Percival Puggina

22/01/2022

Percival Puggina

 

         Durante a Assembleia Nacional Constituinte teve início o longo funeral dos partidos políticos brasileiros. São duras estas palavras? Sei que são, mas as escrevo porque foi no consentimento proporcionado pelo silêncio, que chegamos à situação atual. Nela, só não olham indignados para o quadro político nacional aqueles que perderam a capacidade de reagir ante a iniquidade. Qual a influência positiva dos nssos partidos?

Desde 1988, o “centrão” é governo e aprendeu, com FHC, Lula e José Dirceu que o Estado é, e precisa ser, o butim dos vencedores, sem o qual a boa vida não rola. O modelo político gerado na Constituinte apodreceu nossa política. Foro privilegiado, dinheiro fácil, costas quentes, risco baixo, companheiros e camaradas no TCU e no STF inverteram e aceleraram o processo de seleção natural, atraindo os maus e expelindo os bons. Regionalmente há exceções, mas são exatamente isso, exceções.

Apesar do imenso relevo que tem a política entre nós, os partidos políticos não atraem e não formam novas lideranças. São meras siglas. As mais antigas, mandaram a própria imagem às cucuias; penso que não haja espelhos em seus diretórios nacionais. As muitas novas legendas são meras letras e números que raros, raríssimos, identificam desde fora do respectivo quadrado. Antigas e novas parecem ter o mesmo e único preceito em seus programas: aqui se busca o poder ou suas cercanias. Nada a dizer sobre a nação.

O Senado Federal é o habitat quase privativo das principais lideranças partidárias. Examine o quadro sucessório brasileiro e veja onde estão as figuras que dominaram cotidianamente os espaços da mídia militante brasileira, graças ao tipo de jornalismo que nela encarnou. Onde estão Rodrigo Maia (o ambicioso que queria ser primeiro-ministro ou presidente), Davi Alcolumbre (o vingativo), Rodrigo Pacheco (o grande omisso), Renan Calheiros (o Torquemada de ficha encardida), Simone Tebet (a bem falante), Alessandro Vieira (que confunde ar sério com seriedade)? E a propósito, cadê Rodrigo Maia (o ambicioso ex-presidente da Câmara que queria ser primeiro-ministro ou presidente)?

Observe agora, leitor, os partidos com maiores bancadas no Senado nas pesquisas da eleição presidencial. Deles, apenas o PMDB (15 senadores) tem a candidata Tebet (com 1%) e o PSDB (5 senadores) tem o candidato Dória (com 2 %). Ou seja, não têm nome a apresentar à sociedade. As outras bancadas numerosas ou tradicionais: PSD (11 senadores) testa Rodrigo Pacheco (0%) e o DEM (6 senadores) não tem uma carta que seja para colocar na mesa. O PODEMOS (9 senadores) foi buscar Moro fora dos seus quadros. 

Os senadores e seus partidos, calaram-se quando deveriam falar. Falaram quando deveriam calar. Viraram as costas à sociedade. Durante três anos articularam, conspiraram e ocuparam com voracidade os generosos espaços que a mídia lhes concedeu. Gastaram a bateria dos holofotes para uma irresponsável oposição ao governo. Agora, na miséria de seus quadros, chegam ao pleito com as mãos vazias.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

20/01/2022

 

Percival Puggina

        

“Ninguém ama aquilo que não conhece; ninguém esquece aquilo que ama” (Autor desconhecido)

         Um povo que não se conhece é prato feito ao gosto dos tiranos, dos aproveitadores, dos políticos corruptos e dos criminosos. Vulnerável como criança descuidada. Vive situação comparável a de alguém que perdeu a memória, destituída da própria identidade. Foi-se até o amor próprio.

Em seus casos mais graves, a perda da memória, que tantas vezes acomete pessoas idosas, leva-as a não reconhecer os familiares mais próximos, quando não a si mesmas. Do mesmo modo, o desconhecimento das origens, da história, da tradição, faz com que, para milhões de brasileiros de todas as idades, seja perdida a identidade nacional.

Isso pode acontecer na idade escolar pelo desinteresse comum da juventude, ou daqueles a quem caberia a obrigação de estimular o desenvolvimento dessa identidade – os pais, por despreparo, e os professores, por estratégia política. Nesta segunda hipótese, a experiência mostra haver um interesse em desconstruir o sentimento porventura existente, ou apresentar um acervo útil à política revolucionária. Assim, a vítima torna-se disponível para os usos e abusos a que se refere o primeiro parágrafo deste pequeno artigo.

Em outra ocasião, escrevi sobre esses longos fios que nos unem individual e socialmente ao mais remoto passado da humanidade. À medida que esse fio se aproxima de nós, vêm com ele o idioma, a cultura e as tradições, os hábitos, a ordem política, as leis, a fé e muitos dos nossos sentimentos comuns. Com as migrações, o vaivém dos fios promove interações, como que tecendo malhas que vão compondo a história e a civilização. Quando bem próximos de nós, esses fios trazem a família e os antepassados, a voz dos pais, os sentimentos mais arraigados, os exemplos, os conselhos e as experiências sociais.

Agora, caro leitor, corte esses fios. Vai-se a memória. Resta apenas o presente, o sentimento sem regras, o pescoço disponível para a canga e a vida nos direitos “concedidos” pelos abusadores de plantão.

Parte importante do processo de dominação consiste, não apenas em manter apartado desses bens culturais o maior número possível de pessoas que já nascem sem acesso a eles, quanto depreciá-los perante aquela porção da sociedade potencialmente capaz de valorizá-los.

É nessa porção que opera a máquina de guerra cultural das mentes totalitárias criminalizando a fé, a tradição e a história; depreciando os consequentes valores morais; ridicularizando o sentimento patriótico inerente aos atos, símbolos e hinos; ocultando os grandes vultos de nossa história para que seu exemplo não mais seja seguido. E assim, sai Bonifácio e entra Marighella, sai Nabuco e entra Zé Dirceu, sai Elis e entra Anitta, sai Brossard e entra Alexandre.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

18/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Quem for eleito presidente da República indicará em 2023 dois novos ministros ao STF em substituição a Ricardo Lewandowski e a Rosa Weber. Não quero nem pensar no que faria Lula se a caneta das indicações lhe retornasse às mãos. O Supremo que emergiu da década petista é esse de que padecemos. Em 2018, o candidato da maioria de seus membros perdeu as eleições. Inconformado, tornou-se, o STF, um dos muitos centros de poder nacional cujos membros combatem ferozmente os objetos de seus próprios preconceitos e malquerenças.

Podemos divergir sobre o quanto isso afetou a vida institucional do país. Mas é inegável que o Supremo atraiu muito desagrado ao destruir a Lava Jato e, com ela, as esperanças de um Brasil passado a limpo. A contribuição do STF ao combate à criminalidade e à impunidade corresponde a algum algarismo bem menor do que zero, no que empata com o Congresso Nacional.

Parece oportuníssimo reproduzir aqui palavras de Jesus Cristo em Mateus 20:25-28. Não o faço por ser católico, mas por quanto há de sabedoria nestas poucas e raras palavras de Jesus objetivamente “políticas”.

"Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir."

O princípio aqui enunciado proporciona a quem esteja investido de poder muito daquilo que os romanos chamavam “Auctoritas” e descrevia aquela ascendência inerente a certos indivíduos como efeito natural do bom exemplo, da sabedoria, da experiência e das virtudes.

De nada vale os senhores ministros reclamarem para si, em decorrência do poder a eles atribuído, o reconhecimento e a consideração que, na vida real, advêm da Auctoritas. Esta, por muitas razões, é mercadoria em falta, um passo fora dos salões onde, por dever de ofício, entram os rapapés e as cortesanias de praxe. Quanto tais louvações realmente valem daquilo que pesam nas falas à Corte?

Em excelente artigo de 2010, o padre e mestre português Dr. Anselmo Borges inflama-se ao referir aqueles que, no exercício de seu poder institucional, não cuidam de preservar a auctoritas. Fala sobre os maus pais e pergunta: o que acontece quando lhes faltam as condições morais necessárias para exercer e fazer crescer a dignidade dos filhos? Fala sobre os maus professores, observando que “quando os estudantes descobrem que um professor é incompetente, é melhor pôr-se a salvo”. Por fim, menciona aquelas personagens do mundo político a quem, por falta de qualificação intelectual, técnica ou moral, “à função de deputados ou ministros só resta o nome”.

A perda de referências dá causa a um desastre social no Brasil. Só não vê quem disso se beneficia.

  1. https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/potestas-e-auctoritas--1476678.html

 

Percival Puggina

15/01/2022

 

Percival Puggina

 

O que queres que faça? Almoçar cada dia um sapo e não ter nojo? Trazer os joelhos encardidos? Exercitar a espinha em todos os sentidos? Gastar o próprio ventre a caminhar de bojo? Não, muito obrigado! (Edmond Rostand, em Cyrano de Bergerac).

         Eis o que nos está sendo cotidianamente pedido. A isso também digo – Não, muito obrigado!

Se alguém imagina que os perigos que rondam a nação chegarão batendo à porta e pedindo licença, está muito enganado. Tal expectativa é de alto risco.

Tenho lido frases escritas por cidadãos brasileiros nas redes sociais defendendo censura e prisão para quem não vacinar filhos na faixa etária de 5 a 14 anos! Tenho visto cidadãos brasileiros falando como alguns ministros do STF falam; e isso é péssimo!  Tenho visto cidadãos brasileiros entregarem espontaneamente seu discernimento, sua liberdade de pensamento e expressão e aceitarem que a verdade possa ser estatizada! Tenho ouvido aplausos à prisão de brasileiros por atos que não constituem crimes e à soltura de bandidos condenados para retorno expedito às urnas e à vida pública! A tudo assisto em uma nação que, certo dia, acreditou serem para pessoas com ficha limpa as disputas eleitorais!

Em respeito a todos os leitores, não diria o que afirmarei agora se não estivesse tão evidente que parcela significativa da sociedade entregou a liberdade e perdeu a autonomia, e essa perda já é o próprio perigo tomando posições, ou seja, desorientando corações e mentes.

Do exterior, vem a pergunta insistente: “O que acontece com o Brasil? O povo quer confiar-se a corruptos condenados?”

A resposta sai sofrida porque exige falar de um país onde as formas de autoridade – seja moral, intelectual, ou espiritual – entraram em colapso. Em muitos casos, restou apenas o poder, sem autoridade. Onde essa autoridade (auctoritas de que falavam os romanos) definha, vai-se a moral das gentes. Por erosão constante, ela definha nas famílias, nas escolas, na política, nos meios intelectuais e nos religiosos, nas cortes.

Esse não é o meu Brasil! Esse Brasil é obra de mãos maliciosas e gananciosas pelo poder. Ele, o poder, é sempre o tema, como Celso Daniel veio a saber pelo pior modo possível.

Este Brasil forma cidadãos proporcionando uma educação militante e deficiente junto com uma ruptura dos vínculos com as fontes de verdadeira autoridade intelectual e moral. Mas isso está acontecendo em todo o Ocidente, não é mesmo? E a tirania entra sem bater à porta.

Felizmente, alguns, ainda, dizem –  “Não, muito obrigado!”. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

13/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Você quer um candidato a presidente perfeito, assim como você? Não tem. Então, vamos falar sério.

         O mercado eleitoral para 2022 se movimenta em torno do que temos e salta aos olhos a grande responsabilidade dos conservadores brasileiros em relação às posições reavidas em 2018. É em torno delas que, desde então, a disputa se trava! Tudo mais, do mi-mi-mi ao blábláblá, das rotulagens às narrativas, gira em torno desse eixo. E o mundo, com interesse, observa.

Pense nas famílias norte-americanas, notadamente no caso iniciado pela senhora Stacy Langton, do Condado de Fairfax, na Virgínia, quando soube que uma escola local passara como temas a alunos de high school (14 a 17 anos) descrever “uma cena de sexo que você não mostraria à sua mãe” e escrever “um cenário Disney x-rated” (proibida para menores). Pense nas bibliotecas escolares (e o mesmo acontece em outros estados), que disponibilizam aos estudantes livros com cenas pornôs entre adultos e jovens.

Pondere, agora, a contestação a essas denúncias feita pelo autor de Lawn Boy, um desses livros. Entrevistado pelo Washington Post, ele respondeu:

“Penso que essas pessoas estão aterrorizadas porque estão perdendo a guerra cultural”.

E tudo começará a ficar mais claro. O fenômeno é mundial, tem inúmeras faces e frentes, multidões de agentes, muito dinheiro envolvido e inesgotáveis fontes de recursos.

Voltei a ler os discursos de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU nos anos de 2019, 2020 e 2021. Os três foram, como de hábito, severamente criticados pela mídia nacional. No entanto, encontrei, em todos, momentos de grande coragem e fortíssimos motivos para chamar a atenção de muitos, mundo afora.

Note-se que o presidente fala à nata mais fina do “politicamente correto”. Fala a chefes de Estado e de governo, chanceleres e à alta diplomacia mundial. No que diz, em acréscimo a temas de específico interesse brasileiro, o presidente adiciona afirmações assim:

A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas.

A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família.

Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica.

A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. (2019)

O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base. (2020)

O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo.

Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão.

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo. (2021)

Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono. (2020)

Esta não é a Organização do Interesse Global! É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer! (2019)

Deus abençoe a todos! (2021)

Vejo aí motivos mais do que suficientes para que o presidente desperte atenções na também imensa parcela da população do Ocidente que não quer dar razão ao autor de “Lawn boy”.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

11/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Depois de três anos atrapalhando e prejudicando deliberadamente o país agora são candidatos para “salvá-lo”?  À miudeza se responde com grandeza!

       Em artigo anterior, publicado na semana passada, afirmei que a vitória de Bolsonaro disse ao mundo que, aqui no Brasil, haveria resistência à hegemonia esquerdista, autorrotulada “progressista”. No entanto, poderosas máquinas de guerra não são enfrentadas sem determinar reações. Elas foram interna e externamente implacáveis e causaram dificuldades ao país.

Não creio, porém, que esse contexto tenha levado qualquer fração do eleitorado vitorioso naquelas urnas a gostar do que antes não gostava, a aprovar o que antes condenava, nem a inverter seus princípios e seus valores. As coisas não acontecem assim. A estratégia oposicionista, que se faz supor exitosa, consiste em fazer crer que o presidente cria os próprios embaraços (eventualmente, isso acontece em qualquer governo, mas não é a regra, nem a causa).

Portanto, tudo se passa na mídia de massa como se o presidente da República conseguisse transformar um perfumado e plácido mar de rosas em turbulenta cachoeira de desastres. Quem lê editoriais colhe a impressão de que os próprios veículos, o Congresso Nacional, o STF, fazem o possível para tudo andar bem, mas o governo não deixa! Essa é a mensagem que tentam fazer chegar ao eleitor enquanto procuram intimidar os conservadores nos restritos espaços das redes sociais.

A despeito da cotidiana corrida de obstáculos, o governo poderia operar com maior desembaraço não fosse a impossibilidade de compor maioria parlamentar. Estou bem atento às manifestações dos presidenciáveis. Lidam com o futuro como se as dificuldades institucionais do país se resolvessem com suas vitórias pessoais nas urnas de outubro. É como se dissessem: “Votem em mim. A governabilidade a gente vê depois”...  Tá bom!

Bolsonaro tentou contornar essa montanhosa e espinhosa barreira indicando previamente, para a maior parte de seu ministério, técnicos de fora do circuito político-eleitoral. Qual o resultado? O mercado de votos parlamentares se sublevou! As cotações dispararam. O pregão teve que ser fechado. Rodrigo Maia era o senhor do sim e do não e só liberava o que não tinha importância. De responsável pela pauta, tornou-se senhor das decisões e já posava com ares de Primeiro Ministro. Lembram?

Ao mesmo tempo, em meio ao deliberado tumulto das relações institucionais, o STF dava carteiraço operando como dono da democracia e  “poder moderador” da República... Logo aquele estranho colegiado onde tão frequentemente falta moderação!

A questão, portanto persiste. E persiste num escandaloso silêncio das instituições! O que têm a dizer os candidatos a presidente que vêm ao eleitor pedir voto depois de haverem, mediante sucessivas ações e omissões, procurado impedir o programa vitorioso nas urnas de 2018? O que tem a dizer sobre o que se recusaram a votar? Pergunto: como esperam obter maioria num parlamento onde haverá mais de duas dezenas de minorias no outro lado do balcão dos negócios que hoje frequentam?  Como pretendem votos depois de agirem como agiram?

Este não pode ser um não assunto na campanha eleitoral que já começou! À miudeza se responde com grandeza!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

09/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Qual foi o principal problema enfrentado por Bolsonaro no exercício da presidência da República? Sobre a resposta a essa pergunta eu não tenho dúvida: o combate sem trégua a Bolsonaro se deve a ter ele sido eleito pela parcela conservadora da sociedade. Omisso e silencioso, esse eleitorado ganhou, com ele, súbita expressão política. E isso foi visto como ato de guerra pelos “progressistas” de todos os matizes (e de todos os países).

Fosse Bolsonaro um “progressista”, sua vida seria mais tranquila. Até então, a guerra cultural estava em curso e era vencida pela esquerda com facilidades análogas às encontradas pela máquina de guerra nazista ao invadir a Europa Ocidental.

Na vitória de Bolsonaro, porém, o Brasil disse ao mundo que, aqui, haveria resistência.

Você não enfrenta máquinas de guerra poderosas e vencedoras sem determinar reações em contrário. E elas foram severíssimas nos ambientes culturais propriamente ditos, no mundo acadêmico, nas poderosas e endinheiradas fundações da Nova Ordem Mundial, nos meios de comunicação, no aparelho burocrático do Estado e nos poderes de estado, notadamente nos Tribunais Superiores.

Bolsonaro poderia ser exatamente como é, mas se não tivesse despertado e mobilizado o eleitorado conservador – favas contatadas nas disputas entre duas esquerdas durante um quarto de século – o governo teria tido outro curso e enfrentado dificuldades bem menores.

Examine o leque dos candidatos presidenciais. Exceto Bolsonaro (PL) com 30%, todos os demais são esquerdistas e isso dá boa ideia sobre para onde aponta o ano eleitoral cuja folhinha já está rolando. Depois, olhe detidamente os nomes e conviva com a realidade: eles são tudo que os partidos políticos têm a apresentar após quatro anos fazendo fumaça e barulho, impedindo o governo de governar, atacando-o por tudo  e por nada, criando despesa para um orçamento já estourado, fazendo negócios, batendo à porta do STF para fazer “política”. Nada revela tão bem o quanto são inaproveitáveis nossas legendas partidárias do que os nomes que apresentam ao eleitorado!

Lula (PT), com 40%. É um candidato zumbi, que surfa pesquisa, mas não aparece em público e deve fugir de espelho. Seu pior inimigo é sua biografia.

O governador João Dória (PSDB), dito Bolsodória na campanha de 2018, passou quatro anos criando problemas ao presidente e conseguiu apenas 3% de intenções de voto na última pesquisa que li. 

Sérgio Moro (Podemos) está longe de ser um conservador, ou um liberal, como Bolsonaro descobriu tarde demais. Seu papel de hoje não é aquele com que o atraíram; é o que a história já lhe reservou: tirar votos de Bolsonaro para ajudar a eleição do ex-presidiário. Diante de apenas 11% de intenções de voto, seus próximos já o aconselham a disputar cadeira de senador para não ficar desocupado.

Ciro Gomes (PDT) contabiliza 7% e se vê em meio a uma calmaria, com o velame caído, sem receber uma lufada de ar que lhe permita esperar terra à vista em algum ponto de seu monótono horizonte.

A senadora Simone Tebet (do outrora grande MDB), picada pela mosca azul, fez o possível para se pôr em evidência, sempre infernizando a vida do presidente e descobre, agora, que conseguiu atrair a atenção de apenas um em cada cem eleitores brasileiros.

O senador Rodrigo Pacheco (PSD), o omisso “Pachecão”, fez muito mau uso de seu poder no Senado, ajoelhou-se perante o STF, virou as costas ao clamor popular, precisou fechar suas redes sociais, e ainda quer (?) ser presidente. Com 0,6% perde até para a colega Simone Tebet. 

Não me tiram a esperança de ter meu país de volta. Aqui resistiremos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

09/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Qual foi o principal problema enfrentado por Bolsonaro no exercício da presidência da República? Sobre a resposta a essa pergunta eu não tenho dúvida: o combate sem trégua a Bolsonaro se deve a ter ele sido eleito pela parcela conservadora da sociedade. Omisso e silencioso, esse eleitorado ganhou, com ele, súbita expressão política. E isso foi visto como ato de guerra pelos “progressistas” de todos os matizes (e de todos os países).

Fosse Bolsonaro um “progressista”, sua vida seria mais tranquila. Até então, a guerra cultural estava em curso e era vencida pela esquerda com facilidades análogas às encontradas pela máquina de guerra nazista ao invadir a Europa Ocidental.

Na vitória de Bolsonaro, porém, o Brasil disse ao mundo que, aqui, haveria resistência.

Você não enfrenta máquinas de guerra poderosas e vencedoras sem determinar reações em contrário. E elas foram severíssimas nos ambientes culturais propriamente ditos, no mundo acadêmico, nas poderosas e endinheiradas fundações da Nova Ordem Mundial, nos meios de comunicação, no aparelho burocrático do Estado e nos poderes de estado, notadamente nos Tribunais Superiores.

Bolsonaro poderia ser exatamente como é, mas se não tivesse despertado e mobilizado o eleitorado conservador – favas contatadas nas disputas entre duas esquerdas durante um quarto de século – o governo teria tido outro curso e enfrentado dificuldades bem menores.

Examine o leque dos candidatos presidenciais. Exceto Bolsonaro (PL) com 30%, todos os demais são esquerdistas e isso dá boa ideia sobre para onde aponta o ano eleitoral cuja folhinha já está rolando. Depois, olhe detidamente os nomes e conviva com a realidade: eles são tudo que os partidos políticos têm a apresentar após quatro anos fazendo fumaça e barulho, impedindo o governo de governar, atacando-o por tudo  e por nada, criando despesa para um orçamento já estourado, fazendo negócios, batendo à porta do STF para fazer “política”. Nada revela tão bem o quanto são inaproveitáveis nossas legendas partidárias do que os nomes que apresentam ao eleitorado!

Lula (PT), com 40%. É um candidato zumbi, que surfa pesquisa, mas não aparece em público e deve fugir de espelho. Seu pior inimigo é sua biografia.

O governador João Dória (PSDB), dito Bolsodória na campanha de 2018, passou quatro anos criando problemas ao presidente e conseguiu apenas 3% de intenções de voto na última pesquisa que li. 

Sérgio Moro (Podemos) está longe de ser um conservador, ou um liberal, como Bolsonaro descobriu tarde demais. Seu papel de hoje não é aquele com que o atraíram; é o que a história já lhe reservou: tirar votos de Bolsonaro para ajudar a eleição do ex-presidiário. Diante de apenas 11% de intenções de voto, seus próximos já o aconselham a disputar cadeira de senador para não ficar desocupado.

Ciro Gomes (PDT) contabiliza 7% e se vê em meio a uma calmaria, com o velame caído, sem receber uma lufada de ar que lhe permita esperar terra à vista em algum ponto de seu monótono horizonte.

A senadora Simone Tebet (do outrora grande MDB), picada pela mosca azul, fez o possível para se pôr em evidência, sempre infernizando a vida do presidente e descobre, agora, que conseguiu atrair a atenção de apenas um em cada cem eleitores brasileiros.

O senador Rodrigo Pacheco (PSD), o omisso “Pachecão”, fez muito mau uso de seu poder no Senado, ajoelhou-se perante o STF, virou as costas ao clamor popular, precisou fechar suas redes sociais, e ainda quer ser presidente. Com 0,6% perde até para a colega Simone Tebet. 

Não me tiram a esperança de ter meu país de volta. Aqui resistiremos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

06/01/2022

 

Percival Puggina

 

                Outro dia resolvi listar crimes inexistentes em nosso Código Penal e que, apesar disso, tiram o sono dos nossos ministros do STF. Medidas drásticas são tomadas contra quem caia na desgraça de ser enquadrado numa dessas condutas que tanto perturbam suas excelências.

Comparados à sinistra criminalidade real e à maldita corrupção, os fatos, em si, são de pouquíssima monta, nada é sério, mas enérgicas ações de contenção são adotadas. Há gente presa preventivamente por “crimes” em virtude dos quais ninguém vai para a cadeia. Muitos comunicadores tiveram suas vidas e suas empresas devassadas por caça-fantasmas. Instalou-se no país um clima de insegurança e medo, infeliz combinação que não infunde respeito. Apresento a seguir um resumo dessas condutas que excitam a imaginação de vários ministros do nosso Supremo. Observe que todos esses supostos crimes recebem denominações com efeito publicitário, sendo fartamente utilizadas nos sites e entre a militância de esquerda.

- Milícias Digitais

A palavra “milícia” remonta à campanha de 2018 e “miliciano” foi uma das etiquetas que lhe tentaram colar no candidato Bolsonaro. Posteriormente, ressurgiu num desses inquéritos aberto no STF, que a Corte faz questão de manter aberto como intimidador cadafalso erguido na praça.

- Atos Antidemocráticos

Atos antidemocráticos são manifestações propondo o fechamento do STF ou do Congresso, são os fogos de artifício sobre o prédio do Supremo. Um povo a quem os poderes de Estado voltam as costas, sem vislumbrar saída pelo curso da política, talvez expresse assim sua inconformidade. Penso que os poderes de Estado, bem antes de abrir inquéritos, deveriam ponderar as razões desse desalento. Elas não estão na população.  

- Discursos de Ódio

Discursos não são tramas de bastidores. Existem bastidores onde se instalou um ódio que raramente aparece em discurso. É convenientemente sutil a diferença entre indignação e ódio. Tratar a tudo como “discurso de ódio”, algo criminoso, tem o poder de inibir a justa e necessária manifestação de indignação, própria das democracias.

-  Desconfiança nas instituições

O sujeito que ainda hoje deposita estrita confiança nas instituições legadas pela Constituinte de 1988 pode até ser brasileiro, mas imigrou e hoje é cidadão honorário do mundo da lua.

- Negacionismo e recusa ao mandamento vacinal

O que ainda hoje não se sabe sobre a origem do vírus SARS-CoV-2, permite severas desconfianças, suspeitas e até mesmo especulações. Não é diferente em relação às vacinas. Por que seria visto como “ato criminoso” manifestar em público o que tanto se discute em ambiente privado? Afinal, não são os próprios laboratórios que mudam, eles mesmos, suas avaliações sobre eficácia e durabilidade? O que estão a ensinar-nos os navios de cruzeiro que chegam ao litoral brasileiro com doentes a bordo?

- Apostasia à Nobre Ordem dos Guardiões das Urnas

Se você ainda acha inusitada a pressão do STF/TSE sobre o Congresso para evitar a aprovação das urnas eletrônicas com votos contáveis na eleição deste ano, você entrou em conflito com a Nobre Ordem dos Guardiões das Urnas. E fez isso na mais radical versão desse confronto, aquela que não aceita as garantias juradas pelo grão-mestre da ordem.

***

Você tem razão. Nada há a ser dito sobre combate à corrupção. Está fora da pauta.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.