• Gustavo Corção
  • 02 Abril 2021

Gustavo Corção

O sermão de São Gregório Nazianzeno começa numa espécie de jubilosa exclamação: «Páscoa, Páscoa, Páscoa, três vezes Páscoa, direi em honra da Santíssima Trindade. Esta é para nós a festa das festas, a solenidade das solenidades. Como o fulgor do sol apaga as estrelas, assim esta festividade excede a todas as outras, não só as humanas mas as do próprio Cristo e que por causa dele se celebra». Lembremos a instituição da Páscoa no Antigo Testamento, quando Deus encarregou Moisés de ensinar os israelitas que sofriam servidão no Egito: «No décimo-quarto dia desse mês, os filhos de Israel tomarão em cada família um cordeiro de um ano, sem mancha, o imolarão, e com o seu sangue marcarão os umbrais de suas portas, e nessa mesma noite comerão a carne do cordeiro com pão sem fermento e ervas amargas... E comerão com os cintos atados, as sandálias de viagem nos pés, e com o bastão na mão; porque é a Páscoa, isto é, a Passagem do Senhor». E agora nesta Páscoa do Novo Testamento, em que o próprio filho de Deus é imolado, procuremos compreender bem em toda a profundidade, o mistério desta solenidade três vezes bendita.

 Páscoa, para nós quer dizer Passagem e faz-nos lembrar que somos peregrinos, que estamos em caminho da pátria como os israelitas estavam a caminho de Canaã, onde abundava o leite e o mel. Por isso, a nossa maior festa ainda é celebrada em marcha, às pressas, com o cinto apertado e a sandália de viajante nos pés. Ainda não chegamos, e por isso, à carne do cordeiro que comemos se misturam ervas amargas. Estamos no meio do Mar Vermelho. Em direção à Pátria, mas ainda no mundo. Estamos no deserto, vivendo da palavra de Deus.

 Páscoa, para nós, quer dizer também Discriminação. É a festa da nitidez. Ou temos os umbrais de nossa alma marcados com o sangue do Cordeiro, ou pereceremos na Passagem do Anjo exterminador. Esta característica pascal parece contrária à anterior pois lá se falava de transição e aqui se fala de nitidez e essas duas idéias têm ressonâncias opostas. Convém portanto precisar melhor: A transição se refere à nossa condição exterior de peregrinos; a discriminação se refere à marca interior do Sangue de Cristo em nós. Estamos em trânsito, passando por estações intermediárias, vivendo dia a dia as gradações do mundo, mas nossa alma, por cima do mundo, está ancorada; e em contraste com o cinzento dos dias está nitidamente marcada com o rubro Sangue do Cordeiro.

 A cruz que é para os gentios sinal de escândalo e de loucura, é para nós sinal de nitidez e de absoluta discriminação. Onde ela se planta desaparecem os meios-termos, os compromissos, as concordatas, e toda essa indecisão que fazia muitos israelitas no deserto suspirarem com saudades da servidão do Egito, porque lá, ao menos, tinham garantida a gamela de carne com cebolas. Para nós, a Cruz deve ser o sinal de um franco contraste. Ou somos marcados, ou não somos. Ou estamos com Cristo ou contra ele. Ou avançamos ou regredimos. Não há meio-termo à luz do círio pascal.

 Apliquemos em nós, cada dia, cada hora, esse espírito discriminador da Páscoa, e saibamos imprimir em cada um de nossos atos o sinal da cruz. A tentativa mais insensata que fazemos é a de procurar um meio-termo entre Deus e o Mundo. Dizemo-nos católicos com uma terrível tranqüilidade e com uma impressionante inconseqüência. Dizemo-nos católicos e continuamos a viver as mesma infidelidades e a saborear as mesmas carnes e cebolas do faraó. Dizemo-nos cristãos, mas a marca do Sangue mais parece uma rosada aguadilha, mais parece um sinal de maquilagem do que uma infusão de incondicional amor.

 Sejamos pascais, sejamos nítidos; ou não seremos Cristãos.

 Páscoa, para nós, também quer dizer salvação. Se estamos em marcha, e se nitidamente optamos, já estamos salvos, salvos em Esperança. O mesmo Sangue que discrimina já tem a virtude salvífica, já opera o que significa e já nos dá direito de falarmos a Deus com a liberdade de filhos.

 Terminemos com a leitura de São Gregório Nazianzeno:

 «Hoje é o dia em que fugimos do poder egípcio, das mãos do odioso faraó e de seus cruéis ministros; dia em que nos libertamos da argila e das olarias. A festa do Êxodo já ninguém há que proíba celebrá-la com o Senhor nosso Deus, e não mais com o velho fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade, nada trazendo conosco do ímpio fermento egípcio. Ontem angustiava-me com o Cristo na Cruz, hoje sou também glorificado. Ontem com Ele morria, hoje com Ele sou vivificado. Ontem sepultava-me com Ele, hoje com Ele ressuscito».

GLOBO Sábado, 25/3/78

Reproduzido de https://permanencia.org.br/drupal/node/107

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  • Érika Figueiredo
  • 02 Abril 2021

Érika Figueiredo

 

Tenho falado, nas inúmeras lives e entrevistas de que participo, acerca do lockdown e de seus efeitos danosos para a sociedade, a economia, as crianças, os assalariados, os empresários, pequenos empreendedores e comerciantes, e toda a gama de pessoas que são prejudicadas com a paralisação dos serviços e com o prejuízo daí advindo.

            Sempre esclareço que, em um país com tamanha pobreza como o Brasil, as medidas isolacionistas promovidas na Europa, continente em que as dimensões populacionais e territoriais dos países são pequenas, são fadadas ao insucesso, e que mesmo que os governos se esforcem, os auxílios nunca atingirão a população toda, além de gerarem um déficit monstruoso para a nação, com um impacto que perdurará por anos.

            Falo, também, do modo como os EUA conduziram a pandemia, esse sim um país gigantesco, e que agora estão com os casos em avançado declínio, mesmo sem a realização de lockdowns agressivos. Sei que o vírus existe, não sou negacionista ou coisa parecida, mas creio que há outras formas  de se lidar com o seu avanço.

            Vejo uma capitalização política enorme nos discursos públicos, e isso me deixa bastante preocupada com o futuro de nosso país. Afinal, a política era, segundo Platão, a arte de dar uma vida boa para a população, e deveria ser, segundo o filósofo, exercida pelos homens mais sábios, que apresentavam maior capacidade de lidar com as situações e tomar decisões. Infelizmente, não é isso que vemos por aqui.

            Quando abordo tais temas, muitas pessoas me perguntam qual será o futuro que nos espera, se dizem angustiadas e me questionam sobre quais atitudes devem tomar, diante do quadro atual de coisas. Afinal, o mundo todo está em crise. A minha resposta, invariavelmente, é sempre a mesma: ordenem-se por dentro, cuidem de sua casa, de sua família, de seu trabalho, de seu entorno, pratiquem a religião.

            Eric Voegelin, escritor alemão naturalizado americano, que fugiu de sua terra natal em 1938, para não ser preso pelo regime nazista, e tornou-se um professor, escritor e palestrante mundialmente famoso, foi quem primeiro tratou dessa ideia, do modo que a exponho aqui. Mergulhou fundo na corrupção da sociedade alemã, através da destruição dos símbolos humanos e divinos, pela linguagem, o que permitiu que Hitler fosse acolhido como um semideus.

            Este grande analista da realidade vai explicando, em sua obra Hitler e os Alemães, que a miséria intelectual e moral que tomou conta da Alemanha após a 1ª Grande Guerra, foi um terreno fértil para a chegada de Hitler, que tratou de modificar a linguagem e derrubar a religião, para ter maior controle sobre os indivíduos e suas mentes, assim que ascendeu ao poder.

            Voegelin foi o maior cientista político do século passado, e nunca deixou de ter os pés bem fincados no chão. Muito conhecido na Europa e nos EUA ( embora praticamente desconhecido no Brasil), era um profundo estudioso de Platão, Aristóteles, Max Weber, tendo sido aluno de Hans Kelsen. O professor Olavo de Carvalho , por ser um grande admirador de suas obras, tem sido um dos responsáveis por difundi-las por aqui.

Esclarecia Voegelin, em suas obras, que o mais importante, para o indivíduo ( e o mais difícil também), é a busca da ordem interna do ser. Estar em ordem interna, mesmo dentro do caos, conhecer a verdade e saber seu propósito de vida, tendo a certeza de que este é o desejo divino para os homens, deve ser a missão da vida de cada um. 

            Estamos atravessando tempos sombrios, loucos, nos quais o medo e a ignorância coletivas cegaram a humanidade. A miséria moral e intelectual a todos atingiu e contaminou. A linguagem foi corrompida, para que em seu lugar sejam inseridas as ideologias. A civilização vive uma grande crise espiritual e de símbolos. As crenças vêm sendo trocadas por ideologias que subvertem a ordem moderna.

            Isso, historicamente, aconteceu em muitas nações. A Alemanha não foi a única. Temos como exemplo a Rússia de Stalin, a Venezuela, Cuba, a Coréia do Norte, a China e muitas outras, que se encantaram  pelo canto da sereia de ditadores cruéis, travestidos de heróis, os quais foram modificando a linguagem e o sentido das palavras e dos símbolos, a fim de tornarem a sociedade uma massa de manobra rendida às suas vontades tirânicas.

            Como digo insistentemente, a História é cíclica, ela se repete. Deveríamos aprender com as tragédias gregas, que eram escritas em forma de trilogia, e possuíam as seguintes etapas: o excesso, a transgressão; o sofrimento, a punição; a redenção, a transformação. O crescimento vem da dor, e é preciso sentir na pele o peso das escolhas, para que a mudança chegue.

As tragédias gregas eram escritas e encenadas com caráter educativo, e com a finalidade de mostrarem para o povo que era possível evitar o sofrimento e a punição, fazendo as escolhas certas. Nós, infelizmente, não conseguimos. Falimos como civilização, e agora vivemos uma profunda crise moral e espiritual. Vamos arcar com as consequências disso.

Assim são os ciclos sociais. Já desfrutamos dos excessos, como sociedade, desde a década de sessenta do século passado. Entramos em rota de colisão com os valores conservadores, dando de ombros para tudo que deu certo, ao longo das eras da civilização. Os excessos nos levaram ao caos. Agora, vivemos a ressaca desses excessos, nos encontramos perdidos, desorientados, e pagaremos um preço alto pelos símbolos e valores que fomos dispensando ao longo dessa trajetória, os quais nos escoravam como civilização. 

Voegelin dizia que, enquanto isso, devemos aproveitar para nos conectar com a ordem interna que todo homem precisa ter, e que é obtida através da busca do divino, do estudo da filosofia, do resgate das virtudes. O indivíduo precisa investir nos cuidados com a família e com o lar, em sua mente, seu corpo e sua alma, para só então, em prefeita comunhão consigo, sair a lutar pelo mundo.

Isso lembra bastante o ensinamento do psicólogo canadense Jordan Peterson, sobre arrumar o próprio quarto, antes de sair por aí ditando as fórmulas para modificar o mundo. Eu, você, nossos familiares, pouco ou nada podemos fazer, para modificar a sociedade atual, corrompida por ideologias.

Mas podemos estudar os clássicos, praticar a religião, passar adiante valores morais sólidos, resgatar os símbolos e a linguagem, para que o mal não prevaleça sobre o bem, para que Deus retorne aos lares e aos corações da humanidade, e para que dias melhores cheguem para o nosso sofrido Brasil.

“Ninguém está obrigado a participar da crise espiritual de uma sociedade; ao contrário, todos estão obrigados a evitar a loucura e viver sua vida em ordem”. Eric Voegelin

*A autora é Promotora de Justiça junto ao MP/RJ 

Publicado originalmente em https://www.tribunadiaria.com.br/ler-coluna/839/como-lidar-com-a-crise-da-civilizacao.html

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 30 Março 2021

Akex Pipkin, PhD

 

Ontem à noite assisti ao filme “The Nest”. Li a sinopse e achei os atores e a história interessantes. Valeu a pena.
Jude Law atua como Rory, um homem de negócios, um vigarista de verdade - eles sempre existiram e marcam presença em qualquer profissão - , que vai para Londres em busca da fortuna.
Entretanto, sua ganância e sua vida de rico tipo  “faz de conta” dá causa a que essa irrealidade não se crie, destroçando tudo, inclusive sua família. A propósito, sua esposa Allison no filme, a atriz Carrie Coon, está espetacular.
O personagem de Law é um executivo ambicioso e ganancioso, porém, num mundo real das transações capitalistas, de mercado, as enganações muitas vezes encontram a verdade, ou seja, os necessários princípios virtuosos pelo caminho, e não se criam.
Primeiramente acreditei que se tratava de uma crítica ao capitalista ganancioso, mas terminei pensando que o filme possa querer exaltar a verdadeira versão do capitalismo, aquela em que o interesse próprio racional, nada tem a ver com a ganância egocêntrica.
A ganância é mesquinha e autocentrada, mas o interesse próprio é uma força individual vital que nos motiva a agir na direção do atendimento de nossas próprias necessidades.
Contudo, quase todos os críticos das trocas livres e voluntárias nos mercados esquecem que esse interesse próprio racional só se concretiza e, ao mesmo tempo, exige que nos envolvamos em relacionamentos e colaboração benéfica com outras pessoas, reverberando em benefícios e em melhorias para os outros.
Inquestionavelmente, o capitalismo é inerentemente cooperativo.
A economia de mercado faz direcionar esse interesse próprio para as atividades produtivas e colaborativas.
Aliás, aqueles que atuam de maneira gananciosa e desleal com os outros, são punidos pela cada vez mais importante reputação. É por isso que a concorrência é tão vital, a fim de que os consumidores possam fluir com suas necessidades e seus desejos para outras ofertas competitivas.
Aqueles empresários que mesmo motivados pelo interesse próprio racional, não conseguem entregar um pacote de valor que satisfaz as necessidades dos cidadãos-consumidores, não prosperam no longo prazo.
Os consumidores, livres para escolher, operam como os juízes nos mercados.
Neste sentido, o estímulo para a destruição criativa e as inovações é o lucro. O surgimento de novas e melhores soluções para a vida em sociedade acontece por meio de empresários dispostos a inovar e a correr riscos para melhor atender os clientes e lucrar.
Não é por acaso que o grande Adam Smith pregava o respeito ao interesse próprio, na expectativa de que houvesse o benefício para toda a sociedade.
Quando as transações são livres numa economia de mercado, as próprias pessoas, por meio das relações interpessoais e comerciais, separam o joio do trigo, o interesse ganancioso do interesse próprio racional. Este último implica, portanto, em resultados sociais benéficos para todos.
Os gritos cada vez estridentes contra o capitalismo - que é distinto daquele com abissais intervenções governamentais - querem genuinamente trazer à tona um sistema centralizador e controlador que justamente inibe os processos de destruição criativa e a soberania do consumidor. As iniciativas nesta direção estão aí, transparentes para quem quiser enxerga-las.
Voltando ao filme, é interessante notar que o ganancioso Rory encontrou refúgio no seio de sua família - embora seja uma questão em aberto; é o que dá para depreender. Eram outros tempos, Reagan, Thatcher...
Nos tempos estranhos e “progressistas” de hoje, os puros de coração e de moral exterminaram com a instituição familiar.
E o apoio?! Agora só nas tribos.

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  • Percival Puggina
  • 29 Março 2021

 

Percival Puggina

 

         Em Lucas 8:17, Jesus afirma: “Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado; nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz.”

Se era assim, vinte séculos atrás, num tempo em que não havia xerox nem Internet, imagine hoje, com essa aparentemente inesgotável capacidade de conhecer e armazenar o conhecimento. Essas mesmas tecnologias inutilizam conchavos e destronam caciques.

Durante muitos e longos anos o PSDB foi o partido dos caciques da política. Era a lâmina bem trajada e bem falante da tesoura esquerdista que comandou a política brasileira durante um quarto de século. Partido de ideias transversais e pronomes oblíquos.

Fernando Henrique Cardoso, na Constituinte, criou o Movimento de Unidade Progressistas (MUP) coletando a esquerda do PMDB, se aproximando do PT com o intuito de esquerdizar ainda mais a Constituição e acabou fundando o PSDB. De modo similar, o senador Álvaro Dias saiu do PSDB para criar o PODEMOS, que foi o partido de base para a formação do movimento Muda Senado. Que não mudou coisa alguma.

O Muda Senado surgiu em consonância com os apelos das multidões nas praças. O movimento queria moralizar aquele poder e fazê-lo cumprir seu papel institucional perante os maus usos e costumes de membros do STF. Abriu um guarda-chuva moral para abrigar inicialmente 22 dos 81 senadores. Eram 22 dentro e 59 fora. Com o tempo, o guarda-chuva, em vez de alargar-se, foi se fechando e abrigando cada vez menos senadores.

O descrédito do Senado se reflete no mau desempenho dos caciques na cena política. Em 2018, Geraldo Alckmin, hoje em total sintonia com o descondenado Lula, representou o PSDB como a “toalha mais felpuda” da tribo tucana. E fez menos de 5% dos votos, embora os partidos de sua base de apoio correspondiam a quase metade do plenário do Congresso Nacional. Bye, bye caciques! O candidato escolhido pelo então poderoso PMDB para disputar a presidência, Henrique Meirelles, fez pouco mais de 1% dos votos.

A falta de sintonia e perda de influência das antigas lideranças fica muito evidente quando se observa a vitória de João Dória nas prévias tucanas e o mau desempenho dos nomes que a turma da terceira via tem colocado suas fichas. Enquanto isso, da noite para o dia, novos partidos surgem das velhas tribos e, na mesma cadência, crescem e decrescem.

Caciques omissos perante seus deveres institucionais, protetores de corruptos, que jamais ergueram a voz contra os abusos do STF, perdem tribos inteiras e pagarão o preço de sua surdez à voz das ruas.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

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  • Luiz Pereira Lima
  • 29 Março 2021

Luiz Pereira Lima

 

Acobertados pela palavra ciência, políticos e  membros do judiciário, tem vulgarizado sua  etimologia. Talvez desconheçam que ciência não tem ideologia e cientistas são indivíduos “uni-dimensionais”, na visão de Rubem Alves, pois cegos em relação a outros objetivos que não executar e provar com as rígidas regras de seus jogos. É um jogo sem emoção. Agora ouve-se à exaustão : seguiremos a ciência! Que ciência? A do judiciário cuja emoção tem superado a razão? Os verdadeiros cientistas capturam objetos físicos, transformando-os na linguagem de números, mas são incapazes de capturar relações afetivas. Nosso  judiciário quer provar o que não pode ser avalizado por nenhum cientista de escol.

Ganhar eleição no Brasil não significa governar. Ao contrário, perdedores inconformados, utilizam um Judiciário, cujas sentenças mascaram decisões políticas. Exemplo típico foi a interrupção recente da “ferrogrão”, que traria bilhões de reais ao País, interrompida pelo STF, em decisão de um homem só, que não teve um voto sequer dos brasileiros.

Assim a democracia dispneica agoniza, pois justiça e ideologia não combinam, não havendo enzima capaz de mitigar esta reação. O último julgamento patrocinado pela mais alta corte, quando da suspeição do ex-juiz Moro, eviscera o supra mencionado. Por primeiro, mas não o principal, foi a surpreendente- para alguns- mudança de opinião de um dos julgadores. O mais notável dos juízes, no sentido de se fazer notar, não o mais brilhante,  perdeu o decoro atirando grosserias ao novel da corte. O menosprezo ao novo ministro, após tê-lo chamado de covarde, chegou aos píncaros, quando em alto e bom som, bradou “nem no Piauí” , terra natal do mesmo . Lastimável , como exemplo máximo de educação e civilidade, deveria ser o comportamento do mais alto grau da justiça brasileira.

Todavia, estarrecedor foi o voto emocionado do Ministro! Como no poema de Guimarães Rosa,”o pranto jorrou-me em ondas” , com lágrimas públicas dedicadas ao advogado do réu por parte do julgador. O juiz ingeria água a todo momento, não para hidratar-se , mas para amenizar o efeito da adrenalina, hormônio atirado na corrente sanguínea  aos borbotões. É o hormônio do medo e da vergonha. Mais do que pacientes com Covid , quem está intubada é nossa democracia agonizante suplicando oxigênio !

* Luiz Pereira Lima é Professor de Medicina

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 28 Março 2021

Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico

 

LABORATÓRIO DE EXPERIÊNCIAS SOCIALISTAS

Embora não seja uma novidade, o fato é que muitos brasileiros ainda desconhecem que o Estado do RS, notadamente a partir da criação do Foro de São Paulo, em 1990, se transformou no GRANDE LABORATÓRIO das experiências SOCIALISTAS/COMUNISTAS. Como tal se propõe a desenvolver e adequar programas e projetos para partidos que integram a ORGANIZAÇÃO COMUNISTA, como o PT (fundador do FSP),  PSOL, PCdoB, PCB e PDT. (o PSB deixou o FSP em 2020).

GOVERNOS PETISTAS

Observem que entre janeiro de1988 a dezembro de 2004, período em que o PT esteve a frente da Prefeitura de Porto Alegre, as EXPERIÊNCIAS SOCIALISTAS se mostraram exitosas para o ILUDIDO povo gaúcho a ponto dos eleitores colocarem o PT no governo do Estado, com Olívio Dutra (1999 a 2002); e voltar a cometer o mesmo erro com Tarso Genro (2011 a 2014), deixando o Estado arrasado.

POLÍTICAS DOUTRINÁRIAS

Vale registrar que uma das maiores razões para o PT escolher o RS para sediar o LABORATÓRIO de EXPERIÊNCIAS SOCIALISTAS/COMUNISTAS está no fato de que o povo gaúcho, grande adorador de Getúlio Vargas e Leonel Brizola, foi doutrinado a seguir as políticas SOCIALISTAS que foram colocadas, cuidadosamente, na Cartilha Comunista do Foro de São Paulo. De novo: o PDT, não por acaso, mas por pura identificação, integra o Foro de São Paulo.

ESTADO SUCATA

Ora a partir desta breve introdução fica muito claro o quanto o RS foi se transformando, ano após ano, num ESTADO SUCATA. O caso da CEEE é o retrato irreparável desta crítica e infeliz realidade. A cada dia que passa, o ROMBO da empresa é maior, simplesmente porque ela não consegue repassar aos cofres do Estado o ICMS que cobra dos consumidores. E nem mesmo esta crítica situação é capaz de fazer com que a Justiça do RS se manifeste a FAVOR da venda da estatal. Vejam que o STJ precisou entrar no assunto para cassar a louca decisão da Justiça do RS e com isto garantir a realização do Leilão, que está marcado para a próxima semana.    

IN-JUSTIÇA GAÚCHA

Esta mesma IN-JUSTIÇA GAÚCHA, para confirmar o quanto é IDEOLOGICAMENTE COMPROMETIDA com os interesses dos sindicatos, além de SUSPENDER a tramitação da importante e inadiável REFORMA DA PREVIDÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE, por incrível que possa parecer, também resolveu SUSPENDER A VOTAÇÃO, NA CÂMARA MUNICIPAL, do projeto de lei que previa a QUEBRA DO MONOPÓLIO DA PROCEMPA, empresa pública responsável pela prestação de serviços de tecnologia da informação e comunicação ao município. O pedido de suspensão, obviamente, partiu das bancadas do PT, PSol e PcdoB.

CANTO DA SEREIA

Como se vê, estas decisões, que emperram o RS e afastam os investidores, são PURA CONSEQUÊNCIA. As CAUSAS estão lá atrás, quando o povo gaúcho se deixou levar pelo CANTO DA SEREIA copiosamente entoado pelos servidores públicos através de suas poderosas CORPORAÇÕES. 

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