• Adriano Marreiros
  • 21/04/2022
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Ódio do bem

Adriano Marreiros

Dizem que eu odeio Les Non-Magiques. Os Trouxas. Os Não-Magi. Os Sem-Feitiços. Eu não os odeio. Não odeio. Pois eu não luto por ódio. Digo que os Trouxas não são inferiores, mas diferentes. Não são inúteis, mas de distinto valor. Não são descartáveis, mas têm uma disposição diferente.

Grindenwald

(Filme 2: Os Crimes de Grindenwald)

Assisti ao terceiro filme da saga Animais Fantásticos e Onde Habitam.  Ainda bem que nada era realidade.  Seria um mundo de trevas... 

Em todos os filmes, Gellert Grindenwald era sedutor, parecia legal, falava macio, com um tom aveludado... 

Quando uma militante de sua causa tentou atacar um Auror (policial bruxo que atuava contra os bruxos das trevas): aproveitou a legítima defesa dele para inverter as coisas e acusar os Aurores  de serem violentos... 

Dizia que defendia “The Greater Good”, “O Bem-Maior”, que queria evitar uma nova guerras: mas agia como quem viria a provocá-la...  Dizia querer uma “Democracia” bruxa: uma em que a minoria subjugaria a maioria de Trouxas ou Não-Magi, ainda que a maior parte da própria minoria não quisesse isso, apenas os militantes de sua ideologia.  E quem não queria isso: não queria o bem, não queria o bem maior!!!  E quem não queria o bem maior? Só poderiam ser pessoas odientas, que o difamavam, inventavam coisas sobre ele e seus seguidores, que usavam o discurso de ódio contra ele, um iluminado que lutava por uma nova era, pelo bem: e isso é um fato!  E a Liberdade não é para isso, não é para impedir o Bem-Maior, então deveriam ser perseguidos e presos...  Porque ele só queria um “Bem-Maior”...

Chegou a tentar fraudar a eleição bruxa, enfeitiçando a criatura mágica que fazia a escolha, para que ela fizesse o que ele queria: matou-a e transformou-a num zumbi a seu serviço, um inferius[1] animal.  Aliás, ele só concorreu porque seus crimes foram estranhamente anulados por um Ministro: o Ministro da Magia da Alemanha.  Precisava de muita magia mesmo pra anular aqueles crimes. 

Mesmo com tudo isso, até pessoas cultas, algumas até por amor, por ingenuidade, acreditaram quando ele se colocava como um ser de luz, um líder que só queria o bem maior para todos, que lhes daria liberdades.  Outros acharam que poderiam conseguir uma superioridade com tal apoio. Outros queriam lucrar politicamente.  Outros só queriam dar vazão a seus instintos das trevas, integrando uma milícia do ódio – um ódio do bem, claro, com censura, calúnias e perseguição... do bem...  Mas a maioria dos seus seguidores era só tola mesmo...

Voldemort, décadas mais tarde, foi até mais poderoso, até governava no lugar do Ministro da Magia, que era impedido de decidir por meio de feitiços feitos a mando do Lorde das Trevas, por meio de uma Maldição Imperdoável, a Imperius: mas nunca se fez de bonzinho e só conseguiu voltar ao poder porque a imprensa oficial, em conluio com o Ministério, chamava de mentira – fake news – as verdades ditas por Harry e Dumbledore e atacava, censurava e punia quem ousasse repetir essas verdades.  E criaram verdades oficiais...

Mas Voldemort nunca invocou o monopólio da luz: sempre se disse o Lorde das Trevas.  Nunca se preocupou com o bem, nunca negou que para ele só o poder importava.  Nunca se disse democrata: sempre se mostrou ditatorial e com ódio dos opositores. 

Dois lobos violentos e sem escrúpulos: mas só um deles em pele de cordeiro...

       ROSIER: Quando vencermos, eles fugirão das cidades aos milhões. Eles tiveram seu tempo.

       RINDELWALD: Não digamos tais coisas em voz alta. Queremos apenas liberdade. Liberdade para sermos nós mesmos.

       ROSIER: Para aniquilar os não-bruxos.

       GRINDELWALD: Nem todos eles. Nem todos. Não somos impiedosos. O animal de carga sempre será necessário...

       (Também do Filme 2: Os Crimes de Grindenwald)

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