• Percival Puggina
  • 20/01/2022
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UM POVO QUE NÃO CONHECE A SI MESMO

 

Percival Puggina

        

“Ninguém ama aquilo que não conhece; ninguém esquece aquilo que ama” (Autor desconhecido)

         Um povo que não se conhece é prato feito ao gosto dos tiranos, dos aproveitadores, dos políticos corruptos e dos criminosos. Vulnerável como criança descuidada. Vive situação comparável a de alguém que perdeu a memória, destituída da própria identidade. Foi-se até o amor próprio.

Em seus casos mais graves, a perda da memória, que tantas vezes acomete pessoas idosas, leva-as a não reconhecer os familiares mais próximos, quando não a si mesmas. Do mesmo modo, o desconhecimento das origens, da história, da tradição, faz com que, para milhões de brasileiros de todas as idades, seja perdida a identidade nacional.

Isso pode acontecer na idade escolar pelo desinteresse comum da juventude, ou daqueles a quem caberia a obrigação de estimular o desenvolvimento dessa identidade – os pais, por despreparo, e os professores, por estratégia política. Nesta segunda hipótese, a experiência mostra haver um interesse em desconstruir o sentimento porventura existente, ou apresentar um acervo útil à política revolucionária. Assim, a vítima torna-se disponível para os usos e abusos a que se refere o primeiro parágrafo deste pequeno artigo.

Em outra ocasião, escrevi sobre esses longos fios que nos unem individual e socialmente ao mais remoto passado da humanidade. À medida que esse fio se aproxima de nós, vêm com ele o idioma, a cultura e as tradições, os hábitos, a ordem política, as leis, a fé e muitos dos nossos sentimentos comuns. Com as migrações, o vaivém dos fios promove interações, como que tecendo malhas que vão compondo a história e a civilização. Quando bem próximos de nós, esses fios trazem a família e os antepassados, a voz dos pais, os sentimentos mais arraigados, os exemplos, os conselhos e as experiências sociais.

Agora, caro leitor, corte esses fios. Vai-se a memória. Resta apenas o presente, o sentimento sem regras, o pescoço disponível para a canga e a vida nos direitos “concedidos” pelos abusadores de plantão.

Parte importante do processo de dominação consiste, não apenas em manter apartado desses bens culturais o maior número possível de pessoas que já nascem sem acesso a eles, quanto depreciá-los perante aquela porção da sociedade potencialmente capaz de valorizá-los.

É nessa porção que opera a máquina de guerra cultural das mentes totalitárias criminalizando a fé, a tradição e a história; depreciando os consequentes valores morais; ridicularizando o sentimento patriótico inerente aos atos, símbolos e hinos; ocultando os grandes vultos de nossa história para que seu exemplo não mais seja seguido. E assim, sai Bonifácio e entra Marighella, sai Nabuco e entra Zé Dirceu, sai Elis e entra Anitta, sai Brossard e entra Alexandre.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Celso Ladislau Kassick -   21/01/2022 10:46:56

Sem necessidades de acréscimos ou retiradas; Gratidão!

Luiz R. Vilela -   21/01/2022 09:13:01

Ninguém sabe porque nasce, porque vive e porque morre. As teorias religiosas, são apenas alentos para que não se desanime por completo desta verdadeira expiação que é a vida. A maioria das pessoas, principalmente as que vivem no Brasil, o fazem abaixo da linha da pobreza, ou seja na miséria total, travam uma luta diária pela sobrevivência física, portanto perdem o discernimento quanto as visões mais elevadas de outros valores da vida. Patriotismo, nacionalismo, ideologia política, respeito ao próximo, a propriedade alheia e tantos outros itens do relacionamento humano se esvaem quando a necessidade é única, a sobrevivência. É ai que entra a esperteza, o bem feitor, aquele que supre a carência imediata, se torna credor, e a cobrança sempre vem em épocas de eleições, o "bom samaritano" troca suas ações de benemerência pelo voto do "assistido". É o princípio da corrupção e da vigarice na política. É a velha tática do que é dando que se recebe, tão comum na política brasileira, e que ninguém tem ousado combater, porque os praticantes, são sempre os mais poderosos. Quem vende o voto, perde a condição de cidadão participante do processo político, e quem o compra, acha que já pagou por ele, e nada mais deve ao eleitor. Tanto o representado deve se abster de receber algo em troca do seu voto, quanto ao representante também depois de eleito não pode usar o seu cargo para barganhas imorais.

RUBENS SILVIO DE ALMEIDA -   21/01/2022 08:21:25

Triste realidade, caro Professor, que o senhor descreve com maestria!!

FERNANDO A O PRIETO -   21/01/2022 05:18:57

Muito bom e oportuno, como de costume! Chega de venerar nulidades sem qualquer conteúdo, ou (pior ainda) com conteúdo de discurso negativo, moral e intelectualmente... Se, no mundo de hoje, restam muito poucos (infelizmente) "líderes" dignos de respeito, veneremos os do passado.

Esmeralda Kiefer -   20/01/2022 17:56:09

Triste!! Obrigada, Puggina, por seguir soltando a voz e alertando as pessoas! As verdades precisam ser semeadas continuamente!! Não está morto quem peleia!!