Percival Puggina

03/10/2009
Eu não estava entre os que festejaram a escolha do Brasil para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Em matéria de despesa, sou mais Pré-sal. Esse, que está sendo apresentado pelo Lula como grande conquista de seu governo, foi integrado ao Brasil por determinação dos governos militares que estenderam nosso domínio sobre a plataforma continental de três para 200 milhas. Esse, que ganhou até madrinha, como se fosse bebê ou navio, até 2016 só vai gerar despesas, mas daí para frente passa a produzir resultados. Já os Jogos Olímpicos são uma forma de levar para o Rio de Janeiro recursos arrecadados no resto do país. Belo negócio fizemos os demais brasileiros! Hoje, perdemos todos. Só os cariocas ganharam.

Percival Puggina

03/10/2009
O episódio é recente e ocorreu em Viamão. Certa escola local fez mutirão para pintar o prédio. Toda a comunidade se envolveu nele. Serviço pronto, escola rejuvenecida, apareceram pixações nas paredes. Durante uma semana a direção investigou o fato. O principal suspeito, ouvido, denunciou outros alunos. Finalmente, foi identificado como sendo ele próprio o responsável. Além de pixador, agira como tremendo mau-caráter. Punição estabelecida e cumprida: diante dos colegas, o rapaz teve que repintar o que havia borrado e que fazer pequenos retoques em outras salas, dado que se havia omitido durante o mutirão da pintura. Você não imagina, leitor, a confusão que isso gerou. Os pais do aluno, que não haviam mexido uma palha, ou, melhor dizendo, um pincel, na pintura da escola, saíram do sofá e denunciaram a professora à Secretaria da Educação. O assunto ganhou páginas de jornal e foi tema dos principais programas de entrevistas e de debates em rádio e tevê. Até aí tudo à moda nacional: pais sem critérios, incompetentes para educar os filhos, produzindo cidadãos inadequados à vida civilizada e uma direção de escola que, ao resolver pôr ordem no seu terreiro, contrastou tanto com o contexto vigente que chamou a atenção da mídia estadual. O que me leva a este artigo foi o que, com os raros cabelos em pé, ouvi de muitos entrevistados sobre o episódio. Estou falando de gente grande. Estou falando de gente da Promotoria da Infância e da Juventude. Estou falando de doutos pedagogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e por aí afora. Estou falando de pessoas qualificadas, portanto, exceções feitas às autoridades educacionais do Estado, que rapidamente extinguiram o processo direcionado contra a professora. Mas a indignação de um eminente promotor com a ?humilhação? a que fora exposto o aluno, a sorridente tolerância de um mestre de professores da nossa universidade federal, para quem a transgressão é saudável para o adolescente, etc. e tal, não me saem da cabeça. Foi durante esses debates que fiquei sabendo de algo surpreendente: desde a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente não existem mais, nos regimentos escolares, punições prescritas para atos que contrariem o que neles esteja estabelecido. Não há mais pena de expulsão. Não há mais pena de suspensão. Não há mais punição alguma! Nestes assuntos, os Conselhos Tutelares mandam nas direções das escolas. Eduque-se alguém nessa bagunça. Chegava a ser engraçado. Os programas de debate, interativos, ouviam os entendidos e estes, com raras exceções, condenavam a conduta da direção da escola. A opinião pública, por sua vez, a aplaudia de pé, com a aprovação de mais de 95% de ouvintes e telespectadores. Milhares de telefonemas! Eis por que, então, trago o assunto aos meus leitores. Que o episódio sirva de exemplo. Como assim ? ?de exemplo?? ? perguntará o leitor. Sim, de exemplo para bem compreendermos a origem da esbórnia que se instalou no país. Assistimos ao efeito corrosivo do pensamento marxista que, inspirando as pedagogias dominantes no ambiente acadêmico nacional, conseguiu seu objetivo e virou tudo de cabeça para baixo. E que isso sirva de exemplo, por fim, aos que pensavam estar tudo perdido. Não, não está. O processo em curso corre de rédeas frouxas, é verdade, mas corre contra a imensa maioria da opinião pública. O mais notável nisso tudo é que a minoria ínfima, quando fala, limpa a garganta, estufa o peito, sobe o tom e garante que representa o povo. O povo não é burro nem mal intencionado.

Percival Puggina

28/09/2009
A injustificável interferência brasileira na questão hondurenha está desencadeando aquilo que se temia ? desdobramentos danosos àquele país e tumultuando sua realidade social e política. A situação era bem outra até Manuel Zelaya irromper na embaixada brasileira e, desde ali, organizar seus adeptos. Responda, leitor, estas duas perguntas: 1ª) o governo brasileiro estaria agindo do mesmo modo se idêntica situação ocorresse na Colômbia e o presidente destituído fosse, Uribe, que é ?de direita?? 2ª) o governo brasileiro estaria agindo do mesmo modo se em vez da pequena e distante Honduras, o fato se desse na vizinha e bem mais poderosa Argentina? PERCIVAL PUGGINA NA TV AL 28/09 às 24 horas e 29/09 às 11h30min, estarei sendo entrevistado na TV AL, no programa Com a Palavra.

Percival Puggina

26/09/2009
Quem diria que o Brasil haveria de patrocinar em Honduras uma pixotada sem paralelo, não é mesmo? Esse rolo só se pôde viabilizar num período durante o qual nossas relações exteriores são conduzidas por personagens que parecem adolescentes idosos, saídos de um congresso da UNE. Sabe como é? O sujeito ficou velho, mas ainda está lá, na UNE. O corpo e a próspera barriguinha vivem no século 21, mas o cérebro calcificou em meados do século passado, quando sonhava com a ditadura do proletariado e Kruschev ainda não tinha traído a memória do benemérito camarada Stalin. A turma simplesmente trocou a camiseta com estampa de Che por um terno Armani, a mesada do pai por um contracheque robusto e o dormitório coletivo por uma suíte no Ritz. Houve golpe em Honduras? Claro, companheiro. O poder só escapa das mãos dadivosas da esquerda por golpe ou fraude, não sabia? De mais a mais, é o que todo mundo diz, logo, só pode ser verdade. Certo? Errado, Marco Aurélio. Vejamos as coisas sob os prismas do legítimo interessado ? o povo de Honduras ? e de suas instituições. Escaldados até as orelhas por ditadores, os hondurenhos congelaram o prazo dos mandatos presidenciais e proibiram reeleições. Cláusulas rigidamente pétreas, estabelecidas por puro zelo democrático. Basta a um presidente propor algo diferente disso para incorrer em ?crime de traição? e ?cessar de imediato o desempenho de seu cargo? (arts. 4, 42 inc 5, 239 e 374 da Constituição deles). Zelaya sapateou sobre esse calo. Quando faltava menos de um ano para o término de seu mandato declarou-se inconformado com as restrições da Carta Magna. Foi atrás do espanhol Ruben Dalmau (o mesmo que assessorou o continuísmo de Chávez, Rafael e Evo). Emitiu decreto convocando plebiscito. Foi barrado pelo Judiciário. Expediu outro, chamando uma eufêmica ?consulta popular?, que foi, igualmente, proibida pela Justiça. Sapateou de novo, bateu pé, fez comício, mandou vir da Venezuela o material para votação e convocou o Exército para acompanhar o processo. O Tribunal Supremo Eleitoral mandou recolher a mercadoria. Zelaya destituiu o comandante do Exército, enviou seus agentes para retomar tudo de volta e acordou preso. Como o vice-presidente havia renunciado no ano passado, o presidente da Assembléia Nacional, próximo na linha sucessória, assumiu o governo até as eleições de novembro. Que outra mudança constitucional, além da possibilidade de voltar a concorrer, poderia levar Zelaya a jogar tão pesado, quatro meses antes da eleição de seu substituto? Golpe é a tomada do poder ou a permanência nele pela força, ou por via inconstitucional. Ora, a Suprema Corte hondurenha proclama ?urbi et orbi? que o processo ocorrido no país foi constitucional. A Assembléia Nacional diz o mesmo. E aluno neobolivariano de Chávez é quem tem razão? Quem pode informar sobre a constitucionalidade dos atos políticos de uma nação livre e democrática com maior autoridade e legitimidade do que sua corte constitucional? Mas os intrujões da diplomacia brasileira enfiaram o Brasil na encrenca que persiste quando escrevo estas linhas. Zelaya recebeu ?status de convidado? e transformou nossa embaixada num aparelho, no qual entrou sem tirar o chapéu, e desde o qual, como se estivesse na casa da mãe Joana, conclama seus adeptos do interior (deve ser gente da UNE deles) a virem para Tegucigalpa defendê-lo. Ou seja, estamos, irresponsavelmente, patrocinando um conflito de proporções imprevisíveis. ZERO HORA, 27/09/2009

Percival Puggina

26/09/2009
Afinal, quem é esse cowboy que o Lula escolheu como símbolo de resistência democrática num continente dominado pelos ardilosos do Foro de São Paulo que ele e Fidel inventaram, peritos em usar os instrumentos da democracia contra ela própria? Manuel Zelaya é homem de posses e poses, herdeiro de um grande empresário hondurenho, foi deputado do Partido Liberal e se elegeu presidente em 2005 com votos do centro para a direita, como opositor ao governo do esquerdista Ricardo Maduro. Durante o exercício do mandato, malgré tout, Zelaya foi gradualmente virando bolivariano, atraído pelo petróleo do vizinho Hugo Chávez e pelas facilidades proporcionadas pela Petrocaribe, instrumento importante para a geopolítica chavista na região. A Petrocaribe é um consórcio que opera com petróleo venezuelano para fornecê-lo aos países parceiros por preços inferiores aos do mercado internacional, num modelo operacional que Chávez denomina ?petro-socialismo?. A sua Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA) já inclui, além da Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua, Dominica, as ilhas São Vicente e Granadinas, Antigua e Barbuda, e Honduras. Tem a simpatia da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Haiti, mas o nosso Lula está convencido de ser o rei da cocada preta no continente. Resumindo a ópera, Zelaya mudou de lado. Trocou de eleitorado e de base parlamentar, ficou com ampla minoria no Congresso e sua aprovação popular caiu para 25%. Foi em parte por isso que a imprensa brasileira que se deslocou para Honduras chamando o governo de Micheletti de golpista (certa jornalista chegou deixou escapar a expressão ?junta militar?) se surpreendeu com a aversão hondurenha aos brasileiros e percebeu a repulsa do país à nossa intromissão nos seus assuntos internos. Não são apenas caras de poucos amigos. É um berreiro das ruas, perfeitamente audível: ?Brasileiros go home!?. E o nosso rei da cocada preta não percebe o papelão que faz nem o constrangimento que nos impõe. Pois bem. Ou, pois mal. Desnecessário reiterar aqui tudo que já escrevi sobre o caso de Honduras (ler no meu blog www.puggina.org). Não houve golpe nem contragolpe. Houve apenas o estrito cumprimento de determinações judiciais e dos preceitos constitucionais. Ainda que dúvida surgisse, a única instituição competente para esclarecê-la é a Suprema Corte hondurenha. E ela já o fez, em solene Comunicado Especial, ?urbi et orbi? (www.poderjudicial.gob.hn e, em seguida, procure no link ?Comunicados especiales? o ?Comunicado de 20 de Julio?). Está ali, para ONU, OEA, Lula e todos os lulistas lerem. O resto é mera opinião que não justifica tamanha interferência em assunto interno de uma nação soberana e democrática. Binômio constrangedor para nós: pequena nação e enorme intromissão brasileira. Lula não agiria do mesmo modo se o episódio se passasse na Argentina. Mas isso é ocioso repetir. O ponto, aqui, é o sistema de governo em si. Que coisa mais arcaica e pouco democrática um modelo que permite ao chefe de Estado e de governo mudar de lado, de programa, de parceria e até de eleitores, sem qualquer conseqüência! Sim, porque se Zelaya não tivesse incorrido em delito de traição à pátria, permaneceria no governo, como ficou até julho, agindo como antônimo de si mesmo. Completo absurdo. ?E o rei da cocada preta??, perguntará o eleitor. Pois é. Ele está custando muito caro ao Brasil. Por isso, ficará conhecido como nosso caríssimo presidente.

Percival Puggina

23/09/2009
Com algum atraso, está no ar o meu blog, cujo conteúdo é restrito às minhas opiniões pessoais. Serão postados um ou dois artigos semanais. A newsletter semanal passará a ser enviada apenas aos visitantes que o solicitarem através do cadastro. HOMEM DE VISÃO 2009 (Augusto Nunes, sobre Celso Amorim) ?A América Latina do século 21 não tem espaço para um país que não aceite a democracia? (Celso Amorim) Celso Amorim, Homem sem Visão de Abril, mirando em Honduras, atingindo a Venezuela pelas costas e acertando Cuba na testa.

Percival Puggina

20/09/2009
Com algum atraso, está no ar o meu blog, cujo conteúdo é restrito às minhas opiniões pessoais. Serão postados um ou dois artigos semanais. A newsletter semanal passará a ser enviada apenas aos visitantes que o solicitarem através do cadastro. AINDA EXISTEM JUÍZES NO BRASIL Só um governo cujo bom senso vai até onde começa a ideologia poderia conceder gorda pensão à viúva do desertor e guerrilheiro Carlos Lamarca. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (ação entre amigos em que uns ajudam os outros com o nosso dinheiro) havia concedido a ela quase um milhão de reais de reparação e uma pensão equivalente ao soldo de general de brigada(!) e mais uma beira para os filhos... Agora a Justiça federal concedeu liminar suspendendo o pagamento, numa ação movida pelo Clube Militar do Rio de Janeiro. HOJE NO CONVERSAS CRUZADAS Hoje, às 22h30min estarei participando do programa Conversas Cruzadas (TVCOM, canal 36), em Porto Alegre, sobre a situação em Honduras.

Percival Puggina

20/09/2009
Não votei em Lula por muitas razões. E entre elas foi quase irrelevante o pouco tempo que o filho de dona Lindu passou lustrando fundilhos nos bancos escolares. O pior de Lula, para mim, não estava no que ele não fez quando jovem, mas no que ele fez e no que deixou de fazer depois de crescidinho. Intimidade com a gramática faz bem, mas não é condição essencial para o desempenho do cargo de presidente. A leitura de bons livros também, mas não havia a menor possibilidade de que alguém com o círculo de convivência de Lula e com as ideias sublocadas na sua cabeça viesse a ler bons livros. Lustro intelectual, formação acadêmica devem ser exigidos de quem ocupa outras posições ao redor do presidente e no governo. Um país onde quase metade da população é formada por analfabetos funcionais inevitavelmente vai eleger, com freqüência, para os mais variados cargos, pessoas de escassa formação escolar. Ou elevamos o nível cultural da sociedade e mudamos a regra do jogo ou nos habituamos aos tipos que emergem da condição atualmente posta. No entanto, o que se releva para o presidente não se releva para ministros do Supremo. Se para presidente da República nossa constituição não exige formação alguma, dos ministros do STF se cobra mais do que curso superior. É imperioso que a pessoa tenha ?notório saber jurídico?. Ou seja: não basta ser bacharel em Direito. Não bastam os cursos de mestrado ou doutorado requeridos a quem pretenda, por exemplo, lecionar numa boa instituição de ensino superior. Tampouco é suficiente o mero ?saber jurídico?. Não! O constituinte nacional, reconhecendo as transcendentes tarefas do posto e sua relevância no nosso ordenamento jurídico e político, fez questão de exigir que esse saber seja ?notório?, vale dizer, amplamente reconhecido. Para o presidente Lula, o advogado José Antonio Dias Toffoli preenche os requisitos para sentar-se entre os 11 membros da mais alta corte da magistratura nacional. Aos 41 anos de idade, recém saído dos cueiros da academia, sem mestrado nem doutorado, sem um livrinho publicado, reprovado em dois concursos para juiz federal, o amigo Toffoli vai à sabatina do Senado Federal nos próximos dias. E vai passar. Pois bem, o caso de Toffoli, então, é diferente do de Lula. Lula deve achar o guri um monstro do Direito. Entende tudo que está escrito naquelas letrinhas miudinhas e nem fica com uma canseira danada. No entanto, Toffoli poderia ter vencido todos os cursos e concursos e ser aplaudido em todas as academias internacionais de Direito, mas se sua biografia fosse tão estrita e notoriamente partidária como é, o STF não poderia ser o próximo degrau de sua carreira. Quem quiser conhecer o pior legado do governo Lula deve olhar para o STF, às indicações que fez. Quando ele deixar a presidência, haverá sete ministros seus naquela corte. Entenda-se bem. Não constituem novidade as indicações políticas para o STF. Novidade é o aparelhamento do poder. Ao longo dos últimos cem anos, passando por nomes como Epitácio Pessoa, Prado Kelly, Aliomar Baleeiro, Evandro Lins e Silva, Bilac Pinto, Paulo Brossard e vários outros, algo como duas dezenas de membros do STF exibiram volumosos currículos incluindo mandatos partidários e atribuições políticas. Mas nenhum com passado tão minguado e tão restrito a funções partidárias. Nenhum que tenha colocado seus conhecimentos de Direito tão a serviço de um aparelho partidário. Quando certos assuntos chegarem à pauta ? casos mensalão e Battisti entre eles ? será possível ver o que nosso finório presidente armou e vai deixar no STF. ?E o Senado? Aprovará a indicação??, pergunta o leitor. Respondo eu: O Senado? Ora, o Senado!

Percival Puggina

18/09/2009
Com algum atraso, está no ar o meu blog, cujo conteúdo é restrito às minhas opiniões pessoais. Serão postados um ou dois artigos semanais. A newsletter semanal passará a ser enviada apenas aos visitantes que o solicitarem através do cadastro. PILHAGEM DO MST NO INCRA A indignação do INCRA com a devastação e a pilhagem praticadas pelos militantes do MST na sede da instituição em Porto Alegre não convence ninguém. Não é a primeira nem é a segunda nem a terceira vez que isso acontece. E não é diferente o que esses bandos fazem quando invadem propriedades particulares. O INCRA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no entanto, continuam trabalhando e gastando com eles e para eles o dinheiro dos contribuintes que, de maneira alguma, se consultados, admitiriam tais gastos.