Mauro Zanatta Valor Econômico

16/05/2010
ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE, MERO RECUO TÁTICO Por mero recuo tático, o governo Lula desistiu de promover a atualização dos índices de produtividade agropecuária, usados como parâmetro nos processos de desapropriação para a reforma agrária. Essa medida absurda - com fortes embates ideológicos - prejudicaria ainda mais à campanha da candidata do Presidente ao Planalto, identificada com o MST. Com toda razão ela desagrada aos produtores rurais. O custo político da aprovação desses famigerados índices seria alto demais para o PT. Não podemos fazer marola em ano eleitoral, resumiu um ministro do governo. A medida que só vigoraria em 2012, obrigaria os produtores rurais a elevar a produção, mesmo em anos de crise, para cumprir requisitos de utilização da terra (GUT) e de eficiência da exploração (GEE), o que não é exigido de nenhum outro setor produtivo. Para o MST e assemelhados isso não ficará assim, pois não vão deixar de cobrar essa dívida do Estado. Para eles, o assunto divide a sociedade [eles de um lado e a sociedade do outro...]. Em agosto de 2009, Lula havia fixado prazo de 15 dias para a publicação de uma portaria interministerial com a revisão dos índices. Mas os ruralistas reagiram e o PMDB fechou questão contra a revisão para evitar que suas digitais fossem impressas na medida antipática aos eleitores rurais. Curiosamente, a senha para a desistência de Lula foi a exacerbação dos debates que vêm sendo provocados pelo anúncio do PNDH-3, no início do ano. Fonte: Mauro Zanatta Valor Econômico 13/05/10

Percival Puggina

15/05/2010
A mitologia grega transmite na história de Narciso uma mensagem muito vigorosa. Apaixonou-se o jovem pela imagem que refletia no remanso de uma fonte e ali quedou-se a contemplá-la até definhar e morrer. Morreu de amor. De paixão por si. O nome desse trágico personagem é derivado do vocábulo grego narke, do qual se origina a palavra narcótico. Está, portanto, relacionado com entorpecimento e perda de sensibilidade em relação aos outros. Insuficiência para amar de verdade. Paixão de si. Narcisismo. O arquétipo do ser humano pós-moderno se torna, cada vez mais, nestas preliminares do século 21, uma versão up-to-date de Narciso. Sua capacidade de amar termina no vestido ou no paletó, nos bens materiais de seu entorno, embargando-lhe relações que impliquem compromisso fora ou além do que vê diante do espelho. Vivemos num mundo tomado pelo amor de novela, de revista, com capítulos curtos, pot-pourri de impulsos, climas que pintam, que na teoria e na prática acabam sendo amor pelo avesso. O mais nobre sentimento humano vira sacola de supermercado, onde se enfiam prazer, desfrute, vaidade, conveniência, tesão, e objetos de uso provável, como pulseiras coloridas, pílulas e camisinhas de cores e sabores variados. Dia desses, assistindo a um filme, demo-nos conta, minha mulher e eu, de que não se consegue ver cenas de uma ceia do Dia de Ação de Graças, tradicional feriado americano, em que os membros das famílias não se trinchem mais do que ao peito do peru. Sempre fica evidente o distanciamento, o alheamento, a fragilidade dos laços. E sempre terminam em brigas. As pessoas não conseguem mais suportar os respectivos egoísmos. O amor foi embora há muito tempo. No entanto, o ser humano persiste em suas carências e potências amorosas. Na falta delas, fenece como Narciso à beira da fonte das possibilidades existenciais. Ora, leitores, as potências do amor implicam aquilo que as mães nos ensinam: amor afetivo e efetivo. Porque afetivo aquece os corações. Porque efetivo se realiza em realizar o bem dos filhos, mesmo com sacrifícios pessoais; e em encontrar, nisso, razão de ser e de felicidade. Amor que não resiste ao teste do sacrifício e não supera obstáculos não merece esse nome e muito provavelmente é mero uso do outro para bem de si mesmo. É egoísmo. É o definhamento para onde se arrasta mais alguém. O Dia das Mães, que vivemos neste domingo, nos remete a uma reflexão sobre a extraordinária natureza do amor materno. Ele é exemplo de amor, mas é, também, modelo para todos os amores. Ali, no coração das mães, está a medida de não ter medidas para encontrar o próprio bem na realização do bem do outro. O poeta Carlos Drummond de Andrade sentenciou que mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga. Esse amor, que tive a ventura de receber da minha mãe e a graça de contemplar no exemplo da minha mulher há 41 anos, é o que desejo e é o que de melhor posso desejar aos que me leem neste domingo. Especial para ZERO HORA 09/10/2010

O Dia Online

08/05/2010
PROBLEMA PARA LULA, MARCO AURÉLIO E DILMA O Dia Online PF prende no Brasil segundo homem das Farc José Sanchez, conhecido como Tatareto, foi preso em Manaus com outras oito pessoas e 45 kg de cocaína POR ANA D?ANGELO Brasília - A Polícia Federal em Manaus fisgou na quinta-feira um peixe graúdo ao desbaratar uma quadrilha de traficantes de drogas que atuavam na Região Amazônica. Foi preso o segundo homem no comando da organização guerrilheira colombiana Forças Armadas Revolucionárias, as Farc. José Sanchez, que usa o codinome de Tatareto (gago, em espanhol). Procurado pelo governo da Colômbia por envolvimento em homicídio, sequestro e extorsão, ele é membro da comissão de finanças da cúpula das Farc, segundo informou o Exército colombiano à PF. Além dele, outras oito pessoas foram detidas e 45 quilos de cocaína apreendidos. A prisão de um dos cabeças das Farc no Brasil deixou a cúpula da PF em Brasília em polvorosa, por temer repercussão política. O PT condena publicamente as ações do grupo. Mas está junto com a Farc no Foro de São Paulo, uma articulação que congrega movimentos de esquerda da América Latina. A PF nega que a Farc esteja agindo no Brasil. Na verdade, esse indivíduo veio pra cá para atuar no narcotráfico para levantar capital e financiar as ações do grupo, acredita o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes no Estado do Amazonas, delegado Leandro Almada da Costa. Tatareto foi preso quinta-feira à tarde, mas sua prisão foi divulgada somente às 16h desta sexta-feira pela PF de Manaus.

Percival Puggina

08/05/2010
Este artigo reproduz carta que enviei a um jovem. Por e-mail, ele manifestara dissabor com o artigo O vampiro argentino (1). Bem educado, em texto correto e movido por evidente boa intenção, ele expressou sua contrariedade ante a referência que fiz ao fato de jovens que não sabem apontar com o nariz para que lado fica a Bolívia e que não conseguiriam escrever meia página sobre os episódios de Cuba andarem pelas ruas ostentando camisetas com a estampa do Che. O meu leitor sabia as duas coisas e se magoou. Nas correspondências que trocamos, pedi a ele que em vez de apontar para Bolívia, me indicasse suas razões para reverenciar a memória do argentino. Respondeu-me ele que seu herói renunciou às comodidades de que desfrutava como médico, buscou viver e alcançar seus ideais, lutou e deu a própria vida pelas suas convicções. E acrescentou que se havia algo que ele prezava e respeitava era a coragem e a iniciativa de uma pessoa. Imagino que esse leitor não seja o único que firma sua admiração a Che Guevara nas mesmas bases. Eis, a seguir, o que lhe respondi. Transcrevo na esperança de que sirva para outros em idêntica situação. Caro jovem: as razões que apontas estão muito mais no plano da reverência a certos sentimentos do que em fatos que os expressem de modo louvável. Valorizaste a coragem, os ideais, a renúncia aos confortos e bens materiais e à disposição de dar a vida por algo em que se crê. O problema do Che não estava obviamente aí, mas no uso que fez desses atributos de seu caráter. Tua referência à renúncia aos bens materiais, aliás, me fez lembrar o filme Diários de Motocicleta. Certamente o assististe. Nele, o diretor Walter Salles Jr. comete amazônica injustiça contra as religiosas que atendiam os índios no leprosário de San Pablo, no meio da selva, dezenas de quilômetros a jusante de Iquitos. Che é apresentado nas manipulações do filme como um anjo de bondade e as irmãs como megeras. No entanto, aquelas mulheres passaram suas vidas inteiras enfiadas em barracos de madeira, no meio do mato, cuidando de leprosos. Não uma semana. Vida inteira! E não por ódio a alguém, mas por puro amor ao próximo. Quem sabe passas a usar uma camiseta com a estampa das irmãs de San Pablo? E já que falei em cuidar de doentes, lembro outro caso. Em 1913, um talentoso jovem alemão, com doutorado em filosofia, teologia, medicina e música, exímio organista, considerado o maior intérprete de Bach em seu tempo, muito bem sucedido profissionalmente, decidiu instalar por conta própria um hospital às margens do rio Ogowe, no Gabão. Ergueu-o com as próprias mãos. Como forma de mantê-lo, voltava periodicamente à Europa a dar recitais. Fez isso não por uns dias, mas por toda a vida desde os trinta anos. Em 1953, sua contínua dedicação à tarefa que abraçou lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz. É dele esta frase que bem serviria para a reflexão do vampiro argentino que se dizia sedento de sangue, médico como ele: Tudo que é vivo deseja viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas para satisfazer o desejo dos homens. Quem sabe usas uma camiseta com a estampa do pastor Dr. Albert Schweitzer? A fuga de um prisioneiro do campo de Auschwitz, em 1941, levou o comandante a sentenciar outros dez à morte por inanição. Entre os escolhidos para cumprir a condenação havia um pai de família que muito se lastimava pela orfandade que adviria aos filhos pequenos. Pois um senhor polonês, de nome Maximiliano Kolbe, que estava preso por haver dado fuga a mais de dois mil judeus, se apresentou para substituí-lo e cumpriu a sentença que recaíra sobre seu companheiro de prisão. Com tão justificado apreço pelos valores que apontas, por que não usas uma camiseta com a estampa do padre Kolbe? As pessoas que mencionei, meu jovem (e existem inúmeras assim!) superam Che Guevara em tudo e por tudo. Exercitaram virtudes supremas sem qualquer ódio. Deram quanto tinham, inclusive suas vidas inteiras a seus ideais. Che fez isso? Fez. Mas, se colocou a própria vida em risco, como de fato podia fazer em nome de seus ideais, achou-se no direito de, pelo mesmo motivo, tomar a vida dos outros. E tal direito ele não tinha. Isso é muito diferente e satanicamente pior! O resultado dos exemplos que citei foram vidas salvas. O resultado da obra de Che foram vidas tomadas, sangue derramado, e liberdades extintas. Cordial abraço, Puggina. Agora, escrevo a quem me lê aqui: mesmo diante do que acabo de expor, muitos persistirão achando Che Guevara o máximo. Mas estão forçados a admitir que é na revolução, na luta de classes, na tomada do poder pelas armas e no comunismo que repousam seus apreços. E nesse caso me permitam afirmar que camisetas do Che são tão ofensivas e ameaçadoras, quando portadas num país livre e democrático, quanto a suástica, a foice com martelo, ou a cruz flamejante da KKK. (1) www.puggina.org/newblue/pesquisa_detalhes.php?ARTIGO_ID=997). _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Martha Ferreira

05/05/2010
MENOS, LULA; MENOS (Mensagem recebida da economista Martha Ferreira) Meus amigos, achei muito estranha a notícia, publicada pelo Globo e fui conferir a lista original da revista Time. A imprensa brasileira, amestrada pelas verbas oficiais, adora aumentar as coisas a favor do Governo e desinformar: Abaixo a lista original da revista TIME, edição atual, com a votação completa: como pode ser visto, até o Presidente do Iraque - Mousavi- teve uma votação seis vezes superior ao do Presidente brasileiro, isto sem contar Bill Clinton, Elton Jones, Manmohan Singh (premier indiano) etc. Na imprensa brasileira ele aparece em primeiro lugar, na revista está perto quadragésimo lugar. Barack Obama - 7,740,557 Lady Gaga - 6,697,752 Ashton Kutcher - 6,390,600 Taylor Swift - 5,608,398 Oprah Winfrey - 2,907,504 Robert Pattinson - 2,298,274 Ben Stiller - 1,735,285 Serena Williams - 1,681,207 Conan OBrien - 1,352,195 Jet Li - 1,220,613 Damon Lindelof - 977,222 Carlton Cuse - 969,097 Sarah Palin - 884,145 Glenn Beck - 621,436 Neil Patrick Harris - 493,561 Sandra Bullock - 329,229 Marc Jacobs - 275,689 Banksy - 259,153 Sachin Tendulkar - 175,852 Simon Cowell - 171,726 Bill Clinton - 160,731 Lea Michele - 151,916 Scott Brown - 131,053 Didier Drogba - 97,611 Chetan Bhagat - 94,074 Mir-Hossein Mousavi - 77,455 James Cameron - 50,394 Kim Yu-Na - 49,493 Mike Krahulik - 41,305 Zaha Hadid - 33,242 Lee Kuan Yew - 27,859 Ricky Gervais - 27,422 Mike Mullen - 22,849 Zahra Rahnavard - 21,747 Elton John - 19,309 Nancy Pelosi - 19,123 Manmohan Singh - 17,977 Phil Mickelson - 14,922 Michael Pollan - 14,956 Sonia Sotomayor - 13,399 Jenny Beth Martin - 13,266 Annise Parker - 13,093 Luiz Inácio Lula da Silva - 12,371 Steve Jobs - 10,662 Temple Grandin - 8,898 Tim Westergren - 8,152 Christine Lagarde - 7,913 Sheik Khalifa bin Zayed al Nahyan - 6,598 Suzanne Collins - 5,960 Recep Tayyip Erdogan - 5,925 Elizabeth Warren - 5,875 Kathryn Bigelow - 5,326 Lisa Jackson - 4,746 Stanley McChrystal - 2,886 Jon Kyl - 2,696 Amartya Sen - 2,621 Yukio Hatoyama - 2,228 Malalai Joya - 1,874 Tidjane Thiam - 1,675 Jerry Holkins - 1,483 Valery Gergiev - 1,307 Graca Machel - 1,234 Atul Gawande - 1,190 Neill Blomkamp - 1,113 Deborah Gist - 1,022 Jaime Lerner - 905 Elon Musk - 780 Salam Fayyad - 574 Paul Volcker - 465 Dominique Strauss-Kahn - 431 Kathleen Merrigan - 356 Tristan Lecomte - 249 Matt Berg - 198 David Boies - 151 Nay Phone Latt - 122 Victor Pinchuk - 114 Theodore Olson - 40 Liya Kebede - 12 Kiran Mazumdar-Shaw - 3 Amy Smith - 0 Bo Xilai - 0 Chen Shu-chu - 0 David Chang - 0 Douglas Schwartzentruber - 0 P. Namperumalsamy - 0 Valentin Abe - 0 Edna Foa - 0 Han Han - 0 J.T. Wang - 0 Jaron Lanier - 0 Karls Paul-Noel - 0 Larry Kwak - 0 Mark Carney - 0 Michael Sherraden - 0 Prince - 0 Rahul Singh - 0 Reem Al Numery - 0 Robin Li - 0 Ron Bloom - 0 Sanjit Bunker Roy - 0 Tony Travis - 0 Sister Carol Keehan - 0 Tim White - 0 Will Allen - 0

Percival Puggina

01/05/2010
Perdoem-me este primeiro parágrafo, obviamente exaustivo, mas eu preciso dele para o que vem depois. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, levando a Ajuris (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul) e outros revisionistas a tiracolo, tomou uma goleada do STF (7 x 2) contra a ideia de reinterpretar a Lei de Anistia. Bom para o país. Bom para a nação. Entre o conhecimento jurídico do Conselho Federal da OAB, que se fez representar na causa pelo mais enrustido dos petistas, o advogado Fabio Konder Comparato, e a farta maioria do STF, eu fico com esta última. Quem leu meu artigo A reinterpretação da lei da anistia, divulgado em 25 de abril, três ou quatro dias antes das sessões em que o STF deliberou sobre a matéria, terá percebido que os sete votos, quando extravasaram o necessário campo do Direito para argumentar nos espaços da Política e da História, seguiram as mesmas e óbvias trilhas que eu havia intuído no plano do bom senso: mais do que esquecimento, anistia é perdão e sua reinterpretação faria muito mal ao país. Até aí nada de mais. Coisa sabida, matéria vencida e de martelo batido. O que me interessa aqui é o voto do ex-candidato a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, o aveludado ministro Ayres Britto, filho das musas sergipanas. E por que me interessa tanto esse voto? Por uma razão tão simples quanto grave. Pode-se tolerar erro de Direito no voto prolatado por qualquer ministro do STF. Pode-se admitir, igualmente, a má interpretação de fatos em julgamento. Mas não se pode silenciar ante a adoção de uma premissa falsa porque falsas premissas evidenciam intenção de enganar, de iludir, de embair o interlocutor induzindo-o ao erro. E menos ainda se pode usar o Pai Nosso como fundamento para tais ofícios. No entanto, o ministro versejador, depois de afirmar em seu voto que perdão coletivo é falta de memória e vergonha (veremos, mais adiante, o quanto isso também é falso), saiu-se com a afirmação de que quando Cristo fez a belíssima pregação de que devemos perdoar nossos inimigos, o fez no plano individual, no plano pessoal (...) A humanidade tem o dever de odiar seus ofensores (gostou tanto da frase que a repetiu por três vezes!). E mais adiante saiu-se com esta: O hino de todas as igrejas cristãs, que é o Pai Nosso, quando diz perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos os que nos tem ofendido o fez no plano individual, no plano pessoal. Ora, caro leitor, bem ao contrário do que pretendeu o poeta do ódio aos ofensores, o Pai Nosso é a mais coletiva das orações cristãs. Não há um único eu no Pai Nosso. Em cada um de seus versículos apenas existe o nós. O Pai é nosso; o Reino é para nós; o pão é nosso; o perdão do Pai é para nós e deve ser nosso o perdão aos nossos ofensores; a tentação a ser evitada é nossa e os males de que queremos estar livres, também. Onde ele foi buscar individualismo no Pai Nosso não é nem pode ser matéria de alta indagação. Bem ao contrário, é matéria da mais rasteira constatação: no chão do ódio ideológico e da conveniência política. Por fim, qualquer criança pode entender para onde conduziria uma política que se envergonhasse do perdão coletivo. Para tomar o exemplo mais recente, a Copa do Mundo não estaria sendo realizada na África do Sul. Haveria muito mais sangue e guerras sem quartel nem fim. Viveríamos, ao longo da história, na mais pura e inextinguível selvageria se todas as etnias, nações, povos, religiões e estadistas se mantivessem na trincheira do ódio e da incapacidade de perdoar para onde esse menestrel sergipano do infinito desamor gostaria de levar o Brasil. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Reinaldo Azevedo

29/04/2010
TUDO EM POUCAS LINHAS Trecho final de um post de Reinaldo Azevedo sobre o fim (12 anos após iniciadas) das calúnias levantadas em relação à privatização das Teles. FHC era um reacionário: no seu governo, faziam-se negócios de acordo com as leis. Lula é um progressista: fazem-se as leis de acordo com os negócios. Os primeiros iam parar no banco dos réus. estes outros mandam os outros para o banco dos réus. Aqueles eram enforcados sem errar. Estes erram e enforcam. Mas vai passar. Vão passar!

Percival Puggina

25/04/2010
Tenho certeza de que os membros do Conselho Federal da OAB que ingressaram no STF com uma ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) visando a reinterpretar a Lei de Anistia, bem como os magistrados da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul que decidiram apoiar publicamente a ação, deverão se perguntar com que credenciais este arquiteto se mete a dizer que a anistia é irreversível. Ora, faço a afirmação assim como está posta, entre aspas, porque se trata de uma citação. A frase é título de um artigo do ministro aposentado do STF, Dr. Paulo Brossard, que, ademais, é eminente professor de Direito, ex-senador pelo Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça. É assim, também, que pensam eminentes juristas, entre eles os doutores e professores Ives Gandra da Silva Martins e Cézar Saldanha de Souza Júnior, e até o ex-militante petista, hoje ministro do STF, Dr. José Antônio Dias Toffoli. Dou por bem escorada a minha convicção. Pela direita, pelo centro e pela esquerda. O leitor talvez não saiba, mas constitui, nessa ADPF, um terceiro interessado, para dizer como os advogados. Está fora, mas ela o afeta enormemente. Não por motivos jurídicos, mas pelos mesmos que me levam a escrever este artigo, ou seja, por razões cívicas, razões de natureza política, no bom sentido dessa palavra. É importante à vida da polis que a anistia permaneça como está: irreversível, intacta e não reinterpretável. Por quê? Porque ela foi produto de um enorme esforço do país na direção da normalidade institucional e da superação dos estragos produzidos em ambos os lados que se defrontaram naqueles anos loucos. Era impossível, à época, promover um entendimento entre o regime militar e os participantes da luta armada. Havia mortos e feridos dos dois lados. Nada diferente do que hoje ocorre em relação à história do período. As opiniões se dividem e os fatos são lidos conforme el color del cristal con que se los mira. Os militares brasileiros, com apoio de parcela majoritária da opinião pública, lutavam contra o comunismo num período de enorme expansão guerrilheira na América Latina e na África, e de expansionismo imperial comunista na Europa do Leste e na Ásia. Os militantes da luta armada, sem apoio popular, com treinamento e recursos buscados em Havana, Moscou e Pequim (bem como em sequestros e assaltos), buscavam implantar, à bala, o regime de sua preferência. Estavam tão comprometidos com instaurar a democracia quanto Hitler com o fim do preconceito racial. Se vencessem, iria faltar paredón no país. Mas se não podemos nos entender sobre o passado, se jamais haverá consenso sobre a história, se não há como retificar esta nem aquele, ao menos foi possível, a partir de 1978, com a Lei de Anistia, entendermo-nos sobre o futuro, colocando uma pedra em cima do passado. Diz-se que anistia, vocábulo derivado de amnésia, implica esquecimento. O esquecimento da anistia, contudo, não significa olvido no sentido usual da expressão (lapso de memória). Não, o esquecimento da anistia representa deixar para lá, não mexer mais com isso, ou, para usar a palavra mais adequada: perdoar. Não é um perdão amplo, geral e irrestrito do qual todos participem voluntariamente. Haverá que não perdoe e atravesse a vida reabrindo cotidianamente as chagas do passado através do ódio e do desejo de vingança. O perdão da anistia é um perdão nacional, institucional, um perdão desde o qual se recompõe a ordem, o direito, a justiça e a política. Durante mais de três décadas a anistia produziu, perfeitamente, esse efeito. Agora, em nome de um direito à verdade buscado por quem jamais teve compromisso com ela e em torno da qual nunca haverá entendimento, querem reinterpretar a lei e restaurar animosidades e conflitos sem os quais foi possível o retorno à normalidade nacional. Assusto-me quando os que buscam isso dizem agir pelo Direito e pela Justiça, desconhecendo a importância da Política e o eminente valor moral, profundamente cristão, do perdão institucionalmente concedido. Há uma parcela da esquerda que foi perdoada por seus muitos crimes, mas não aprendeu a perdoar. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

24/04/2010
Você sabe por que o Brasil não consegue solucionar o problema da miséria? Porque, de um lado, deixamos de agir sobre os fatores que lhe dão causa, e, de outro, nos empenhamos em constranger e coibir a geração de riqueza sem a qual não há como resolvê-la. As recentes mobilizações contra o agronegócio são apenas isso ? as mais novas expressões de um fenômeno tão antigo e renitente quanto descabido. O pior de tudo é que minha experiência de seis décadas e pico me adverte: são mínimas as possibilidades de emergirmos dessa histórica tragédia que afronta toda consciência bem formada. Creem os profetas de megafone, escrutinando os fatos com as lentes do marxismo, que os pobres no Brasil têm pai e mãe conhecidos: a natural perversidade dos ricos e a ganância essencial dos empresários. Em outras palavras, a pobreza nacional seria causada justamente por aqueles que criam riqueza e postos de trabalho em atividades desenvolvidas sob as regras do mercado. Estranho, muito estranho. Eu sempre pensei que as causas da pobreza fossem essencialmente juspolíticas, determinadas por um modelo institucional todo errado (o 93º pior do planeta em 2009, segundo o WEF). Pelo jeito, enganava-me de novo quando incluía entre as causas da pobreza uma Educação que prepara semianalfabetos e nos coloca em 88º lugar no Índice de Desenvolvimento Educacional da Unesco. Sempre pensei que havia relação entre pobreza e atraso tecnológico e que nosso país não iria longe enquanto ocupasse o 68º lugar nesse ranking. Na minha santa ignorância, acreditava que a pobreza que vemos fosse causada, também, por décadas de desequilíbrio fiscal, gastos públicos descontrolados e tomados pela própria máquina, inflação e excessivo crescimento demográfico, notadamente na segunda metade do século passado. Cheguei a atribuir responsabilidades pela existência de tantos miseráveis à concentração de 40% do PIB nas perdulárias mãos do setor público (veja só as tolices que me ocorrem!). E acrescento aqui, se não entre parêntesis, ao menos à boca pequena, que via grandes culpas, também, nessas prestidigitações que colocam nosso país em 75º lugar no ranking da corrupção. Contemplando, com a minha incorrigível cegueira, os miseráveis aglomerados humanos deslizantes nas encostas dos morros, imputava tais tragédias à negligência política. Não via como obrigatório o abandono sanitário e habitacional dos ambientes urbanos mais pobres. Aliás, ocupamos a 61ª posição no ranking mundial do acesso a saneamento básico. Pelo viés oposto, quando vou a Brasília, vejo, nos palácios ali construídos com dinheiro do orçamento da União, luxos e esplendores de desfile de escola de samba. O mais recente é o do TSE. São 115 mil metros quadrados de puro requinte, orçado em R$ 328 milhões (com essa grana se constroem 15 mil casas populares!). E só o escritório do comunista Oscar Niemayer abocanha R$ 5 milhões, graças ao monopólio de projetos que estabeleceu sobre a Capital Federal. Mas os profetas megafone juram que estou errado. A culpa pela pobreza, garantem, tampouco é do patrimonialismo, do populismo, dos corporativismos, do desrespeito aos aposentados, do culto ao estatismo, dos múltiplos desestímulos ao emprego formal. Não é sequer de um país que, ocupando a 167ª posição no ranking da desigualdade, vai gastar, sob aplausos nacionais, algo entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões no somatório da Copa de 2014 com os Jogos de 2016. Existem pobres, asseguram-nos, por causa da economia de empresa e dos empreendedores. Especial para Zero Hora