• Valterlucio Bessa Campelo
  • 23 Novembro 2022

 

Valterlucio Bessa Campelo

        Outro dia, enquanto saía de uma dessas plataformas de streaming onde assisti novamente o excelente filme “A Sombra de Stálin” que, baseado em fatos, demonstra como a imprensa escondeu os horrores stalinistas, especialmente o genocídio na Ucrânia, me deparei num canal aberto, coisa que deixei de ver, com um jornalista denominando de golpistas as manifestações de rua que milhões de brasileiros, de todas as raças, credos, idades e níveis socioeconômicos realizam desde o resultado eleitoral informado pelo TSE. Desacostumado com o “noticiário” de TV, tive a impressão de que estava diante de um militante arrogante e privilegiado, que usa o tempo de que dispõe para reproduzir na telinha que ainda alcança um número considerável de pessoas, o discurso mentiroso da esquerda autoritária.

O sedizente jornalista aceita alegremente a CENSURA que o STF lhe enfia, suporta caladinho a perseguição, silenciamento e prisão de colegas que se atrevem a fugir do script progressista, morde a fronha vermelha de sangue do totalitarismo para, ao final, chamar de golpista o movimento mais legítimo, espontâneo, pacífico e sóbrio que esta nação já viveu.

Em primeiro lugar, é preciso saber que um golpe de estado pressupõe que o golpeado seja legitimo. É condição necessária. Vale dizer, sem ser legitimo, nenhum governo pode sofrer golpe, seria um contrassenso, uma contradição em termos. Em segundo, observe-se que a discussão é exatamente esta: Há legitimidade na eleição do ex-presidiário? Sim, dirão seus eleitores, já que o número de votos contados pelas urnas eletrônicas é superior ao do seu adversário. Não se garante, dirão os manifestantes, já que a caixa preta de contagem apresenta, segundo relatórios já espalhados aos montes, inúmeras inconsistências estatísticas e várias violabilidades. Há, portanto, incertezas justificáveis que devem ser resolvidas.

O cidadão que está na rua há mais de quinze dias, sob sol e chuva, não quer destituir nenhum governo legítimo, então não pode ser golpista, ele quer a chance de provar que o processo não foi legítimo e, para isto, basta que permitam o processo de auditagem integral. Pelo menos três elementos graves de suspeição foram apresentados pelo Ministério da Defesa: O código-fonte não foi disponibilizado; houve inserções não auditadas de bibliotecas de terceiros e não há garantias de que o programa disponibilizado corresponde ao efetivamente utilizado. Caso seja impossível a auditagem, fica desprovido de segurança o resultado proclamado e escassa a sua legitimidade já fragilizada por vários relatórios estatísticos ainda não contestados. O que os manifestantes não admitem é a concretização de um processo cuja lisura não possa ser absolutamente declarada. Queira ou não o Sistema e o jornalista militante, o direito à livre expressão está indelevelmente cravado na Constituição Federal brasileira, apesar dos constantes ataques que sofre de quem deveria protegê-la.

As gentes todas que o “jornalista” chama de golpistas, sem olhar para o próprio rabo onde estão atados regimes totalitários que prendem e matam por crime de opinião, tem todo o direito e o dever cívico de pedir ou lutar a favor ou em contrário do que quiserem e, neste caso, estão desconfiadas, amedrontadas e acuadas. Caminhoneiros não são vagabundos, eles não param no meio da estrada para tirar folga ou porque sejam criminosos golpistas, mas para avolumar e fortalecer a expressão de uma insatisfação legítima. Se há excessos, que sejam apurados e corrigidos na forma da lei, mas não criminalizados em uma espécie de sanção da censura. Penso que uma boa leitura de Ruy Barbosa lembraria ao militante que “Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios que lhe exploram as instituições “.

Tomemos como exemplo a situação atual nos EUA, onde, após a retomada da maioria na Câmara, os republicanos pretendem levar adiante investigações sobre os podres do Joe Biden escondidos durante as eleições, com o já confessado acumpliciamento da imprensa para que ele fosse eleito. Lá aconteceu algo semelhante a “absolvição” do ex-presidiário pelo consórcio de cá, ou seja, esconderam os crimes do candidato. As acusações contra os Biden são severíssimas, ao ponto de incluir tráfico humano. Quem teve acesso ao conteúdo do computador de Hunter Biden (filho de Joe Biden) sabe a que me refiro.

Como costumava dizer Ulysses Guimarães, eterno ícone da redemocratização, nada é mais sanitário na política do que iluminar os fatos. O verdadeiro crime em curso é o de censura, praticado às escancaras de cima a baixo, do topo à planície, tendo como alvo uma visão conservadora do mundo, o respeito à vida, tradições, família, religião, propriedade e liberdade. O progressismo anda a passos largos, de mãos dadas com a censura calando os oponentes.

Parece que o autoritarismo que o combate à COVID acoitou não quer sair da sala. Não se podia dizer que a vacina era experimental, logo, um tanto insegura, e agora não se pode dizer que as urnas eletrônicas são passíveis de ataques à sua integridade. Mais tarde será proibido questionar o alarmismo climático e, de uma em uma, a censura se normalizará perante a sociedade. Você, leitor, dirá apenas o que eles permitirem que você diga. Infelizmente, a outrora nobre imprensa, cuja essência é a verdade, dá sobradas mostras de submissão, fazendo com que a mediação entre a realidade fática e o cidadão se mude em definitivo para as sinuosas plataformas e mídias sociais. Infelizmente, ao negar a verdade e se tornar militante de causas e projetos, a imprensa cava seu próprio sepulcro.

Valterlucio Bessa Campelo escreve todas as sextas-feiras no ac24 horas e, eventualmente, em seu blog e no site Conservadores e Liberais do jornalista Percival Puggina.

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 22 Novembro 2022

 

Alex Pipkin, PhD
          Na vida e nos negócios, existem variáveis que se encontram sob nosso controle, e aquelas que, para obtê-las e/ou controlá-las, precisamos de coragem.

Aristóteles, na Grécia Antiga, ressaltava o valor da grande virtude: a coragem.

De acordo com o filósofo, a coragem é o equilíbrio entre o medo e a ausência dele. Coragem de verdade não é a falta do medo, mas a vitória sobre ele.

Eu diria que a “coragem racional” está entre o medo e a bravura irresponsável.

Em tempos verde-amarelos acinzentados, sombrios no mundo, eu nunca vi tamanha falta de coragem.

Não, não se trata de achismo, basta verificar o que ocorreu no auge da cólera pandêmica.

Parece-me que para a maioria dos brasileiros, factualmente, a coragem é uma virtude antiquada.

Vou além da generalização, que é sempre imprecisa e perigosa.

Falta-nos coragem para encarar situações e eventos nas diferentes esferas da vida “vivida”, como também no nível de fazer escolhas e, portanto, tomar decisões no meio empresarial. Refiro-me aqui tanto às decisões operacionais do dia a dia quanto às estratégicas de alocação de recursos no presente, visando à construção de uma posição diferenciada e favorável no futuro. A incerteza do futuro gera medo…

Desejo me concentrar em um aspecto da realidade nacional.

É claro que todo mundo sabe que essa composição do STF, a pior da história nacional, é formada por membros despreparados, interesseiros, ideológicos, aspirantes a tiranetes, arcaicos - a lista é extensa, paro por aqui.

O tiranete-mor, sem dúvida, é o xerife Alexandre de Moraes. Arrogância e demonstrações de imposição e força sobram-lhes, faltam-lhes imparcialidade e razão.

Contudo, reconheço nesse semideus togado a coragem. A coragem desvairada, aquela que beira a loucura.

A grande questão tupiniquim hoje, portanto, diz respeito a como combater essa legítima anomalia irresponsável.

Penso que não há outro remédio - administrado em doses cavalares - que não seja com a corajosa manifestação popular. A sabedoria popular é sabia.

O povo sacou que chegou a hora…

Não há nada de irresponsável nos milhões de pessoas que se encontram nas ruas do país, protestando por liberdade, justiça, ordem e prosperidade.

Friso que o referido equilíbrio envolvido na coragem de Aristóteles está na identificação da luta que deve ser travada, naquela que vale todo o esforço dispendido.

O povo brasileiro - já repararam como o ex-presidiário utiliza essa expressão? - identificou e comprou a “boa luta”. Independente do desfecho, valeu a pena!

“Quero ser alguém que faz… Levar o que faz da minha vida algo que valeu a pena ser… Valeu a pena ser!”.

Pois é a luta da coragem desarrazoada contra aquilo que todo mundo vê, e mesmo daquilo que não se vê (oh, grande Frédéric Bastiat!), efetivamente, daquilo que deve e precisa ser feito.

Certo que as elites - podres - impõem o medo para controlar o povo. Visível que vivemos a ditadura da toga verde-amarela.

Então, encarna Aristóteles, e se estiver com um certo temor, aperta aquela tecla “f…”, e vai com medo mesmo!

 

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  • Jorge Abeid, PhD
  • 22 Novembro 2022

 

Jorge Abeid, PhD

         Um dos grandes problemas da sociedade brasileira, entre tantos outros, é não questionar e não analisar as coisas que dão errado. Afinal, como diz a minha Mônica, experiência é o nome bonito que damos aos nossos erros.

Segundo dados oficiais de 2022, nós, brasileiros que vivemos fora do Brasil, somos hoje 4,2 milhões. Este número é maior que a população do Distrito Federal e de outros 12 estados, como por exemplo Mato Grosso do Sul e Tocantins.

A situação piora quando se investiga onde vivemos:

USA 1,7 milhão; Portugal 276 mil e, em terceiro lugar, se não estiver sentado sente-se: Paraguai, com 260 mil brasileiros.

Será possível que para tanta gente, um quarto de milhão, viver no Paraguai seja melhor do que viver no Brasil?

Desse povo que vive nos USA, garanto-lhes: boa parte, pessoalmente conheço alguns, vive lá ilegalmente, será possível que viver com medo da polícia é melhor do que viver no Brasil?

Eu vivo aqui na América do Norte desde 1997, sendo quatro anos nos USA e os demais aqui em Ontario Canada. Acompanho esse número por curiosidade pessoal. Desde então, lembro que me assustei quando o número chegou a 1 milhão, número que não para de crescer e ninguém aí fala nisso. Não se menciona uma sangria desatada dessa magnitude.

Fernando Pereyron Mocellin foi um gaúcho que, na FAB, pilotou  caças P47 em 59 missões de guerra nos céus da Itália durante a Segunda Guerra Mundial. No livro que escreveu – MISSÃO 60 – ele conta uma experiência que viveu na academia da Força Aérea dos USA quando os pilotos brasileiros do chamado “Senta a Pua” foram treinados naquele novo avião de caça, o então novíssimo Thunderbolt P47. No seu primeiro voo solo, ao aterrissar, ele espatifou o avião novinho na pista. A equipe de socorro ao chegar ao local, o encontrou em prantos, sentado sobre o que restava do avião. O comandante que acompanhava a equipe perguntou:

- Você está machucado?

- Não senhor, respondeu ele.

- E chora por quê?

- Eu destruí essa maravilha de avião que vocês me confiaram.

- Meu filho, um avião nós produzimos a cada quatro horas; um piloto, 20 anos.

Essa lição dos anos 40 ainda não foi aprendida no Brasil. Na multidão dos nossos imigrantes estão professores universitários como eu, cuja formação leva mais de 20 amos. Estão médicos, dentistas, enfermeiros, economistas e sabe-se lá mais quê.

A hemorragia de recursos humanos debilita o país.

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  • Dartagnan Zanela
  • 21 Novembro 2022

 

Dartagnan Zanela

          Há momentos que devemos falar, e falar em alto e bom tom, do alto do telhado da nossa morada, para que todos possam ouvir nossa voz. Esses momentos são aqueles quando a verdade não mais encontra morada no coração dos homens e, por isso, torna-se urgente proclamá-la.

Porém, o grande problema é que toda vez que alguém ousa anunciar a verdade, que muitos querem amordaçar e largar num bueiro qualquer, é que todos aqueles que tomam a decisão de realizar essa tarefa, o fazem imaginando que estão na praça da república de Platão, esquecendo-se que estão na latrina aberta por Deodoro da Fonseca e seus "Blue Cat's".

Por essa e outras que dizer a verdade é sempre um problema.

Sobre isso, podemos fazer inúmeras considerações, porém, gostaria apenas de chamar a atenção para um ponto, que é a diferença que há entre credibilidade e veracidade. Diferença essa que, muitas e muitas vezes, desdenhamos.

Algo que tem credibilidade é tão só e simplesmente um trem que as pessoas, de um modo geral, creem que seja digno de confiança, mesmo que seja uma tremenda mentira. Já a veracidade é quando algo, dito por alguém, corresponde aos fatos, pouco importando se as pessoas dão credibilidade ao que está sendo dito ou não.

E é aí que a porca torce o rabo, e torce desavergonhadamente, porque, muitas e muitas vezes, nós não procuramos distinguir uma coisa da outra, porque não estamos, de fato, preocupados em saber qual é a verdade sobre incontáveis assuntos e, não queremos saber, porque desejamos apenas ter a tal da razão que, no frigir dos ovos, nada mais seria que a "vitória" sobre alguém num bate-boca, deixando-o momentaneamente sem palavras, pouco importando se o outro está com a verdade ou não.

Não é à toa que o debate público acabe sempre enveredando por um caminho que acaba desembocando em uma choldra ignóbil, tendo em vista que, feliz ou infelizmente, nós não somos cidadãos da república platônica, mas apenas e tão somente sujeitos que vivem atônitos na latrina política aberta por Deodoro e companhia.

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  • Gen. Antônio Hamilton Martins Mourão
  • 21 Novembro 2022

 

Gen. Antônio Hamilton Martins Mourão

Nota do editor: este artigo, de autoria do atual vice-presidente da República e senador eleito pelo RS, foi divulgado pelo Clube Militar e eu o estou reproduzindo do blog do ex-ministro da Educação, Prof. Ricardo Vélez.

O resultado dessa eleição presidencial foi um teste para a democracia no Brasil. Como aconteceu a tantos países na História contemporânea, das urnas emanou no último dia 30 de outubro, uma decisão cujos resultados só podem ser revertidos pela prática da democracia, a começar pelo respeito às manifestações ordeiras e pacíficas da população.

A palavra, distorcida pela grande imprensa e cerceada pelo Judiciário, venceu a razão, presente tanto nas reformas de que o País precisa quanto nos números irretorquíveis do trabalho do governo.

A amargura da tragédia da pandemia sobrepujou o muito que a administração federal fez e procurou fazer em prol da população, particularmente da mais pobre.

De uma eleição em que os meios se impuseram aos fins não há o que comemorar, apenas lições e responsabilidades a assumir.

A primeira delas é a de que, no Brasil, a Direita, aquela tendência do pensamento político caracterizada pelo conservadorismo de costumes, pelo estímulo à iniciativa privada e pela defesa da liberdade sob a égide da lei, é muito maior do que os votos que ela recebeu ou do que os votos que eram seus e deixou de receber, dissipados por meios, legítimos ou não, cuja legalidade a História julgará.

O eleitor de direita é a pessoa que acredita em Deus, ama a Pátria e defende a família, cada vez mais consciente de que vive em uma sociedade politicamente organizada no Estado Democrático de Direito, onde, entre outras premissas: todos são iguais perante a lei; onde é livre a manifestação do pensamento e de expressão, independentemente de censura ou licença; não há crime sem lei anterior que o defina…

Em português, como em outros idiomas, a Direita está associada ao agir direito, ao procedimento correto, acertado e apropriado. A Direita é razão e, por isso, mais uma vez, tem razão em abominar o que se afigura como possível de acontecer ao País pelo desrespeito ao que ele é e à democracia que ele segue construindo. A Direita respeita a lei, pratica a democracia e preza a verdade.

O que nos leva à segunda lição: a Direita vive da razão. Quem é de direita se sente responsável pelo que lhe acontece e ao País, é realista diante das dificuldades, pensa por si próprio e é capaz de criticar os erros dos seus representantes quando eles se afastam dos compromissos assumidos.

A Direita, por se orientar tanto por ideias quanto por ideais, se espraia por várias demandas, é pouco ideológica e dá espaço a novas lideranças, porque sabe que precisa delas. Sendo difícil de enquadrar por qualquer programa partidário único, o eleitor de direita é a antítese do súdito perfeito do autoritarismo e do totalitarismo. Na verdade, ele é a personificação impessoal da democracia.

Mas a grande lição deixada pelos dois turnos das eleições de 2022 foi a de que o Brasil é majoritariamente de direita, a Direita que, não obstante ter se dividido em distintas correntes de opinião, levantou bandeiras e se mobilizou em defesa do que acredita. A Direita que, pela primeira vez na História do País, está firmemente enraizada em todas as classes sociais.

De algumas lições evidentes emergem respostas a este momento de perplexidade que exige tomada de posição firme e clara.

Fui eleito pelo Rio Grande do Sul para o Senado da República, apresentando-me como o verdadeiro candidato da direita ao povo gaúcho que me escolheu para servi-lo e ao Brasil. Estou pronto para formar nas fileiras da oposição democrática ao lado de meus companheiros de partido e de convicção em um Brasil de progresso, de honestidade e de segurança para toda sua população, como sentinela atenta das liberdades e defensor intransigente dos valores e ideais que me elegeram, propugnando pelo resgate das prerrogativas e deveres do Senado Federal, cujo esquecimento levaram o País a situações inimagináveis e inaceitáveis.

Mas não posso deixar de me solidarizar com o profundo sentimento de inquietação e de inconformismo que vai tomando as ruas e praças do País. O Brasil não pode se permitir pensar fora da democracia. Mas ele precisa de respostas neste momento, não da fala de autoridades que não as oferecem e extrapolam de suas atribuições disparando ameaças e ofensas.

O acatamento a resultados de eleições caminha lado a lado com o respeito ao povo em suas legítimas manifestações.

Está na hora de o Brasil, pela inarredável confiança em seu futuro, lembrar a ele mesmo e mostrar ao mundo o que é a Direita, a prática e a tradição política do Ocidente que obteve os grandes triunfos da História.

 

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  • Pedro Lagomarcino
  • 20 Novembro 2022

 

Pedro Lagomarcino

Essa foto é do emblemático período histórico chamado Diretas Já, em que o Brasil inteiro saiu às ruas para pedir eleições presidenciais a serem realizadas pelo voto direto.

É estarrecedor ver que integrantes do staff do Estado se prestam, como sabujos e capachos, a cumprir ordens inconstitucionais e ilegais, tornando-se mandaletes da tirania, para promover identificações, instaurar inquéritos e inclusive oferecer denúncias contra cidadãos brasileiros que saem as ruas e ocupam praças e parques, em manifestações ordeiras e pacíficas, trajados de verde e amarelo, com a bandeira do Brasil em punho, simplesmente querendo que seja esclarecido e que se faça auditoria no sistema de votação eletrônico.

Ora veja, até pouco tempo, quando as eleições eram realizadas por cédulas, era possível solicitar a recontagem dos votos.

Não havendo mais as cédulas, a quem o eleitor brasileiro poderá solicitar a recontagem dos votos e ter certeza que seu voto foi efetivamente computado para o candidato que votou?

Para o santo dos algoritmos?

Francamente.

Sistemas eletrônicos, que se saiba, não fazem download de rezas e orações da nuvem.

Se promover identificações, instaurar inquéritos e oferecer denúncias fossem procedimentos aceitáveis a serem tomados contra quem simplesmente está a se manifestar, de forma ordeira e pacífica, clamando pela auditoria do sistema de votação eletrônica, então, por medida de isonomia e de justiça, tanto no período recente, em que uma inconfundível Presidenta foi cassada por processo de impeachment, após decisão do Senado Federal, quando uma ala PiToresca ocupava praças e parques gritando que a cassação havia sido um golpe, com isso desrespeitando a decisão legítima do Senado Federal, quanto na época das Diretas Já, em que os manifestantes pediam eleições presidenciais diretas, então todos estes manifestantes, hoje, deveriam estar presos pela prática de atos antidemocráticos.

"Mutatis mutandis", temos então em plena democracia e na constância do Estado de Direito um verdadeiro regime de exceção imposto por aqueles que dizem defendê-los.

Por fim, cabe dizer que nossa Constituição é claríssima no capítulo dos direitos fundamentais ao garantir o direito sagrado de liberdade de expressão e de manifestação do pensamento.

A propósito, também consta na nossa Constituição e na história do Constitucional que todo poder emana do povo, ou seja, o povo é a maior fonte legítima de poder, a ponto de ser chamado de Poder Constituinte Originário.

Portanto, o povo pode, inclusive, a qualquer tempo, decidir deflagrar a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, para que uma nova Constituição seja feita.

Chamar manifestantes que saem as ruas para pedir auditoria no sistema de votação eletrônico de organizadores ou participantes de atos antidemocráticos é criar um instrumento sombrio, escuso e autofágico de aprisionamento eterno da sociedade dentro de si mesma, calando quem queira mudanças e reformas, para petrificar o "status quo".

Verdade seja dita, isso, outra coisa não se chama do que totalitarismo e tirania.

Tiranos ou mandaletes da tirania, estes sim, são os verdadeiros organizadores ou participantes de atos antidemocráticos.

*        Pedro Lagomarcino é advogado e integrante do grupo Pensar+

**       Publicado originalmente no Jornal da Cidade Online

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