Percival Puggina

03/01/2011
Tenho um amigo muito antipetista. Já reparaste que o Fernando Henrique só errava quando dava bola para o que o PT dizia? E que o Lula só acerta quando vai contra o PT?, costuma ele afirmar com um ar de quem, de tanto ver o mesmo filme, já boceja apenas por ouvir o nome dos atores. Meu amigo está convencido de que a oposição brasileira, para voltar ao poder, precisa parar de fazer o que está fazendo (se é que está fazendo alguma coisa) e começar a estudar o PT. Crês que a oposição vai derrotar o PT com discurso moralista? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!, diz ele. O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando o sistema ou um dindinho militante para dar ao bebê um carrinho equipado com bandeira vermelha. No fundo, é isso mesmo. A coisa começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio, quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, do politicamente correto (e do democraticamente incorreto), do Cpers, da relativização da verdade e do bem, da tolerância com tudo que está errado e da intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o bolinha que manda é companheiro. Quando eu estava meditando sobre essa lista, meu amigo perguntou: Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?, ao que eu esclareci - De trabalhadores, claro. Mas ele me advertiu que também as organizações patronais vêm sendo aparelhadas desde que o partido assumiu o controle do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou ele: Por motivações opostas. Certa feita, quando o governo Lula se recusou a receber as rodovias pedagiadas do Rio Grande do Sul, ele me olhou com aquele ar de aí tem coisa e sentenciou: Se o Tarso vencer, essas estradas vão para a União em estojo de veludo e serão recebidas com pompa e circunstância. Eu o chamei de paranóico e me recusei a continuar a conversa. Imagina! Só tu para afirmar um absurdo desses. Quem viver, verá! exclamou. Pois não é que ele tinha razão? Logo, logo, o pepino sairá das mãos do governador Tarso e irá para o colo da presidente Dilma. Mudaram as condições políticas é a frase com que o PT explica tamanha contradição. Mas voltemos ao meu amigo. Diz-me ele: Ninguém pode acusar o PT de fazer oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, ele cuida de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio e supercílio. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, passa a cobrar o quê de seus opositores? Colaboração, e fidalguias. Talquinho e perfume. E até essa oposição esgualepada, esmilinguida, que aí está, passa a ser radical, insuportável e impertinente. Quem viver, verá. ZERO HORA, 02/01/2011

Percival Puggina

31/12/2010
Acabou! Não há bem que sempre dure (na perspectiva dos 87% que gostaram), nem mal que não acabe (segundo a ótica dos 13% descontentes). Faço parte do pequeno grupo que não se deixa seduzir por conversa fiada, publicidade enganosa e não sente atração pelos salões e cofres do poder. Lula chega ao fim de seu mandato em meio a um paradoxo que cobra explicações: a política e os que a ela se dedicam despencaram na confiança popular para um índice de rejeição de 92%! Ora, como entender que os políticos valham tão pouco perante a opinião pública enquanto o grande senhor, o chefe, o mandante, o comandante da política, surfa nas ondas de uma popularidade messiânica? Ouço miados nessa tuba. Como pode? Quanto mais crescia a popularidade do presidente mais decrescia o prestígio da política! E ele nada tem a ver? Chefiou durante quase uma década o Estado, o governo, a administração, uma fornida maioria parlamentar, o numeroso bloco de partidos integrantes de sua base de apoio, nomeou 8 dos 11 ministros do STF, estendeu seu braço protetor sobre as piores figuras da cena nacional e é a virgem do lupanar? Eu aprecio os governantes realistas. Sei que o realismo se inclui entre as características de todos os estadistas. Seja como homem do governo, seja como chefe de Estado, o estadista lida com os fatos. Ideais elevados e pés no chão. Causas e consequências, problemas e soluções. Realismo. Isso me agrada. Mas há um realismo cínico, desprovido de caráter, que desconhece limites éticos, que se abraça com o demônio se ele puder ser útil. A história está cheia de líderes assim e apenas os olfatos mais sensíveis parecem capazes de perceber o cheiro de enxofre que exalam. Há uma relação de causa e efeito entre a degradação da política brasileira e a ação do presidente Lula. Ele a deteriorou e comprometeu a democracia através do aparelhamento de tudo, da cooptação, da compra de votos com favores, do fracionamento e da descaracterização dos partidos. Assim como atuam os desmanches de automóveis, assim operou a política presidencial com os pedaços dos partidos nacionais, comprados das fontes mais suspeitas e pelos piores meios. Quer dizer, senhores e senhoras arrebatados pela retórica lulista, que a democracia perdeu importância e pode ser uma coisa qualquer, apoiada por qualquer arremedo de política? Não se exige mais, de quem governa, um padrão mínimo de dignidade? De coerência e respeito? Não! Pelo jeito, basta encher o bolso dos ricos e distribuir esmolas aos pobres para que surja um novo São Francisco em Garanhuns. Ah, Puggina! Mas com ele a economia cresceu, o número de miseráveis diminuiu e se realizaram obras importantes. Vá que seja. Mas convenhamos: era preciso muita incompetência para que a economia ficasse travada em meio a um ciclo mundial extremamente favorável. Pergunto: não estavam diligentemente postas pelos antecessores as condições (privatizações, estabilidade monetária e jurídica, integração ao comércio mundial, credibilidade externa, responsabilidade fiscal e estímulo ao agronegócio)? Estavam, sim. Faltava o que Lula teve a partir de 2005: dinheiro jorrando, comprador e investidor, no mercado internacional. E ainda assim, entre 2002 e 2009, o crescimento do PIB per capita do Brasil teve um desempenho medíocre comparado com outros emergentes e, mesmo, com a maior parte dos países da América Latina. O Partido dos Trabalhadores se construiu mediante três estratégias convergentes. Primeiro, a rigorosa adoção da cartilha gramsciana, assenhoreando-se dos meios de formação da cultura nacional, sem esquecer-se de qualquer deles - igrejas, sindicatos, movimentos sociais, universidades, meios de comunicação, material didático, música popular. Segundo, combatendo tudo, mas tudo mesmo, que os governos anteriores buscavam implementar como condição para que o país retomasse o crescimento: Plano Real, abertura da economia, privatizações, cumprimento de contratos, pagamento da dívida, responsabilidade fiscal, busca de superávits, agronegócio e Proer. Tudo era denunciado como maligno, perverso, antinacional, corrupto. Terceiro, destruindo de modo sistemático a imagem de quem se interpusesse no seu caminho para o poder, até restar, do imaginário de muitos, como a grande reserva moral da pátria. Dois anos no poder bastaram para que os véus do templo se rasgassem de alto abaixo e os muitos petistas bem intencionados arrancassem os cabelos num maremoto de escândalos. Somente alguém totalmente irresponsável ou com desmedida ganância pelo poder haveria de desejar para a nação um governo social e economicamente desastroso. Não é e nunca foi meu caso. Não escrevo estas linhas para desconsiderar o que andou bem no governo do presidente Lula. Mas não posso deixar de expor o que vi - e como vi! - de sórdido e prejudicial em seu modo de fazer política. Para concluir, temperando os exageros de uma publicidade que custou ao país, na média dos últimos três anos, R$ 900 milhões por ano, considero sensata a observação a seguir. Quando Lula assumiu, em 2003, os principais problemas do Brasil situavam-se nas áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública. Passados oito anos, haverá quem tenha coragem de afirmar que não persistem os problemas da Educação e que não se agravaram os da Saúde e da Segurança Pública? Haverá 87% de brasileiros dispostos a se declarar satisfeitos com a situação nacional nesses três pilares de uma vida social digna? ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

28/12/2010
MEMORIAL LULA 2014 (Políbio Braga) Entre as bobagens que Lula disse hoje, em café com os jornalistas chapa branca que cobrem o Planalto, é que pretende trabalhar na construção de um memorial que permita a todas as pessoas fazerem uma análise própria do que representaram seus oito anos de governo. Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado.Este imbecil é de uma pobreza de espírito sem precedentes. Primeiro, registra em cartório um monte de informações falsas sobre o seu governo. Agora informa que vai continuar trabalhando para alimentar o próprio mito. Lula não desiste de querer reescrever a história, naquela ânsia de tentar provar, por exemplo, que o mensalão não existiu, que a dívida pública não explodiu, que a média de investimentos do seu período foi tão pequena quanto a de FHC, entre tantas outros fatos. O que Lula entende por memorial é material para a campanha eleitoral de 2014, por mais que ele diga que a sua candidata será Dilma, a não ser caso ela não querer ser. Como se o criador não fosse cobrar a fatura da criatura. No memorialdo Lula, o olhar é para o futuro e não para o passado. Como ele mesmo disse: eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado. Começou a fazer no dia em que escolheu a mamulenga como sucessora.

Movimento Viva Brasil

24/12/2010
VIVA RIO INSISTE NO DESARMAMENTO E ATACA O RS (Matéria do Movimento Viva Brasil) Durantes os dois últimos dias houve verdadeira enxurrada de notícias sobre a ?nova? campanha de desarmamento e o ?novo estudo? do Viva Rio, bancado financeiramente com o dinheiro de nossos impostos, através do Ministério da Justiça. Apresentando números verdadeiramente fantasiosos, entre eles o de armas ilegais, duas declarações nos chamaram a atenção. A primeira é que militares, policiais e bombeiros seriam grandes fornecedores de armamento para os criminosos e isso aconteceria por que os mesmos possuem o direito de adquirir armas particulares. Falsamente chegam a afirmar que todo policial pode comprar três armas diretamente das fábricas por ano! Repetimos que isso é mentira! Policiais civis e militares só podem adquirir UMA arma de calibre restrito diretamente da indústria e policiais federais duas. Imediatamente o Ministro da Justiça, Paulo Barreto, que lá pelos idos de 2006, em reunião pública afirmou que haviam perdido o referendo, mas não desistiriam de desarmar a sociedade, já se prontificou a levar para a reunião com os Secretários de Segurança Pública o pedido para que os policiais sejam proibidos de adquirir armas particulares e que só possam utilizar a arma da corporação. Para aqueles policiais que ainda acreditam no desarmamento, achando que estão a salvo, lembrem-se de quem ninguém está a salvo e que hoje você é policial, amanhã pode deixar de ser e então ficará á mercê da própria sorte. Gaúcho é um povo de mentalidade rural atrasada O Rio Grande do Sul sempre foi o estado brasileiro com o maior número de armas de fogo e também o estado com as menores taxas criminais. Também foi o estado brasileiro com a maior votação contra o desarmamento no referendo de 2005. Também são de lá vários deputados federais que defendem ferrenhamente o nosso direito no Congresso nacional. Vimos nestes motivos à razão da agressividade das ?viuvinhas do referendo?, em especial do Rangel Bandeira, coordenador da ONG Viva Rio, que declarou para um jornal de Piracicaba, interior de São Paulo: ?Há uma cultura de glorificação da arma, fruto de uma mentalidade rural atrasada?. Assim, este ongueiro profissional, ataca e ofende todos os gaúchos e todos aqueles que não se deixam levar por sua farsa e estão prontos para defender suas vidas, suas famílias e seu patrimônio. Ofende aqueles que disseram não ao entreguismo perante os criminosos.

Políbio Braga

22/12/2010
SAIBA COMO LULA MALTRATOU O RS NOS OITO ANOS DE SEU GOVERNO Do blog de Políbio Braga Nesta quarta-feira, Lula faz sua última viagem oficial ao RS. O Estado não morre de amores pelo presidente. Nas duas últimas eleições que ele disputou no RS, seu adversário livrou claríssima vantagem. O tucano Geraldo Alckmin, derrotou-o no primeiro e no segundo turno. Nas eleições deste ano, Dilma Roussef sofreu séria derrota no segundo turno. . Os gaúchos conhecem Lula porque conhecem os governos anteriores do PT no Piratini e na prefeitura de Porto Alegre. . O presidente poderá até deixar saudades em função do longo período de estabilidade e crescimento econômico, resultado da sua renúncia aos ideários do PT e adesão aos fundamentos do Plano Real, mas seu legado político aproxima-se da pior herança maldita jamais recebida por qualquer governante antes dele. Sua posição de chefia na condução do Mensalão jamais será esquecida. Estes oito anos foram anos de desagregação moral e ética sem precedentes, já que todos os valores sociais (morais, éticos e religiosos) foram permanentemente questionados e atacados. . Lula inaugurará os 88,7 quilômetros da BR-101 duplicada entre Osório e Torres. É uma obra inconclusa. Faltam trechos de asfalto, sinalização e acostamentos adequados e até uma importante ponte, a do rio Forquilhinha. O editor percorreu a estrada neste sábado e sequer o túnel do Morro Alto estava concluído. . O RS jamais esquecerá que este governo perseguiu os gaúchos de modo diabólico. Ele tratou de modo anti-republicano o governo estadual, negando-se até mesmo a receber a governadora gaúcha e açulando seus cães de guarda para maltratá-la, o que a impediu de continuar comparecendo a atos públicos com a presença do presidente. Foi assim no episódio do empréstimo do Banco Mundial, no caso do projeto Duplica RS e até neste último objeto de desejo de 95% dos gaúchos, o Cais Mauá ? o Puerto Madero de Porto Alegre. Existem outras mesquinharias ainda mais relevantes.

Ex-blog do Cesar Maia

21/12/2010
70% DO CRESCIMENTO DA AMÉRICA LATINA EM 2010 SE DEVEU À ÁSIA! Trechos do artigo de Jorge Castro, analista e ex-ministro argentino no Clarín (19). 1. A América Latina cresceu 6% este ano, com um aumento da renda per capita de 4,8%, depois de cair -1,9% em 2009. A expansão da região ultrapassou todas as previsões, segundo a Cepal, e as únicas exceções a este crescimento generalizado são a Venezuela e o Haiti, que caíram -1,6% e -7%, respectivamente. É um crescimento heterogêneo. A América do Sul vai crescer 6,6%, enquanto o México e a América Central, 4,9%. 2. A diferença entre as duas dinâmicas é que na América do Sul estão os países exportadores de commodities (agrícolas, minerais e energia), que tiveram uma extraordinária melhora em termos de intercâmbio e um valor recorde em suas exportações. Mais de 70% do crescimento sul-americano este ano é devido à demanda de países emergentes (China / Índia). 3. Isso significa que o PIB mundial cresceu em 2010 em U$S 69.947 bilhões (poder de compra doméstico -PPP), dos quais os países avançados têm 49,3%, e os demais, 50,7%. Neste quadro, a China tem, medida em PPP, uma porcentagem maior do que a dos EUA da produção mundial (U$S 15.203 bilhões/21,7% versus U$S14.369 bilhões/20,5%). Devido a isso, o crescimento da China este ano representa 59% do total mundial, enquanto que o crescimento dos EUA equivale a 15%. Ex-blog do Cesar Maia

Percival Puggina

18/12/2010
De todas as guerras, essa é a mais perdida, claro. Oops! Falha minha. Talvez o leitor nem saiba do que estou tratando. Então, comecemos pelo princípio. Em alguns países, Brasil entre eles, grupos ateus se organizaram para promover campanhas com o intuito explicitado de combater o que denominam discriminação contra os que descreem da existência de Deus. Utilizam para esse fim peças publicitárias exibidas em veículos de transporte coletivo (busdoors). Já chegaram aqui na província e pressionam para admiti-las nos ônibus da Capital. Ao que se tem notícia, a legislação municipal veda campanhas de caráter ofensivo a qualquer tipo de credo. Nada contra quem pretenda defender o ateísmo dos ateus, caso se sintam ameaçados ou discriminados. Mas tudo contra os busdoors que tive oportunidade de ver. Um deles mostra as Torres Gêmeas sendo destruídas e a frase: Se Deus existe, tudo é permitido. Outro exibe fotos de Charles Chaplin e Hitler informando que o ator não cria em Deus e o nazista sim. No terceiro, um preso lê a Bíblia e, sob a imagem, esta frase: A fé não dá respostas, só impede perguntas. Fico imaginando a cena. Um grupo de senhores circunspectos examinando as propostas da agência de publicidade e selecionando essas três. Geniais!, proclama um. Brilhantes!, exalta-se outro, ofuscado pelos lampejos iluministas que se derramam das mensagens. Depois dessas, Deus, se existir, morre de constrangimento!, sentencia um terceiro, soprando a fumaça do cano de revólver. E lá está a campanha, pronta para cativar multidões com a inegável suficiência da razão humana para demonstrar que tudo, tudinho mesmo, proveio do nada absoluto. Ainda se a tese se limitasse aos seus autores, vá lá. Se isso é o que de melhor o ateísmo militante consegue produzir, estão mal arrumados seus adeptos. Vamos peça por peça. Até a vaquinha do presépio percebe que a sentença Se Deus existe, tudo é permitido não guarda mínima coerência (nexo etiológico) entre seus termos. Ademais, a mensagem desconhece que os perpetradores de 11 de setembro praticaram atos terroristas de motivação política. É tão absurdo afirmar o contrário quanto seria atribuir-se ao ateísmo os genocídios praticados pelos regimes comunistas da URSS e da China cuja óbvia motivação foi étnica e política. Dizer que a fé não dá respostas, só impede perguntas revela profundo desconhecimento sobre séculos de investigação filosófica e teológica envolvendo exatamente a busca de respostas sobre esse tema, tão rico quanto infinito. Ademais, evidencia a imensa soberba intelectual e o escasso saber dos signatários. Por muito QI que tenham - bem que vá, ele baterá num teto estatístico de 160 - permanecerão, como tantos sábios, com mais perguntas do que respostas. Sustentar que a crença em Deus foi o fato gerador das patologias de Hitler é mais do que um disparate. É puro sofisma. A tese levaria a crer que pessoas como São Francisco de Assis, Sto. Tomás de Aquino, Madre Tereza de Calcutá (e como eles milhões de outros) seriam pessoas muito melhores, mais sábias e mais caridosas se não cressem em coisa alguma. Volte a ler a descrição que fiz do conteúdo dos cartazes. Você perceberá que, embora a proclamada intenção de evitar a discriminação, eles são, objetivamente, agressivos à fé religiosa da imensa maioria da sociedade. E nisso ferem a legislação nacional. Para dizer o mínimo. Mas logo, logo, será Natal. Aleluia, então! ZERO HORA, 19/12/2010

Percival Puggina

18/12/2010
?Não tem nada mais socialista do que uma mãe. Uma mãe pode ter dez filhos. Ela pode ter um mais bonitinho, um mais feinho, mas uma mãe gosta de todos em igualdade de condições (Pres. Lula, falando no dia 14/12, em Salgueiro, PE, sobre os recursos que ele julga presentear a Estados e municípios). O presidente radicalizou o paternalismo e acaba de instituir o maternalismo de Estado. Ele já foi o pai da pátria, já foi (como no filme) o Filho do Brasil, e agora se declara mãezona da nação. E tem sido assim, na base da mamadeira, que, segundo a mais recente pesquisa encomendada pela CNI ao Ibope, 87% dos brasileiros consultados, de fraldas e chupeta, beijam a mão do cara e não se sentem nem um pouquinho desrespeitados pela situação. Gu-gu da-dá. Admito que não se pode esperar da massa um perfeito discernimento sobre a concentração de poderes e de recursos que ao longo das últimas duas décadas fluíram para Brasília. Mas para sua informação, leitor: a capital federal, a capital da esperança já realizou o sonho dos seus. Ali não se produz um prego, não se fabrica meio palmo de estopa, mas ali se tem o PIB per capita mais elevado do país (quase o dobro do paulista!). Ali, na antiga terra dos candangos, se tem - também disparado na frente - o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano entre as unidades da Federação. E, certamente, ali se tem o mais deslavado grau de satisfação com o saque dos recursos nacionais pela nossa elite política e administrativa. Ali é a matriz dos inconformados com seus salários de R$ 24,5 mil por mês, que passaram a receber R$ 26,7 mil para não terem que ir bater o pires na porta da igreja. Quando se criticam os 594 congressistas que vão receber isso tudo, durante mandatos de quatro anos, eu fico pensando nas dezenas de milhares de membros dos outros poderes, que recebem o mesmo montante, em valor irredutível, para o resto de suas vidas! O sentido de proporção é dos mais elementares ensinamentos da matemática. O povo dificilmente vai entender o processo de desapropriação a que estão submetidas as riquezas nacionais se ninguém na grande mídia lhe explicar que os recursos distribuídos aos Estados e municípios pelo paternalismo de saias, ou pelo maternalismo presidencial, são extraídos de jamanta dessas mesmas unidades da Federação para onde, mais tarde, retornam em doses homeopáticas. Quando o presidente formula uma declaração como aquela destacada aí em cima, a mídia teria a obrigação de esclarecer que somos triplamente roubados pelo papai (ou pela mamãe) estatal. Somos roubados por uma tributação excessiva. Somos roubados na má qualidade dos serviços públicos e da infraestrutura que utilizamos, infimamente proporcional ao montante dos impostos que pagamos. E somos roubados pela terrível centralização das receitas fiscais na órbita da União. Família é a mais importante instituição de qualquer sociedade que deseje ser livre e bem organizada. Mas as analogias familiares são incompatíveis com uma sociedade política que, por seu turno, deseje ser livre e bem organizada. São incompatíveis, também, com os valores republicanos e com o respeito que os poderes de Estado devem aos cidadãos. Para finalizar, e antes que me esqueça: minha mãe era uma pessoa maravilhosa, dedicou sua vida aos sete filhos e nunca, nem como desvio de inspiração poética, foi socialista. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

13/12/2010
A coerência é uma virtude que exige solidez de princípios. Tá bom, eu sei que isso é mercadoria rara no ambiente da política e que seria uma impiedade cobrá-la do presidente da República. Afinal, ele mesmo se designou metamorfose ambulante, dispensando-se de compromissos consigo mesmo. Não nos surpreendamos, então, quando se encrespa e arrufa além do limite do ridículo com a deposição constitucional do hondurenho Manuel Zelaya, mas se relaciona aos abraços e amassos com os maiores ditadores e patifes do planeta. Pensando melhor, corrijo-me. A incoerência de Lula admite exceções. Seu antiamericanismo, formado na cultura esquerdista do sindicalismo brasileiro, é monolítico. É por causa desse antiamericanismo que demonstra tanta afeição por Fidel Castro e Hugo Chávez. É por causa dele que, de modo intempestivo, saiu em defesa de Julian Assange, criador do site Wikileaks. É por causa dele que o governo brasileiro se omite perante as terríveis violações de direitos humanos no Irã. O governo do Irã tem ódio dos norte-americanos? Estamos com ele. O Wikileaks atingiu a diplomacia ianque? Viva o Wikileaks! Admitido esse ponto, retornamos à velha incoerência. Ao longo dos seus oito anos de mandato Lula sempre deixou claro seu desejo de controlar a imprensa e ensaiou maneiras de o fazer, usando o eufemismo do controle social da mídia. Mas argumenta em favor de Assange com base na liberdade de informação. Imagine a indignação do nosso presidente se o Wikileaks, um dia, se dedicasse à produzir ecografias do ventre de seu governo! E isso nos traz ao tema central deste artigo. Como devemos encarar a atividade do Wikileaks e como ela se relaciona com a liberdade de informação? Parece bastante claro que tal liberdade não se confunde com concessão de direitos à espionagem. Tampouco se afirme, como tenho lido por aí, que o Wikileaks não tem o dever de guardar segredos de estados soberanos, porque isso é claro sofisma. O fato de que corresponde aos governos o dever de proteger seus segredos não concede ao Wikileaks o direito de os devassar por vias diretas ou oblíquas. E mais, se ao jornalismo investigativo se conceder a prerrogativa para penetrar e divulgar segredos de estado, informações sigilosas e conteúdos relativos à segurança das nações, todos os espiões que atuam no setor público requererão credenciais de imprensa e total imunidade para suas ações. É ingênuo supor que qualquer conteúdo de interesse público possa ou deva ser publicizado porque, se assim fosse, o grampo telefônico deveria estar liberado e todos os gabinetes, inclusive o de Lula, deveriam ter transmissão de áudio e vídeo para um telão no meio da praça. Por fim, desnudar o conteúdo das informações reservadas da diplomacia não serve à diplomacia. Serve à guerra. Mas é pedir demais ao presidente que abandone seu antiamericanismo em favor de um raciocínio lógico. ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.