Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino
"A crise climática de que o planeta padece é tão ou mais ameaçadora que Vladimir Putin. A invasão é um crime inaceitável, que não pode ser ignorado, e é preciso apoiar aqueles que enfrentam o tirano russo. Mas o mundo deve desenvolver capacidade para responder a mais de uma crise por vez. A Ucrânia não deve ser abandonada, mas a luta contra o aquecimento global também não. Esta última é muito difícil, mas agora sabemos que, agindo em conjunto, o mundo pode alcançar coisas difíceis.
Os líderes das democracias do mundo mostraram que, frente a uma ameaça existencial, as políticas as podem mudar decisiva e rapidamente. É hora de usarem com valentia o superpoder que a crise na Ucrânia lhes ajudou a descobrir para atacar a outra grande crise que a humanidade enfrenta."
A proposta, das mais insidiosas, é do economista venezuelano Moisés Naím, pesquisador da Fundação Carnegie para a Paz Internacional (Carnegie Endowment for International Peace) de Washington, feita em sua última coluna reproduzida em jornais de vários países, inclusive o brasileiro O Estado de S. Paulo de 7 de março ("União em torno da guerra na Ucrânia deve servir de exemplo contra a mudança climática").
Nela, Naím volta a ventilar uma ideia que circula há tempos nos altos escalões estratégicos da estrutura de poder hegemônico centrada nos EUA e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): a inclusão de grandes temas ambientais, a exemplo das mudanças climáticas e da "proteção" do bioma Amazônia, em questões de segurança internacional, inclusive, com os correspondentes desdobramentos militares.
Recorde-se que, em 2020, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, defendeu explicitamente que a organização deve preparar-se para "combater as mudanças climáticas". Em um artigo publicado em vários jornais europeus, ele propôs:
"As mudanças climáticas ameaçam a nossa segurança. Então, a OTAN deve fazer mais para entender plenamente e integrar as mudanças climáticas em todos os aspectos do nosso trabalho, desde o nosso planejamento militar até à maneira como exercitamos e treinamos as nossas forças armadas... A OTAN também deve estar preparada para reagir a desastres relacionados ao clima, assim como fizemos durante a crise da Covid-19."
A adesão à agenda "verde" é um desdobramento do dilema existencial da Aliança Atlântica no mundo pós-1991, quando a implosão da União Soviética e a extinção do Pacto de Varsóvia lhe retiraram a justificativa oficial para a sua existência. Desde então, a OTAN foi convertida em uma "gendarmeria global" com uma agenda estreitamente alinhada aos interesses de Washington, incorporando às suas operações militares (com frequência, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas), ações humanitárias, combate ao terrorismo, narcotráfico e pirataria, "ameaças" antidemocráticas e problemas ambientais.
Como observou o então ministro da Defesa Nelson Jobim, em um seminário promovido pelo Instituto de Defesa Nacional de Portugal, em Lisboa, em 2010, o seu novo campo de operações passou a ser praticamente o mundo inteiro.
A rigor, as preocupações "verdes" da OTAN não constituem novidade, pois a organização teve um papel ativo na instrumentalização dos temas ambientais na pauta hegemônica, que remonta à década de 1960. Em maio de 1967, em Deauville, França, a Aliança promoveu a Conferência sobre Desequilíbrio e Colaboração Tecnológica Transatlântica, com a presença de alguns dos mentores da agenda ambientalista, entre eles o industrial italiano Aurelio Peccei, então presidente do Instituto Atlântico, o principal think-tank da OTAN, e Zbigniew Brzezisnki, do Conselho de Planejamento Político do Departamento de Estado dos EUA. No ano seguinte, Peccei seria um dos fundadores do Clube de Roma, uma das principais agências promotoras do malthusianismo/ambientalismo sob o disfarce dos "limites do crescimento". Brzezinski viria a tornar-se um dos principais estrategistas de política externa dos EUA.
As principais conclusões da conferência foram:
1. O progresso científico, definido pelo domínio sucessivo do homem sobre as leis universais, deveria ceder lugar a uma visão do homem reduzido a uma parte da natureza, cujas leis seriam imutáveis e incognoscíveis.
2. Os sistemas de governo baseados nos paradigmas industriais então predominantes não mais funcionariam na "nova era" pós-industrial em gestação. Os Estados nacionais se desagregariam, na medida em que o homem criasse novas maneiras mais "empáticas" de se relacionar com os seus semelhantes.
3. A promoção da contracultura do rock, drogas e "libertação sexual", em um período pouco superior a uma geração, a transformaria na cultura global dominante, o que significaria o fim da civilização ocidental judaico-cristã.
Em 1968, Brzezinski lançou o livro The Technetronic Age (no Brasil, América: laboratório do mundo), no qual argumentava que essa "nova era" lançaria as bases para uma ditadura benevolente por parte de uma elite "globalizada".
Sobre o nascente movimento ambientalista, escreveu: "A preocupação com a ideologia está cedendo vez à preocupação com a ecologia. Seus começos podem ser divisados na preocupação popular sem precedentes com assuntos como a poluição do ar, a fome, a superpopulação, a radiação e o controle de doenças, drogas e atmosfera... Existe já difundido o consenso de que é desejável o planejamento funcional como o único meio de enfrentar as diversas ameaças ecológicas."
Os desdobramentos de tais propostas, nas décadas seguintes, representam um caso padrão de profecia autocumprida.
Assim, não é casual que a menção de Stoltenberg à "segurança das futuras gerações" nos recorde o celebrado conceito de "desenvolvimento sustentável". O seu primeiro cargo público foi o de ministro do Meio Ambiente da Noruega (1990-91), na terceira gestão da primeira- ministra Gro-Harlem Brundtland, ex-coordenadora da Comissão Brundtland das Nações Unidas, cujo relatório Nosso futuro comum, de 1987, lançou o conceito e as diretrizes da agenda ambiental global para as décadas seguintes. Posteriormente, teve dois mandatos como primeiro-ministro, em 2000-2001 e 2005-2013. Durante este último, em 2008, participou ativamente da articulação do Fundo Amazônia, ao qual o governo norueguês doou a quase totalidade dos R$ 2,88 bilhões destinados a financiar a fundo perdido iniciativas ambientais no bioma Amazônia (os outros contribuintes foram o governo da Alemanha e a Petrobras), selecionadas por um conselho integrado por representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e de ONGs do aparato ambientalista-indigenista que opera no Brasil. O Fundo funcionou entre 2009 e 2019, quando os governos da Noruega e Alemanha suspenderam os repasses, por discordarem das mudanças determinadas pelo governo brasileiro na gestão dos repasses.
No artigo de 2020, Stoltenberg observa que a Aliança Atlântica não deveria atuar apenas passivamente em relação à questão climática, mas também "estar preparada para reagir a desastres relacionados ao clima, assim como fizemos durante a crise da Covid-19".
Embora Stoltenberg não tenha feito qualquer menção ao Brasil (ou a algum país em particular), não é difícil se discernir que o País ocupa lugar de destaque na pauta da "segurança ambiental" global, na visão de certos estrategistas euroatlânticos. Algumas semanas após o seu artigo, um até então pouco conhecido Conselho Militar Internacional sobre Clima e Segurança (IMCCS, sigla em inglês), divulgou um relatório intitulado "Clima e Segurança no Brasil", advertindo que o desmatamento da Amazônia seria uma ameaça à segurança brasileira.
Fundado em 2019, em seu sítio (https://imccs.org/), o IMCCS se apresenta como "um grupo de líderes militares seniores, especialistas em segurança e instituições de segurança de todo o mundo, dedicados a antecipar, analisar e enfrentar os riscos de segurança de um clima em mudança". De forma significativa, a maioria dos seus dirigentes provém de países membros da OTAN.
O "recado" principal do documento foi: "As decisões de ação climática tomadas nos próximos anos determinarão se os impactos climáticos das próximas décadas serão mais administráveis ou potencialmente catastróficos. Dada a importância da Amazônia para o sistema climático global, é do interesse estratégico e de segurança do Brasil retornar à sua política de liderança mundial de combate ao desmatamento. (...)
Com sua segurança e interesses nacionais em jogo, é vital que o governo brasileiro retorne a uma estratégia de longo prazo para conter o desmatamento. As críticas internacionais à postura do Brasil em relação à proteção florestal podem muito bem se intensificar, caso o Brasil não volte a uma trajetória que cumpra seus compromissos com o NDC [sigla em inglês de Contribuição Nacionalmente Determinada – n.e.].
A comunidade internacional também pode exercer pressão sobre o Brasil nesses assuntos, aumentando as consequências diplomáticas e comerciais da inação. Diante disso, também é do interesse do Brasil se engajar positivamente com os organismos nacionais e multilaterais que têm parceria com o Brasil nos esforços de preservação florestal; esses acordos forneceram centenas de milhões de dólares para uma série de esforços de preservação e serão necessários para sustentar uma campanha de contra-desmatamento de longo prazo."
O relatório do IMCCS foi um evidente complemento "militar" à campanha "civil" do aparato ambientalista-indigenista internacional contra o Brasil, em resposta às ações do governo do presidente Jair Bolsonaro para preencher o déficit de soberania do Estado sobre a Região Amazônica (como o definiu o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas), após décadas de influência pouco contestada do aparato na formulação das políticas ambientais nacionais.
A novidade foi a presença de uma "ONG militar" na mesma trincheira com as ONGs ambientalistas- indigenistas e os fundos de ativos e de investimentos internacionais, que têm pressionado fortemente o País, para voltar enquadrá-lo plenamente na agenda "verde-indígena".
Em todo esse contexto, é da maior relevância ressaltar o veto da Federação Russa, em dezembro último, a uma resolução proposta pela Irlanda e pelo Níger, com apoio dos EUA, Reino Unido e França, propondo que as questões climáticas fossem integradas à agenda da segurança internacional. Em sua recente visita a Moscou, Bolsonaro ressaltou a relevância do fato para o Brasil.
A rigor, a Amazônia já vem experimentando uma intensa ofensiva de guerra híbrida desde o final da década de 1980, sob a ação de um exército irregular de organizações não-governamentais (ONGs), a grande maioria de países membros da OTAN, criando autênticas "zonas de exclusão econômica" e de soberania limitada na região mais carente de desenvolvimento do País.
Desafortunadamente, empresas e instituições que deveriam funcionar como sustentáculos da ação nacional na Amazônia, em iniciativas e projetos produtivos verdadeiramente capazes de levar a região a um patamar superior de desenvolvimento socioeconômico, têm contribuído para financiar tais forças irregulares de ocupação – casos da Petrobras, Vale, BNDES e outras, que têm aportado polpudas doações a ONGs engajadas nessa campanha antinacional. Em realidade, em vez da "desintrusão", termo pejorativo usado por aqueles combatentes irregulares para qualificar os residentes de terras reivindicadas para povos indígenas, o que se necessita é de uma "desorganização" da Amazônia.
* Reproduzido do excelente Defesa Net, onde foi publicado em 09/03/2022. https://www.defesanet.com.br/toa/noticia/43843/A-OTAN-de-Jens-Stoltenberg-e-a-Amazonia
Gilberto Simões Pires
ROTA DO ATRASO
Na medida em que nos aproximamos das Eleições 2022, mais do que nunca é preciso ler, reler e compartilhar o oportuno texto -VINTE MOTIVOS PAR NÃO VOTAR EM BRANCO-, produzido pelo atento pensador Percival Puggina. Mais ainda aqueles que sabem, perfeitamente, que o PLANO DE GOVERNO DO PT, cuidadosamente elaborado pela organização comunista -Foro de São Paulo-, tem como escancarado e estudado propósito -RECOLOCAR O NOSSO BRASIL na conhecida -ROTA DO ATRASO-, para voltar, triunfante, a fazer companhia à Cuba, Venezuela e Argentina, por exemplo.
ABSTENÇÃO DE CULPA
Puggina inicia seu texto dizendo - Não sei onde andam os eleitores de Lula. Mas sei, com grande certeza, que no dia da eleição estarão todos formando fila nos seus locais de votação. Por outro lado, tenho encontrado eleitores, não de esquerda, que pretendem votar em branco, ou abster-se de votar. De algum modo, ASSOCIAM A ABSTENÇÃO À ABSOLVIÇÃO DE CULPA OU RESPONSABILIDADE pelo que acontecer ao país. Lavam e enxáguam as mãos na torneira do voto em branco sem perceber que ele é, também, uma posição política. Uma vez assumida, principalmente quando serve à estratégia da esquerda, tem gravíssimas consequências!
CEMITÉRIO DO REALISMO
O ÚLTIMO ANDAR DO IDEALISMO É O CEMITÉRIO DO REALISMO. Significa desconhecer a política real, aquela que manda no Estado, nas ruas e por várias frestas, invade a casa da gente. É a mesma que põe sob sigilo o que queremos saber e, de modo deslavado, mente sobre o que sabemos. É grave imprudência desconsiderar os conhecidos e onerosos flagelos causados pelo lulismo. O retorno do petismo ao poder produzirá tragédias ao país. Entre muitas outras, estas vinte:
MOTIVOS
1- reinserção de uma organização criminosa no quadro dirigente da República, atribuindo a essa organização o direito de nomear outros dois ministros do STF;
2- tomada do poder nos termos de José Dirceu;
3- reestatização do que tenha sido privatizado;
4- influência e interferência política no Conselho Nacional de Justiça e no Conselho Nacional do Ministério Público;
5- recrudescimento das ações terroristas dos movimentos sociais;
6- relativização, quando não supressão, do direito de propriedade;
7- restrições ainda maiores ao direito de defesa dos cidadãos;
8- apoio político à legalização do aborto;
9- incentivo ao aparelhamento partidário da burocracia federal;
10- manutenção do sequestro da Educação pelas organizações políticas de esquerda;
MAIS MOTIVOS
11- ampliação do poder da extrema imprensa em geral e da Globo em particular;
12- restrições mais severas à liberdade de opinião e expressão nas redes sociais;
13- aceleração do fracionamento identitário da sociedade brasileira;
14- combate crescente à instituição familiar como célula essencial da sociedade;
15- apoio estatal à erotização da infância e estímulo ao desenvolvimento confuso da sexualidade;
16- omissão perante a criminalidade de rua e o crime organizado;
17- uso do poder para garantia da impunidade;
18- extinção das escolas cívico-militares e - controle dos currículos de formação militar;
19- revisão das regras de promoção e venezuelização das Forças Armadas;
20- interpretação equivocada da laicidade do Estado.
VOTO EM BRANCO E VOTO NULO
O VOTO EM BRANCO, ante um perigo de tais proporções, é lamentável e estupendo favor prestado ao mal de todos. Por isso, é muito preocupante saber que enquanto os eleitores de esquerda são perfeitamente capazes de votar em alguém como Lula para que se cumpra a pauta acima, eleitores não de esquerda, optam por uma omissão que coloca toda a sociedade sob o risco de ficar a ela submetida.
E o VOTO NULO? Não representa protesto quantificável. Ele vai misturado com os votos dados por quem não sabe usar a maquininha.
Aristóteles Drummond
É mais do que oportuno o lançamento, no Brasil, do livro do jurista canadense Ran Hirschl, mostrando o perigo das cartas mais recentes, cita Nova Zelândia e África do Sul, permitirem um fortalecimento dos judiciários. A primeira observação que cabe como uma luva no nosso país é o tamanho da Carta Magna, que Roberto Campos, que hesitou em assinar – ele e o Lula, por motivos diferentes –, dizia ser comparável a uma antiga lista telefônica. Seria sacrilégio, dizia Roberto, comparar com a Biblia....
O livro e sua tese assustam, pois nos fazem reportar a Rui Barbosa com sua famosa frase de que “a pior das ditaduras é a do Judiciário”. Algo que, de certa maneira, estamos vendo acontecer no Brasil.
Nosso Supremo se ocupa de questões ligadas às vacinas, ao uso de armas, programas de saúde, nomeações para cargos de confiança do Executivo, além da constitucionalidade em processos criminais e de decisões da área econômica, como venda de estatais e mil outras miudezas. Só no Brasil um ministro do STF pode, monocraticamente, soltar um bandido condenado por crimes graves, como tráfico de entorpecentes, o homem fugir e ficar por isso mesmo. Por mero preciosismo jurídico.
A entrada do Judiciário nas questões políticas e eleitorais, tendo o Brasil um Tribunal Eleitoral, de alto custo e poucos resultados, conspira contra a democracia. Nossos ministros são de nomeação do presidente da República e a função é vitalícia. Recentemente, alargou-se a idade da compulsória para 75 anos.
Pouco se fala dessa aberração, porque a inusitada situação, que engessa a economia, interessa as esquerdas, pois a maioria da atual composição foi de nomeação dos anos PT. O Supremo se considera “supremo” mesmo, e os demais poderes ainda não souberam reagir.
O Parlamento, que é onde as leis são elaboradas, tem sido violentado nas suas prerrogativas e, ao tentar deixar clara a questão da imunidade, que é universal, recuou diante de uma inconcebível manifestação, que tentou convencer a opinião pública que se tratava de defender impunidade, e não imunidade. Hoje, imunidade é só para magistrados no Brasil.
Temos de melhorar nossos códigos, simplificar, descongestionar os tribunais, caros demais, com salários médios chocantes para nossa realidade e instalações de hotéis cinco estrelas. E modificar algumas coisas, como uma limitação para o exercício da função nos tribunais superiores de dez anos, pelo menos, com aposentadoria proporcional. E voltar à compulsória para os 70 anos logo. Mais da metade dos processos em andamento envolve a união, especialmente em questões fiscais que poderiam ser simplificadas ou sumariadas.
Essa juristocracia é pouco democrática, tumultua a vida econômica, servindo muitas vezes de palco para o corporativismo e o sindicalismo, tornando a atividade empresarial de altíssimo risco entre nós. E com esta arrogante ocupação de espaços dos demais poderes.
Um assunto a ser meditado!
* Publicado originalmente no Jornal do Comércio, em 5 de março de 2021.
** O autor é jornalista
*** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio
Alex Pipkin, PHD
As instituições e as leis deveriam servir para restringir à violência e assegurar os direitos e as liberdades individuais.
Até mesmo nas sociedades primitivas, os conflitos eram muitas vezes resolvidos de forma moralmente considerada justa, por exemplo, por meio de duelos.
A verdadeira guerra travada pelos togados da Suprema Corte brasileira, refere-se sistematicamente a defesa da democracia e do Estado de Direito, que de maneira genuína dependem umbilicalmente de retidão moral.
O que aparenta, em razão das inúmeras decisões recentes do colegiado da Corte, é que o país vive um período de autoritarismo e de ditadura, justamente a ditadura do judiciário.
Decisões legais impostas pelo STF têm sido arbitrárias, contraditórias e desiguais, indo abertamente contra aquilo que assegura à Constituição nacional.
Evidente que muitas das afirmações do deputado Daniel Silveira são esdrúxulas e ofensivas, porém, estão muito longe de qualquer coisa que vá além da retórica para uma ação objetiva. Neste sentido, a decisão do colegiado de punição, e a dosimetria da pena, parecem desproporcionais e equivocadas, haja visto outros casos de “supostos ataques ao Estado de Direito e a democracia” já julgados distintamente, e/ou ignorados pelo mesmo STF.
O partido da mídia, transparentemente ferrenho defensor da saída do atual presidente do Planalto, em coro tem apoiado às ações inconstitucionais do STF, alegando “atos antidemocráticos” por parte de todos aqueles que discordam dos posicionamentos mais alinhados à ala “progressista”.
Quase sempre os seguidores esperam benefícios tangíveis e/ou simbólicos para empurrar movimentos que os beneficiem, sem a preocupação de que as consequências possam atingi-los.
Não sou jurista, mas prendo-me ao Artigo 53 da Constituição Federal, que diz: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Notoriamente, vê-se que há em jogo dois pesos e duas medidas!
A votação desse caso externou, mais uma vez, o franco corporativismo e o lado escolhido pela ampla maioria dos semideuses togados.
O que mais se viu e ouviu ontem na sessão de julgamento, foi o afável viés de confirmação, cegando a referida turma das inegáveis contra-evidências e contra-argumentos, inclusive aqueles grafados na Constituição. Aqui eles não admitem quaisquer pontos de vista conflitantes.
O conflito expresso pelo “nós” STF, e “eles”, põe para debaixo do tapete “vermelho” quaisquer desavenças celestiais, e une o grupo togado com lealdade máxima.
No esfera judicial, assim, chegou-se ao clímax, em que há casos como o do parlamentar referido, sem o devido processo legal, há similarmente distorções e interesses próprios, como na anulação dos casos do ex-presidiário, além de muitas outras decisões do STF em que se rasga à Constituição e se escolhe um lado para se favorecer e lutar.
Essa turma do STF briga pela sua autopreservação e age de forma imoral, a fim de que o resultado das políticas governamentais continue soprando para as suas bandas.
É irônico e trágico o que está se passando, a olhos nus, na Corte tupiniquim.
Os onze ministros do STF podem até ter interesses distintos, porém, nessa guerra imoral encadeada contra um lado, em defesa da suposta democracia, a grande maioria deles, está unida pela identidade vinculada aos interesses de autopreservação e de seus compadres, portanto, atos ditatoriais são apenas meros instrumentos.
Na retórica, continuam ludibriando com a cena e a palavra “democracia”. Na prática, o STF representa uma ameaça à democracia, e a mais conflitos e violência.
Valterlucio Bessa Campelo
Em um momento de genialidade dilmesca o ministro do STF, Alexandre Morais, hoje mais conhecido como “xandão”, disse ao universo da Academia Paulista de Letras Jurídicas: “O mundo não muda, o mundo gira. As pessoas não giram, as pessoas mudam”. O problema é quando as pessoas mudam pelo avesso.
Nesta quarta-feira, 20/04, segundo muitos juristas, contra o bom senso, a lógica e a Lei, os que descondenaram um ladrão condenado em TRÊS instâncias para que concorra à eleição, prenderam e retiraram os direitos políticos de um deputado por “crime de opinião” numa sessão inominável. A liberdade parece uma ficção neste país submetido à sanha togada, instrumentalizada pela esquerda sedenta de poder. O alvo principal do ajuntamento é o presidente Bolsonaro que, aliás, precisa chegar hígido às eleições e ganhar com tal diferença de votos que outro resultado seja inverossímil. Entendeu, não é?
Vejo na TV e em sites esquerdistas um esforço gigantesco de guetização da candidatura do Presidente num troço que eles chamam de extrema-direita. Embora não consigam dizer do que se trata efetivamente o epíteto, os objetivos são claros - jogar o PR na extrema-direita significa aplicar-lhe um selo de portador de interesses danosas à sociedade. É a técnica conhecida como falácia do espantalho, em que se cria um monstro fantasioso para que sirva de alvo da narrativa. Difícil é indicar UM movimento, programa, projeto, lei, decreto, seja lá o que for, com origem no governo federal no sentido da tal extrema-direita que ninguém consegue decifrar. Como mentir faz parte da natureza mesma do socialismo, não creio que seja difícil desmascará-lo.
Enquanto isso, a mesma mídia passa pano para a extrema-esquerda, muitíssimo bem representada por grupos travestidos de “organizações populares”, que investem radicalmente contra princípios liberais. Entre elas, o MTST, MST, LCP etc., etc. O próprio Lula da Silva disse recentemente que tais grupos terão forte protagonismo em um eventual governo petista. Com base em suas declarações, pode-se deduzir que, em caso de vitória, a partir de janeiro de 2023 estará aberta a temporada de roubo e invasões de patrimônio alheio. Isto sim é extremismo, é agressão frontal a um princípio básico da Constituição Federal – a propriedade privada.
Quando reflito sobre a liberdade, recorro quase sempre a um economista do século 19, inspirador de ícones como Ludwig Von Mises, Friedrich Hayek, Murray N. Rothbard e muitos outros. Refiro-me a Fréderic Bastiat que em “A Lei”, de 1850, afirma os direitos naturais como princípios de matiz filosófica. Diz ele: “Não é porque os homens aprovaram leis que a personalidade, a liberdade e a propriedade existem, pelo contrário, é porque a personalidade, a liberdade e a propriedade existem que os homens fazem leis… Cada um de nós certamente recebe da Natureza, de Deus, o direito de defender sua pessoa, sua liberdade, e sua propriedade.”. Não poderia ser mais claro.
Hipócritas da espécie lulopetista vão seguidamente aos meios de comunicação se dizer democratas enquanto ameaçam cada um desses direitos. A defesa do aborto confronta a vida, a pretensão de controle da mídia solapa a liberdade, o estímulo às invasões ameaça a propriedade privada. Infelizmente, incautos atraídos “pelo politicamente correto” cedem em fatias (como dizia Hayek) cada um desses direitos, fazendo com que avance a perspectiva de transformação do Brasil em um Estado Socialista que o mesmo Bastiat, já denunciava autoritário e opressor.
É claro que este debate virá à tona durante o processo eleitoral. Apesar da “justiça” atuar a favor da agenda socialista, com fachinices, xandices e barrosidades, antecipando o autoritarismo do tipo restritivo da liberdade de expressão e de acesso às mídias sociais, e dando declarações de alcance internacional tão levianas quanto fora da liturgia de seus cargos, há aqui na planície, um vigoroso movimento de defesa dos direitos naturais. Seu principal líder na atualidade, Jair Bolsonaro, precisa pouco mais do que espelhar Bastiat para agrupar a maioria esmagadora da população que, segundo pesquisas recentes, se declara conservadora.
Sim, apesar de toda a roubalheira que patrocinaram, da desmoralização pública de seus líderes e do atraso a que nos relegaram, eles têm aliados poderosos. Aqui mesmo, neste recanto do Brasil, vi outro dia um desses representantes de “movimentos populares” de invasão de propriedade alheia ser tratado a pão de ló em uma entrevista. Enquanto o sujeito de mãos sedosas derramava seu falatório tão clichê quanto falso em ataque ao direito de propriedade, o entrevistador demonstrava um encantamento digno de uma criança em frente ao picadeiro.
Não restam dúvidas de que depois de quatro anos fora das tetas governamentais, esses grupos farão qualquer coisa para readquirir visibilidade e enganar a população com seu velho canto da sereia igualitário, por mais fracassado que tenha sido em todas as experiências realizadas, incluindo as atuais.
Não por acaso, desavergonhadamente, a eminência parda do lulopetismo, Zé Dirceu, em seguidas declarações vêm alertando para a necessidade de articulação com setores “ao centro”. Percebe o outro descondenado e tutti quanti que de cara lisa, sem máscara nem biombo, falando as suas verdades que escapam aqui e acolá, seu projeto de ditadura socialista naufragará. Nem seus amigos supremos e superiores o salvarão da avalanche que virá dos “autoritários” que clamam pelo direito à vida, liberdade e propriedade, do “ditador” que grita pelo cumprimento da Constituição Federal.
Para concluir, volto a Bastiat, que xandão certamente leu, mas esqueceu: “...quando um homem é atingido pelo efeito do que se vê e ainda não aprendeu a discernir os efeitos que não se vêem, ele se entrega a hábitos maus, não somente por inclinação, mas por uma atitude deliberada”. Prestem atenção, o jogo não acabou.
Adriano Marreiros
Dizem que eu odeio Les Non-Magiques. Os Trouxas. Os Não-Magi. Os Sem-Feitiços. Eu não os odeio. Não odeio. Pois eu não luto por ódio. Digo que os Trouxas não são inferiores, mas diferentes. Não são inúteis, mas de distinto valor. Não são descartáveis, mas têm uma disposição diferente.
Grindenwald
(Filme 2: Os Crimes de Grindenwald)
Assisti ao terceiro filme da saga Animais Fantásticos e Onde Habitam. Ainda bem que nada era realidade. Seria um mundo de trevas...
Em todos os filmes, Gellert Grindenwald era sedutor, parecia legal, falava macio, com um tom aveludado...
Quando uma militante de sua causa tentou atacar um Auror (policial bruxo que atuava contra os bruxos das trevas): aproveitou a legítima defesa dele para inverter as coisas e acusar os Aurores de serem violentos...
Dizia que defendia “The Greater Good”, “O Bem-Maior”, que queria evitar uma nova guerras: mas agia como quem viria a provocá-la... Dizia querer uma “Democracia” bruxa: uma em que a minoria subjugaria a maioria de Trouxas ou Não-Magi, ainda que a maior parte da própria minoria não quisesse isso, apenas os militantes de sua ideologia. E quem não queria isso: não queria o bem, não queria o bem maior!!! E quem não queria o bem maior? Só poderiam ser pessoas odientas, que o difamavam, inventavam coisas sobre ele e seus seguidores, que usavam o discurso de ódio contra ele, um iluminado que lutava por uma nova era, pelo bem: e isso é um fato! E a Liberdade não é para isso, não é para impedir o Bem-Maior, então deveriam ser perseguidos e presos... Porque ele só queria um “Bem-Maior”...
Chegou a tentar fraudar a eleição bruxa, enfeitiçando a criatura mágica que fazia a escolha, para que ela fizesse o que ele queria: matou-a e transformou-a num zumbi a seu serviço, um inferius[1] animal. Aliás, ele só concorreu porque seus crimes foram estranhamente anulados por um Ministro: o Ministro da Magia da Alemanha. Precisava de muita magia mesmo pra anular aqueles crimes.
Mesmo com tudo isso, até pessoas cultas, algumas até por amor, por ingenuidade, acreditaram quando ele se colocava como um ser de luz, um líder que só queria o bem maior para todos, que lhes daria liberdades. Outros acharam que poderiam conseguir uma superioridade com tal apoio. Outros queriam lucrar politicamente. Outros só queriam dar vazão a seus instintos das trevas, integrando uma milícia do ódio – um ódio do bem, claro, com censura, calúnias e perseguição... do bem... Mas a maioria dos seus seguidores era só tola mesmo...
Voldemort, décadas mais tarde, foi até mais poderoso, até governava no lugar do Ministro da Magia, que era impedido de decidir por meio de feitiços feitos a mando do Lorde das Trevas, por meio de uma Maldição Imperdoável, a Imperius: mas nunca se fez de bonzinho e só conseguiu voltar ao poder porque a imprensa oficial, em conluio com o Ministério, chamava de mentira – fake news – as verdades ditas por Harry e Dumbledore e atacava, censurava e punia quem ousasse repetir essas verdades. E criaram verdades oficiais...
Mas Voldemort nunca invocou o monopólio da luz: sempre se disse o Lorde das Trevas. Nunca se preocupou com o bem, nunca negou que para ele só o poder importava. Nunca se disse democrata: sempre se mostrou ditatorial e com ódio dos opositores.
Dois lobos violentos e sem escrúpulos: mas só um deles em pele de cordeiro...
ROSIER: Quando vencermos, eles fugirão das cidades aos milhões. Eles tiveram seu tempo.
RINDELWALD: Não digamos tais coisas em voz alta. Queremos apenas liberdade. Liberdade para sermos nós mesmos.
ROSIER: Para aniquilar os não-bruxos.
GRINDELWALD: Nem todos eles. Nem todos. Não somos impiedosos. O animal de carga sempre será necessário...
(Também do Filme 2: Os Crimes de Grindenwald)
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