Percival Puggina
O desabrigo da lei foi uma característica comum aos campos de concentração e aos gulags soviéticos.
Corporativismo, colegialidade e espírito de confraria, tão percebidos na atual composição do Supremo Tribunal Federal, não são expressões de reverência e apreço pela instituição.
Os autoelogios e o narcisismo, bem como o gosto por homenagens, luzes das câmeras e protagonismo político não combinam com a discrição inerente à missão judicante. Se “a boca fala daquilo que está cheio o coração”, pergunto: podem cumprir bem sua missão judicante pessoas cujo vocabulário profissional convive bem com adjetivos como “extremistas”, “terraplanistas”, “negacionistas”, aplicados àqueles que ainda não foram julgados e que ainda irão julgar?
Tivessem suas excelências a reverência e apreço que tenho pela instituição do Supremo Tribunal Federal não fariam distinção de pessoa, não se deteriam na “capa do processo” (para usar analogia aplicada pelo ex-ministro Marco Aurélio Mello ao referir certas condutas). Ou numa outra que me vem à mente agora: “Pau que não bate em Palocci não deveria bater em Cid!”. Ou ainda esta contradição: “Se Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, pode sair da prisão para cuidar dos filhos, por que o mesmo direito é negado à cabelereira Débora dos Santos?”. E ainda esta pergunta dirigida às consciências: “Onde fica mais imprópria e alarmante a expressão ‘Perdeu Mané’? Na boca de um ministro do STF ou escrita por uma cidadã, com batom, na estátua de Têmis?”. Quando é maior o dano: ao serem vandalizados bens materiais públicos ou ao serem afrontados repetidamente direitos individuais e preceitos constitucionais?
Eu poderia me alongar tediosamente na lista de atos explícitos de censura prévia, de ameaças que redundaram em conveniente autocensura, à qual poucos, muito poucos, ficaram corajosamente imunes. Quem acompanhou o noticiário sobre as audiências da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil certamente formou uma boa ideia do tamanho dessa lista. Não posso deixar de lado, porém, a responsabilidade direta do Senado. Ela acaba de ser ratificada por palavras do “novo” e notoriamente omisso presidente, senador Davi Alcolumbre, para quem a anistia “não é assunto dos brasileiros”.
Intoxicado pelos vícios que provocam esse desinteresse do Senado, o Brasil – máxima vergonha! – tem e mantém um campo de concentração ou um gulag onde cidadãos vivem ao desabrigo da Constituição e das leis, privados dos direitos que elas conferem aos piores criminosos. Quanto foi que os fins passaram a justificar os meios?
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Rubens - 27/02/2025 11:44:19
Todos sabem disso. Não é por ignorância é por malevolência. São psicopatas agindo apenas em função de seus egos narcisistas, não estão preocupados com a verdadeira justiça.GINO BECCATO - 26/02/2025 15:05:52
justiça brasileira?(minusculads propositais) Pia da de pessimo gosto...celso Ladislau Kassick56ncx - 25/02/2025 16:51:29
O Dep. Federal, que me representa é Marcel Van Hatten; O senador a quem dei procuração pelo meu voto e indicação é Hamilton Mourão! Ambos estão ativamente tralhando contra a implantação da sanguinária ditadura comunista no Brasil! Confira o que fazem os seus!Deuclides Palmeiro Gudolle - 24/02/2025 22:22:26
Meu caro amigo Puggina: brilhante artigo como sói acontecer! Fraterno abraço!Rosangela - 24/02/2025 22:13:47
A parte onde o senhor fala sobre o “perdeu Mane” foi primorosa! Isso jamais poderia ser dito por um ministro do Supremo! Jamais! Gratidão professor, pelos ótimos artigos!Hilton James Kutscka - 24/02/2025 16:11:52
Infekizmente talvez o brasileiro não entenda mesmo de anistia , pois os que hoje prendem inocentes, foram todos anistiados de seus crimes contra o estado no passado. Triste realidade.rogerio pocebon - 24/02/2025 14:18:26
onde toda essa gente que age em conluiuo e esta para destruiçao e entrega da naçao vai ficar depois que acabar tudo?sera que ficaraõ no brasil ou vao todos pra cuba os sobrevintes,muitos estao marcados a ferro como traidores.João Correia Lages - 24/02/2025 13:43:04
Caro sr. Puggina octogenário como eu, do meu baixo extatos cultural: só aplausos.Waldo Adalberto da Silveira Jr - 24/02/2025 13:26:07
Que absurdo a eleição desse amapaense Alcolumbre ! Que tipo de senador é esse que diz que anistia não é assunto de brasileiros ? Só é, senador ! Quando uma imensa injustiça incide sobre centenas de brasileros, só o senado pode consertá-la ! Se você se omite, o culpado e comparsa do crime é você !-Rubilar José Bernardes - 24/02/2025 12:16:29
Prezado Puggina, se anistia não é assunto de brasileiro,m é de quem então? Um abraçãoAfonso Pires Faria - 24/02/2025 12:12:26
A sensação de impotência de toda a sociedade brasileira, é que me causa mais espanto. Quem poderá nos salvar, se o tal de Chapolin Colorado é somente uma ficção, assim como o nosso 5T7?Carlos Alberto Jungblut - 24/02/2025 11:44:19
Você disse tudo caraOdilon Rocha - 24/02/2025 10:24:44
Caro professor Puggina Eu me atrevo a responder a sua pergunta fina!. Não foi pouco e nem tem sido pouco manter o país nesse campo de concentração.DAGOBERTO LIMA GODOY - 24/02/2025 09:55:24
Parabéns pela coragem! Por causa de cidadãos destemidos como você, os ditadores do SFT e os inertes e coniventes do Senado estão com os dias contados. "No pasarán!"Manoel Luiz Candemil - 24/02/2025 07:44:15
O Senado tem mero desinteresse ou é descumpridor da Constituição Federal?