Percival Puggina

12/04/2024

 

Percival Puggina

       Duas perguntas. 1ª) Onde estão os jornalistas que você conhecia e respeitava por sua atuação inteligente, competente e independente nos principais órgãos de mídia do país? Expurgados de seus postos de trabalho – numa proporção que todos veem e pouco se comenta – migraram para as redes sociais e para as mídias digitais. 2ª) O que você acessa com maior frequência: jornal, rádio, TV ou fontes que já estão na memória de seu smartphone? Pois é.

As redes sociais democratizaram o direito de opinião e expuseram as narrativas fraudulentas da extrema-esquerda. Submetida a um contraditório para o qual não estava preparada, ela viu minguar seu apoio junto à opinião pública. Milhões de eleitores se descobriram liberais, conservadores, de direita.

Os antigos meios de comunicação sentiram a perda de influência e de receita. A mídia digital, para onde se mudou a maior parte dos grandes jornalistas, ganhou importante acréscimo de qualidade. Uma nova geração de jovens estudiosos e talentosos passou a ganhar bom dinheiro nessa atividade.

A revolução cultural, até surgir esse novo fenômeno, avançava sem encontrar resistência, contando com o aparelhamento das universidades, com a militância das redações, com as CEBs e pastorais dos teólogos da libertação e com a segregação de autores conservadores e liberais. Os revolucionários da cultura, em seu combate contra os fundamentos do Ocidente, sempre dispuseram de ativa e poderosa linha de frente formada pela multidão de seus censores. Sim, há muitos anos a censura sobre a divergência e o expurgo dos divergentes é instrumento cotidiano no meio cultural. O produto prático de seu trabalho e a razão de seu sucesso está em que milhões de pessoas foram compelidas a viver e formar suas opiniões sem acesso a qualquer conteúdo conservador ou liberal.

Vitimadas por essa censura cotidiana sobre autores e obras que não lhes era permitido conhecer, sucessivas gerações de alunos entraram e saíram das nossas universidades sem ouvir falar em João Camilo, Gustavo Corção, Mário Ferreira dos Santos, Oliveira Lima, Otto Maria Carpeaux, Nelson Rodrigues e tantos outros. O silencioso enterro de autores e suas obras é bem mais danoso que a crepitante fogueira de livros na praça. (Obs.: meu amigo Olavo de Carvalho era excessivamente notório para ser ocultado, mas era apedrejado.)

A extrema-esquerda é censora por natureza! Onde minoritária, usa a gritaria para impedir que seus adversários se manifestem. Onde majoritária, expulsa-os a gritos, xingamentos e corredores poloneses... Ou não? Coleciono centenas de depoimentos sobre a permanente reiteração dessas ações fascistas. Denomino Censura 1.0 o conjunto de tais práticas.

A Censura 2.0, turbinada, surgiu durante a pandemia, num modelo de teste, com controle exercido sobre as redes sociais e suas plataformas. Suprimir postagens, retirar perfis e/ou desmonetizá-los é um agravado misto de censura de conteúdo com censura prévia e simultânea penalização dos autores. O texto constitucional tornou-se uma anomalia. A novidade veio sob aplausos e intensa colaboração dos prejudicados pelo advento das novas tecnologias: partidos de extrema-esquerda e mídia tradicional.

A censura 3.0, de última geração, já está prometida e organizada para operar nos pleitos municipais de outubro. Para sua implementação, foi instalada, recentemente, a estrovenga tecnológica, policial e jurídica que atende pelo nome de Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia. É uma força tarefa para controlar redes sociais e serviços de mensagens como forma de “proteger a liberdade dos eleitores”. A grande vantagem de quem, prestativamente, se dispõe a tais serviços à nação é seu suposto convívio íntimo com a Verdade, assinalado por afagos no rosto e tapinhas nas costas. Acresça-se a isso o chamego com os fatos, causa do caráter impositivo do ponto de vista e da interpretação que os todo-poderosos lhes dão. Puxa vida! Comovente esse espírito de serviço à “democracia” e à “liberdade de escolha” do eleitor, entregando-lhe a verdade prontinha, tipo delivery, não é mesmo?

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

08/04/2024

 

Percival Puggina

         O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Por isso, os homens de grande poder, quase sempre são homens maus. (Lord Acton, in  Letter to Bishop Mandell Creighton, April 5, 1887)

Essa frase do conhecido historiador britânico que viveu no século XIX é mais conhecida do que ele mesmo. No entanto, em tempos de oligarquia, quando no elegante dizer de Ruy Barbosa se agigantam os poderes nas mãos dos maus, é importante mantê-la em nossa mente, soando seu alerta.

No Brasil onde vejo ladrões serem soltos e receberem de volta o produto de seu roubo, pessoas de bem serem presas e perderem seus direitos e sua liberdade, vejo também milhões de brasileiros de consciência rota, se divertirem com isso fazendo piadas e memes. Quanto tempo no sofá, assistindo à Globo, é necessário para obter esse desastre moral? Quanto tempo para um esquerdista achar que censura é coisa útil e boa, inerente ao regime democrático? Quanto tempo para nossas instituições terem de ouvir de um norte-americano, como Elon Musk, o quanto estão erradas? Por isso, repito: tudo que é podre, um dia cai no chão. Nosso trabalho como cidadãos é sacudir o galho que esteja ao alcance da mão.

No início dos anos 80 do século passado, diante do que víamos acontecer no país, nos reunimos num pequeno grupo de pessoas católicas para criar e ministrar cursos de Formação de Senso Crítico. O tema e o conteúdo se impunham. A sociedade se transformava e se moldava ao ditame dos grandes meios de comunicação, especialmente aos hábitos e condutas induzidas pela poderosa Rede Globo. As novelas comandavam os padrões de consumo, a moda, a linguagem e as rotinas sociais. O resultado podia ser medido em degradação, com afrouxamento dos laços familiares, instabilidade das relações parentais e esvaziamento da autoridade moral.

Os efeitos eram percebidos nas famílias, no embalo das madrugadas festivas, no abandono paterno, nas adolescentes grávidas, na zorra das salas de aula, no alcoolismo juvenil, na expansão do consumo de drogas, no abandono das práticas religiosas, no grande número de divórcios e nos consequentes desarranjos familiares. A lista já era grande.

A equipe do curso, ministrado em paróquias e escolas, tinha apenas cinco pessoas e a demanda ia muito além da nossa capacidade de atendimento. Ainda assim, conseguimos mantê-lo por alguns anos e só se extinguiu quando a atividade particular de seus membros os dispersou para destinos distantes da capital gaúcha.

A grande motivação para a missão que havíamos assumido era aquilo que, então, se chamava “crise dos valores”. Bastava usar a expressão para que todos entendessem a importância e a necessidade daquele conteúdo. Eu ministrava a palestra sobre Valores Morais, dos quais destacava cinco assuntos: Amor, Justiça, Liberdade, Respeito e Honestidade.

A juventude, desde sempre, é alvo prioritário dos inimigos do Bem e dos fraudadores da verdade, que se instruem e se preparam para avançar sobre ela. De nossa parte, cuidávamos de mostrar aos adultos aos quais falávamos que Valores, assim, com V maiúsculo, são bens que se planta e cultiva. Os principais semeadores são as famílias, as escolas e as igrejas.

Crianças, de modo especial, são verdadeiras esponjas de absorver e processar informação. Aprendem do que veem e sentem em palavras, imagens e exemplos, ações e omissões de pais, professores, religiosos, comunicadores.

Lembro que muitas vezes, os casais presentes naquelas palestras se entreolhavam, interrogando-se mutuamente, quando dizia que os pais são mestres, querendo ou não, por ação ou omissão. São mestres do amor ou do desamor, da verdade ou da mentira, da justiça ou da injustiça.

São reflexões que me vem de tempos antigos. Me faz feliz lembrar que, lá atrás, aquele pequeno grupo em Porto Alegre anteviu os primeiros sintomas do que iria eclodir nas décadas seguintes, transformando a crise de valores na guerra de uma civilização contra si mesma.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

Percival Puggina

03/04/2024

 

Percival Puggina

           Quantas horas no sofá assistindo à Globo são necessárias para levar um ser humano a esse estado de atrofia emocional?

         Minha esperança no Brasil perdeu alguns palmos de amplitude quando li no site do Senado que o placar da pesquisa on line sobre o projeto de anistia do senador Mourão contava 540 mil votos a favor e 532 mil contra. Meu Deus! O que tantos filhos teus têm na mente ou no coração que são capazes de achar de boa justiça sentenças de 14 a 17 anos de prisão para os capturados nos arrastões dos dias 8 e 9 de janeiro de 2023? Passou-lhes pela cabeça que aquelas pessoas – cuja imensa maioria estava pacificamente na praça manifestando opinião num ato de presença – têm família e têm direitos? Que efeitos daninhos produzem nas mentes essa política desajuizada e essa justiça politizada, que tomam para si tanto dinheiro e proteção? E note-se: são os mesmos cidadãos que, de repente, surgem cheios de amor para defender o desencarceramento de bandidos condenados por juízes com a cabeça no lugar!

Esses mesmos que aplaudem com as mãos as condenações em massa, prisões preventivas sem fim, sigilos e espalhafatos do STF afirmam, com a lógica dos cotovelos, que “no Brasil se prende demais”, exceto se os presos forem adversários, bolsonaristas “da direita” ... Como consequência, o Brasil, hoje, tem mais presos políticos do que Cuba. Do que Cuba! Devem achar que os companheiros do regime cubano amoleceram; contudo, “hay que endurecerse”, como receitou seu bem amado Che Guevara.

Não lhes ocorre clamar por penas mais graves quando um estuprador de vulnerável é condenado a somente 10 anos de prisão, dos quais apenas uns poucos serão cumpridos em regime fechado.

Ideologia maligna essa que protege criminosos e os reintroduz nas cenas dos crimes enquanto criticam a polícia, se dedicam a assassinar a reputação de gente de bem e combatem tudo cujo Valor se escreva com “V” maiúsculo.

Quantas horas no sofá assistindo à CNN são necessárias para levar um ser humano a esse estado de atrofia emocional?

Mesmo que lhe tenham tomado a esperança, caro leitor, lembre-se de que muitos se expõem para mantê-la viva. Fazem isso por eles mesmos, claro, e por você. Os acontecimentos são meus grandes motivadores. Sempre aprendi deles e neles nutro meu ânimo, aconteça o que acontecer.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

*      Sobre a pesquisa de opinião a respeito do projeto de anistia: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/160575

Percival Puggina

02/04/2024

 

Percival Puggina

       Em breve, o STF prosseguirá com mais uma das tantas tarefas que resolveu assumir, embora – por todas as razões da razão e do espírito da Constituição – sejam de competência do Congresso Nacional. Do alto de sua onipresença, onisciência e onipotência, o Supremo usará esses três poderes sobrenaturais, divinos, para o feito notável de definir quantos exatos gramas um maconheiro pode portar como limite máximo. Com o ar mais sério do mundo, os ministros ocuparão as cadeiras em torno da mesa e se ocuparão disso. Eu não sabia, mas há fumacinha na Constituição.

Os ministros dizem estar preocupados com a discricionariedade policial. No entanto, o que chamam de discricionariedade, eu chamo de experiência.  É experiência de quem está nas ruas e conhece as “bocas de fumo”. Mais do que a gramatura da apreensão interessa a ficha da pessoa abordada, o local da abordagem, o dinheiro que a pessoa tem consigo e sua atitude. A simples possibilidade de ser o usuário vitimado por um discernimento equivocado do policial que o aborde tem efeito inibidor no consumo. Dá argumento aos pais para orientar os filhos. Aliás, dispensada a experiência dos policiais, do ministério público, dos advogados e dos juízes diante dos casos concretos, toda a sociedade ficará exposta às consequências de uma decisão que o Congresso Nacional, sabiamente, não quis tomar e que a sociedade também rejeita por esclarecida maioria. No Brasil “progressista”, de fumaça e pó, a maioria é sempre a grande discriminada.

Em cinco ocasiões, o Legislativo se recusou a modificar o que está na lei: produzir, transportar, comercializar e consumir drogas é crime. Isso é lei de uma sociedade que entendeu o recado dos fatos a quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ver: se está ruim assim, qualquer ato que possa ser visto como permissivo ao consumo será muito pior para todos. Aumentará a demanda e multiplicará os males decorrentes.

Enquanto se aguardam os votos faltantes no plenário do STF, a nação que leva o país a sério olha sem esperança e ilusão para o Congresso Nacional que vive a expectativa de mais um momento de submissão. A PEC 45/23 estacionou na Ordem do Dia do Senado Federal.

A omissão do Legislativo naquilo que lhe compete e sua passividade perante excessos do STF ferem o espírito da Constituição. Você pode ler este artigo e crer que estou exagerando. No entanto, examine a realidade da América Latina. Faça isso como quem vê a realidade a uma distância que o desconecte de seus gostos e desgostos e das figuras de nossa cena política. Faça as observações que proponho como se estivesse embarcado numa estação espacial para observar as ditaduras de esquerda que existem em nosso continente.

Detenha-se, então, nas realidades de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Essas repúblicas, em acelerado empobrecimento, são unidas por um denominador comum: o Executivo nomeia e comanda o Judiciário. As ditaduras de Maduro e Ortega, que não são de partido único, como a cubana, valem-se do Judiciário para conter a oposição parlamentar e preservar tranquila a perpetuidade do grupo governante. As cortes inibem, coíbem e controlam a divergência nos parlamentos, caçam mandatos, impõem inelegibilidades e criminalizam quaisquer ações que representem risco à estabilidade do poder instalado. Impõem censura à comunicação social e instauram o crime de opinião.

Agora, dê uma olhada para o Brasil e responda a si mesmo: “Qualquer semelhança é mera coincidência?”.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

31/03/2024

 

Em certo momento do extraordinário discurso que proclamou aos discípulos na Última Ceia, Jesus disse:

“Eu vos falei tais coisas para terdes paz em mim. No mundo, tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo”.

Na Páscoa de 2024, cravo minha esperança nesse anúncio. Assim como Ele conheceu a morte, o sepulcro e a Ressureição, também nós, brasileiros, haveremos de superar as tribulações em que nos precipitaram estes tempos de corrupção da verdade, da beleza, das virtudes e da justiça.

Desejo a todos uma Páscoa da Ressureição muito confiante e feliz!

Percival Puggina

30/03/2024

 

Percival Puggina

       Recebi do movimento “Cuba Decide”, que faz oposição ao regime cubano, um comunicando sobre sua presença e manifestação perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. A líder do movimento e sua fundadora é a jovem Rosa María Payá, filha do herói e mártir cubano Oswaldo Payá, que tive a honra e o privilégio de conhecer pessoalmente e com ele jantar na sigilosa quietude de um pequeno restaurante de Havana em 2003.  

Naquela ocasião, cumprindo as instruções de meu convidado, enquanto o seguia à distância rumo ao ponto de encontro sob a fina garoa de uma noite escura, senti-me como se estivesse num filme de suspense sobre a Alemanha Oriental em tempos de guerra fria. Nove anos mais tarde, Payá morreu num suspeitíssimo acidente quando o carro em que viajava foi abalroado na estrada por um veículo oficial do governo e jogado contra uma árvore.

Em seu pronunciamento, Rosa María solicitou a expulsão do regime cubano daquele Conselho. O chefe da delegação reagiu ofendendo a conterrânea e a ONU Watch, organização que integra o órgão e lhe concedeu a palavra para se manifestar.

Além de denunciar as execuções extrajudiciais, como o assassinato de seu pai, ela apontou a existência de mais de mil cubanos vivendo na condição de presos políticos. Parte deles, em decorrência das manifestações pacíficas do dia 11 de julho de 2021.

Ao encerrar sua manifestação, a líder do movimento Cuba Decide apelou aos presentes:

“Instamos o Conselho a exigir que os líderes cubanos se submetam à vontade soberana dos cidadãos. Para tal, instamos a comunidade internacional a exigir que Cuba liberte os presos políticos, respeite todas as garantias eleitorais e os direitos humanos fundamentais e promova um plebiscito vinculativo para mudar o sistema e iniciar a transição para a democracia. É hora de ficar ao lado do povo cubano e expulsar deste Conselho a sua ditadura”.

Enquanto lia a conclamação da filha do estimado Oswaldo Payá, pensava no Brasil e me lembrava do sentimento que sempre me sobrevinha quando, compadecido daquele povo, embarcava para retornar ao Brasil. “Felizmente, volto ao meu país. Lá as coisas não são assim!” ...

Pois agora, também por aqui, as coisas são assim. Se somarmos todos os brasileiros efetivamente presos ou contidos por tornozeleiras, temos um número bem maior de presos políticos do que o encarniçado regime cubano... Convenhamos, é uma proeza e tanto.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

28/03/2024

 

Percival Puggina

         Ninguém me contou. Eu vi, na Globo e na CNN. Perdoem-me por não saber o nome das mocinhas, pois se esses dois canais precisassem da minha audiência já teriam mudado de ramo. Só digo que elas me passaram a mesma impressão causada por militantes esquerdistas de centros acadêmicos. O que importa é “a causa” e a correspondente “narrativa” para cada acontecimento.

Há cinco anos, um cadáver é manipulado pela esquerda, mudando de armário conforme as circunstâncias ocasionais da política. Bolsonaro tinha que estar envolvido na morte de Marielle ainda que ninguém saiba o motivo pelo qual ele estaria interessado a esse ponto na eliminação da vereadora. No entanto, todo o trabalho desses militantezinhos de centro acadêmico, seus sorrisos e insinuações foi conduzido para colocar seu cadáver no colo do ex-presidente.

A isso convinham as investigações lentas e os poucos avanços. Toda demora das investigações era tempo ganho para especulações e comentários maliciosos, sugestivos. Quando os assassinos foram identificados, abriu-se nova brecha. Como eram meros executores, pés de chinelo, tornou-se imperioso identificar mandante(s) para o crime. Com isso, a falsa malandragem das redações ganhou prorrogação de tempo para suas imposturas. Assim tem sido, ano após ano.

O jornalismo tradicional e respeitável foi substituído por isso que temos aí. De um lado, os militantes de centro acadêmico, acolhidos nas redações, não se importam com o descrédito de seu trabalho; de outro, as direções dessas empresas, porque se abastecem das agradecidas verbas oficiais, entraram na mesma “vibe” de seus meninos e meninas.

Agora, é a Polícia Federal que aponta os mandantes e ficou impossível não ver o desconforto causado pela identificação dos culpados. Coloque-se o leitor no lugar da moçada das redações. Qual a utilidade política dessa informação? Quem se importa com os irmãos Brazão? Vi a desolação estampada nos rostos frente à notícia que davam e comentavam.

Foi como se o cadáver da vereadora lhes caísse no colo. Fazer o quê com ele, agora?

As carpideiras de redação não mais pranteavam a morte de alguém, mas a facada desferida contra sua narrativa. Era impossível que Bolsonaro, sabidamente responsável por todos os pecados e malefícios ao sul do Equador, fosse inocente logo nesse caso. Era o que sugeriam com suas palavras e expressões fisionômicas.

Precisam desesperadamente alimentar a narrativa. Tornou-se indispensável arrumar um fio condutor qualquer que ligue os fatos a Bolsonaro, não importa quantos rolos de fio sejam necessários nem quão ridículo e emaranhado seja o caminho.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

26/03/2024

 

Percival Puggina

         Tive oportunidade de acompanhar de perto, a partir de 1986, o surgimento da primeira representação política parlamentar do PT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Desde os contatos iniciais, pude perceber que o novo partido apresentava três características marcantes: a) postura de agressiva desconfiança em relação a quem não fosse companheiro ou parceiro, b) desejo de ser visto como régua de supremacia moral que permitia aos seus tratar como eticamente inferiores todos os demais, c) desrespeito aos adversários, conduta grosseira e gratuita, entendida como inerente à “luta política”.

O que vi com meus próprios olhos e pude perceber em dezenas, se não centenas de debates em rádio e TV, levou-me muitas vezes a expor os interlocutores, desnudando as características antiéticas de seu comportamento. O que então era intelectualmente estimulante e divertido, o tempo cuidou de tornar assustador, fixando aquelas percepções iniciais numa moldura que diz muito sobre a política brasileira nos últimos 40 anos.

O querido e saudoso amigo Carlos Alberto Allgayer, com sabedoria vaticinava: “Ainda teremos que parar na Estação PT”. Era inevitável, de fato, a chegada ao poder das vestais do templo da estrela. Elas devolviam os jetons das convocações extraordinárias, entregavam ao partido boa parte de seus subsídios ou salários e sua carência material seria franciscana se não fosse arrogante.

A ascensão do petismo ao poder, nos municípios, nos Estados e no governo da União se fez mediante o rotineiro e persistente assassinato de reputações, expressão que deu título a um livro de Romeu Tuma Júnior. Antes da primeira eleição de Lula, por oito anos, o petismo se dedicou a destruir mediante sistemática pancadaria a imagem de quem o derrotou nas duas oportunidades anteriores. E nunca parou de fazer o mesmo com quem se pusesse no caminho.

A vida, porém, contou história diferente. O mensalão estourou aos dois anos do governo Lula I e a Lava Jato abriu suas válvulas dez anos mais tarde, durante o governo Dilma II, revelando a lama encoberta pelo longo e já surrado manto do poder.

Há, portanto, traços de comédia na denúncia do casal presidencial sobre o suposto roubo do mobiliário palaciano por seu antecessor (a velha “luta política” sem limites) e substituição de algumas dessas peças por produtos tão caros quanto luxuosos (a velha “régua moral” irrecuperavelmente destruída, como dá testemunho altissonante o coro das ruas).

No Brasil, periodicamente, voltamos ao passado, não para buscar as virtudes perdidas, mas em vã tentativa de reciclar o que caiu do caminhão. Isso até poderia ser virtuoso, se a reciclagem funcionasse.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

Percival Puggina

19/03/2024

 

Percival Puggina

         O Ocidente viveu milênios em que a guerra foi o estado natural dos agrupamentos humanos. Quem visita as mais antigas cidades europeias encarapitadas no topo de elevações pode observar as engenhosas e robustas fortificações que as envolviam. Seus habitantes não trocavam o conforto das planícies pelos panoramas que se descortinam desde seus mirantes, mas pela segurança que a ampla visibilidade dos arredores proporcionava.  Em sua origem, não eram cidades “com vista”, mas cidades com “melhor detecção de agressores externos”. Os ataques eram possíveis, prováveis e recorrentes.

Havia guerras de pilhagem e de conquista. Disputavam-se territórios, objetivos estratégicos, coroas que se vulnerabilizavam e os conflitos se foram tornando mais violentos e prolongados conforme se constituíam os reinos medievais. As guerras duravam anos, décadas e até um século inteiro, como a Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França pela hegemonia sobre a região de Flandres.

A História, porém, reservou o nome de Grande Guerra para os dois conflitos ditos mundiais travados fundamentalmente na Europa Ocidental no século passado. A primeira, de 1914 a 1919 e a segunda, de 1939 a 1945. A contagem das vítimas de cada uma foi às dezenas de milhões.

Escrevo sobre guerras e grandes guerras porque, na minha percepção, uma terceira guerra – grande, destrutiva, furtiva e silenciosa – também se trava no Ocidente. Singularmente, é guerra do Ocidente contra si mesmo. Para designá-la, generalizou-se a expressão “Guerra Cultural”, que parece dizer pouco para o quanto há de catastrófico na gradual destruição de uma cultura. James Burnham tratou do tema em “O suicídio do Ocidente”, mas o fez numa perspectiva pessimista. Eu creio numa vitória da vida e do Bem.

Antes que o Império Romano enfrentasse o declínio, a antiguidade arquejava uma cultura que não resistiria ao exemplo e à mensagem da Cruz. Tito Lívio, historiador romano que viveu no tempo de Jesus, escreveu: “Chegamos a um ponto em que já não podemos suportar, nem nossos vícios, nem os remédios que os poderiam curar”. Quanto essa frase, passados vinte séculos, parece falar dos dias atuais! A cultura é a alma de uma civilização. Corrompida essa alma, fatalmente se degrada e fragiliza a civilização que lhe corresponde

Você pode esgotar todos os adjetivos do dicionário para discorrer sobre o que aconteceu em Roma.  No entanto, eles serão poucos para descrever o efeito daquilo a que se dedicam os “progressistas” se conseguirem destruir a alma cultural do Ocidente, que há dois mil anos começou a ser construída. Não é por acaso que ela se reflete nas grandes declarações internacionais sobre pessoa humana, sua dignidade e seus direitos, bem como sobre família, e sociedade. Todas beberam da mesma fonte.

Essa, porém, não é uma questão religiosa! O leitor pode ter esses mesmos apreços e não ter religião alguma, mas é certificada a procedência e a longa produção desse Bem que o atraiu. Na guerra peculiar guerra que descrevo não há muro, como dizia recentemente o jornalista Júlio Ribeiro em seu programa na Rádio + Brasil. Quem ama o Bem, a Beleza, a Justiça e a Verdade, tem lado e protege aquilo que ama. Muros são o habitat natural dos omissos.

O falso humanismo dito progressista é aquele que sistematiza ataques à inocência das crianças, terceiriza para o Estado a instituição familiar, protege o criminoso e criminaliza a vítima, quer desencarceramento e liberação das drogas, exige aborto “livre, público, gratuito e de qualidade”. Onde existe a União, levam a discórdia; onde a Verdade é apreciada, levam a narrativa; onde reina o Amor, levam o ódio; onde há Esperança e Alegria, providenciam o desespero e a tristeza. Sua arte é horrenda, sua ética condena a virtude e sua justiça é perversa.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.