Percival Puggina
Na vinda ao Brasil, os representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos trocaram os pés pelas mãos quando iniciaram suas atividades pelo gabinete do presidente do STF.
Terão ido verificar se estão bem protegidos os direitos humanos dos senhores ministros? Se seus poderes, prerrogativas e mordomias são restringidos ou usurpados por algum outro poder de Estado? Quais queixas de trazer lágrimas aos olhos terão eles ouvido de seus visitados em meio aos estofados e tapetes da suntuosa sala de reunião?
Vi, também, que foram ter audiência com a ministra de Direitos Humanos de um governo e de um grupo político que desde 2003, antes de se disseminarem as redes sociais, já se empenhava em restringir a liberdade de imprensa. Nessa visita, ouviram relato do Grupo de Trabalho que definiu a pauta das ações do ministério. Como de hábito, sempre que a esquerda trata desses assuntos, o viés é ideológico: a função da pasta é enfrentar “o discurso de ódio e extremismo no Brasil”. Esses dois inimigos se identificam como “atos antidemocráticos, racismo, xenofobia, homofobia, misoginia e intolerância religiosa”. Tudo, claro, para “proteger as crianças”.
Até parece que sempre se preocuparam com as criancinhas diante do que acontece nas salas de aula ou frente ao que, há décadas, é transmitido pelos canais de TV. Até parece que não lhes diz respeito o que vem acontecendo com a liberdade de expressão política, que não mais é respeitada sequer nas tribunas do Congresso Nacional. Até parece que todo esse empenho restritivo não se volta contra a direita e, em especial, contra suas principais lideranças e comunicadores. Por isso mesmo, o humor político, como se sabe, foi parar no submundo.
Depois de visitar o inerte Congresso Nacional, onde as presidências e as maiorias só se motivam por temerosa autoproteção e por cobiçadas emendas parlamentares, imagino que irão até as vítimas: aos que sofrem os bloqueios de redes e contas bancárias, as interdições, as restrições, a supressão de direitos processuais, as pesadas penas de prisão por um golpe que não houve nem teria como haver, as famílias dos que se viram forçados a abandonar o país.
É o que suponho, assim como suponho que, depois disso, informados pelas vítimas do arbítrio, retornarão às autoridades da República, aos donos do Brasil, para entrevistas menos protocolares e realmente esclarecedoras.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.