Percival Puggina

19/10/2023

 

Percival Puggina        

         Quanto mais amplo for nosso vocabulário, mais longe irão nossa imaginação, nossa compreensão e nossa expressão. E vice-versa, palavras poucas, ideias poucas. Palavras são matéria-prima da Política, do Direito, da Justiça, da Filosofia, da Fé e de tantas ciências. E da Literatura, e da Poesia, e do Amor.

Dois exemplos recentes me fazem escrever sobre  a importância da luta pelas palavras. Fato 1: O leitor certamente observou o empenho com que o presidente Lula e a esquerda – brasileira e mundial – trataram de driblar por todos os modos a inclusão do vocábulo “terrorismo” e seus derivados nas referências ao grupo terrorista Hamas,  conhecido parceiro de tantos. Ficou visível a luta pela palavra. Fato 2: Em evento de que participei, um orador incluiu entre seus bons objetivos o de contribuir para  a construção de uma “sociedade igualitária”. Ora, sociedade igualitária é o paraíso prometido pelos adversários políticos do orador, mas ele e tantos outros o referem sem se darem conta. Comunistas prometem sociedades igualitárias embora proporcionem inevitávelmente sua consequência natural: miséria generalizada. As desigualdades entre os indivíduos só não afloram sob pressão e opressão de regimes totalitários. No entanto, a palavra adoça a pílula com o veneno que contém e submete até quem o conhece.

A esquerda possui total domínio desse instrumento de dominação cultural. Em 2005, Nilmário Miranda, Secretário de Direitos Humanos do governo Lula I, divulgou a minuta de uma “Cartilha do Politicamente Correto”, com um glossário de 96 palavras reprováveis, avaliadas como politicamente incorretas, por criarem constrangimentos.

O documento causou generalizadas manifestações que iam da ironia à indignação. À exceção da Folha de São Paulo, nenhum jornal o apoiou. O PT disse que o assunto tinha que ser melhor avaliado. Lula I, indignado, mandou recolher a cartilha. O sempre brilhante João Ubaldo Ribeiro disparou um libelo cuja íntegra pode ser lida aqui. Nele, entre outras coisas, diz:

“É estarrecedor. Estamos ingressando numa era totalitária, em que o governo dá o primeiro passo para instituir uma nova língua e baixar normas sobre as palavras que devemos usar? Será proibido em breve o uso de palavrões na língua falada no Brasil? Serão eliminadas dos dicionários vocábulos e expressões não consideradas apropriadas pelo Governo? Palavras veneráveis da língua, como “beata”, em qualquer sentido, deverão ser banidas? Será criada uma polícia da linguagem? Os brasileiros serão proibidos por lei de discutir vigorosamente e xingar os interlocutores?”.

Dezoito anos depois, temos que lutar pela vida das palavras, de seus significados e liberdade como lutamos por outras formas de vida. O politicamente correto foi mais uma poderosa arma de guerra cultural, importada e traduzida para o português e, sim, João Ubaldo Ribeiro tinha razão, ingressamos numa era totalitária. Ela é tão sutil que muitos não percebem sua liberdade esvair-se enquanto o exército malandro da guerra cultural vai avançando e apertando os grilhões.

Nós, porém, nos empenhamos em preservar a vida que resta. Por isso, tantas vezes nos percebo como corpo clínico de hospital de campanha numa guerra pela liberdade e pela cultura ocidental.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

18/10/2023

 

Percival Puggina

         Há muitos anos, o Rotary Clube da bela e próspera cidade serrana de Flores da Cunha decidiu dedicar uma semana do ano para valorizar a Ética nas relações sociais, políticas e econômicas. No evento deste ano, fui convidado a proferir palestra no Espaço Cultural São José. Escolhi o tema que dá título a este artigo.

Ninguém divergirá quando digo: quem dera houvessem Semanas da Ética na ONU, em Nova York, em Paris, em Londres, em Davos, em Brasília e por aí afora! É fácil antever e penoso conhecer o desastre que sobrevém quando a Ética se torna objeto de desprezo!  

Centrei a exposição na notável reciprocidade da relação entre Ética e Liberdade. Não há Ética sem Liberdade nem esta sem aquela! A Ética pressupõe que as escolhas individuais transcorram num ambiente de Liberdade e o exercício da Liberdade resulta impossível onde não existam impedimentos éticos. Talvez esta seja a principal razão pela qual não se deve fazer concessões à supressão da Liberdade em qualquer de suas manifestações, observados os limites impostos pela Moral que inspire leis sábias.

Contra todo o relativismo moral e o autoritarismo estatista, há uma Lei impressa na natureza do ser humano.  É dela que fala a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) quando afirma tão nobres princípios de Direito Natural:

“Nós consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, que foram dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes se encontram a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”

Dos direitos inalienáveis, decorrem as normas morais formuladas nos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, hoje subscritas por 193 países em eloquente demonstração da natural universalidade desses preceitos.      

Contudo, não podemos esquecer que a Ética não se satisfaz com a liberdade do laissez faire. A Ética é uma ciência especulativa que busca o conhecimento do Bem e a natureza humana, sendo no vínculo das ações humanas com o Bem que a Ética encontra sua expressão. Obviamente, ela não acompanhará ações orientadas para o Mal.

Olhando para nós mesmos, percebo que somos dotados de inteligência para conhecer o Bem, de Liberdade para escolher o Bem e de vontade para resistir o que nos afasta do Bem ou nos atrai para o Mal. E isso me parece tornar evidente que a Ética só é possível numa sociedade de pessoas livres. Ética e liberdade, feitas uma para a outra.   

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

16/10/2023

 

Percival Puggina

      

         Confesso a vocês que nunca ouvi, nem li, nem assisti sob a égide da nova constituição, ações sistêmicas como as destes dias, dos quais se diz estarmos vivendo a vitória eleitoral do amor.

Há uma uniformidade, um equilíbrio de cadências entre os textos e opiniões do jornalismo militante e os de seus companheiros nas redes sociais. Os primeiros escrevem menos pior do que os segundos, não usam palavras de calão e essa é a única diferença. Em todos, porém, se percebe o mesmo ódio à divergência, à oposição política, à conservadores, a liberais, a religiosos, a patriotas, a pró vidas, a direitistas (categoria inexistente porque são sempre descritos como integrantes da extrema-direita). Assim também na voz e nos atos do governo.

As engrenagens da máquina estatal, rangem, ferro contra ferro, promovendo vinganças e punindo de modo exacerbado. Autoridades investidas de poder de Estado sequer percebem mais o ódio que exalam no falar. E como falam! E quanto falam! Os fundamentos da esperança de um povo que viu o exercício de sua liberdade ser objeto de ameaça e duríssimas punições são objeto de orgânica destruição. A Lava Jato – combatida, revertida, invectivada, desmontada, destruída – faz lembrar essas ruínas de bombardeio que nos são servidas na tela da TV. Nenhum mérito pode ser resgatado dos escombros enquanto os ladrões são apresentados como heróis e os heróis como ladrões.

Mas o amor, dizem, venceu o ódio.

Neste momento, recebem duas lições da História. Numa, veem com os próprios olhos o que é terrorismo, palavra que não pode ser vulgarizada como foi após a “vitória do amor”, em discursos políticos rasteiros e oportunismos retóricos. Noutra, os mesmos – não são todos (mas são tantos!) – apoiam as ações e/ou motivações do Hamas, enquanto aqui tentam impor o desarmamento da população civil, esquecendo os eloquentes conselhos em sentido oposto que nos vem do Oriente.

Eu posso abrir mão do direito de me defender; mas não posso abrir mão do dever de defender minha família. E esse não é um amor de cabaré que a ninguém convence, mas é amor de verdade!

Para encerrar estas considerações sobre a vitória do amor, trago palavras proferidas pelo ministro Gilmar Mendes, em Paris, num fórum promovido pelo Grupo Esfera Brasil dias 13 e 14 deste mês.

Disse ele, referindo-se aos episódios de 8 de janeiro:

Poderíamos estar “contando uma história de derrocada, mas estamos contando história de vitória do Judiciário e do TSE (aqui).

Disse mais:

“Muitos dos personagens que hoje estão aqui, de todos os quadrantes políticos, só estão porque o Supremo enfrentou a Lava Jato. Eles não estariam aqui. Inclusive o presidente da República, por isso é preciso compreender o papel que o Tribunal desempenhou” (aqui).

Disse ainda:

"Se a política voltou a ter autonomia, gostaria que se fizesse justiça, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Se hoje tivemos a eleição do presidente Lula, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Vamos travar a luta contra o poder absoluto, mas também a luta contra o esquecimento. Se a política deixou de ser judicializada e criminalizada, isso se deve ao Supremo Tribunal Federal" (aqui).

A parte dessa fala com a qual eu concordo, sempre reconheci, mas não poderia ser dita. Agora, até o ministro decano do STF proclama com o orgulho e a temperança que lhe são habituais.

O amor é lindo!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

14/10/2023

 

Percival Puggina

       

        Esquerdistas festejaram. “O amor venceu!”, afirmavam, porque o retorno de Lula ao Palácio do Planalto representaria a consagração de um generoso projeto político. Afinal, o PT voltava lavado, enxugado, passado (passado apagado, quero dizer), ficha limpa para realizar o sonho de seus “pais fundadores”. As portas se abriam às delícias de uma sociedade igualitária, paraíso terrestre de que o esquerdismo fala nas salas de aula, nas redações e nos microfones, nos púlpitos, nos palanques, nas tribunas e nos tribunais. Bons parceiros para isso não faltam no Foro de São Paulo.

Com meus duvidosos botões pensei ser bem mais simples começar a experiência nos próprios “coletivos” em que se agrupam os militantes dessa ideologia. Ou seja, comecem com o exemplo de suas lideranças. Por certo, algo nesse sentido emergiria das três dezenas de comissões de transição instaladas após o pleito do ano passado. Naquela mescla de figurões e figurinhas, mais de mil pessoas – lembram? – transitaram junto com a transição até a posse de Lula. Raramente se viu tão prolongado desapego aos próprios interesses e ocupações para servir à causa de uma sociedade igualitária.

Por ela lutavam os integrantes do Movimento dos Sem Pasta. Eram tantos e tão valiosos os servos da Pátria que foi necessário aumentar em 65% o número de pastas ministeriais fazendo-as saltar de 23 para 38. O serviço total a ser executado pela União permanece o mesmo. O governo está, apenas, proporcionando à sociedade um exemplo inspirado na partilha cristã: dar ministérios e diretorias a quem não tem. Você é que não entendeu o espírito da coisa.

Michel Temer, entre realizações boas e indicações terríveis, conseguira aprovar a Lei das Estatais fechando a porta das empresas federais às indicações políticas e exigindo provas específicas de competência, experiência e desvinculação dos comandos partidários. Bastou isso para que, nos anos subsequentes, as empresas do Estado deixassem de contabilizar prejuízos, acabasse a corrupção e surgisse essa coisa chamada lucro que o esquerdismo considera moralmente desprezível.

O “espírito da coisa” exigia haver partilha, mas como promovê-la, sem o comando das estatais? Era imperioso estar dentro e, para entrar, impunha-se revogar as exigências da Lei das Estatais, tarefa da qual a nova legislatura não queria nem ouvir falar. Levado em mãos pelo PCdoB, o recurso ao Supremo (ADI 7331) bateu na mesa do ministro Lewandowski e voltou atendido. Os cargos e penosos encargos podiam ser, novamente, confiados aos companheiros.

No mesmo momento, o espírito da coisa foi embora pela chaminé. Hoje, há ministros do governo com remunerações catapultadas para 70 e até 80 mil reais mensais. Para os dirigentes das estatais, o infinito fica ao alcance da mão.

E a sociedade igualitária? E a vida modesta de que tanto falava Lula? E a “partilha”? É com o dinheiro dos outros que ela se faz? Para o bem da “partilha”, os companheiros têm que viver com mais e todos outros com menos? Entendi.

“A hipocrisia é o movimento de poder definitivo. É uma forma de demonstrar que se segue um conjunto de regras diferentes daquelas atendidas pelas pessoas comuns.” (Michael Schellenberger)

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

12/10/2023

 

Percival Puggina

 

        Nos grandes meios de comunicação, as primeiras notícias entregaram as parcerias. Quando começou o bombardeio de cidades israelitas pelo Hamas, a quase totalidade dos grandes veículos apresentou a organização como braço justiceiro e combatente da oprimida população palestina. Não foi de outra natureza a atitude inicial do governo brasileiro.

No dia seguinte, estavam todos flagrados e moralmente expostos pela profusão de imagens que retratavam a violência em suas mais monstruosas e pervertidas formas. Então, e só então, trataram de expressar uma condolência sobre cuja sinceridade muito juízo pode ser emitido.

O fato que me leva a escrever volta-se à realidade brasileira. O Brasil é um país relevante na geopolítica mundial para qualquer nação ou comunidade de nações, corporações ou organizações que se queiram protagonistas. Sua população, extensão territorial, fronteiras e riquezas naturais lhe asseguram essa projeção nos planos globais. Ninguém se surpreende quando a rota do tráfico passa por aqui, nem quando surgem menções a influências externas nos pleitos nacionais. Também o Brasil acompanha as disputas políticas em sua própria vizinhança.

A questão que se coloca é saber com que atenção o governo brasileiro supervisiona a possível presença de grupos terroristas em nosso território. Esse governo faz isso? Todos nós sabemos como essa banda toca, de quem se aproxima e de quem se afasta.

É bom não esquecer que Lula disputou a eleição de 2022 em privilegiadíssimas condições. Era vedado mencionar sua biografia, extrair consequências de seu passado, referir suas relações nacionais e internacionais. No entanto, recentemente, em 29 de junho, falando ao seleto esquerdismo do Foro de São Paulo, Lula presidente afirmou de viva voz convicções que, por desfavoráveis a Lula candidato, não podiam ser referidas na campanha eleitoral (!): “Aqui, no Brasil, enfrentamos o discurso do costume, da família e do patriotismo. Ou seja, enfrentamos o discurso que a gente aprendeu a historicamente combater”.

O Lula saído aquele pleito terá as amizades de sempre, andará nas más companhias de sempre e fará as piores opções políticas. Não surpreende, portanto, que esses amigos abusem e desmoralizem a palavra “terrorismo” para fins retóricos e discursos de tribuna. Brincaram com coisa séria!

Agora, tratem de se desculpar os imprudentes e cuidem desses perigos com a gravidade que merecem e os olhos veem.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

11/10/2023

 

Percival Puggina

 

         Em 1983 fiz algumas viagens de trabalho ao Equador. Casualmente, estava em curso uma campanha eleitoral presidencial e um dos candidatos – o conservador/liberal León Febres-Cordero, do Partido Social Cristão – atraiu minha atenção.

Era um tipo comunicativo, enérgico, autoconfiante e seu slogan refletia isso: “Con León si se puede!” (Com León sim, é possível). Duas décadas mais tarde, mensagem semelhante reapareceu na campanha de Obama com seu “Yes, we can” (Sim, nós podemos). 

Recordo de uma entrevista em que alguém perguntou a León se, eleito, iria reproduzir as habituais concessões que os governantes fazem aos partidos e suas lideranças, recuando em temas fundamentais para o eleitorado. O candidato traduziu a pergunta para sua linguagem de campanha dizendo: “Lo que me preguntas es si me voy a bajar los pantalones. (O que me perguntas é se vou baixar as calças). La respuesta es No!”

Ah, meu amigo leitor! Muito abuso, muito excesso, muitos danos não seriam causados à sociedade se essa afirmação fosse feita com maior frequência entre nós. Tome por exemplo o voto em urnas com impressoras. Estou convicto de que se o parlamento não tivesse mudado de posição sob pressão do TSE, o ambiente político ao longo no ano e meio seguintes até a eleição e no período pós eleitoral teria sido muito mais tranquilo. O dia 8 de janeiro teria sido apenas um domingo a mais no calendário de verão. Mas, como diria León, “se bajaran los pantalones” ...

Esta é uma visão masculina sobre muitos dos recentes episódios da vida política brasileira. Minha inconformidade é genuína e desinteressada. Sou um indignado com as perdas consentidas e com a violência institucional contra a liberdade dos cidadãos – males impostos a todos porque tantos de nossos representantes vêm desonrando seus mandatos e as calças que usam.

Já não falo no autosserviço com os recursos públicos, nem nas tantas excelências que desprotegem a sociedade enquanto dela se encaramujam, nem nos que com a vara da cobiça saltaram olimpicamente o muro dos compromissos eleitorais do ano passado e trocaram de lado. A cada movimento desses “se bajan los pantalones”! As exceções – raras, contadas, conhecidas, brilhantes – têm sido focos de luz sobre fundilhos expostos.

Em nome e razão de todas as frustrações e padecimentos dos últimos meses é impossível não celebrar o fio de esperança que começa a se tornar visível nos recentes movimentos de resistência. Por diferentes motivos, inclusive alguns bons motivos, eles se manifestam dentro do Congresso Nacional para reafirmar o Legislativo como legítima e constitucional representação da soberania popular.

Segurança, equilíbrio e estabilidade não virão de um governo com sede de vingança, nem de um STF avesso à divergência atravessando a pauta política. Virão, isto sim, de um Congresso com testosterona, sensível ao clamor nacional, assumindo e resguardando suas competências, coibindo abusos e excessos próprios e dos outros poderes.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

 

        

 

        

Percival Puggina

09/10/2023

 

Percival Puggina

 

         Em reportagem que produziu sobre a dança supostamente erótica do “Batcu” em evento do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, o jornal Metrópoles informou a seus leitores que “a apresentação foi usada pela oposição para atacar o governo nas redes sociais”.

Como essa oposição é maldosa! Quanta má vontade em relação à brilhante elite cultural, técnica e política do governo de Suas Altezas Voadoras Lula e Janja! Imagine, leitor, alguém ter a coragem de atacar o governo por algo tão insignificante...

Pois esse foi exatamente um dos dois pontos que me vieram à mente quando assisti ao vídeo da apresentação. É na reiteração de episódios assim e em sua banalização que transcorre boa parte do empenho em transformar a nação em algo como beco de zona de prostituição. O diretor demitido pela ministra que se disse surpresa pelo episódio é uma circunstancial vítima que tomba como soldado da mesma guerra cultural em que se empenha e combate o petismo que nos governa.

Exagero meu? Pois foi a esse combate que Lula se referiu quando, na solenidade de abertura do 26º Foro de São Paulo (29/06/2023), disse: “Aqui, no Brasil, enfrentamos o discurso do costume, da família e do patriotismo. Ou seja, enfrentamos o discurso que a gente aprendeu a historicamente combater”.  Como toda guerra, a cultural tem inúmeras frentes e nem todas são harmônicas entre si, mas todas convergem ao mesmo fim. A ministra pode divergir porque discorda do show, mas pode, também, ter divergido em virtude do que me veio à mente quando assisti ao vídeo, ou seja, em virtude daquele segundo ponto a que me referi no parágrafo anterior.

Se o primeiro ponto é negativo, o segundo é positivo. A reação da imensa maioria das pessoas que tomou conhecimento do episódio foi de reprovação, indignação e repulsa. E isso é bom porque a revolução cultural tem produzido vitórias mundo afora, mas ainda não venceu aqui no Brasil.

A nação não foi e não irá para o beco. Com a Primeira Missa celebrada nas areias de Porto Seguro, o Brasil tomou lado na civilização ocidental e seus fundamentos filosóficos, jurídicos e religiosos aprendidos, respectivamente, da Grécia, de Roma, do judaísmo e do cristianismo. Eles ainda são sólidos e, por eles, vale perseverar na resistência.

Essa esquerda, por ora politicamente hegemônica entre nós, que apoia o Hamas, que quer trazer o Irã para o BRIC, que celebra a democracia Venezuelana, que já ensopou com lágrimas de emoção os ombros dos irmãos Castro, que quer o aborto e se empenha em dividir a nação em bandos antagônicos, não prevalecerá. Os brasileiros não serão escravizados numa guerra cultural cujo objetivo precisa concretizar o impossível: tomar-nos a dignidade de seres criados à imagem e semelhança de Deus.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

08/10/2023

 

Percival Puggina

 

         Primeiro contei até 10, três vezes por dia durante dez dias como recomendaria minha avó se o caso fosse sério. Depois, busquei no Google, em detalhe, o que escreveram CNN, Globo e Poder 360. Em todos, a mesma informação: a ministra Rosa Weber, no discurso de despedida do STF, contou que o colega Alexandre de Moraes foi aplaudido pelos presos dos atos de 8 de janeiro recolhidos à Papuda e à Colmeia durante visita a esses institutos penais.

Confesso a vocês minha estupefação e me surpreende que tenham sido tão rarefeitas quanto vãs as tentativas de aprofundar essa informação. Fazer o quê? O jornalismo brasileiro anda assim. É um curioso jornalismo sem a mínima curiosidade em relação ao que saia fora de suas pré-fabricadas narrativas e adjetivos de laboratório.

Aplausos ao ministro Alexandre de Moraes já me haviam surpreendido anteriormente na cerimônia de diplomação de Lula, em auditório lotado pela elite petista. Ao chegar à mesa para dirigir os trabalhos, o então presidente do TSE foi mais aplaudido do que Lula! A ruidosa saudação proporcionada por um público em pé, prolongou-se por 50 segundos. Experimente bater palmas durante 50 segundos. Os aplausos para Lula, um pouco depois, pararam aos 44.  A diferença é pequena, sei, mas eu a presumo inédita.

Por mais que eu busque motivos para os aplausos dos presos ao ministro relator de seus processos, eu não os encontro no mundo dos fatos conhecidos. Aplaudir é um ato de concordância ou de emoção positiva. Estariam os presos concordando com o modo como foram arrebanhados? Expressavam gratidão pelo tratamento dispensado a eles e a seus advogados? Manifestavam sua felicidade com as recusas aos habeas corpus, os empregos perdidos e a separação de suas famílias?

É desnecessário falar com os réus para saber que responderiam negativamente a qualquer dessas perguntas se fosse possível formulá-las de viva voz, olho no olho. Não posso deixar de lado, porém, o fato material conforme narrado em público pela ministra então presidente do STF: réus do dia 8 de janeiro aplaudiram o ministro relator de seus processos. Por fim, não me sinto confortável para especular sobre a natureza do fato ou fatos que impulsionaram as mãos àquela expressão ruidosa de concordância ou admiração por ... sabe-se lá o quê. No entanto, isso eu posso dizer: algo grave aconteceu ali para converter em aplausos o antagonismo que seria normal esperar. Como se obtém tamanha magia e sedução? Pois é...

Durante meses, enquanto reprovava a conduta criminosa e estúpida dos vândalos, eu me condoía com a imensa maioria dos presos em seu injustificável encarceramento e reprovava o tratamento de rebanho que lhes era imposto e que se reproduz nos julgamentos virtuais sob a ira das cortes. Talvez este seja mais um dos tantos mistérios, penumbras e ruidosas exceções que acortinam a história destes últimos anos.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

05/10/2023

 

Percival Puggina

 

         A que nível de fanatismo se chegou no Brasil quando pessoas supostamente preparadas em ambiente acadêmico para o exercício do magistério não percebem quanto a linha de trabalho que adotam serve à opressão de seus alunos! Agradeçam o desastre educacional do país a Paulo Freire e seus seguidores.

Há poucos dias transcrevi matéria do Oxford Group informando, com dados da revista Acontece, na Flórida, que no último ano, aumentou em 47% a contratação de profissionais brasileiros por empresas brasileiras nos EUA e que cresceu em 23% o número dessas organizações que começou a contratar naquele país. Por quê? “Porque na Flórida não há leis trabalhistas, aviso prévio, contribuição sindical obrigatória ou voluntária, férias remuneradas, 13º salário, etc. Mesmo assim, os funcionários preferem trabalhar nos EUA, competindo por empregos com base em sua dedicação e competência, o que é a base única da meritocracia.”

Essas pessoas não foram capturadas pelo melodrama sociológico deseducativo imposto nas salas de aula. De algum modo, foram resgatadas da opressão. Seus professores lhes abriram o caminho para o desenvolvimento intelectual proveitoso a elas e à sociedade.

Nos parágrafos acima está evidenciada a realidade expressa no título deste artigo. O livro “A pedagogia do oprimido” e a influência freireana na Educação brasileira serve ao oposto daquilo que pretende! Em vez de libertar os miseráveis de sua miséria, a “pedagogia essencialmente política”, como ele a propõe, talvez capture revolucionários para a militância que deseja, submete-os aos ditames ideológicos, aponta-lhes seus “predadores”, bloqueia-lhes o conhecimento, estreita-lhes as mentes, calcifica suas circunstâncias e realidades individuais e coletivas.

Em síntese, esse não tem como ser e não é, na prática, o caminho libertador que se pode honestamente desejar a jovens submetidos à situação de penúria material e intelectual. Ministrada mediante conceitos rasos, essa visão de pessoa humana, de sociedade, de Estado, de Política, de Economia, de História – essa ideologia, enfim – só vai aprofundar os desníveis entre “oprimidos” preservados como tal nas salas de aula e os demais estudantes. Estes, porque libertos para o desenvolvimento de seus talentos e potencialidades, vão atrás da liberdade tolhida pela crescente institucionalização das ideias comunistas, socialistas, coletivistas e totalitárias. Em outras palavras, os maus resultados do aparelho educacional brasileiro já se evidenciam nas instituições, tanto nas condutas individuais e coletivas, quanto no que entregam à sociedade como produto de suas prerrogativas. Por isso, sistemas tiranos e economias fracassadas se tornam objeto de culto para que, ao fim e ao cabo, se instale a opressão sobre tudo e sobre todos.

Então, repito: não é por falta de aviso.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.