Percival Puggina
Durante a Assembleia Nacional Constituinte teve início o longo funeral dos partidos políticos brasileiros. São duras estas palavras? Sei que são, mas as escrevo porque foi no consentimento proporcionado pelo silêncio, que chegamos à situação atual. Nela, só não olham indignados para o quadro político nacional aqueles que perderam a capacidade de reagir ante a iniquidade. Qual a influência positiva dos nssos partidos?
Desde 1988, o “centrão” é governo e aprendeu, com FHC, Lula e José Dirceu que o Estado é, e precisa ser, o butim dos vencedores, sem o qual a boa vida não rola. O modelo político gerado na Constituinte apodreceu nossa política. Foro privilegiado, dinheiro fácil, costas quentes, risco baixo, companheiros e camaradas no TCU e no STF inverteram e aceleraram o processo de seleção natural, atraindo os maus e expelindo os bons. Regionalmente há exceções, mas são exatamente isso, exceções.
Apesar do imenso relevo que tem a política entre nós, os partidos políticos não atraem e não formam novas lideranças. São meras siglas. As mais antigas, mandaram a própria imagem às cucuias; penso que não haja espelhos em seus diretórios nacionais. As muitas novas legendas são meras letras e números que raros, raríssimos, identificam desde fora do respectivo quadrado. Antigas e novas parecem ter o mesmo e único preceito em seus programas: aqui se busca o poder ou suas cercanias. Nada a dizer sobre a nação.
O Senado Federal é o habitat quase privativo das principais lideranças partidárias. Examine o quadro sucessório brasileiro e veja onde estão as figuras que dominaram cotidianamente os espaços da mídia militante brasileira, graças ao tipo de jornalismo que nela encarnou. Onde estão Rodrigo Maia (o ambicioso que queria ser primeiro-ministro ou presidente), Davi Alcolumbre (o vingativo), Rodrigo Pacheco (o grande omisso), Renan Calheiros (o Torquemada de ficha encardida), Simone Tebet (a bem falante), Alessandro Vieira (que confunde ar sério com seriedade)? E a propósito, cadê Rodrigo Maia (o ambicioso ex-presidente da Câmara que queria ser primeiro-ministro ou presidente)?
Observe agora, leitor, os partidos com maiores bancadas no Senado nas pesquisas da eleição presidencial. Deles, apenas o PMDB (15 senadores) tem a candidata Tebet (com 1%) e o PSDB (5 senadores) tem o candidato Dória (com 2 %). Ou seja, não têm nome a apresentar à sociedade. As outras bancadas numerosas ou tradicionais: PSD (11 senadores) testa Rodrigo Pacheco (0%) e o DEM (6 senadores) não tem uma carta que seja para colocar na mesa. O PODEMOS (9 senadores) foi buscar Moro fora dos seus quadros.
Os senadores e seus partidos, calaram-se quando deveriam falar. Falaram quando deveriam calar. Viraram as costas à sociedade. Durante três anos articularam, conspiraram e ocuparam com voracidade os generosos espaços que a mídia lhes concedeu. Gastaram a bateria dos holofotes para uma irresponsável oposição ao governo. Agora, na miséria de seus quadros, chegam ao pleito com as mãos vazias.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Renato zacconi menezes - 27/01/2022 19:33:32
Até quando vamos suportar esse humilhante sistema político. Será que perdemos o direito à indignação? Já quase não temos direito aos nossos direitos.Décio Antônio Damin - 24/01/2022 13:58:34
Puggina, concordo com o que dizes, e com quase todos os nomes que citaste...! Esqueceste evidentemente alguns, como por exemplo o atual primeiro mandatário da Nação que, para manter uma precária governabilidade, fez acordos com o atual "centrão" que, como antes, continua fazendo exigências, as mais absurdas...! "Nós" estamos manietados e acorrentados a "Eles"que constituem sólidas oligarquias que só viabilizam seus próprio interesses, infelizmente...!!Menelau Santos - 24/01/2022 10:14:21
Perfeito Professor. E depois dessa aberração chamada FUNDO ELEITORAL, a situação piorou mais ainda.EDISON BECKER FILHO - 24/01/2022 10:00:28
Face ao exposto e dentro do que entendo como alternativa tenho a dizer que: Político bom é o Político que não foi reeleito. Assim deve ser até que se desmantele está teia de safados, oportunistas, meliantes, etc.LARRY DE CAMARGO VIANNA NASCIMENTO - 24/01/2022 08:42:17
Bem isso. Nós, o povo, não merecemos estas tralhasRita Curaçá de Araújo - 24/01/2022 08:26:47
Na verdade os partidos do existem por causa dos fundos partidários, perderam a finalidade e deveriam ser extintos.Cleusa de Lourdes Miquelon Sigueoka - 24/01/2022 08:26:46
O que eles não observaram é que uma geração esta durando mais. Uma pessoa consegue fazer a história em pelo menos quatro gerações, considerando que pode se educar e orientar três gerações de jovens . Aí vem o primeiro tracasso. Por outro lado alguns perceberam e arriscaram eliminar este seguimento que poderia atrapalhar seus planos.( A pandemia , e a vacina), ajudau bastante, mesmo assim o insucesso continuou, antes a infiltração nos pontos mais relevantes as escolas, também esqueceram as famílias. O fracasso continuou, porque a eliminação natural dos vermes e parasitas de um corpo ,acontece ao expelir pelos poros e pela pele. A humanidade age da mesma forma. Espero que o Brasil consiga expelir esses parasitas.João Jesuino Demilio - 23/01/2022 11:46:18
Chamar de partido político os CARTÓRIOS que temos hoje? Alguns países sérios adotam o óbvio: quem joga não faz as regras do jogo...ou seja: políticos não podem legislar sobre sistema ou financiamento eleitoral! Quem determina isso é uma suprema corte...No atual momento, no Brasil, isto seria impraticável, tendo em vista a VERGONHA que é nosso STF.Júnia - 23/01/2022 00:12:25
O jornalista Puggina, dedilha o teclado com a maestria de quem esquadrilha o fundo do mar, para despertar a consciência dos seus leitores, os escaninhos da velha e nova política, Mudam-se alguns nomes mas não mudam as práticas. Como disse Ulysses Guimarães: O próximo Congresso vai ser pior. Com o SENADO subordinado a um roda presa é inevitável sua afirmativa: Não pensam na NAÇÃO.Luiz R. Vilela - 22/01/2022 19:53:59
"Quem não tem cão, caça com gato", diz um ditado antigo. Nós, os brasileiros, em verdade nunca "caçamos" com cães, porque nunca tivemos. Nossos políticos, na verdade são na sua maioria, malfeitores travestidos de "homens públicos". Os partidos políticos, são propriedades particulares de espertalhões, que entram na política apenas com um intuito, enriquecer. Agora mesmo, numa agilidade nunca antes vista, os congressistas elevaram o fundo eleitoral, a estratosférica quantia de 5,7 bilhões de reais, dinheiro arrancado do bolso do contribuinte, que imobilizados nada podem fazer. Ideologia? Hoje só há uma, saquear o povo, é o pensamento de quem entra na política, seja lá de que partido for. Impostos são aumentados todos os anos, outros são até criados, a fúria arrecadatória do poder público é avassaladora, os serviços prestados a população, são cada vez mais precários, estamos a deriva. No Brasil, partidos políticos são apenas arremedos e a política em sua totalidade apenas uma enganação, a próxima eleição já vem com as características de que muitos candidatos ficarão ricos, porque o dinheiro vai rolar.Fernando Cordioli - 22/01/2022 18:49:33
Candidatura avulsa e independente do Rodrigo Mezzomo já!Johannes Martinus Henricus Hermans - 22/01/2022 14:26:46
Exatamente. Vamos ter que renovar principalmente o senado.