Valterlucio Bessa Campelo
No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que se omitem em tempos de crise.
(Frase atribuída a Dante Alighieri por John F.Kennedy)
Há poucos dias das eleições de 30 de outubro, quero dirigir-me aos nossos irmãos profissionais liberais, funcionários públicos, jornalistas, youtubers, empresários, influencers, terceirizados, autônomos, donas de casa, enfim, a todos os cidadãos ou cidadãs que a esta altura do campeonato ainda se colocam na posição de indecisos ou isentos, ou seja, “acima” da disputa entre Bolsonaro e Lula. Quero lhes dizer algumas coisas que talvez os faça refletir melhor sobre seu voto e o pleito. O texto é um pouquinho mais longo do que de costume, pelo que peço desculpas.
Não se trata, nessa quadra da vida brasileira, da escolha entre dois homens, não é falar de pessoas e das culpas ou acusações que carregam, mas do Brasil, do seu futuro que, aliás, já no presente, dá mostras inequívocas do rumo lastimoso que poderá seguir se o ex-presidiário voltar. Olhe bem para o que está acontecendo e verá os sinais da ditadura, expressos em decisões desarrazoadas, em prisões sem causa definida nem processo legal, em negação do direito de defesa, em cerceamento da livre expressão, em parcialidade fragorosa de decisões sobre o que pode e o que não pode ser dito em na campanha eleitoral, não apenas por um candidato, mas por jornalistas e por nós mesmos em nossas redes sociais.
Fatos provados e comprovados, cujos autores foram longamente processados, julgados e condenados estão proibidos de serem mencionados sob pena de ferirem a “ordem eleitoral” (na verdade, os interesses de um dos lados). No caso recente da empresa Brasil Paralelo, magnífica plataforma onde se pode ver filmes e documentários e cursos extraordinários, que anunciou para esta semana uma produção sobre a tentativa de assassinato sofrida pelo presidente Bolsonaro, chegaram ao cúmulo de fazerem censura PRÉVIA, quer dizer, antes de algo ser dito, os autores foram proibidos de dizê-lo. Ninguém, a não ser os autores sabem o que está dito no vídeo sobre a tentativa de assassinato (alguma dúvida de que é um fato?), mas ainda assim estão proibidos de dizê-lo. Calem-se! Disseram suas excelências antes que os autores abrissem a boca. A empresa se manifestou em nota e dezenas de jornalistas protestaram. Tá na rede.
No caso da Jovem Pan, uma empresa com 80 anos de serviços prestados à informação do povo brasileiro, a decisão emanada estabelece limites ao que o jornalista ou comentarista pode ou não referir em seu trabalho. Palavras que possam ser tidas como ofensivas por determinado candidato não podem ser pronunciadas. Genocida! Pode. Ditador! Pode. Negacionista! Pode. Mesmo sendo mentiras obvias, narrativas vãs, se for contra o Bolsonaro, pode. Ex-presididiário! Não pode. Corrupto! Não pode. Promotor do petrolão! Não pode. Mesmo sendo verdade, mesmo sendo resultado de anos de investigação e trocentas condenações, não pode porque é contra o Lula. O leitor está me entendendo? Tem a medida do que está acontecendo? Juristas do quilate de Ives Gandra Martins, Modesto Carvalhosa e o próprio ex-Presidente do STF Marco Aurélio de Mello se manifestaram publicamente contra essa obtusidade do TSE. É uma espécie de chicoteamento da Constituição Federal no que refere à liberdade de expressão. Neste caso até a ABERT, controlada pela velha mídia, se obrigou a contestar.
Quem pediu essa decisão judicial absurdamente autoritária foi um partido político, o PT, que usa o TSE como se fosse seu braço jurídico e demonstra já no pedido a sua natureza autoritária, controladora e afrontosa à liberdade de expressão. A esquerda mostra assim um pouco de sua face horrenda ao pretender tratar o TSE como um mamulengo, e ainda há quem tenha a desfaçatez de nomear “extremista de direita” quem clama por liberdade. É kafkiano que o censor seja “democrata” e o censurado seja um “autoritário”.
Pergunto ao senhor jornalista, senhor médico, senhora professora, senhor músico, senhora poeta, senhora dona de casa... vocês têm a dimensão da gravidade deste momento? Preciso lhes dizer? Pois digo. Significa que a representação do SEU pensamento através da linguagem está sob controle antes mesmo que seja expressa. Nem a ditadura militar foi capaz disso. Naquela época, ao menos o regime esperava conhecer a obra antes de censurá-la. Hoje estamos sendo forçados a segurarmos a “nossa língua” sobre fatos, fatos! O mensalão não existiu? O petrolão não existiu? A lavajato foi um sonho? Não há um ex-presidiário concorrendo às eleições? Sim, Existiram, tem culpados, mas a “justiça” proibiu que se falasse no assunto porque o chefe da organização criminosa não gosta.
O que estamos vendo agora com a possibilidade da eleição do ex-presidiário é a véspera do parto de um regime historicamente assassino e cruel. Nossas liberdades estão por um fiapo, com a conivência de congressistas, de OAB, de intelectuais e até de jornalistas que deveriam se rebelar contra essa ignomínia. Onde estão os milhares que assinaram a tal “carta pela democracia”? Cadê os artistas que tanto falam de liberdade? Eu sei. Estão cagando para a democracia, estão omissos achando que do regime autoritário vão tirar proveito, receber migalhas de poder.
E nós, os homens e mulheres livres, onde estamos? Eles estão nos calando e não estamos fazendo nada. Estão prendendo inocentes e não estamos fazendo nada, estão fraudando um processo que deveria ser livre, isonômico e imparcial. Estão rasgando a lei à nossa vista e não estamos fazendo nada. Os senhores todos acham que poderemos fazer algo depois? Pois lhes digo que não. Depois, será tarde e sangrento. A hora de fazer algo é no dia 30 de novembro. Se for preciso, tape o nariz, vire o rosto, mas vote na liberdade contra o autoritarismo.
Quer conhecer um cisco sobre o que significa o monstro que está sendo parido nessas eleições em que a justiça tem lado? Facilito. Numa tarefa simples, sem teorização de doutos, leia “O livro Negro do Comunismo”, de Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné e Andrzej Paczkowski. Recomendo também que conheça os discursos dos líderes socialistas no Foro de São Paulo, prometendo fazer da América Latina uma grande pátria, integrada politicamente, socialmente, economicamente, culturalmente, ou seja, com mais de cem anos de atraso, está para nascer no hemisfério sul uma espécie de União das Repúblicas Socialistas. É como se essa gente tivesse dormido antes da revolução russa e acordasse agora. Não viram, ou, não se importam com a tragédia de 100 milhões de mortos que pesam sobre os ombros do comunismo/socialismo, afinal, segundo Trotsky a moral que conhecemos é apenas a moral burguesa e não a moral revolucionária à qual TUDO é permitido.
Enquanto muitos estão sendo sacrificados e mortos em países socialistas na vizinhança, por aqui os “isentos” simplesmente pensam que “isso é lá com eles”. Não é não. É com você, é com seus filhos e netos. Outro dia, um jovem universitário me perguntou: “eles governaram durante 14 anos e não fizeram, por que fariam hoje?”. Inocente! Já estão fazendo. Um dos pilares da democracia já foi tomado. Vejam aqui o que disse o Lula ao seu amigo Boff e aqui, secundado pelo ex-presidiário Zé Dirceu recentemente. Experimente conversar com os venezuelanos que se mandaram de lá para cá, ouça suas histórias e chore se tiver um coração aí dentro.
Bastaria a censura que nos impuseram para denunciar o tipo de institucionalidade que pretendem implantar e, mesmo assim, você vai ficar de biquinho pelas frases ou gestos infelizes do Bolsonaro? Peço que não, amigo. Peço fraternalmente para você sair de casa no dia 30 e, pensando no Brasil de seus filhos e netos, votar em defesa da liberdade, ainda que ela não venha dourada de promessas “politicamente corretas” ou num prato de picanha fictícia. Liberdade apenas para ser livre e, creia, não há nada mais importante a perder.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista Navegos de Franklin Jorge e em outros sites.
Dartagnan Zanela
E, do nada, aparecem boleiras de alminhas dizendo que são o mais puro amor e que, do alto de sua doçura ideológica, irão revidar todos os "ataques e agressões" com amor e emojis de coraçõezinhos.
Qualquer pessoa desavisada poderá ter a impressão de estar diante de uma multidão de "filhos de Gandhi", adeptos da não-violência e piriri e pororó. Só que não.
Na verdade, temos alguns pontos que devem ser esclarecidos sobre essa turma. Primeiro: o que essa galera do "bem" e do "amor" chama de [supostos] ataques e agressões nada mais é do que uma crítica, um contra argumento, um perigosíssimo meme e, em alguns casos, uma cruel verdade inconveniente que lhes é apresentada. É isso que essa gente, com suas dissimulações e simulacros mil, chama de agressões e ataques.
Segundo ponto: já viram como é a reação "amorosa" manifesta por essas pessoas que juram, com os pés juntos, que não mais querem um "Brasil do ódio"? Então, são justamente essas figuras que, sem a menor inibição, destilam sua bile e todo o seu rancor contra todos aqueles que não concordam com elas. É um trem cômico de se ver. Tragicômico.
Na verdade, se pararmos para prestar a devida atenção, iremos perceber com cristalina clareza, que aqueles que dizem meigamente que defendem uma maior tolerância em nosso país, são justamente os que semeiam o intolerável entre nós com atitudes desonradas contra aqueles que discordam deles. Pois é. Eles toleram tudo, menos que pensem de uma forma diferente da deles.
Não apenas isso. Essas figuras, figurinhas e figuraças, que dizem ser contra toda ordem de discursos de ódio são justamente aqueles que, como dizem, "viram num bicho" quando percebem que alguém realmente conhece os fatos que desmascaram a versão farsesca que eles defendem com unhas, dentes e "textões".
Enfim, em período eleitoral, feliz ou infelizmente, é normal que os ânimos se alterem. Porém, chamar a exaltação dos desafetos de "discurso de ódio" e a histeria coletiva dos seus partidários de "sementes de amor", com o perdão da palavra, é um problema sério, muito sério, de falta de caráter e de "otras cositas más".
*Publicado originalmente em https://sites.google.com/view/zanela e enviado ao site pelo autor.
Reginaldo de Castro
A eleição presidencial deste ano guarda, em relação as que a precederam, desde o início da República (e não há exagero nisso), uma singularidade: não se trata de discutir nomes, partidos ou mesmo interesses de ordem fisiológica.
O que está em pauta são caminhos. E caminhos antípodas, que hão de marcar o país não por um ou dois mandatos, mas pelas próximas gerações, para o mal ou para o bem.
Lula e Bolsonaro são apenas as fisionomias que expressam esses rumos antagônicos. É preciso, portanto, examinar o entorno de cada qual, a proposta que vocalizam, em vez de perder tempo examinando os modos, o palavreado, rendendo-se a melindres.
O cenário é de guerra e, nesses termos, não se esperem gestos cavalheirescos de nenhuma das partes.
Vamos, pois, ao que interessa: para onde nos leva (ou nos quer levar) cada um dos projetos em pauta.
O PT já deu mostras suficientes do que quer. Em 16 anos de exercício do poder, conjugou fatores que levaram o país à tragédia: corrupção (a maior de que se tem notícia), má gestão e descaso pelo Estado democrático de Direito. Nada menos.
Não tenho qualquer relação pessoal ou de qualquer outra ordem com o presidente Jair Bolsonaro.
Ao contrário, recebi sua chegada ao poder com reservas, tendo em vista sua longa atuação parlamentar, em que mostrava pouco zelo com as palavras, dando cabimento ao de que lhe acusavam os adversários, de que flertava com o autoritarismo.
Não foi, porém, o que se deu em sua gestão presidencial. Pode-se divergir de algumas atitudes, algumas palavras, mas não se pode acusá-lo de agir contra a ordem democrática. E aí está a primeira e grande diferença entre ele e Lula: se for ele o eleito, teremos eleições daqui a quatro anos; se, inversamente, for Lula, não saberemos.
Diante de tal risco – o de suportar o PT deformando o povo e o Estado brasileiros, por tempo indeterminado -, concluí que seria imperdoável covardia manter-me neutro no presente processo eleitoral. Optei por votar em Bolsonaro.
Os arroubos do presidente, é verdade, dificultam os mais cuidadosos de o apoiarem. Mas o fato é que a hipótese de retorno do PT supera tais idiossincrasias. Não se conhecem ainda os termos do projeto de governo de Lula. Ele preferiu só revelá-lo se eleito. Mas, do que já adiantou, há elementos suficientes para temê-lo.
Depois de acusar o agronegócio – carro-chefe da economia – de fascista, avisou que o MST terá papel preponderante em seu governo. E voltou a incentivar as invasões, no campo e na cidade. Se, antes mesmo de vencer, já faz isso, imagine-se o que fará se eleito.
Avisou que promoverá a regulação da internet e dos meios de comunicação, eufemismo óbvio de censura.
Não respeitará o teto de gastos, anulará as privatizações de estatais e voltará a usar o BNDES para financiar e promover obras em ditaduras vizinhas e africanas, dando-lhes prioridade em relação às demandas internas. Já vimos esse filme. E morremos no fim.
As obras do Porto de Mariel, em Cuba, tiveram como garantia charutos. Como o calote é no valor de bilhões, é possível que haja charutos em quantidade para prover toda a população brasileira.
Além desse projeto suicida de poder, que demolirá a economia e provocará em algum momento, tal como ocorreu na Venezuela e na Nicarágua – países modelos do PT -, uma convulsão social, há ainda a personalidade psicopata de Lula. Não é pouca coisa.
Basta lembrar que, certa vez, ele se autoqualificou de “metamorfose ambulante”. É um ser humano inconfiável, mentiroso, dissimulado. Na atual campanha, se desdisse com a maior desfaçatez mais de uma vez. Numa semana, proclamou-se favorável ao aborto, “fator de saúde pública”. Mas, ao falar a evangélicos, contrários à tese, disse que é radicalmente contra o aborto e que defende a vida desde sua concepção. Sua dissimulação o faz esconder seus mais fiéis amigos, como José Dirceu, seu braço direito, pilar do regime totalitário que, na hipótese de sua vitória, seria instalado em Brasília.
De outra parte, Bolsonaro, mesmo enfrentando luta desigual contra algumas autoridades do STF, do TSE e da mídia mainstrean, tem obtido resultados importantíssimos na economia: deflação, crescimento do PIB acima das previsões do FMI, redução do desemprego e dos índices de violência.
Sem jamais apelar a medidas arbitrárias, jogando, como gosta de dizer, “dentro das quatro linhas da Constituição”, granjeou popularidade indiscutível, que exibe nas ruas, em contato direto com a população, bem ao contrário de Lula, que fala apenas a plateias amestradas, em recintos fechados.
Aos que buscam evitar uma opção entre os dois candidatos, alegando que se equivalem, digo apenas o seguinte: mesmo nesse caso, há uma vantagem em optar por Bolsonaro. Se ele ganhar, você poderá criticá-lo, sem risco de ser punido, pelos próximos quatro anos. Não é possível afirmar o mesmo em relação a Lula.
* Reginaldo de Castro, advogado e jurista, é ex-presidente nacional da OAB
** Publicado originalmente no Diário do Poder
Renato Sant'Ana
Na campanha eleitoral para a presidência da Argentina, Alberto Fernández e Cristina Kirchner se elegeram prometendo ao povão que, no governo, garantiriam geladeira cheia e churrasco à vontade.
O povão se iludiu. Elegeu os dois. E eles meteram a Argentina numa crise desesperadora: inflação alta, desemprego, escassez de alimentos e óbvia alta nos preços com muita gente passando fome - e isso não é tudo.
Cadê o churrasco? No palácio do governo não falta carne. Mas o povão...
Muitos alertaram que aqueles dois fariam com a Argentina o mesmo que o chavismo fez com a Venezuela, que vive hoje uma crise humanitária jamais vista. Pois aqueles dois venezuelizaram a Argentina! Com a diferença de que o fizeram em curtíssimo tempo. E não foi por falta de aviso!
Detalhe, Cristina Kirchner é formalmente acusada de vários crimes (entre eles, o de formação de quadrilha). Mas, como se vê, a maioria dos eleitores argentinos não ligou para esse pormenor...
Outro detalhe, os dois argentinos, com Maduro (ditador da Venezuela) e Lula/PT, todos seguem as diretrizes do Foro de São Paulo. E o desastre de Argentina e Venezuela só não se consumou nos governos petistas em especial porque o mensalão foi denunciado, atrapalhando o projeto.
Não é mera semelhança. Lula promete churrasco ao povão enquanto planeja levar o Brasil pelo mesmo caminho de Argentina e Venezuela. E nem dá para dizer que ele esconde isso! Não vê quem não quer.
Só há políticos que fazem promessas calhordas porque existe gente que, entre uma ilusão doce e a realidade amarga, opta por viver na ilusão.
* Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
** Publicado originalmente no Jornal da Cidade OnLine
E Julieta disse a Romeu: De que vale um nome, se o que chamamos rosa, sob outra designação teria igual perfume?
William Shakespeare
Adriano Alves-Marreiros*
O Bardo falou de perfume, mas a coisa vale para aromas menos agradáveis, também. Andei estudando Análise Comportamental do Direito e tenho até um livro em que a uso bastante. Ainda lembro das aulas do Prof. Júlio no Mestrado, explicando que a Consequência condicionada socialmente generalizada do Direito é a sanção. E que para a sanção ser efetiva, ela tem que ser aversiva e consistentemente aplicada. Explicando melhor, tem que ser algo que desagrade o sancionado – que faça com que o que ele tem a perder seja mais que o que tem a ganhar – e, usualmente, ser aplicada quando ocorrer a conduta que ser coibir.
E não é só disso que lembro. Lembro também que estava ministrando uma palestra-debate num congresso com meus amigos Alexandre e Henrique e, de repente me surgiu uma questão: o que acontece se, em vez de ser consistentemente aplicada quase sempre que ocorre um determinado comportamento, ela só for aplicada a um determinado grupo. Digamos, se num jogo de futebol só marcam faltas e pênaltis, inclusive inexistentes, contra um time e o outro pode tudo? Bem, o que decorre disso é uma guerra assimétrica com grandes dificuldades de vitória para o lado prejudicado. Não é para isso que são aplicadas as sanções: se bem que Stalin discordaria...
Por algum motivo, isso me fez lembrar do “politicamente correto” e do que sempre se fala dele, e com muita razão: “o politicamente correto não é sobre o que se fala, mas sobre QUEM fala”. Militantes de certas ideologias possuem, em geral, salvo conduto para falar qualquer coisa tida como proibida sem sofrer as consequências que os que não seguem ideologias sofrem, até mesmo quando não dizem, mas “alguém” inventa que ele quis dizer isso ou aquilo, isto é, quando são atacados com a falácia do espantalho: aquela em que inventam que você disse o que não disse e batem nessa invenção...
Com as tais “fake news”, parece que acontece a mesma coisa: uns podem inventar qualquer narrativa sem punição, enquanto outros são acusados de “ desinformação” até quando falam a verdade. Curioso é que essa modinha de falar em “fake news” tenha surgido justamente quando mais verdades começaram a aparecer nas redes. Parece até que os alvos não são as fakes... Sei lá, talvez seja só a impressão delirante de “teórico terraplanista e outros istas”, como vão me xingar. Mas é só pra coibir mentiras, não é?! Bem, esta semana eu vi ser censu, digo, devidamente barrado (não quero que esta crônica o seja), um vídeo em que só usavam notícias e fatos verdadeiros mas chegavam a conclusões incômod, digo, erradas, muito erradas!!! (não posso comprometer a Tribuna). Ficava claro que era mesmo um caso de desordem informacional, de que eu nunca ouvi falar, não sei do que se trata, mas quero afirmar que ocorreu, está correta a decisão e só não a entendo por causa da minha ignorância e desordem: desordem porque ainda não recebi as ordens que me farão entender.
Em todo caso: é melhor orar pela Jovem Pan!
Caiam Mil ao teu lado
E dez mil à tua Direita
E Tu não serás atingido
E só com teus olhos contemplarás
E verás o castigo dos ímpios
Porque o Senhor é o teu refúgio
E do Altíssimo fizeste o teu abrigo
Salmo 91
* Adriano Alves-Marreiros, que vai orar muito e não só pela Jovem Pan...
P.S.1: Leiam o artigo do Morgenstern sobre “fake news” no livro “O Inquérito do fim do mundo” da Editora E.D.A.
P.S.2: Compre o livro de crônicas aqui: < https://editoraarmada.com.br/produto/2020-d-c-esquerdistas-culposos-e-outras-assombracoes-colecao-tribuna-diaria-vol-iii/ >
P.S.3: Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados: < https://open.spotify.com/playlist/49FDRIqsJdf4oxjnM2cpc3?si=SSCu339_T5afOSWjMkk9wA&utm_source=whatsapp >
Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)
* Publicado originalmente no site Tribuna Diária e enviado a Liberais e Conservadores pelo autor.
Jairo José Silva
Perguntei hoje a um senhor afável e simpático que trabalha na minha academia, e que sei inimigo figadal do petismo, mas que já externou críticas a Bolsonaro, o que ele tinha contra o Presidente. A resposta foi: não vou com a cara dele. E por quê? Insisti. Porque não gosto de carioca, foi a resposta. Mas vou votar nele contra o outro, completou.
Por surpreendente e irracional que seja, essa relação visceral com homens públicos é muito comum, e não só aqui, neste país mais afeito aos sentimentos que às razões, mas por toda parte. Políticos são pára-raios de emoções.
Eu me confesso uma exceção. Minha relação com pessoas em geral tende a ser bastante racional, e com políticos mais ainda. Nunca simpatizei com Lula, não por motivos extra-políticos, mas porque sempre vi nele uma pessoa politicamente oportunista e desonesta.
Eu o conheci pessoalmente nos EUA no começo dos anos 80, quando ainda era líder sindical e havia recém-fundado o PT. Ouvi-o fazer um discurso pregando a “revolução” e exaltando ideais socialistas. Se revelou por inteiro como é, fanfarrão, mentiroso, o “trabalhador” mítico das fantasias de uma igreja de orientação marxista e uma intelectualidade que ainda sonhava com a sociedade perfeita dos devaneios esquerdistas. Era um fantoche. Depois, esperto, se aproveitou da situação para calcar pé e se promover, alçando de títere a controlador.
Mas eu ainda achava o PT uma boa ideia, e votei nele inúmeras vezes. Nunca para cargos majoritários, mas frequentemente para o Congresso, pois comprei, ingenuamente, a fantasia de um partido incorrupto de origem popular que podia significar uma mudança no coronelismo elitista que sempre caracterizou a política nacional.
A realidade dos governos petistas jogou água gelada nessa ilusão. Ficou evidente que o PT era até pior do que os piores partidos mais tradicionais, todos corruptos até a alma. Com a adicional desvantagem de carregar nas costas o cadáver insepulto de uma ideologia do fracasso que a História havia se encarregado de matar.
Por outro lado, eu sempre tive uma relação de oposição quase radical a Bolsonaro. Ele me parecia quando jovem deputado a encarnação do atraso, além de grosseirão, anti-intelectual, agressivo. Quando ele apareceu como alternativa única ao petismo, porém, não tive dúvidas, deixei de lado essas impressões e apostei em sua eleição, esperando apenas barrar a ascensão de Haddad. Simplesmente porque ali estava a corrupção, a incompetência, a ideologia retrógrada, o retrocesso institucional e o fracasso econômico.
Com o tempo, porém, Bolsonaro foi melhorando aos meus olhos. Seu governo me parecia estar no rumo certo, apesar de eu não simpatizar com os seus rompantes excessivamente conservadores na área dos costumes. Mas eu entendia que seus eleitores também o elegeram por isso e ele tinha mandato para falar e agir assim, ainda que eu não concordasse sempre.
Seu governo acabou por ser muito mais bem sucedido do que eu imaginava quando votei nele em 2018. E acompanhando também sua evolução como pessoa, me pareceu que ele amadureceu e melhorou. Não sei se pela idade, o peso massacrante do poder, a experiência de quase morte, Bolsonaro se tornou mais humano, mais afável, menos faca nos dentes, uma figura menos patética e mais trágica.
Como Lula, Bolsonaro foi catapultado para a cena pública quase por acidente. Ambos originalmente como figuras de oposição antissistêmica. Lula, porém, se converteu rapidamente ao sistema, tornando-o ainda mais corrompido. Bolsonaro também um pouco se adaptou para não ser ejetado imediatamente, mas não o suficiente para não permanecer ainda como um cancro a ser removido.
Tudo muda, Lula, Bolsonaro, eu. Por isso é tão importante tentar não ficar preso a preconceitos antigos, primeiras impressões, simpatias e antipatias viscerais. Lula só piorou com o tempo, Bolsonaro melhorou, e eu, que já votei no PT e já antipatizei com Bolsonaro, mas marquei 17 na urna em 2018 por pragmatismo, hoje escolho Bolsonaro porque vejo nele a única liderança política no Brasil atual capaz de inaugurar uma nova era de desenvolvimento político, institucional, econômico e social no país.
* Texto publicado originalmente na página do autor no Facebook.