Percival Puggina

15/01/2011
O Joãozinho é aquele menino das anedotas. Quando quer algo, azucrina tanto, tanto, tanto, atormenta de tal modo quem se antepõe a seus anseios que acaba conseguindo o que deseja. Pois tenho me lembrado do Joãozinho quando vejo a insistência de setores da esquerda em pautas como aborto, supressão de símbolos religiosos, limitação da propriedade da terra e revisão da lei da anistia. Não têm suporte legal, a opinião pública rejeita-lhes as teses, o STF as declara inconstitucionais, mas pouco se lhes dá. Encanzinados, criam ONGs, comissões, conselhos e até ministérios inteiros. Mobilizam as bases, extraem aqui e ali decisões judiciais que não resistem à primeira contestação, mas vão angariando apoios, sempre pressionando, até a exaustão. Dos outros. A luta contra a Lei de Anistia é típica. Os joõezinhos já começaram. Primeiro trataram do assunto no âmbito da Comissão de Anistia. Aliás, temos uma Comissão de Anistia que se voltou contra a anistia. No final de 2009 embutiram sua revisão no megadecreto do PNDH-3. Depois tentaram convencer o STF de que a interpretação dada à lei, desde que promulgada em 1979, descumpre preceito constitucional fundamental. Perderam por sete a dois, em decisão do dia 29 de abril do ano passado. Inútil. Poucos mais tarde, Lula mandou ao Congresso projeto criando a Comissão Nacional da Verdade no âmbito da Casa Civil da Presidência da República ...a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional). Enquanto o projeto tramita, conseguiram na Corte Interamericana de Direitos Humanos, agora em dezembro, uma condenação ao Brasil por manter a vigência da lei. Temos aí um suposto interesse pela verdade casado com memória curta. A anistia foi objeto de persistente campanha da oposição ao regime militar, sendo aprovada pelas duas bancadas (ARENA e MDB), em 1979, por votação simbólica. Mas ainda não era ampla, nem geral, nem irrestrita. A emenda nesse sentido foi derrotada. Ela só alcançou essa extensão seis anos depois, após intensa mobilização oposicionista, com a emenda constitucional que convocou a Constituinte, visando à volta dos exilados remanescentes e à total reconciliação. Passados vinte e cinco anos parece que se arrependeram. O artigo primeiro do projeto presidencial em tramitação no Congresso começa com uma mentira, ao alegar a necessidade de uma reconciliação nacional. Mas isso é o que a anistia já fez! E fez tão bem que os anistiados da esquerda estão no poder pelo voto popular. O que de fato os interessa, ao contrário do que alegam (grande novidade!), são os dividendos políticos dos processos que teriam início. Jamais haverá entendimento ou verdade singular sobre a história de um período tão deplorável. Em torno dele já há historiografia para todos os gostos. E o atual interesse pela verdade, que beatifica os crimes cometidos pelos que pegaram em armas pelo comunismo não produz meia verdade nem gera meia anistia. É uma inteira farsa. Se não conseguimos solucionar crimes do mês passado, como esclareceremos os de quase meio século atrás? É impossível nos entendermos sobre o passado. Mas com a Lei de Anistia já o fizemos sobre o futuro, obtendo uma pacificação nacional que os joõezinhos, irresponsavelmente, desejam romper. Aliás, a maior prova de que já nos entendemos está em que essa esquerda, hoje como ontem, quer arrumar confusão. Sabem por quê? Porque para ela não há realidade fora do conflito. Mas isso daria um outro artigo. Especial para ZERO HORA 16/01/2010

Percival Puggina

14/01/2011
Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando fosse necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país. Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: ?Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes?. De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é ministro? E viva Paulo Freire. Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris maleducados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores. Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como trabalhadores em educação. O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda. O Ministério da Educação está veiculando nestes dias um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das ideias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência de seus engajamentos, do desmonte que produziram na própria autoridade e dos líderes que vêm escolhendo para os representar. Mas só aos professores, o senhor diz isso? Não, digo-o com muito maior ênfase a eles porque são, de fato, como informa a propaganda do MEC, os principais responsáveis pelo desenvolvimento social de qualquer nação. Enquanto os professores se submeterem às diretrizes de quem, com um tranco ideológico e partidário, os derruba à condição de meros trabalhadores em educação; enquanto se deixarem levar pelas cartilhas da pedagogia dominante; enquanto conviverem passivamente com a destruição de sua autoridade; enquanto tomarem como inegociável planos de carreira que nivelam competentes e incompetentes; e enquanto não refugarem uma organização que transforma o acesso ao comando da Escola em concurso de coleguismo e simpatia, viverão uma crise sem fim. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Ex-blog Cesar Maia

14/01/2011
JARED LOUGHNER E CESARE BATTISTI: NENHUMA DIFERENÇA! 1. Que autoridade tem o governo brasileiro, Lula, Tarso Genro e o PT para condenarem o brutal atentado a um grupo de eleitores com deputada em Tucson, Arizona, nos Estados Unidos? 2. Jared Loughner é um terrorista de ultradireita que matou 6 pessoas e feriu outras 13, dentre as quais a deputada democrata Gabrielle Giffords, que se encontra entre a vida e a morte. Esse atentado é tipicamente terrorista, contra alvos que pensam de forma diferente dele. Um radical assassino. Preso, será condenado à prisão perpétua. 3. Cesare Battisti é um terrorista de ultraesquerda. Sua organização terrorista se chama PAC -Proletários ARMADOS pelo Comunismo. Responsável pelo assassinato de pelo menos 6 pessoas, foi condenado à prisão perpétua. Fugiu e veio para o abrigo do PT no Brasil. 4. Coincidentemente, o número de assassinatos de Jared Loughner e Cesare Battisti é o mesmo: seis. 5. Que autoridade terá o governo brasileiro para condenar um terrorista de direita, assassino, se dá proteção a um terrorista de esquerda, assassino, ambos autores de 6 homicídios? Pesquisa e Edição: JCM do Ex-Blog do Cesar Maia

Matthew Cullinan Hoffman

09/01/2011
Nova presidenta ?pró-vida? do Brasil escolhe ministra pró-aborto Matthew Cullinan Hoffman SÃO PAULO, Brasil, 7 de janeiro de 2011 (Notícias Pró-Família) ? Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil, ganhou a eleição presidencial da nação em novembro do ano passado depois de assegurar aos eleitores céticos que ela é pró-vida, apesar de seu histórico de apoio à legalização do aborto. Contudo, a ministra para Políticas das Mulheres, a qual ela nomeou recentemente, tem um ponto de vista diferente. Iriny Lopes Iriny Lopes, que no passado atuou como deputada na Câmara dos Deputados do Brasil, recentemente disse para um jornalista brasileiro que ?Não vejo como obrigar alguém a ter um filho que ela não se sente em condições de ter?. ?Ninguém defende o aborto?, acrescentou ela. Estamos falando sobre ?respeitar uma decisão que, individualmente, a mulher venha a tomar?. Embora Lopes tenha reconhecido que a presidenta Rousseff tinha prometido não iniciar nenhuma legislação pró-aborto, ela acrescentou que ?cabe ao Congresso definir políticas públicas?, dando a entender que tal legislação poderia no final das contas ser aceita pelo governo de Dilma.. Depois de observar seus números nas pesquisas públicas caírem devido às suas posições pró-aborto e pró-homossexualismo durante a eleição presidencial, Rousseff disse para os eleitores: ?No meu projeto sou favorável à valorização da vida, e eu pessoalmente sou contra o aborto, que é uma violência contra a mulher?. Ela também anunciou um compromisso público de não iniciar nenhuma legislação pró-aborto, nem legislação que restringiria a liberdade de expressão em relação às questões homossexuais. Contudo, organizações pró-vida e pró-família receberam as declarações de Rousseff com ceticismo. Ela havia no passado apoiado a descriminalização do aborto em termos explícitos, e o Partido dos Trabalhadores, do qual ela é membro, tem lutado vigorosamente pela mesma causa. O compromisso de Rousseff de não iniciar legislação pró-aborto não a obrigava explicitamente a vetar tal legislação se for aprovada pelo Congresso Nacional.

Percival Puggina

09/01/2011
Escreve-me um leitor: Não é contraditório o senhor afirmar que o modelo institucional brasileiro concentra excessivos poderes nas mãos do presidente e, ao mesmo tempo, defender um sistema que atribui o governo à maioria parlamentar? O senhor não sabe que o parlamento britânico talvez só perca para o venezuelano em matéria de aprovação de projetos enviados pelo executivo, e que a quase totalidade das leis nele votadas são de iniciativa do governo de Sua Majestade? Sei. Sei sim. Claro que sei. Aliás, ainda que não soubesse, bastariam uns poucos neurônios para intuir. Nada mais natural, nos regimes que atribuem o governo à maioria parlamentar. Se é a maioria que governa, que sentido há em derrotar os projetos do governo? Aliás, quando isso acontece reiteradamente ou em matéria de grande relevo, o governo cai. Portanto, o meu leitor não encontrou um ninho de éguas. A coisa é assim mesmo, é natural, e o avesso seria tão impossível quanto absurdo. De resto, é absurdo, também, sugerir que a concentração de poder no sistema britânico seja superior a que se verifica no Brasil. Essa não! Estamos assistindo nestes dias o loteamento dos cargos entre os partidos que nos governam. Dezenas de milhares! São cargos de governo, são cargos em funções de Estado e são cargos na administração pública. E é aí que mora o problema. Nos regimes onde o governo é atribuição da maioria parlamentar não existe tal apropriação. O governante só nomeia os titulares dos cargos de governo. Sua caneta não chega aos escalões da administração e, menos ainda, do Estado. No Brasil, o partido que manda assume, também, com seus militantes, a máquina administrativa, onde há muito mais cargos do que no governo. E a administração, que deveria ser profissional, técnica e partidariamente isenta, vira aparelho partidário. Não bastasse tamanho abuso, muitas das tarefas de Estado, como agências reguladoras, parte do setor financeiro, instituições ligadas à segurança, entre outras, são, também, providas pela caneta presidencial. E como não é a maioria parlamentar que faz o governo, mas é o governo que tem que correr atrás da maioria parlamentar, instala-se o sistema de barganha, cooptação e corrupção que, pouco a pouco (o correto seria dizer muito a muito), vai avacalhando a política no país, institucionalizando mais e mais a corrupção e ampliando o gasto público com cargos criados para compor ativos que o governo disponibiliza no balcão das negociações. De nada serve reprovar o tipo de política que temos, a partir dos erros que todos vemos, e passar recibo para aquilo que lhe dá causa - esse modelinho podre que adotamos. Muitas vezes me perguntam como se faz para mudar isso se as mudanças dependem da decisão de poderes e partidos que se beneficiam das perversões institucionais descritas. Ora, as coisas não se mudam. Não se mudam por si mesmas. É preciso mudá-las. Numa democracia, o soberano é o povo e as coisas só mudarão quando o povo assumir a retificação das instituições como critério de voto. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Reinaldo Azevedo

04/01/2011
EDIR MACEDO NA FILA DOS DIGNITÁRIOS ESTRANGEIROS Reinaldo Azevedo Não havendo onde enfiar Edir Macedo e seus homens de preto, houveram por bem considerá-lo chefe de estado - além de ser uma autoridade, muito à sua maneira, ?eclesiástica?? Essa fila é organizada pelo Itamaraty, que nunca se engana nessas coisas. Macedo cochicha alguma coisa ao ouvido da presidente, que sorri. Um momento realmente lindo e doce da política, do jornalismo e até da diplomacia, que não mereceu o estranhamento dos meus colegas da imprensa. Parece que a missão de perguntar por que os jabutis estão em cima das árvores continua QUASE monopólio deste escriba. A fila de cumprimentos das autoridades e convidados brasileiros se deu depois da posse dos ministros. Ali estavam os governadores de Estado e outras autoridades. Macedo teve, pois, lugar de honra. Está acima dessa gentalha toda. Isso mostra bem a gratidão de Dilma - e de Lula - à Record e ao teor de chapa-branquismo do jornalismo praticado pela emissora. Em qualquer outro país democrático, algo assim seria inconcebível; se ocorresse, seria um escândalo. Por aqui, parece tão normal quanto declarar que hoje é terça-feira.

Percival Puggina

03/01/2011
Tenho um amigo muito antipetista. Já reparaste que o Fernando Henrique só errava quando dava bola para o que o PT dizia? E que o Lula só acerta quando vai contra o PT?, costuma ele afirmar com um ar de quem, de tanto ver o mesmo filme, já boceja apenas por ouvir o nome dos atores. Meu amigo está convencido de que a oposição brasileira, para voltar ao poder, precisa parar de fazer o que está fazendo (se é que está fazendo alguma coisa) e começar a estudar o PT. Crês que a oposição vai derrotar o PT com discurso moralista? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!, diz ele. O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando o sistema ou um dindinho militante para dar ao bebê um carrinho equipado com bandeira vermelha. No fundo, é isso mesmo. A coisa começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio, quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, do politicamente correto (e do democraticamente incorreto), do Cpers, da relativização da verdade e do bem, da tolerância com tudo que está errado e da intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o bolinha que manda é companheiro. Quando eu estava meditando sobre essa lista, meu amigo perguntou: Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?, ao que eu esclareci - De trabalhadores, claro. Mas ele me advertiu que também as organizações patronais vêm sendo aparelhadas desde que o partido assumiu o controle do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou ele: Por motivações opostas. Certa feita, quando o governo Lula se recusou a receber as rodovias pedagiadas do Rio Grande do Sul, ele me olhou com aquele ar de aí tem coisa e sentenciou: Se o Tarso vencer, essas estradas vão para a União em estojo de veludo e serão recebidas com pompa e circunstância. Eu o chamei de paranóico e me recusei a continuar a conversa. Imagina! Só tu para afirmar um absurdo desses. Quem viver, verá! exclamou. Pois não é que ele tinha razão? Logo, logo, o pepino sairá das mãos do governador Tarso e irá para o colo da presidente Dilma. Mudaram as condições políticas é a frase com que o PT explica tamanha contradição. Mas voltemos ao meu amigo. Diz-me ele: Ninguém pode acusar o PT de fazer oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, ele cuida de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio e supercílio. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, passa a cobrar o quê de seus opositores? Colaboração, e fidalguias. Talquinho e perfume. E até essa oposição esgualepada, esmilinguida, que aí está, passa a ser radical, insuportável e impertinente. Quem viver, verá. ZERO HORA, 02/01/2011

Percival Puggina

31/12/2010
Acabou! Não há bem que sempre dure (na perspectiva dos 87% que gostaram), nem mal que não acabe (segundo a ótica dos 13% descontentes). Faço parte do pequeno grupo que não se deixa seduzir por conversa fiada, publicidade enganosa e não sente atração pelos salões e cofres do poder. Lula chega ao fim de seu mandato em meio a um paradoxo que cobra explicações: a política e os que a ela se dedicam despencaram na confiança popular para um índice de rejeição de 92%! Ora, como entender que os políticos valham tão pouco perante a opinião pública enquanto o grande senhor, o chefe, o mandante, o comandante da política, surfa nas ondas de uma popularidade messiânica? Ouço miados nessa tuba. Como pode? Quanto mais crescia a popularidade do presidente mais decrescia o prestígio da política! E ele nada tem a ver? Chefiou durante quase uma década o Estado, o governo, a administração, uma fornida maioria parlamentar, o numeroso bloco de partidos integrantes de sua base de apoio, nomeou 8 dos 11 ministros do STF, estendeu seu braço protetor sobre as piores figuras da cena nacional e é a virgem do lupanar? Eu aprecio os governantes realistas. Sei que o realismo se inclui entre as características de todos os estadistas. Seja como homem do governo, seja como chefe de Estado, o estadista lida com os fatos. Ideais elevados e pés no chão. Causas e consequências, problemas e soluções. Realismo. Isso me agrada. Mas há um realismo cínico, desprovido de caráter, que desconhece limites éticos, que se abraça com o demônio se ele puder ser útil. A história está cheia de líderes assim e apenas os olfatos mais sensíveis parecem capazes de perceber o cheiro de enxofre que exalam. Há uma relação de causa e efeito entre a degradação da política brasileira e a ação do presidente Lula. Ele a deteriorou e comprometeu a democracia através do aparelhamento de tudo, da cooptação, da compra de votos com favores, do fracionamento e da descaracterização dos partidos. Assim como atuam os desmanches de automóveis, assim operou a política presidencial com os pedaços dos partidos nacionais, comprados das fontes mais suspeitas e pelos piores meios. Quer dizer, senhores e senhoras arrebatados pela retórica lulista, que a democracia perdeu importância e pode ser uma coisa qualquer, apoiada por qualquer arremedo de política? Não se exige mais, de quem governa, um padrão mínimo de dignidade? De coerência e respeito? Não! Pelo jeito, basta encher o bolso dos ricos e distribuir esmolas aos pobres para que surja um novo São Francisco em Garanhuns. Ah, Puggina! Mas com ele a economia cresceu, o número de miseráveis diminuiu e se realizaram obras importantes. Vá que seja. Mas convenhamos: era preciso muita incompetência para que a economia ficasse travada em meio a um ciclo mundial extremamente favorável. Pergunto: não estavam diligentemente postas pelos antecessores as condições (privatizações, estabilidade monetária e jurídica, integração ao comércio mundial, credibilidade externa, responsabilidade fiscal e estímulo ao agronegócio)? Estavam, sim. Faltava o que Lula teve a partir de 2005: dinheiro jorrando, comprador e investidor, no mercado internacional. E ainda assim, entre 2002 e 2009, o crescimento do PIB per capita do Brasil teve um desempenho medíocre comparado com outros emergentes e, mesmo, com a maior parte dos países da América Latina. O Partido dos Trabalhadores se construiu mediante três estratégias convergentes. Primeiro, a rigorosa adoção da cartilha gramsciana, assenhoreando-se dos meios de formação da cultura nacional, sem esquecer-se de qualquer deles - igrejas, sindicatos, movimentos sociais, universidades, meios de comunicação, material didático, música popular. Segundo, combatendo tudo, mas tudo mesmo, que os governos anteriores buscavam implementar como condição para que o país retomasse o crescimento: Plano Real, abertura da economia, privatizações, cumprimento de contratos, pagamento da dívida, responsabilidade fiscal, busca de superávits, agronegócio e Proer. Tudo era denunciado como maligno, perverso, antinacional, corrupto. Terceiro, destruindo de modo sistemático a imagem de quem se interpusesse no seu caminho para o poder, até restar, do imaginário de muitos, como a grande reserva moral da pátria. Dois anos no poder bastaram para que os véus do templo se rasgassem de alto abaixo e os muitos petistas bem intencionados arrancassem os cabelos num maremoto de escândalos. Somente alguém totalmente irresponsável ou com desmedida ganância pelo poder haveria de desejar para a nação um governo social e economicamente desastroso. Não é e nunca foi meu caso. Não escrevo estas linhas para desconsiderar o que andou bem no governo do presidente Lula. Mas não posso deixar de expor o que vi - e como vi! - de sórdido e prejudicial em seu modo de fazer política. Para concluir, temperando os exageros de uma publicidade que custou ao país, na média dos últimos três anos, R$ 900 milhões por ano, considero sensata a observação a seguir. Quando Lula assumiu, em 2003, os principais problemas do Brasil situavam-se nas áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública. Passados oito anos, haverá quem tenha coragem de afirmar que não persistem os problemas da Educação e que não se agravaram os da Saúde e da Segurança Pública? Haverá 87% de brasileiros dispostos a se declarar satisfeitos com a situação nacional nesses três pilares de uma vida social digna? ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

28/12/2010
MEMORIAL LULA 2014 (Políbio Braga) Entre as bobagens que Lula disse hoje, em café com os jornalistas chapa branca que cobrem o Planalto, é que pretende trabalhar na construção de um memorial que permita a todas as pessoas fazerem uma análise própria do que representaram seus oito anos de governo. Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado.Este imbecil é de uma pobreza de espírito sem precedentes. Primeiro, registra em cartório um monte de informações falsas sobre o seu governo. Agora informa que vai continuar trabalhando para alimentar o próprio mito. Lula não desiste de querer reescrever a história, naquela ânsia de tentar provar, por exemplo, que o mensalão não existiu, que a dívida pública não explodiu, que a média de investimentos do seu período foi tão pequena quanto a de FHC, entre tantas outros fatos. O que Lula entende por memorial é material para a campanha eleitoral de 2014, por mais que ele diga que a sua candidata será Dilma, a não ser caso ela não querer ser. Como se o criador não fosse cobrar a fatura da criatura. No memorialdo Lula, o olhar é para o futuro e não para o passado. Como ele mesmo disse: eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado. Começou a fazer no dia em que escolheu a mamulenga como sucessora.