valterlucio Bessa Campelo, que escreve contos e opiniões em seu próprio BLOG
NOTA DO EDITOR: O autor, que enviou o artigo ao site, é de esquerda, como se verá. Isso torna ainda mais significativa sua divergência em relação às esquerdas nesse tema.
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Éricoh Mórbiz
Preliminar: não viso a defender o Presidente Bolsonaro.
Ate 20 de janeiro, menos de 100 dias atrás, o presidente americano não apoiava o acordo de Paris, não agredia a Amazônia brasileira. Uma eleição, novo presidente e passados, 100 dias, o homem quer ser o líder mundial do meio ambiente. Em ano que já tem pautada reunião oficial de organismo mundialmente reconhecido para discutir isso.
Convida 49 presidentes/dirigentes para tal reunião digital.
E se julga no direito de dizer quem ou qual pais está fazendo a coisa certa. Mal educadamente, anfitrião, se ausenta, evita ouvir alguns de seus convidados.
Antes disso, ate 20 de janeiro, ninguém condenou os Estados Unidos, propôs represálias, fez manifestos, até a garota silenciou. Sobre o meio ambiente. Em 100 dias, querem tudo diferente!
Pesos e medidas ao gosto!
Antes dessa reunião, 24 de nossos governadores, assinam um documento, criticando nosso Governo, nosso País. A meu ver, clara ação ilegal, ferindo nossa CF. Deviam ser punidos, responsabilizados!
E pior, entregam oficialmente tal carta ao Embaixador americano, que a recebe e oficialmente diz que entregará ao seu Presidente.
Crime internacional. Embaixador não se envolve em atos do país anfitrião! Devia ser expulso de imediato.
Imaginemos o contrário!
Nós, que militamos lá no fim de 60, década de 70, contra o regime de exceção (com maior respeito in memoriam aos que ficaram no caminho!) queríamos o retorno da liberdade plena.
O que temos agora (bem, menos criticar o STF. Aí dá cadeia.) Que bom que temos isso.
Critiquemos, polemizemos, mostremos nossa revolta, nosso descontentamento. E pelo voto, se escolhemos mal, vamos corrigir na próxima. Não aprovamos a política de meio ambiente? Façamos algo!
Nosso território é nosso. Muitos lutaram, morreram, para que ele fosse nosso!
Nós, brasileiros, acertando, errando, é que devemos decidir o que fazer com nossas riquezas (e nossas pobrezas)!
Parcerias, projetos bem intencionados de ajuda, doações, claro que devemos aceitar. Transparentemente. Pragmaticamente. Sem ameaças!
Indios do Brasil devem morar no mato, na selva, na Amazonia. Lá nos Estados Unidos, operam na bolsa de W.Street, possuem ricos cassinos e ricos fundos de investimentos.
Não foram convidados para essa reunião.
Daqui foi. Pra falar mal de nós.
Afinal, que se passa conosco? Perdemos o senso de patriotismo? Preferimos nos socorrer da liberdade alheia? Há organismos mundiais, Instituições sólidas, que ajudamos a criar,construir. Ali devemos atuar, se preciso, talvez, até se submeter a normas coletivas.
Temos Instituições funcionando. Somos livres para votar, escolher, usar nossos representantes para que façam leis, cuidem de nossas matas, rios, minérios.
Meu Deus, fiquei velho, veio a Covid e não conheço, não ouço mais o que aprendi a respeitar! Defender!
Em 24/04/2021
Enviado pelo autor ao site.
Alex Pipkin, PhD
Bom dia! Se tu és como eu, homem, branco e hétero, antes de escovar os dentes, ?olhe bem para espelho e diga: “Eu peço desculpas por ser quem eu sou”.
Esta é a imposição que emerge, claro, dos “grandes filósofos franceses”, mas que surge em Marx, e que agora a turba politizada progressista do ativismo identitário intolerante quer nos fazer descer goela abaixo.
Evidente que não devo e não vou me desculpar de absolutamente nada. Brancura é o problema, o cacete! Peço desculpas pela expressão, mas está demais!
Aliás, não aguento mais esse papinho morfético de que tudo se resume a batalha entre opressores e oprimidos.
Sou homem, branco e hétero, porém, não sou autoritário tampouco racista, e quero e vou brigar para exercer minha ampla liberdade de pensar e de falar, discordando desses verdadeiros racistas - aqueles que impõem suas “verdades”.
Por falar nisso, também sou judeu, e apesar do alarde do ativismo pelos direitos das minorias, é interessante - e lamentável e perigoso - notar o tema do rechaço a minoria judaica. Nem vou me alongar.
Podem me rotular de demagogo, retrógrado - sorte que sou um comum, caso contrário, seria cancelado -, mas não se trata de uma questão de polarização política, o fato é que pensamentos dissidentes desta grande turma não são aceitos e devem ser eliminados.
Costumo dizer que não se resolve um problema criando-se outro, mas o que estou enxergando, e que provavelmente se estenderá, é uma espécie de neo-segregação, nas escolas, nas empresas, no setor público...
O mundo não é perfeito. Talvez os céus. Sei exatamente que o objetivo destes guerreiros sociais - apesar de uns serem mais guerreiros do que outros - é desconstruir a civilização ocidental e os valores judaico-cristãos, para refundá-la, e transformá-la numa sociedade mais justa e equitativa; genuinamente socialista.
?Às instituições já estão tomadas dessas ideias “progressistas”. As ideias e o ativismo contam.
O neomarxismo, baseado na identidade, travestido de diversidade, inclusão e igualdade, ou melhor, equidade, infiltrou-se no último e estratégico campo; o empresarial.
Áreas de Recursos Humanos e de Comunicação corporativas andam pari passu com a grande mídia esquerdista há muito tempo. Que êxito da mídia!
A juventude já foi cooptada pelos doutrinadores marxistas nas universidades.
Não é novidade para ninguém que estes movimentos identitários sempre venham acompanhados de iniciativas para o capitalismo das partes interessadas, um eufemismo para anti-capitalistas.
Por trás desta iniciativa, aparenta-me o crescimento dos tentáculos estatais sobre nossas vidas, e o enriquecimento de uma elite corporativista altamente interessada em um novo modus operandi.
Evidente que muita gente discorda, não vê e não acredita nessa “teoria conspiratória” (risos)!
Eu enxergo e me oponho, já que este tribalismo e esta visão de mundo reducionista que vejo, nada tem a ver com os valores civilizatórios de liberdade, de igualdade e de justiça.
Sugiro a alguns que pelo menos abram os olhos e/ou apliquem um colírio; pode ajudar a clarear.
Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
MAIS CLAREZA
Mais uma semana chega ao fim e muito daquilo que aconteceu precisa ser visto com mais clareza, principalmente porque a maioria da população brasileira ainda é refém da MÍDIA ABUTRE, organização que reúne empresas de comunicação com forte dedicação ao SOCIALISMO. Como tal, este grupo se notabiliza pela MANIPULAÇÃO de leitores, ouvintes e telespectadores através de NARRATIVAS FALSAS e/ou pela OCULTAÇÃO de tudo que pode ser visto como POSITIVO para o governo e, por consequência, para a sociedade em geral.
ARMADILHA
No caso do rumoroso e importante -ORÇAMENTO DE 2021-, por exemplo, o que se viu foi a MÍDIA ABUTRE desancando, dia após dia, o pau no governo Bolsonaro (leia-se equipe econômica liderada por Paulo Guedes) e praticamente nenhuma crítica aos verdadeiros ALGOZES, que ocupam o Poder Legislativo. Na real, o grande propósito da MÍDIA ABUTRE era, sem a menor sombra de dúvida, que o governo ficasse vulnerável a ponto de cair na armadilha da IRRESPONSABILIDADE FISCAL, o que levaria ao inevitável Impeachment do presidente.
FORMA POSSÍVEL
Portanto, para que fique claro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com vetos a R$ 19,8 bilhões em despesas e um bloqueio de R$ 9 bilhões em outros gastos, o que o Ministério da Economia estima SER SUFICIENTE para recompor o valor subestimado nas despesas obrigatórias. Esta foi a forma POSSÍVEL que o governo encontrou para resolver o problema do Orçamento 2021, que vencia ontem, 22.
ESPAÇO FISCAL
Assim, diferentemente do VETO, que é definitivo e foi feito diretamente na LOA (Lei Orçamentária Anual), o bloqueio veio na forma de um decreto e pode ser desfeito ao longo do ano, caso haja espaço fiscal para isso. O governo apontou que a referência para desfazer o bloqueio é sobrar espaço entre os valores do orçamento e o TETO DE GASTOS - diferentemente do contingenciamento, quando os valores são congelados a depender do resultado previsto para a meta fiscal.
Os valores vetados na LOA serão remanejados por meio de um novo projeto de lei de crédito suplementar (PLN). "A aprovação desse projeto será necessária para a cobertura das DESPESAS OBRIGATÓRIAS que possuem risco de COBERTURA INSUFICIENTE, como é o caso da Previdência Social.
OS VERDADEIROS RESPONSÁVEIS
O que precisa ficar bem claro, mas é sonegado pela MÍDIA ABUTRE, é que o governo federal não pode ser responsabilizado pela existência da PANDEMIA. A rigor, a queda substancial do PIB de 2020 (-4,1%) se deve aos criminosos LOCKDOWNS decretados por governadores e prefeitos e/ou por decisões do Poder Judiciário. Mais: o fantástico CRESCIMENTO DAS DESPESAS PÚBLICAS ao longo desta interminável PANDEMIA é consequência direta da INTEGRALIDADE (sem qualquer desconto) da FOLHA DOS SERVIDORES PÚBLICOS DA UNIÃO, ESTADOS E MUNICIPÍOS. Mais ainda: foram os sucessivos LOCKDOWNS (decididos nos estados e municípios) que levaram milhares de empresas ao fechamento e milhões de brasileiros desempregados.
Ubiratan Iorio
(Artigo transcrito diretamente de um vídeo curto que postei no Instagram em 24/01/2021, daí o seu tom coloquial)
Uma economia de mercado, ou seja, uma economia livre, exatamente como a que os liberais - não só os da Escola Austríaca, mas liberais em geral, desde os liberais clássicos - defendem, é necessariamente regida por normais de justa conduta, que constituem o que diversos autores chamavam de lei.
Vou apenas mencionar dois desses autores. Um é o economista e advogado francês Claude-Frédéric Bastiat, que viveu pouco. Ele nasceu em 1801 e faleceu em 1850, na noite de Natal. Bastiat foi um gênio da comunicação como talvez, nem mesmo Milton Friedman, que também tinha um extraordinário poder de comunicação. Bastiat, a meu ver, foi insuperável na arte difícil de saber como se comunicar com pessoas que não são economistas e nem versadas em leis. Influenciado pelo liberalismo clássico de Adam Smith e de Jean Baptiste Say, entre outros, deixou um legado precioso, que veio a influenciar depois de sua morte, aliás, bem depois da sua morte, expoentes da escola Austríaca, como o próprio Mises, Murray Rothbard, Walter Williams, Walter Block , Thomas Sowell e outros. Escrevia de uma maneira simples, popular, não eram trabalhos acadêmicos, eram panfletos. Um desses panfletos, que aconselho todos a lerem, chama-se simplesmente A lei.
E o outro economista a que eu me referi que estudou profundamente essa relação da economia e direito foi Hayek. Recomendo para quem quiser se aprofundar um pouco a leitura pelo menos de The Constitution of Liberty (A Constituição da Liberdade), seu ultimo livro, The Fatal Conceit (A Pretensão Fatal) e, além disso, a famosa trilogia Law, Legislation and Liberty (Lei, Legislação e Liberdade).
Condensando o pensamento desses dois, como já mencionado no início, uma economia de mercado precisa reger-se por normas de justa conduta. Essas normas necessariamente precisam ser gerais, abstratas e prospectivas, ou seja, elas não podem valer para o passado só posteriormente a sua promulgação é que elas devem passar a valer. E essas normas de justa conduta, definidas dessa forma, normas simples, concisas, devem muito mais negar o que as pessoas podem fazer do que as obrigar a fazer qualquer coisa. Devem impor-se pela sua autoridade moral, considerando que as pessoas vivem em sociedade, ou seja, Hayek chamava atenção para a importância em uma economia de mercado do que ele chamava de autoridade da lei, em que esta se impõe por sua autoridade moral, por ser considerada justa, de acordo com usos, costumes e tradições da sociedade.
Em contraposição, temos aquilo que chamava simplesmente de legislação, que podemos imaginar como comandos, ordens, imposições para que as pessoas façam determinadas coisas. Tais comandos não são baseados em usos costumes e tradições, ou seja, no chamado direito consuetudinário, mas na simples vontade do legislador.
Se imaginarmos dois casos opostos de organização social, como Hayek, dois tipos de sociedade, bem radicais, a primeira inteiramente controlada pelo Estado, tanto na parte política, como na economia. Essa sociedade vai precisar de controles, de ordens, de imposições. Por exemplo, para estabelecer um tabelamento ou congelamento de preços vai ser necessário que exista um órgão do Estado encarregado de cometer esse grave delito contra a economia de mercado. Uma economia intervencionista funciona também com normas só que essas normas têm caráter positivo, são comandos, são ordens, do tipo direita volver, ordinário marche, use cinto de segurança se não eu te prendo, você vai ter que ficar em casa, se não vai sofrer sansões.
Em contrapartida, uma economia de mercado, para funcionar como tal, não precisa e não pode ter controles. Falando do ponto de vista de uma economia inteiramente livre de mercado, algo que nunca existiu e que provavelmente nunca vai existir. Então para uma economia livre, uma economia de mercado precisa também de leis, assim como uma economia dirigida, só que a economia livre não precisa de controles, de ordens, de comandos, de imposições, mas de normas gerais de justa conduta.
E quanto à terceira via?
Se pensarmos em combinar essas normas de justa conduta na sociedade com uma economia intervencionista, um sistema misto, na definição de Mises e de Hayek, uma terceira via, veremos que esse sistema não se manterá por muito tempo. Uma economia intervencionista não pode existir se a sociedade for regida por leis, na definição do Hayek, por normas, apenas por normas de justa conduta. Ela vai precisar de comandos, de legislação. Então esse sistema de uma economia intervencionista regido por uma legislação, que muitos exageram e chamam de Estado Democrático de Direito, não é, segundo Mises, Hayek e tantos outros, viável no longo prazo, porque vai chegar uma hora em que o intervencionismo na economia vai exigir comandos, então o sistema da lei vai ter que passar para o sistema de legislação, para usar a linguagem do Hayek. E, na outra ponta, uma economia de mercado, uma economia livre, não pode ser regida por legislação, por comandos, simplesmente porque se ela é livre, não pode ser comandada, pois precisa apenas de normas gerais de justa conduta.
É por isso, quando alguns libertários falam que a aplicação de qualquer lei em uma atividade econômica é um intervencionismo descabido no sistema econômico e que liberais não deveriam defender esse tipo intromissão, essas pessoas precisam voltar aos primórdios e começarem estudar o liberalismo clássico e a própria Escola Austríaca, e não se fixarem apenas na leitura de romancistas defensores da economia de mercado, mas sem conhecimentos de economia, como Ayn Rand, autora que também admiro, mas sabendo que romance é romance e uma obra acadêmica é uma obra acadêmica.
Uma outra questão importante é: quem vai aplicar a lei?
Num mundo ideal libertário encontrado dentro dos livros, há até exposições excelentes, teoricamente. Nesse mundo, não precisa ser necessariamente o Estado que vai aplicar a lei, pode ser qualquer outro ente, inclusive privado. Mas no mundo real, esse em que vivemos, infelizmente, é o Estado que cuida dessas coisas, por mais que a gente não goste dele, por mais que a gente o considere como nosso “inimigo”: o Estado é meu inimigo, mas ele existe, ele está ai.
Finalizo mostrando esse folhetim. The Constitucion of United States. São sete artigos apenas que, nessa edição em que as páginas são pequenas, exigiram somente dezesseis páginas. Em 234 anos, mais ou menos (considerando que foi promulgada em 1787), recebeu apenas 27 emendas. Isso aqui é um exemplo de lei no sentido de Hayek. Você não precisa escrever um dicionário que precisa ficar folheando como a constituição brasileira de 1988. É uma diferença fundamental.
A verdadeira lei, aquela que necessariamente está atrelada à justiça, não precisa de espaço, mas de autoridade moral.
* Ubiratan Iorio é economista, professor e escritor.
** Publicado originalmente em ubirataniorio.org, em 05/04/2021
Francisco Ferraz, em Política para Políticos
A política é sempre surpreendente. Nela as certezas costumam ser abaladas pelo imprevisível e as previsões frustradas pelos fatos não antecipados. Este foi o caso do discurso de Lincoln em Gettysburg.
É um discurso breve, no qual cada palavra escolhida preenche a sua função, para compor uma peça singular, que combina força com serenidade e sobriedade com esperança.
Este discurso extrapolou os limites da história americana, para constituir-se num dos marcos da história universal da luta pela liberdade. O discurso, instantaneamente célebre, tornou-se um dos mais citados de todos os tempos. Não obstante sua duração de 3 minutos...!
Mas tudo parecia conspirar para o discurso sair mal.
Para começar, Lincoln não deveria ter ido à cerimônia, Com o filho doente, sua mulher, num surto de histeria, exigia que ele ficasse em casa. Além disso, os organizadores do evento não estavam nem um pouco desejosos que Lincoln comparecesse, tanto que ele nem constava da lista dos oradores.
Concluída sua fala, Lincoln, decepcionado, comentou que o discurso tinha sido um rotundo fracasso.
O discurso
“Há 87 anos atrás, nossos pais criaram neste continente uma nova nação, concebida em liberdade e dedicada ao princípio de que todos os homens são criados iguais.
Agora estamos em plena guerra civil, sendo testados, se aquela nação, ou qualquer outra assim concebida e assim dedicada, é capaz de resistir e sobreviver.
Nós nos encontramos num dos grandes campos de batalha daquela guerra. Aqui estamos para dedicar uma parte deste campo como o repouso final daqueles que aqui deram a sua vida para que aquela nação possa sobreviver. (...)
O mundo não dará muita atenção, nem lembrará por muito tempo o que dissermos aqui hoje. Mas o mundo nunca esquecerá o que eles fizeram neste campo.
Somos nós, os que estamos vivos, que devemos dedicar-nos ao compromisso de completar a grande obra não concluída, que aqueles que aqui lutaram, com tanta nobreza fizeram avançar.
Somos nós que devemos dedicar-nos à grande tarefa que ainda está diante de nós, de que estamos resolvidos a não permitir que estes mortos tenham morrido em vão, e de garantir que esta nação sob Deus possa ter um novo nascimento de liberdade, e de que aquele governo do povo, pelo povo, e para o povo não desapareça da face da terra.”
* Francisco Ferraz é Professor de Ciência Política e Ex-Reitor da Ufrgs, Pós-Graduado em Princeton, É diretor do site politicaparapoliticos.com.br