• Fernão Lara Mesquita
  • 16 Março 2022

 

Fernão Lara Mesquita

 

O confronto que está ocorrendo neste momento no campo da educação pública nos Estados Unidos envolve o cerne da definição de democracia que, ao contrário do que pensa a maioria dos brasileiros, não gira em torno da questão "o quê deve ser feito", mas sim de "quem tem o legitimo direito de determinar o que deve ser feito".

A instituição do school board, de par com a do júri, é seminal para o estabelecimento da soberania do povo nas democracias de DNA saxônico. Nem cultura, nem estágio de desenvolvimento econômico são obstáculos para a compreensão da sua importância a quem é oferecida a oportunidade de adotá-las. Elas existem, firmes e fortes, em todos os países de colonização inglesa, dos africanos aos asiáticos, passando pela India, pela Austrália e o mais. 

Mas, como sói acontecer em tudo, deus ou o diabo estão é nos detalhes. A "democracia brasileira", aquela que parece mas não é, por exemplo, inclui um pedaço da instituição do júri, exclusivamente para processos criminais. Tocqueville, que mesmo antes de visitar os Estados Unidos em 1830, já louvava a importância da instituição do júri na educação do povo inglês para a democracia, conhecia bem a diferença. 

O juri nos processos criminais só exige julgamentos sobre questões primárias, dizia. E, além do mais, quase todas as pessoas esperam passar a vida inteira sem sofrer um processo criminal. Quando no juri julgam "os outros". Nos julgamentos civis ocorre o contrário. Todo mundo espera, na vida, enfrentar processos civis. E eles envolvem conceitos muito mais sutis. O juri nesses julgamentos faz com que o direito privado tenha de ser expresso numa linguagem acessível a todos os mortais e que os advogados especializem-se em traduzir as nuances de cada caso para o jurado nas suas argumentações.

Assim, cada membro de cada júri considera, ao exercer esse papel, que amanhã pode estar ele sentado na cadeira de quem está julgando hoje. "O júri, e sobretudo o júri civil serve para dotar todo e qualquer cidadão da experiência de ser juiz, e essa experiência é a que melhor o prepara para ser livre. Ela reafirma, em todas as classes sociais, o respeito pela coisa julgada e pela idéia do Direito. É a maneira mais eficaz de, ao mesmo tempo, fazer o povo exercer o seu poder e aprender a exercer o seu poder numa democracia. Sem essas duas coisas, o amor pela independência transforma-se numa paixão destrutiva".

O juri, mais que uma ferramenta da Justiça, é portanto, para Tocqueville, sobretudo uma instituição política. 

Cabe melhor ainda nessa categoria a instituição do school board. Ele é a representação eleita da menor célula do sistema de voto distrital puro, a única maneira de instituir a verdadeira democracia representativa, e a mais direta e explícita das ferramentas de submissão do Estado à vontade do povo. Refere-se a cada bairro que elege, obrigatoriamente entre seus residentes, os 7 membros do conselho de pais de alunos que controlará, pelos 4 anos seguintes, sempre sujeitos a recall, a escola pública nele instalada. É ele, e não o político de plantão ou o partido que "aparelhou" o sistema quem contrata e demite o diretor de cada escola, aprova ou não os seus orçamentos, os seus programas curriculares, as suas metas anuais e o desempenho de seus professores.

Neste particular momento a esfera dos school boards está francamente conflagrada nos Estados Unidos. A fronteira que separa os contendores é a dos que negociam suas questões com os professores através de sindicatos e os que não aceitam esse sistema e negociam diretamente com seus funcionários, professores incluídos. 

Lá, como em toda parte o setor da educação é o primeiro dos alvos visados pela luta ideológica e os sindicatos de professores os mais abertamente comprometidos com partidos e movimentos radicais. Seu principal argumento de expansão como contrapartida dos school boards é o de toda entidade corporativa: a sua "especialização" em formular e fazer tramitar projetos de educação. O seu principal ponto fraco o de toda representação corporativa: a incoercível tendência de desviar-se da finalidade alegada para a satisfação dos interesses dos encarregados de atingi-la, que faz com que todo o sistema acabe "apropriado" pelos professores em detrimento dos alunos das escolas públicas. 

A National School Board Association (NSBA), instituição criada em 1940 para zelar pela qualidade da educação pública transformou-se, com o tempo, na grande impulsionadora dos sindicatos de professores como contraparte dos school boards na gestão das escolas públicas. Suas bandeiras vão na linha de extrair salários e aposentadorias cada vez mais altos e menos dependentes de critérios de mérito e banir todas as tarefas paralelas impostas aos professores pelos school boards. Além desse viés para a "insustentabilidade", e do conflito subjacente à ação de sindicatos de funcionários públicos que disputam, com o concurso de outros funcionários públicos, fatias crescentes de dinheiro de impostos e não participações maiores em lucros que contribuíram para que fossem obtidos, seus antagonistas apontam, também, a crescente contaminação do currículo escolar por material e discursos ideológicos. 

Nada, portanto, a que um ouvido brasileiro não esteja totalmente acostumado.

No ambiente de extrema polarização que desaguou na derrota de Donald Trump e na eleição de Joe Biden, entretanto, a NSBA cruzou, num rompante, a sagrada fronteira da soberania do povo. E foi só aí que quebrou fragorosamente a cara. 

Enviou uma carta aberta ao presidente eleito em que, alegando "ameaças à segurança dos alunos e dos professores nas escolas públicas", afirmava que "alguns pais deveriam ser considerados como terroristas domésticos" e pedia "legislação federal e outras providências" para impor decisões a todas as escolas públicas independentemente do que pensassem os pais de alunos. O resultado foi que, mesmo tendo-se retratado do erro, e apesar das greves de professores em alguns locais, desde outubro de 2021 (a carta foi publicada em 29 de setembro daquele ano) 20 associações estaduais de school boards já romperam seus contratos de adesão à NSBA. 

Por grave que seja a doença que a afeta a partir do âmbito federal, esta é uma importante medida da saude da democracia americana, essa ilustre desconhecida de populações isoladas pela língua e submetidas a séculos de "censura estrutural" como a brasileira. Suas raízes estão solidamente plantadas nos equipamentos de materialização dos poderes do povo nas instâncias estadual e municipal. São quase dois países. E pelo menos num deles o debate sobre o que fazer é livre, infindável, inconclusivo e sujeito às intempéries da conjuntura como deve ser em toda democracia. Mas o preceito de que só o povo tem o legitimo direito à decisão final é sagrado. Pela mesma razão que quem escolhe a comida é quem está pagando por ela e vai comê-la e não o garçom, quem escolhe o que as escolas públicas e o sistema judiciário vão servir, na democracia americana ainda são o júri popular e os pais dos alunos.

*    Publicado originalmente em https://vespeiro.com/2022/03/16/duas-ferramentas-basicas-de-democracia/

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  • Reinaldo Morais
  • 15 Março 2022

 

Reinaldo Morais

 

Desde há muito tempo, a esquerda e o Partido dos Trabalhadores alimentam uma relação hostil com cristãos, especialmente do segmento evangélico, devido a suas posições totalmente antagônicas. Esse conflito não é por acaso, mas, sim, decorrente da impossibilidade de convergência do pensamento esquerdista com os valores da fé cristã.

De um lado, a defesa do direito à vida; do outro, a guerra pela liberação do aborto. No mundo cristão, a valorização da família e da continuação da espécie humana; nos partidos de esquerda, o incentivo a relacionamentos não tradicionais, ao declínio da ordem e da moralidade, com a sexualização precoce de crianças, por exemplo.

Como principal partido de esquerda do Brasil, é natural que o PT lidere a organização de ataques e perseguição a quem devota sua vida à religiosidade. Embora tente esconder seu discurso radical, a ação de seus integrantes, ao longo dos anos, expõe o ódio contido e enraizado no interior deste partido político contra religiosos.

Não por acaso, no início de fevereiro deste ano, um vereador do Partido dos Trabalhadores comandou uma invasão à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Curitiba. A intimidação às famílias, às crianças e ao próprio padre foram notícia em todo o país.

As imagens são revoltantes e repugnantes! Certamente um dos episódios de maior intolerância religiosa já ocorrido no Brasil.

Mas verdade seja dita, seja por meio de atos de violência física ou pela tentativa de destruição de valores, não é de hoje que o PT investe contra os cristãos.

Em 2012, os petistas se achavam tão acima do bem e do mal que sequer conseguiam esconder seu desprezo e perseguição à comunidade evangélica. Durante um evento em Porto Alegre, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, do governo petista, Gilberto Carvalho, pregou o “confronto ideológico contra os evangélicos” de todo o Brasil, uma vez que esse segmento representaria uma ameaça à perpetuação do PT no poder.

Para além destes episódios, como se sabe, o PT se utiliza também dos espaços da administração e das instituições públicas para atacar os valores cristãos, através de sua bancada de vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e a própria Presidência da República.

Quando chegou ao poder, o PT impôs sua agenda. Em 2004, criou o programa “Brasil sem Homofobia”, dando início à imposição de um pensamento ideológico de uma minoria sobre uma maioria cristã existente no país.

Foi a partir deste programa que nasceu o projeto “Escola sem Homofobia”, em que educadores passariam a “ensinar” às crianças em sala de aula questões relacionadas ao gênero e à sexualidade. Conhecido como “Kit gay”, a cartilha trazia incentivos à homossexualidade e à sexualização precoce de crianças, transformando escolas que sempre foram ambientes de aprendizagem, convívio social e confraternização familiar em locais de doutrinação ideológica da chamada “pauta gay”.

Um dos materiais audiovisuais trazia a seguinte descrição: “Leonardo conversa com Rafael e, depois da despedida, fica refletindo sobre a atração sexual que sentiu pelo novo amigo que partia. Inicialmente sentiu-se confuso, porque também se sentia atraído por mulheres, mas ficou aliviado quando começou a aceitar sua bissexualidade”.

Na época foram gastos aproximadamente R$ 2 milhões pelo Ministério da Educação para produção do “Kit gay”, que trazia também orientações sobre como debater em sala de aula questões de gênero, orientação sexual e a relação de poder entre homens e mulheres na sociedade atual: “o fato de o pênis penetrar a vagina não implica superioridade ou inferioridade dos participantes do ato sexual”, dizia o material elaborado pelo PT destinado aos nossos filhos.

Foi também nos governos petistas que a pauta do aborto foi trazida à exaustão. Em 2009, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) trazia quase que de forma inédita em toda a história do nosso país um incentivo expresso ao aborto.

Mais recentemente, em 2020, o PT comemorou a aprovação, na Argentina, da Lei pela Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE na sigla em espanhol). Em nota no site do PT, os petistas chamaram de “madrugada histórica” a noite da votação da legalização do aborto no país vizinho. O que ocorreu na Argentina serve de exemplo para um futuro governo petista aqui no Brasil.

Mas mesmo com todo esse histórico e tantas diferenças de pensamento com o mundo cristão, o PT anuncia que busca uma “reaproximação” com lideranças religiosas, visando às eleições de 2022. De acordo com uma deputada federal petista, “o Brasil evangélico tem crescido muito na área popular”, e o que antes era desprezado agora passa a ser alvo de cobiça dos petistas: o voto do eleitor evangélico.

Para as eleições deste ano, o PT chegou a criar um núcleo evangélico. “É um front que nós consideramos extremamente importante, e temos estimulado muito o nosso pessoal, sobretudo nos estados, a fazer um contato com as igrejas”, afirmou Gilberto Carvalho, aquele mesmo ex-ministro que anos atrás falava em combater os evangélicos.

Até onde vai o cinismo e o mau-caratismo do PT e da esquerda? Buscam o voto dos cristãos para, logo em seguida, perseguir esse público, usar da violência para invadir igrejas e templos religiosos e promover um sem número de aberrações contrárias aos valores da fé cristã.

Líderes petistas já admitem que uma das estratégias do discurso petista para dialogar com os fiéis de todo país será a moderação do tom de voz e o encobrimento de suas ideias, embora seus pensamentos contra a palavra de Deus permaneçam radicalizados no interior do partido. Ou seja, tentarão esconder suas bandeiras ideológicas em troca de uma promessa de “esperança” para o Brasil.

Assim sendo, cabe a todos nós fazer o alerta:

“Cuidado com os falsos profetas. Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os conhecerão pelo que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos, (Mateus 7:15-16)”.

O PT vai bater a sua porta. Não por você, mas pelo seu voto, para depois impor uma agenda de imoralidades contrária à vontade da maioria de 80% da população cristã do Brasil.

Não se deixe enganar!

*      Reinaldo Morais é escritor, autor do best-seller “Segredos de Pai para filho”; filiado ao PL, foi candidato ao Senado pelo Mato Grosso.

**     Publicado originalmente no Diário do Poder, em https://diariodopoder.com.br/opiniao/

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 14 Março 2022

DOIS VÍDEOS

No sábado último,12, um dia após ter anunciado os reajustes nos preços de gasolina, diesel e gás de cozinha, a Petrobras publicou DOIS VÍDEOS na sua página na internet, ambos com o propósito de explicar e/ou justificar a complicada decisão que levou a impor aumentos tão vigorosos. 

 VÍDEO 1

No primeiro VÍDEO a estatal explica que este último reajuste foi necessário para manter o fornecimento por todas as empresas, mitigando RISCOS DE DESABASTECIMENTO. Mais: diz que não repassou imediatamente a elevação recente nas cotações do petróleo pois "não transmite volatilidade e sabe da importância de contribuir com combustível acessível."

VÍDEO 2

No segundo VÍDEO, a Petrobras informa, com ABSOLUTA RAZÃO, que seu LUCRO RECORDE EM 2021 PODE PARECER ALTO, MAS NA VERDADE NÃO É. Na real, o LUCRO É COMPATÍVEL COM O TAMANHO DOS INVESTIMENTOS. Para quem não sabe ou não compreende o que está escrito nos balanços das empresas, o lucro de R$ 106,7 bilhões obtido, em 2021, pela Petrobras é o VALOR ABSOLUTO (EM REAIS). Entretanto, considerando os investimentos bilionários que foram empregados nas operações da estatal a TAXA DE RETORNO foi inferior a 8%, ou seja, 2% acima do CUSTO DE SUA DÍVIDA.

 RETORNO SOBRE O CAPITAL INVESTIDO

Como se vê, quer por muita incompetência, quer por pura má vontade, o fato é que a mídia preferiu dar relevância ao LUCRO ABSOLUTO DA PETROBRAS, EM REIAS, e não ao LUCRO RELATIVO, EM PERCENTUAL, SOBRE O CAPITAL INVESTIDO, o que mascara o resultado. Anotem aí: o ROCE (RETORNO SOBRE O CAPITAL EMPREGADO) no ano de 2021, foi de 7,8%, ou seja, 5,3 pontos percentuais maior do que em 2020. Isto é o bastante para que todos entendam que se alguém ganha, por exemplo, 10 mil reais sem empregar capital algum, o lucro obtido é INFINITAMENTE MAIOR do que o da Petrobras.

 O DOBRO DO LUCRO FOI PARA OS COFRES DO PODER PÚBLICO

Vejam, com olhos bem abertos, que em 2021, a Petrobras pagou, por hora, R$ 23 milhões em impostos e tributos, e que gerou cerca de 10 mil empregos para cada R$ 1 bilhão de investimentos em exploração e produção. Agora, o mais interessante, que a mídia safada abomina: enquanto, em 2021, a Petrobras lucrou R$ 106,6 BILHÕES, correndo riscos na sua operação, o PODER PÚBLICO, notadamente os ESTADOS DA FEDERAÇÃO, receberam de mão beijada, sem correr risco algum, mais de R$ 200 bilhões em tributos. Ou seja, o real e grande ganancioso nesta história é o ESTADO, que embolsou quase o DOBRO do lucro da Petrobras. Pode?

Pois, mesmo diante desta incontestável verdade, a maioria dos veículos de comunicação tratou de atacar a empresa com duas frases -Lucro acima de tudo. Acionistas acima de todos - Pode?

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  • Sandra Cavalcanti
  • 14 Março 2022

 

 

 

Nota do editor: Uma inteligência rara, uma bravura inaudita, uma inabalável convicção moral, fizeram-na cativar amores e ódios, admiração e inveja, mas sempre num respeitável pedestal, desses em que certos seres humanos estão porque ali é seu lugar natural. Em homenagem a ela, transcrevo este artigo que tinha bem guardado na memória porque sempre quis poder assinar embaixo.

Sandra Cavalcanti

 

Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não aguento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialistas que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.

Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o Brasil.

Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinquenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas próprios, que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.

O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia, sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações indígenas.

Existe uma intenção solerte e venenosa por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembléias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a ideia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.

Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.

De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.

De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialistas e das ONGs europeias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira catástrofe.

Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui. Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã. Teve a audácia de querer ensinar a plantar e a colher. Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer churrasco dos seus semelhantes. Teve a audácia de garantir a vida de aleijados e idosos.

Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.

Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.

Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais. Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer discriminação por motivo de raça ou credo.

Portanto, vamos parar com essa paranoia de discriminar em favor dos índios. Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo.Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somos a nação brasileira.

Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento. Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até COBRAM pedágio para estradas que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior. Esses índios são cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são ricos. Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.

O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.

 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 13 Março 2022

 

Alex Pipkin, PhD


Há realidades, em nosso país, que precisam ser recompostas com seriedade. É o que me vem à mente como demanda urgente quando vejo a batalha e a bulha entre uma minoria de funcionários públicos - muitos de uma guilda privilegiada e intocável - e a grande parte dos trabalhadores “comuns” no setor privado, é estupenda e desigual.

Há uma série de disfuncionalidades na economia tupiniquim, na verdade, às instituições brasileiras funcionam inapropriadamente.

Muito tem se falado, como sempre, na necessidade de implementação de reformas estruturantes, tais como a reforma tributária, a fim de que ao menos, num primeiro momento, se alcance a simplificação do cipoal tributário existente.

Penso que uma essencial reforma urgente para modernização e inovação no pais é, sem dúvida, a abertura econômica. Essa traria um aumento da concorrência e da produtividade nacional, melhorando o emprego, os salários, a renda e a prosperidade verde-amarela.

Contudo, a principal reforma estrutural que o país necessita realizar, é a reforma administrativa.

É essencial uma transformação na estrutura e no mecanismo de funcionamento de uma máquina disfuncional, que consome recursos de maneira totalmente disparatada.

Eu, e vários Maracanãs lotados, sabemos que sem uma mudança na efetividade do funcionamento do mecanismo e nos gastos com tal estrutura disfuncional, o país persistirá sendo a vanguarda do atraso, não investindo nas áreas-chave e, muito menos, melhorando e inovando, a fim de fazer frente aos novos desafios para o alcance de crescimento econômico e social.

Em nossa sociedade “rent-seeking”, o governo tributa, arrecada e aloca muito mal os recursos, extraindo renda dos criadores de riqueza, os indivíduos e as empresas, a fim de poder suportar uma superestrutura estatal cara, privilegiada e, em grande parte das situações, ineficiente.

A constatação é singela. Quanto da arrecadação pública na forma de tributos é gasta com a máquina estatal? Quanto da arrecadação pública é gasta com estruturas, salários e benesses palacianas na Corte verde-amarela? Qualquer cego enxerga as diferenças salariais e os penduricalhos brindados na esfera pública em relação àqueles no setor privado.

É importante fazer duas considerações. A primeira relaciona-se com a lógica da realidade, ou seja, em questões de política pública, não importa as “boas intenções”, já que existe uma distância muito grande entre a intenção e os resultados alcançados. Neste sentido, é pertinente questionar, à população brasileira recebe “bons serviços” de educação, de saúde, de justiça, etc.? Claro que não! Quem se beneficia dessa gigantesca estrutura?

Os próprios servidores.

A segunda consideração, refere-se ao fato de que nenhuma estrutura, nenhum de nós pode se beneficiar às custas do outro; em vez disso, cada um de nós pode se beneficiar apenas beneficiando o outro. Penso que é isso que conduz a prosperidade geral. Desnecessário aprofundar sobre as desigualdades e os privilégios existentes no funcionalismo tupiniquim vis a vis aos relés mortais.

Realmente é desanimador concluir que o país continuará procrastinando na principal reforma necessária para trilhar a rota do crescimento geral.

Verdadeiramente, por princípio, a turma estatal privilegiada quer ainda mais, e não admite que ninguém mexa “em seu queijo”, constituindo-se, desse modo, num entrave à inovação, à concorrência e à melhoria da produtividade nacional. Às justificativas são sempre as mesmas: o emprego e os direitos adquiridos. Notório estorvo do Estado.

Sem a reforma administrativa não haverá genuíno e justo crescimento econômico e social – e como eles alardeiam a palavra social!

Essa turma adora aludir igualdade, evidente, desde que o setor privado continue suando e suportando a trupe das benesses e da comprovada ineficiência.

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  • Ricardo Azeredo
  • 13 Março 2022

Ricardo Azeredo


Chega de tratar o assunto com mimimi, preconceitos e ignorância. Não há mais espaço para discussões estéreis forradas de ideologia, falta de conhecimento e visões românticas ou utópicas.

O Brasil está indefeso. Todos nós estamos.

A guerra na Ucrânia tem implicações muito além das violentas ambições totalitaristas e expansionistas do Putin e das quizilas históricas entre os dois países, rusgas com a OTAN, etc.

Outro dia escrevi nas redes sociais, com base nas informações que tenho do universo da defesa e geopolítica (como aficcionado pelo tema e não como especialista que não sou), que o mundo inteiro está se armando como não se via desde o fim da guerra fria.

E agora reforço este alerta, quando a invasão de Putin já tem duas semanas e se intensifica cada vez mais, para lembrar que o Brasil precisa estar preparado para esta "nova ordem mundial", que na real não é tão nova assim.

As ambições internacionais sobre o potencial de recursos naturais, capacidade de produção de alimentos e amplitude territorial de um país riquíssimo em tudo isso como o Brasil já vem desde a década de 80, pelo menos.

Por exemplo, toda a cantilena acerca da "destruição total" da Amazônia é uma narrativa calculada para reforçar ano após ano uma argumentação falaciosa de que não somos capazes de cuidar do que alguns cinicamente consideram "patrimônio de toda a humanidade", e não território dos brasileiros. Isso já foi afirmado claramente e até de forma oficial por líderes dos EUA e de países europeus.

A China, na ânsia de sustentar sua população gigantesca e suas ambições de um protagonismo internacional cada vez mais agressivo, está "invadindo" o Brasil através da compra desenfreada de grandes empresas brasileiras ligadas ao agronegócio e à exploração de recursos naturais, entre outros segmentos.

Isso tudo é estratégia de longo prazo que pode ganhar outros contornos mais imediatos conforme as circunstâncias.

A França já cogita reforçar bases militares na Guiana, de olho no que Macron vê como um pedaço da Amazônia brasileira que lhe afeta e que pode ser um alvo "necessário".

Entre as ONGs atuando na Amazônia, há dezenas ligadas a interesses internacionais.

Não é segredo para ninguém no planeta que a região guarda imensas reservas de cobiçados recursos minerais como paládio, grafeno, cádmio, níquel, ouro, potássio e muito mais, incluindo insumos fundamentais para a onipresente indústria farmacêutica mundial. 
No nosso mar territorial, as reservas de petróleo do pré-sal são equivalentes ao que existe no oriente médio.

E não se iluda, o mundo ainda vai precisar muito de combustíveis fósseis. As alternativas limpas levarão décadas até serem viáveis para abastecer o planeta, que demanda cada vez mais energia.

Ou você acha que o gasoduto russo do qual a Europa depende é apenas um detalhe?
Ou que as operações Tempestades no Deserto 1 e 2 foram guerras justificáveis apenas por causa das nunca encontradas armas de destruição em massa do famigerado Saddam Hussein e de outros tiranetes do Oriente Médio?

Quer mais? Os dois maiores aqüíferos do mundo estão no subsolo brasileiro. Um deles na Amazônia.

É preciso cair na real, e não é alarmismo: não podemos achar impossível que nações mais poderosas queiram nossas riquezas e terras em nome de pretextos esdrúxulos ou mesmo sem pretexto algum.

Como se diz, o preço da paz é a eterna vigilância. E isso só se consegue com um poder considerável de dissuasão, capaz de fazer um potencial inimigo pensar duas vezes antes de cogitar um avanço sobre nós.

Precisamos sim, urgentemente, de defesas proporcionais ao tamanho de nosso território.

Precisamos de superioridade aérea absoluta para nosso imenso espaço aéreo (os 36 caças Grippen que estão chegando não são suficientes).

Precisamos de forças terrestres capazes de proteger com vigor nossas extensas e desprotegidas fronteiras.

Precisamos de presença militar ainda mais intensa na Amazônia, inclusive para combater os poderosos cartéis do narcotráfico colombiano e peruano, que tem grupos guerrilheiros mercenários como o Sendero Luminoso e outros guarnecendo as rotas e laboratórios dos traficantes na selva. Estes cartéis também servem, quando necessário, de apoio a iniciativas internacionais obscuras que os pagam. 

Precisamos de uma marinha volumosa e moderna para cuidar do nosso mar, que além do petróleo, é dos mais ricos do mundo para pesca.

Não é à toa que flotilhas de pesqueiros chineses invadem todo dia nosso mar territorial, inclusive abalroando impunemente embarcações brasileiras que se encontrem no caminho.

É caro sustentar forças armadas bem equipadas e um contingente volumoso e bem treinado? Claro que é! Mas temos que pagar este preço, para não pagar um preço muito, muito maior.

Temos que encontrar maneiras de custear forças armadas à altura do que o país precisa.
Reduzir o tamanho da máquina pública hoje existente, no executivo, legislativo e judiciário é um bom começo. Fazer trocas de produtos com fornecedores internacionais também. Há vários caminhos.

Estimular a indústria nacional é um deles.  O Brasil teve nos anos 80 uma das mais vigorosas indústrias de armamentos entre os países em desenvolvimento. Foi ela que produziu a maior parte dos equipamentos que nossas forças tem hoje, além de ter exportado blindados, aviões e outros equipamentos para vários países.

Mas decisões equivocadas dos governos desde então e a submissão à pressão de concorrentes internacionais levaram à derrocada do sistema, custando milhares de empregos e nossa própria segurança.

Ainda temos grandes indústrias no setor, mas é preciso reforçar o segmento e permitir que volte a ser um setor forte da economia como um dia foi, gerando milhares de empregos qualificados e receitas polpudas para o país. 

Para isso, precisamos de um consistente, ambicioso, sustentável, transparente e perene plano nacional de defesa.

Precisamos, de uma vez por todas, encarar esta realidade.

*       Ricardo Azeredo é jornalista.

**      Publicado originalmente na página do autor no Facebook

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