Percival Puggina

21/10/2009
AGORA É A VEZ DA NICARÁGUA Corte Suprema da Nicarágua abre caminho para possível reeleição do atual presidente A Corte Suprema da Nicarágua declarou nesta segunda-feira (19) que não existe impedimento legal para que o atual presidente, Daniel Ortega, seja candidato à reeleição em 2011, quando acabaria seu mandato. A declaração, que diz respeito a um artigo polêmico da Constituição do país, provocou uma onda de críticas na imprensa local, que já fala em golpe por parte dos magistrados. A Sala Constitucional da Corte Suprema de Justiça declara a inaplicabilidade de um artigo da Carta Magna que impede ao presidente e ao vice-presidente de disputarem um segundo mandato consecutivo no cargo, disse o juiz Francisco Rosales, ao ler a decisão para a imprensa. A decisão indica que o presidente da República [...] pode perfeitamente concorrer como candidato [nas eleições de 2011], explicou o vice-presidente da Corte, Rafael Solís. Para valer, a interpretação deve passar pela Corte Plena, onde Ortega tem maioria favorável.

Percival Puggina

18/10/2009
O descontrole do governo Lula com o gasto público se evidencia: a) na excessiva propaganda do governo; b) na domesticação da grande mídia; c) no inchaço da máquina pública; d) na megalomania dos grandes anúncios; e) na inusitada mordomia do presidente operário. Como resultado dessa conduta irresponsável, o governo chegou ao cúmulo de anunciar que suspenderia, por falta de caixa, a devolução do IR retido na fonte. Mesmo nos períodos mais difíceis pelos quais passou o país, essa devolução sempre foi tratada com o respeito que o contribuinte merece.

Percival Puggina

18/10/2009
No Brasil, tudo que se abriga no amplo espaço da política vive tempos de agonia. Agonia para valer. Sofrimento terrível, diante do qual as pilhérias e ironias do presidente da República soam como piada em velório. Se dispuséssemos de monitores capazes de acompanhar os fatos numa perspectiva que levasse em conta a saúde do corpo político nacional, ou ? quem dera! ? se contássemos com uma mídia atenta ao que é importante, perceberíamos as faltas de ar, as convulsões e os desfalecimentos que a acometem. Foi assim no caso de Honduras. Com raras exceções, a relação do Brasil com o que se passava naquele pequeno país centro-americano foi objeto de análises de natureza geopolítica que peço licença para considerar desfocadas. O Brasil nada tem a ver com aquele peixe. Aliás, o Brasil não lidera um sabugo em qualquer dos cinco continentes. ?Que exagero é esse, seu Puggina? Lula é um figurão da política internacional e o senhor diz que ele não lidera coisa alguma?? indagará o leitor. Nem na América Latina, meu caro. Aqui no Brasil, Lula tem 80% de aprovação. Fora daqui responde por 80% das gargalhadas. Na América Latina, até onde a minha vista alcança, Chávez é o cara em todos governos esquerdistas na América Central, para os quais o Brasil é irrelevante. Os demais estão ligados ao México ou aos Estados Unidos. No Caribe, Cuba está com Chávez e o resto na órbita dos Estados Unidos ou da Europa. Diante de Chávez também se perfilam, na América Sul, nossos vizinhos da Bolívia, Equador e Paraguai. Sobrou o quê? Argentina, Uruguai e Chile. Você acredita que qualquer deles tolere liderança brasileira? Poupem-me, então, dessa arrogância caipira que mantém inimizade profunda com os fatos da vida e do mundo. Prefiro o Brasil low profile do Itamarati, respeitado por quem tem a cabeça em cima dos ombros e longe dos intestinos, a esse Brasil que entregou sua embaixada para o caubói hondurenho e seus asseclas. Vale a pena, então, nos fixarmos no que é realmente importante. Por que o Brasil se meteu na enrascada de Tegucigalpa? Como foi possível apertar o gatilho de um tiro que lhe saiu pela culatra, quando qualquer estagiária do Itamaraty seria mais prudente? Bem, para responder tal pergunta é preciso saber o que se passa nas cabeças que dirigem, hoje, aquilo que só por teimosia a imprensa insiste em chamar de ?diplomacia brasileira?. Nossas relações exteriores, digamos assim que fica melhor, são comandadas por militantes de um partido político. E correspondem à política desse partido. Com base nessa cartilha e segundo seus gostos e desgostos, despreza-se uma nobre tradição. Ela nasceu com a criação da Secretaria dos Negócios Estrangeiros em 1822 e se consolidou ao longo do último século como uma respeitabilíssima política de não-intervenção, mediação e solução pacífica de controvérsias. O que sempre foi uma política externa do Brasil, com Lula e os seus sumiu para dar lugar à política de uma facção partidária, cuja capacidade de conviver harmonicamente com a divergência sempre teve o vulto de um cromossomo. É a mesma cartilha e o mesmo alinhamento político, ideológico e partidário que leva Lula a sobrevoar Israel pelos quatro pontos cardeais, sem jamais pousar (apesar dos insistentes convites), e ir dar tapinhas nas costas de todos os ditadores e aiatolás que circundam aquele país. Por quê? Ora por quê! Você sabe por quê. Não se espante, então.

Percival Puggina

18/10/2009
Com apoio de uma grande mídia incapaz de ver a verdade ainda que ela lhe fosse pingada nos olhos como colírio, cerrou-se uma cortina de silêncio sobre o que aconteceu nos últimos 18 anos da vida política e econômica nacional. E uma espécie de Mal de Alzheimer instalou-se na memória do país, afetando a capacidade de análise. Tudo em perfeita cumplicidade com o estelionato através do qual Lula, ao esticar a mão para colher os frutos do laborioso plantio promovido por seus dois antecessores, assumiu como coisa sua o conjunto da obra. Para que isso acontecesse, assim como os cãezinhos fazem com suas necessidades, Lula cuidou de jogar terra em cima das bobagens ? digamos assim ? que fez e disse contra todas as mudanças estruturais empreendidas nos governo de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. O modo como Lula enterrou 12 anos do trabalho planejado e executado pela devastadora máquina do petismo, foi de uma desfaçatez inominável: a gente, na oposição faz muita bravata... Pronto! Toda a injúria, toda a irresponsabilidade, todo o malefício que foi gerado e que tanto atrapalhou a vida de quem governava, fica do tamanho de uma bravata, ganha a rápida indulgência plenária e tudo segue conforme concebido nos salões do poder. Em sucessivos debates em rádio e tevê tenho desafiado o lulopetismo a apontar uma única iniciativa pessoal de Lula à qual se possa atribuir a estabilidade da economia brasileira e sua trajetória superior às expectativas durante a atual turbulência da economia mundial. Não há uma só! Nada! O lulopetismo sabe que essa estabilidade se deve a um conjunto de significativas providências de natureza estrutural, adotadas e preservadas teimosamente, a despeito do constante ataque da artilharia retórica e publicitária do lulopetismo. Foram oito essas medidas saneadoras: 1) o Plano Real, ao qual o lulopetismo se opôs vigorosamente; 2) a abertura da economia brasileira, à qual o lulopetismo denominava globalização neoliberal; 3) o fim do protecionismo à indústria nacional, que o lulopetismo chamava de entrega da nossa indústria às multinacionais; 4) o Proer, que deu solidez ao sistema bancário nacional e criou severos mecanismos de fiscalização que impediram a reprodução, no Brasil, dos financiamentos tipo subprime (a esse Proer o lulopetismo acusava de dar dinheiro do povo para banqueiro); 5) o cumprimento das nossas obrigações com os credores internacionais, prática responsável, contra a qual o lulopetismo se opunha ferozmente e que Lula chamava de dar aos ricos o dinheiro dos pobres?, ou de ?pagar a dívida com o sangue do povo, prejudicando a imagem do país, ampliando o ?Risco Brasil? e onerando a nossa dívida; 6) a geração de superávit fiscal, que o lulopetismo combatia, afirmando tratar-se de guardar dinheiro para dar ao FMI enquanto o povo passa fome?; 7) a primeira reforma da previdência, que o lulopetismo oposicionista combateu como um leão e que o Lula presidente já teve 2320 dias para mudar e não mudou; 8) o apoio dado à agricultura empresarial, que duplicou a produção nacional de grãos, fazendo com que ela saltasse das 70 milhões de toneladas nas quais estava estagnada havia mais de uma década para 130 milhões de toneladas (a isso o lulopetismo chamava modelo agrícola exportador, que desemprega e não produz alimentos, embora seja exatamente daí que vem quase todo o lastro de nossas atuais divisas). Tenho certeza de que os lulopetistas lêem essa lista sem nenhum constrangimento. Depois, olham-se do espelho e gostam do que vêem. Ainda que essa lista lhes traga à memória antigas passeatas, surradas páginas da velha cartilha e muito xingatório desfechado contra a ?direita neoliberal?, ainda que ela explicite objetos de seus ódios ancestrais e malquerenças que semearam durante anos a fio, tudo se passa como se não fosse coisa deles nem com eles. O inteiro receituário contido nessa lista, em relação ao qual Lula presidente não ousou mexer numa vírgula, evadiu-se da memória nacional como coisa irrelevante. O Brasil vai bem por causa de Lula e do PT e só por causa de Lula e do PT. Vai bem assim, na base da pessoa física do presidente e da pessoa jurídica do partido. Eles teriam o poder de fazer com que as coisas ocorram imotivadamente, tendo o nada como matéria-prima, mais ou menos com o Senhor fez o universo sobre as trevas do abismo. É bom observar que esses bons resultados estão sendo aproveitados por Lula de modo irresponsável, expandindo excessivamente o gasto público, passando para 37 o número ministérios (os Estados Unidos têm 16), ampliando em mais de 50 mil o contingente de servidores públicos, adquirindo uma nada urgente parafernália militar, enredando-nos com o enorme compromisso da realização dos jogos olímpicos de 2016, gastando em inomináveis mordomias e por aí vai. Como consequência dessa gastança, o governo chegou ao inédito anúncio de que não tinha recursos para continuar devolvendo neste exercício o Imposto de Renda cobrado a mais dos contribuintes. O círculo de proteção midiática, ideologicamente comprometido ou financeiramente cooptado, faz o jogo lulopetista. Aponta o milagre, mas o atribui ao santo errado. Escapa-lhe à atenção a lei universal segundo a qual não há efeito sem causa. Esquece que as coisas começaram a melhorar, para o Brasil, a partir do ano de 2004. E que não há mágica em matéria de economia. Se alguma iniciativa do governo Lula, tomada em 2003, teve a capacidade de produzir um ciclo virtuoso de desenvolvimento nacional a partir do ano seguinte, haveria um prêmio Nobel na prateleira do sábio de Garanhuns. Da mesma forma como conseguiu espaço e apoio midiático para desqualificar seus antecessores, o lulopetismo no poder voltou-se para desqualificar moralmente seus opositores. Os rolos em que se meteram não têm agente conhecido nem partido envolvido. Lula, o PT e os lulopetistas sabem coisa alguma. Mas estão a par de tudo sobre a oposição. Qualquer brasileiro, minimamente informado, sabe que Lula se relaciona, paparica, protege, elogia e vive cercado pela pior espécie de picaretas que já surgiu na política brasileira. São picaretas que ele mesmo sempre definiu como tais. Mas hoje são amigos de copa e cozinha, servindo aos seus interesses e aos interesses do PT. Como são fraudulentos em suas indignações morais! Como são ridículos esses 80% dos brasileiros que se escandalizam perante quaisquer desvios de conduta e, nas pesquisas, apontam o Lula quando lhes perguntam quem é o cara! Observe, por fim, o ódio do lulopetismo à oposição. É um ódio ideológico. É um ódio que se ouriça ante a menor ameaça à sua continuidade no poder. É inconcebível tamanha ira contra uma oposição inerte, insignificante e impotente. A oposição ao governo Lula é ridícula quando comparada a oposição que o PT faz onde quer que esteja fora do poder. E é absurdo que até esse pouco, muito pouco, quase nada incomode tanto o lulopetismo. A mais tímida manifestação oposicionista suscita uma raiva só comparável com a que eles mesmos cultivavam contra os governos aos quais se opunham. O lulopetismo mantém com a democracia uma relação sui generis. Ao fim e ao cabo, os lulopetistas, na falta do que contar aos netos como iniciativa própria para a redenção da economia nacional das brumas dos anos 80 do século passado, plantam a ideia de que Lula ama os pobres e seus antecessores amavam os ricos. E essa seria a causa do ciclo positivo vivido pelo país. Ora, isso é falso sob o ponto de vista dos fatos e inconsistente sob o ponto de vista das relações de causa e efeito. Em raros momentos de nossa história os ricos do país andaram tão faceiros como agora. Não, definitivamente, o Brasil não vai bem por causa do Bolsa-Família. O Brasil não trafega pela crise da economia mundial com certa desenvoltura por causa do Bolsa-Família. O Bolsa-Família é outra coisa. Como disse alguém, é apenas o maior programa de compra de votos do mundo. E eu acrescento que é a felicidade geral da nação: os ricos sempre gostaram de voto comprado e os pobres sempre gostaram de voto vendido.

Percival Puggina

17/10/2009
No Brasil, tudo que se abriga no amplo espaço da política vive tempos de agonia. Agonia para valer. Sofrimento terrível, diante do qual as pilhérias e ironias do presidente da República soam como piada em velório. Se dispuséssemos de monitores capazes de acompanhar os fatos numa perspectiva que levasse em conta a saúde do corpo político nacional, ou ? quem dera! ? se contássemos com uma mídia atenta ao que é importante, perceberíamos as faltas de ar, as convulsões e os desfalecimentos que a acometem. Foi assim no caso de Honduras. Com raras exceções, a relação do Brasil com o que se passava naquele pequeno país centro-americano foi objeto de análises de natureza geopolítica que peço licença para considerar desfocadas. O Brasil nada tem a ver com aquele peixe. Aliás, o Brasil não lidera um sabugo em qualquer dos cinco continentes. ?Que exagero é esse, seu Puggina? Lula é um figurão da política internacional e o senhor diz que ele não lidera coisa alguma?? indagará o leitor. Nem na América Latina, meu caro. Aqui no Brasil, Lula tem 80% de aprovação. Fora daqui responde por 80% das gargalhadas. Na América Latina, até onde a minha vista alcança, Chávez é o cara em todos governos esquerdistas na América Central, para os quais o Brasil é irrelevante. Os demais estão ligados ao México ou aos Estados Unidos. No Caribe, Cuba está com Chávez e o resto na órbita dos Estados Unidos ou da Europa. Diante de Chávez também se perfilam, na América Sul, nossos vizinhos da Bolívia, Equador e Paraguai. Sobrou o quê? Argentina, Uruguai e Chile. Você acredita que qualquer deles tolere liderança brasileira? Poupem-me, então, dessa arrogância caipira que mantém inimizade profunda com os fatos da vida e do mundo. Prefiro o Brasil low profile do Itamarati, respeitado por quem tem a cabeça em cima dos ombros e longe dos intestinos, a esse Brasil que entregou sua embaixada para o caubói hondurenho e seus asseclas. Vale a pena, então, nos fixarmos no que é realmente importante. Por que o Brasil se meteu na enrascada de Tegucigalpa? Como foi possível apertar o gatilho de um tiro que lhe saiu pela culatra, quando qualquer estagiária do Itamaraty seria mais prudente? Bem, para responder tal pergunta é preciso saber o que se passa nas cabeças que dirigem, hoje, aquilo que só por teimosia a imprensa insiste em chamar de ?diplomacia brasileira?. Nossas relações exteriores, digamos assim que fica melhor, são comandadas por militantes de um partido político. E correspondem à política desse partido. Com base nessa cartilha e segundo seus gostos e desgostos, despreza-se uma nobre tradição. Ela nasceu com a criação da Secretaria dos Negócios Estrangeiros em 1822 e se consolidou ao longo do último século como uma respeitabilíssima política de não-intervenção, mediação e solução pacífica de controvérsias. O que sempre foi uma política externa do Brasil, com Lula e os seus sumiu para dar lugar à política de uma facção partidária, cuja capacidade de conviver harmonicamente com a divergência sempre teve o vulto de um cromossomo. É a mesma cartilha e o mesmo alinhamento político, ideológico e partidário que leva Lula a sobrevoar Israel pelos quatro pontos cardeais, sem jamais pousar (apesar dos insistentes convites), e ir dar tapinhas nas costas de todos os ditadores e aiatolás que circundam aquele país. Por quê? Ora por quê! Você sabe por quê. Não se espante, então.

Percival Puggina

12/10/2009
A VERGONHA BRASILEIRA NÃO PODIA SER MAIOR 4 jornalistas foram expulsos da embaixada brasileira pela mulher de Zelaya. Entre eles, a brasileira Laubana Santana. Como se fosse a dona da casa, anteontem (sexta), a ex-primera-dama Xiomara Castro de Zelaya expulsou de nossa embaixada em Tegucigalpa quatro jornalistas: uma jornalista nicaragüense, um fotógrafo venezuelano da rede Telesur, um repórter hondurenho. E... o que causa ainda mais pasmo: uma correspondente brasileira foi expulsa da embaixada de seu próprio país, por uma estrangeira. Pela esposa de um ex-presidente que ali também se encontra alojado, ambos na condição de hóspedes, ao arrepio do Direito Internacional e da Constituição brasileira. (Por André F. Falleiro Garcia)

Percival Puggina

10/10/2009
A proposta abaixo está prosperando na opinião pública do Rio de Janeiro. Pode acabar virando lei federal. Já que tem Copa em 2014 e Olimpíadas em 2016, a gente bem que podia enforcar 2015.

Percival Puggina

10/10/2009
Muricy Ramalho, técnico do Palmeiras, deve dormir mascando chiclete. Faz isso o tempo todo. Quando fala, as palavras lhe saem mastigadas e o microfone capta o desagradável ruído das mandíbulas em operação. Mas por que estou falando em Muricy? Porque existem pessoas que em vez de mascarem chiclete, usam as palavras como se chicletes fossem, dando-lhes o jeito que melhor lhes convém. Mascam um falatório no qual os vocábulos mudam de sentido para iludir os incautos. É o caso dos invasores de terras. ?Invadir? Não, nós não invadimos, apenas ocupamos?, disse-me outro dia um defensor do MST. E é sempre assim. Juram que não fazem aquilo a que se dedicam em tempo integral. E quando a BM chega ainda a acusam de estar invadindo. O que o MST faz é coisa diferente? Vejamos. O que tornaria a ?ocupação? moralmente aceitável com vistas à Reforma Agrária e substancialmente distinta da reprovável invasão? A questão não é apenas semântica. Ela abriga conteúdos de conhecimento indispensável para que se tome a posição correta. Esclarecem-nos os ruminantes de vocábulos: invasão seria o ingresso em propriedade alheia para assumi-la como coisa própria (é claro que numa perspectiva legal e moral isso não pode ser aprovado). Ocupação, por seu turno, seria a presença em propriedade alheia para cobrar do governo o atendimento de demandas que se têm como justas. Mais ou menos o que os Estados Unidos fizeram no Iraque, mas sobre o que aconteceu lá o pessoal do MST diz que foi invasão, claro. Faz sentido? Não, não faz o menor sentido. E dado que os próprios autores da distinção entre os dois conceitos admitem que o tema tem implicações morais, não se pode, em relação a ele, fazer concessões. Exemplifiquemos. Um grupo de sem-teto ingressa na sua residência, leitor, e lhe determina que se retire. Você discute, reage, mas acaba no olho da rua. Estando fora, busca retornar, mas não lhe permitem. Você protesta: ?Com que direito invadem minha casa e dela me expulsam?? E o grupo responde: ?Perdão senhor, não estamos invadindo. Uma invasão seria moralmente inaceitável. O que estamos fazendo é ocupação, coisa legítima e bem diferente?. E assim, servem-se do conteúdo da sua geladeira, deitam-se na sua cama e fazem uso de seus bens. Se você não recorrer às autoridades, eles permanecerão. Ocupando. Se você apelar às autoridades e o Judiciário deferir sua reintegração de posse, rasgarão a ordem do juiz, que convocará a força pública. Neste caso, perante a ação policial, eles se retirarão, ou serão retirados, deixando o bem conhecido rastro de selvagem destruição. E na invasão? Na invasão é tudo do mesmo jeito, ora essa. E do mesmo mau jeito. No começo, no meio e no fim os eventos e os procedimentos serão idênticos. Não se maltrata desse modo o significado das palavras em matéria tão grave, a menos que se tomem os demais por idiotas. Enquanto escrevo este artigo, o MST encerrou o ataque terrorista a um laranjal em São Paulo no qual foram derrubados sete mil pés de laranjeiras. E, de lambuja, destruídos 28 tratores. As cenas do local lembram um terremoto em Sumatra. Arre! O que as lideranças do MST não percebem é que perderam, junto com o respeito da opinião pública, todas as perspectivas confessáveis do seu movimento. Ficaram apenas as inconfessáveis. ZERO HORA, 11/10/2009

Percival Puggina

10/10/2009
Afinal, o que terá passado na cabeça dos eleitores do Comitê Olímpico Internacional para que o Rio de Janeiro acabasse sede dos Jogos de 2016? Como conseguiu superar Chicago? Como é que ?o cara? daqui passou a perna no ?the guy? de lá? Até hoje tem gente que não entendeu a opção por uma cidade que, dois dias após a festa da indicação, já estava incendiando trens (e note-se: o vandalismo ocorrido na Baixada Fluminense não foi obra de bandidos aquartelados nos morros). Como entender, por fim, que centenas de milhares de visitantes sejam levados a um meio urbano onde os próprios brasileiros evitam ir porque lá se instalou um Estado paralelo, criminoso, comandado pelo tráfico de drogas? A vitória carioca, no entanto, foi absolutamente lógica. O placar das sucessivas votações de Copenhagen mostra que os eleitores de cada cidade eliminada numa votação fluíam para o Rio de Janeiro na rodada seguinte. Examinemos caso a caso. A capital nipônica já fora sede dos Jogos de 1964 e a candidatura aos de 2016, sem apoio da população, decorria de uma decisão pessoal do governador de Tóquio. A cidade, por isso, era carta fora do baralho. Quem olha o resultado de cada apuração verifica que Madrid empacou. Fez 28 votos na primeira, 29 na segunda e 32 na terceira, ao passo que o Rio de Janeiro fez 26 na primeira, 46 na segunda e 66 na terceira. Apesar do esforço de Zapatero e do rei, Madrid era outra carta fora do baralho por uma razão muito simples: os jogos de 2012 serão em Londres e outras capitais européias têm planos para concorrer aos jogos de 2020. Se já era difícil escolher consecutivamente duas sedes européias, a repetição de continente por três vezes seria impossível. ?Tudo bem, esquece Tóquio e Madrid. Mas e Chicago? Por que Chicago, que nos parecia a candidata mais forte, se estatelou na primeira rodada??, perguntará o leitor. Pois é. Chicago, dentre as quatro, era a carta mais fora do jogo. Pesavam contra ela as animosidades africanas, latino-americanas e islâmicas. E pesava, principalmente, o fato de ser uma candidatura municipal. Se realizados em Chicago, os preparativos estariam sob total responsabilidade do poder local e não do Estado de Illinois, ou dos Estados Unidos. O COI não gosta de lidar com simples prefeitos. Entendeu, leitor? Os Estados Unidos são uma federação para valer e não este arremedo que suportamos aqui. Lá, seria impensável uma cidade promover-se com recursos subtraídos de outros municípios ou de outros Estados. Tais absurdos, porém, compõem a cena cotidiana do murcho e flácido federalismo brasileiro. Num restaurante, jamais aceitaríamos pagar a conta do regabofe servido à mesa vizinha. Mas soltamos foguetes e nos rejubilamos com a escolha do Rio, desatentos para o fato de que absolutamente todos os benefícios dos Jogos (a partir do início das respectivas obras) serão daquela cidade, ao passo que a nota da despesa será enviada para o resto do país. Chicago era carta fora do baralho porque os Estados Unidos são uma Federação. Ponto. E a vitória carioca respondeu à lógica de um país de tolos, capazes de conviver ? como está acontecendo no Rio Grande do Sul ? com o fato de até mesmo uma rodoviazinha de 22 km na Região Metropolitana ser decidida pela União, lançada numa cidade-satélite cujo prefeito é petista, em festa com a presença do presidente e de sua candidata. Será preciso dizer mais para mostrar o quanto é sodomizado o federalismo brasileiro?