Katia Magalhães
Nota do editor: Este artigo que hoje (01/12) me cai nas mãos, é adequada síntese do desequilíbrio imposto à disputa pelo segundo turno da eleição presidencial.
Na falta de bizarrices no Brasil, onde tudo se desenrola dentro da mais perfeita ordem democrática, terei de encher essas linhas com notícias de um país remoto, que parece viver uma convulsão sistêmica às vésperas de uma eleição supostamente influenciada, de forma direta, pela cúpula judiciária local. Ossos do ofício de alguém como eu, que se dispõe a entreter você, caro leitor, ainda que mediante o relato de eventos de uma terra desconhecida, e um tanto pavorosos aos olhos de todos nós brasileiros, entusiastas aguerridos da democracia e das liberdades.
No país popularmente apelidado de Togaquistão, mas cuja identidade oficial junto à comunidade das nações consta como República Democrática dos Togados (RDT), disputam a presidência o atual ocupante do cargo e um ex-líder muito popular por lá, condenado em todas as instâncias por crimes graves contra o erário, mas cujas condenações foram anuladas pela suprema corte do país, por terem sido supostamente proferidas por um magistrado de outro estado federativo que não aquele onde deveriam ter sido examinadas as ações. Anuladas as sentenças sem a absolvição do tal líder, este participa da disputa em condições anômalas, devido à não-revisão, no mérito, de suas condenações, o que o impede, pelo menos em tese, de alardear um histórico de idoneidade. Como é penoso tentar entender as peculiaridades desses estrangeiros, e reportá-las aos nossos conterrâneos, tão radicalmente avessos à corrupção e aos desmandos…
Mas esse é apenas o início de um emaranhado de estranhezas. De algum tempo para cá, o partido desse líder ex-condenado decidiu bater incessantemente às portas da justiça eleitoral local, pleiteando a retirada de circulação dos mais variados conteúdos desfavoráveis à referida liderança, e, pasme, não cansa de obter vitórias sucessivas, graças a medidas judiciais que, na prática, representam uma mordaça a todos aqueles que ousem remexer em fatos inconvenientes da biografia do polêmico líder. E sim, caro leitor, trata-se de censura, prática banida para sempre entre nós, desde o final da era militar, e que só posso designar como tal exatamente por viver em um país livre e não na jurisdição da RDT, onde a leitura dessas singelas páginas seria vedada antes mesmo de sua publicação. Aguarde só o relato de fatos bem recentes, dos quais tomei ciência por algumas vozes dissidentes do establishment de lá, e você será o primeiro a constatar que não há exagero nas minhas palavras.
A semana já começou com a proibição, a pedido do partido do líder ex-condenado, de lançamento de um vídeo de uma certa produtora independente, cujo teor discutia várias hipóteses possíveis para a suposta tentativa de assassinato do atual presidente do país. Embora os autores tenham acentuado a natureza jornalística da peça produzida em torno de especulações, sem qualquer conclusão, e tenham até se disposto a quebrar o ineditismo da obra para exibi-la em juízo, todos os argumentos foram vãos, e os togados mantiveram a censura.
Bem pitoresco foi o voto, em plenário, de uma magistrada assolada por um dilema moral diante da iminência de uma censura, extinta, segundo ela, desde o final do regime fardado que também dominou aquele país por algumas décadas. Nas palavras da juíza, apesar da jurisprudência consolidada no supremo tribunal local sobre o impedimento de qualquer forma de censura, medidas repressivas podem ser tomadas como veneno ou remédio, donde se depreende que, no entender da magistrada estrangeira, a diferença entre aniquilar e salvar a sociedade reside no grau de cuidado aplicado, palavra, aliás, enfatizada por reiteradas vezes no voto. No parecer da togada, embora a censura não seja admissível em qualquer hipótese, naquele caso específico, a proibição de exibição do conteúdo até o dia subsequente ao da eleição é medida necessária à garantia da lisura na corrida, sendo, portanto, constitucional apenas até a referida data.
Curiosa a jurisprudência formada nessa terra estrangeira, cujos togados começam a criar a figura de uma constitucionalidade “provisória”, entendendo que, independentemente de seu teor, uma medida possa ou não ser compatível com a constituição, desde que restrita a um determinado período. Realmente, a lei maior daquele país deve diferir em essência da nossa, pois confesso jamais ter deparado, por aqui, com uma decisão análoga à da magistrada. Aliás, pelo que ouço, a juíza em questão parece ser uma alma muito piedosa e afeita a hábitos rígidos, de modo que talvez a pobre senhora, após votar, tenha perdido o sono e passado a noite em penitência por ter imposto a sua censura ma non troppo.
Logo no dia seguinte, e mais uma vez mediante requerimento da sigla da liderança oposicionista, foi uma emissora que se viu impedida de usar termos como “ladrão”, “corrupto”, “ex-condenado” e análogos em referência ao tal líder que, em um passado próximo, foi efetivamente condenado, por todos os tribunais do país, diante das evidências de que havia surrupiado dinheiro público e incorrido em corrupção. Para nós, brasileiros, tão precisos no uso da linguagem e aferrados à clareza dos conceitos, é inconcebível uma proibição que vede o emprego de substantivos e adjetivos indicativos do que a pessoa em questão de fato praticou, e de sua qualificação a partir daí. Porém, quem somos nós para julgarmos esquisitices e malabarismos linguísticos do povo de uma terra tão distante?
Igualmente inusitado foi o corte, ainda a pedido do partido do ex-condenado, de um depoimento trazido em uma peça de campanha eleitoral do atual presidente. No trecho censurado, aparecia um ex-ministro da suprema corte e da justiça eleitoral do país, afirmando apenas que o tal líder popular jamais havia sido absolvido. E não foi mesmo! Ora, se o tivesse sido, teria circulado mundo afora sua sentença de absolvição, e eu, interessada que sou nos principais assuntos judiciários do referido país, teria lido o documento em todas as suas vírgulas. Talvez poucos povos apresentem tamanha dificuldade em encarar a realidade quanto esses estrangeiros, sobretudo quando os fatos envolvem figuras quase míticas, que os locais se esmeram em venerar ou execrar.
Para coroar a semana bem tumultuada naquela terra árida e inóspita, bem diferente do nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, a cúpula da justiça eleitoral local ainda emitiu uma resolução que autoriza o tribunal superior a proceder à pronta retirada de perfis, contas ou canais em mídias sociais, nas hipóteses de produção sistemática de desinformação. Assim, de uma única solapada, sem definir o conceito de “desinformação” ou sequer mencionar a necessidade de pedido de instauração de inquéritos por autoridades policiais ou do MP, a corte atribui a seus membros um indevido poder de polícia, lançando seus jurisdicionados na incerteza sobre quem será o próximo alvo dos togados eleitorais, e por qual motivo.
Porém, não prosseguirei, aqui, em comentários tão desairosos sobre a aludida República, e nem assumirei o risco de ser o estopim de uma eventual crise diplomática com uma nação estrangeira, cujos vícios e as bizarrices são amparados em sua soberania nacional. Afinal, se a população de lá estivesse tão insatisfeita diante da desordem generalizada, manifestaria seu repúdio em coro, e se mobilizaria para providenciar a remoção dos mais altos membros de seu estamento estatal! Pelo menos, assim creio eu, cidadã livre de um país onde funcionários são enxergados como servidores que têm de prestar contas de suas atitudes e de seus gastos junto ao povo que os sustenta.
Em terras onde falta liberdade, abundam narrativas fabulescas e receitas de bolo. Contudo, nada mais frágil e provisório que o próprio fenômeno do poder, sobretudo em regimes autocráticos, onde são os tiranos os que correm os maiores riscos, cercados pelo terror paranoico de destituições legítimas, golpes ou demais formas de substituição. Nada como um dia após o outro.
*A autora é advogada e MDA em Direito da Concorrência e do Consumidor pela FGV-RJ.
*Texto publicado originalmente no site Navegos, em https://www.navegos.com.br/ao-vencedor-as-batatas/
Guilherme Baumhardt
Arrumar a casa agora exige esforço em dobro.
Deixando de lado a discussão sobre as urnas e seus possíveis desfechos, é espantoso que um sujeito que liderou o governo mais corrupto da história do Brasil tenha conquistado milhões de votos. É espantoso que ele tenha angariado o apoio que recebeu. Aliás, há um absurdo ainda maior: alguém com a ficha corrida de Lula participar da disputa. Não me refiro aqui às decisões do Supremo Tribunal Federal. Falo da falta de espanto da população ao não ficar indignada em ter o sujeito (cujos governos produziram uma tragédia sem precedentes) concorrendo à Presidência. Mergulhar nas entranhas deste fenômeno revela, no mínimo, uma profunda degradação moral, dentre aqueles que sabem distinguir o certo do errado e, mesmo assim, escolhem o erro.
Eu ainda era adolescente e lembro de professores entrando em sala de aula (escola pública) e fazendo campanha aberta para candidatos da esquerda, especialmente os do PT. Era um broche no peito, um adesivo na caixa de giz e, claro, uma verborragia doutrinária despejada nas cabeças de uma plateia cativa, sem o devido preparo para responder aos absurdos ditos por aqueles que estavam ali para ensinar. Quantos pais ficaram indignados com aquilo? Poucos. Quantos fizeram algo? Um número menor ainda.
Ouvi de professoras um festival de absurdos. “Gente, falam mal do comunismo, mas o comunismo é bom!”, disse uma delas, quando eu estava na 7ª série – ou algo assim. Claro, no momento ela sofreu uma brutal amnésia e esqueceu de citar o Holodomor, que dizimou milhões de ucranianos famintos, ou ainda os milhões de chineses mortos pela Grande Fome de Mao. Ela também esqueceu de citar os pelotões de fuzilamento e as perseguições políticas, em Cuba ou as mortes produzidas por Pol Pot. E o fenômeno ocorre ainda hoje, em escolas públicas e privadas.
Uma professora que adota tal conduta não tem condições de lecionar. Alguém que é pago para ensinar, mas sonega informações para os alunos merece um pé nos fundilhos. Estamos lidando com gente intelectualmente desonesta. Mas no Brasil permitimos que a legislação protegesse comportamentos assim – a famosa estabilidade, algo típico de república bananeira.
Um dos resultados é que não formamos empreendedores, gente que na vida adulta deseja ser dono do seu próprio nariz, abrir uma empresa, gerar empregos, ganhar dinheiro, constituir família e patrimônio. Os cursos superiores mais procurados (salvo exceções) são aqueles com promissoras carreiras públicas, com concursos que garantem estabilidade. Criamos uma nação de covardes (com as devidas exceções, de quem realmente tem vocação para servir ao público), com total aversão ao risco, que preferem o conforto da estabilidade financeira, mesmo que para isso passem a vida inteira fazendo algo que detestam. E eles são (geralmente) eleitores da esquerda, que prometem manter o status quo.
Paralelamente a isso, o empresário no Brasil foi habilmente transformado em um explorador, um bandido, e não alguém que montou um negócio, oportunizou empregos, salários e assumiu riscos (no caso brasileiro, o primeiro deles é justamente assinar uma carteira de trabalho). Não são raros os casos em que o empregado começa a trabalhar com um profundo sentimento de ódio do patrão (o vilão).
Deixamos que esta turma destruísse a família como instituição. As igrejas, com suas virtudes e defeitos, também não foram poupadas, porque representavam um inimigo a ser combatido (não é à toa que em países comunistas o culto religioso virou prática proibida, sendo visto apenas na clandestinidade).
Deixamos esta gente avançar sem resistência, durante muito tempo. E como eles foram longe demais, arrumar a casa agora exige esforço em dobro, preocupação em dose tripla e doses extras de coragem. É isso ou viramos uma Venezuela.
* Artigo publicado originalmente no Correio do Povo. O autor é jornalista..
Roberto Motta
Não sou de esquerda porque essa posição ideológica é baseada em três crenças equivocadas: a de que totalitarismo produz liberdade, a de que a distribuição da riqueza é mais importante que sua criação, e a de que o Estado deve dirigir nossas vidas nos mínimos detalhes.
Essas crenças são a base do comunismo e do socialismo, que são a mesma coisa: sistemas filosóficos, morais e políticos mórbidos, usados por psicopatas e aventureiros para transformar o ser humano em um farrapo corroído por fome, miséria e degradação.
Esse é o resumo breve do que é “esquerda”.
Faltou dizer que a esquerda sempre contou com o apoio dos intelectuais e, por isso, tem um marketing incomparável: foi assim que uma ideologia totalitária, violenta e empobrecedora se tornou promotora da “justiça social” (seja lá o que for isso) e ganhou o apelido de “progressista”.
Quando as revoluções sangrentas saíram de moda, a esquerda abraçou as bandeiras das minorias, do feminismo e da ecologia para se manter no poder. Percebam a ironia de ter esquerdistas liderando movimentos feministas, antirracistas e ecológicos: basta contar quantos negros já foram presidentes de Cuba ou Venezuela, quantas mulheres já foram chefes do Partido Comunista Russo ou Chinês, ou lembrar do desastre ambiental da China e da usina nuclear russa de Chernobyl.
Todo os regimes comunistas da história foram ditaduras. NÃO HÁ UMA ÚNICA EXCEÇÃO. Opositores são perseguidos, presos, torturados e mortos. Os países são cercados de muros para que ninguém escape.
Apesar disso, o comunismo ainda é apresentado como o regime da solidariedade e do amor, onde “cada um dá o que pode e recebe o que precisa”.
O comunismo é um remédio que mata 100% dos doentes, mas que continua sendo vendido até para crianças. “Pode confiar”, diz o fabricante. “Da próxima vez vai dar certo”.
Essa mentira assombrosa é divulgada nas artes plásticas, na literatura, na arquitetura, no teatro, no cinema e na TV como verdade.
Livros escolares usados por nossos filhos plantam, em suas mentes imaturas, uma ideia que significará, para muitos, uma vida de frustração, revolta vazia, vício e pobreza.
Escolas de direito doutrinam futuros juízes, promotores e defensores públicos no ódio ao capitalismo e à prosperidade, e na promoção de um Estado intervencionista, autoritário e onipresente.
O esquerdismo, socialismo ou “progressismo” é isso: um equívoco moral e lógico, um instrumento de violência e opressão, e uma armadilha emocional e intelectual, glamourizada, divulgada e promovida pelos segmentos mais influentes e charmosos da sociedade.
Quem paga o preço disso são os que não podem se informar ou se defender.
Como disse Theodore Dalrymple, “os pobres colhem o que os intelectuais semeiam”.
E é por isso que eu não sou de esquerda.
* Publicado na página do autor no Facebook
Valdemar Munaro
Perplexos diante dos últimos acontecimentos, brasileiros vemo-nos num beco de alternativas dolorosas: ou urnas adulteradas roubaram escandalosamente nossas eleições ou abismos imorais ocultos se descortinam ante nossos olhos. Sem a primeira não teríamos a segunda, sem a segunda não teríamos a primeira. Urnas prostituídas regurgitam a podridão moral e espiritual que medra parte da sociedade e vice-versa.
Diabólicas circunstâncias mostram uma trupe avarenta e ávida por governar, fraudulentamente, o Brasil outra vez. Entre seus protagonistas, porém, não há um só membro decente. Todos, literalmente todos, já ofenderam o povo brasileiro, feriram sua fé, minaram sua confiança sem jamais manifestar arrependimento ou pedir perdão. Corroídos, coadjuvam-se na participação e cumplicidade de ações quadrilheiras inescrupulosas que assaltaram a nação. Pior, sem lastros de vergonha e remorso, apresentam-se democratas honestos e justos. Estarrecidos, vemo-los à espreita de novas investidas quando, na verdade, há muito, deviam ser banidos da política. Coisa enigmática e paradoxal é brasileiro confiar em ladrões e dar a eles as chaves do cofre e da segurança. Difícil entender se estamos sofrendo algum delírio, masoquismo ou alguma 'síndrome estocôlmica'.
Iletrados e 'inocentes' merecem nossa compaixão, mas esclarecidos e bem situados, não há desculpas. Só uma razão explica: as rupturas de caráter se aproximam muito das loucuras e psicopatias. O escritor polonês, Czeslaw Milosz, diplomata, refugiado e vítima do stalinismo, disse em 'Mente Cativa' (1951), que os regimes tirânicos escravizam homens e mulheres não só por meio do medo e do terror, mas especialmente por meio de ideias. Os enfeitiçados se tornam incapazes de notar a prisão que os encarcera.
'Pas d'ennemis à gauche', afirmava James Burnham sobre esquerdistas. Os inimigos, para estes, situam-se à 'direita' do rio, jamais à esquerda. A vitrine petista (e seus aderentes), por exemplo, vê inimigos unicamente no lado conservador. Em futuros expurgos, talvez entendam, que o engolfamento prejudicará a todos e não apenas os desafetos. Se tais esquerdistas auscultassem, com honestidade, expurgados do stalinismo, refugiados venezuelanos originalmente chavistas, raros marxistas arrependidos, provavelmente, não se apegariam ao 'nojo' pela direita e adeririam à verdade que salva a todos.
Incrédulos, notamos um feitiço catatônico estender-se às mentes brasileiras paralisando raciocínios, catapultando artes e artistas, corroendo políticos, jornalistas e religiosos, amansando formadores de opinião e professores, desonestando intelectuais e empresários, cooptando sindicatos, seduzindo inocentes a ponto de fazê-los 'se imaginar' no interior do 'éden' socialista utópico, 'in fieri'. Cavernas platônicas, com efeito, exercem esse poder mágico em prisioneiros que consideram loucos os sensatos e sensatos os loucos. Tal como ocorreu aos de Emaús (Lc 24), muitos reconhecerão tarde o engano.
À íntima constituição de uma 'personalidade' mistura-se à honestidade (do latim 'honoris', honra). Honesto é o incapaz de atos malvados, ilegais ou ilícitos, seja pela observância de princípios jurídicos e morais, seja pelo senso de justiça radicado na alma. Honrada é a pessoa que inspira confiança. Nela fazemos acordos e negócios, dialogamos e construímos amizades. Condutas honestas, portanto, não se regem por ondulações oportunistas nem conveniências de última hora.
Na 'honestidade' edificamos a atividade intelectual, a civilidade, o nosso agir. Aristóteles (322 a. C.), genialmente compreendeu e afirmou quanto é importante e necessário respeitar princípios 'não contraditórios' sem os quais não poderíamos construir ciências, lógicas, nem vida social.
emonstrando sua implacável urgência, o estagirita concluiu, tacitamente, que a honestidade intelectual, acima de qualquer outra, impõe o imprescindível dever de respeitar o princípio de não contradição. Sem isso, não se salvaguarda a saúde mental.
Para Aristóteles é terminantemente vetado ao raciocínio afirmar e negar, ao mesmo tempo e sob mesmo aspecto, alguma coisa de qualquer coisa. Ou melhor, se, sob determinado aspecto e ao mesmo tempo afirmássemos e negássemos coisas contraditórias, incorreríamos em insensatezes. Aquele que desrespeitar o princípio de não contradição, portanto, não merece credibilidade.
Entretanto, apesar de Aristóteles realizar esse nobre trabalho de iluminação e demonstração do funcionamento normativo da vida intelectual (condição sem a qual não haveria construção científica ou ética), de modo escandaloso, a modernidade 'iluminada' pelo pensador alemão G. William F. Hegel (1830) ousava desdenhá-la. Professor de filosofia em Berlim, Hegel foi e é, certamente, o maior opositor da metafísica e da lógica aristotélicas em todos os tempos.
A doutrina hegeliana, sorrateiramente, aceita e abraça a contradição como lei necessária e positiva à atividade racional e científica, bem como à explicação do dinamismo natural e histórico do mundo. A contradição, vista e reconhecida como escândalo no interior do organismo lógico e científico aristotélico, na filosofia hegeliana passou a ser tratada como princípio nuclear, norteador e revelador do real. A teoria cosmológica e metafísica de Hegel legitima a negação da afirmação e a afirmação da negação num simultâneo e único nicho epistemológico. Em tudo o que vemos e em tudo o que pensamos, segundo Hegel, a contradição constitui verdadeiro princípio movente dinamizador e necessário, raiz do progresso e da evolução de tudo o que existe.
Assim, desdenhando da exigência lógica basilar pelo respeito ao princípio de não contradição, Hegel inaugurou um novo 'modus operandi' racional. Poderíamos designá-lo de revolucionário. Seu esforço foi fazer ideias serem iguais a realidades e realidades iguais a ideias. O pensamento, para Hegel, tornou-se o próprio mundo e o mundo, o próprio pensamento 'Tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional', dizia. Daqui nasceu uma identidade entre o ser e o pensar. Tudo é o mesmo. Se a realidade é o pensamento e vice-versa, então devemos só pôr em prática o que pensarmos e pensarmos o que pomos em prática. Hegel transmutou ideias em ideologias e ideologias em ideias.
Desse modo, tornou-se o inspirador e diagramador de todas as concepções intelectuais revolucionárias contemporâneas. Marx foi seu discípulo mais consequente, com muitos outros. As ideias, com Hegel, deixam de obedecer a coerências lógicas para receber o selo da veracidade não da relação com as coisas (como pensava S. Tomás), mas do puro arbítrio emocional e intelectual. Doravante não importa mais a coerência lógica, mas interessa a utilidade e a eficácia das mesmas.
Se as regras lógicas deixam de vigorar (especialmente o princípio de não contradição), desaparece o ordenamento racional e as atividades intelectuais adquirem asas libertinas. Os conceitos ou ideias, não mais nutridos e guiados por princípios não contraditórios, passam a ser dinamizados e dinamitados pelas emoções. O fato filosófico hegeliano, portanto, dá margem e vazão a caos morais, imposturas científicas, aberrações intelectuais, fundamentalismos irracionalistas, contradições estarrecedoras e paradoxais, absurdos relativistas de toda ordem. Conveniências oportunistas, a partir de então, escancararam portas para fazer vigorar desonestidades intelectuais vergonhosas e chocantes.
Há quase cem anos, 1927, Julien Benda, no seu célebre 'La trahison des clercs' (traduzido, "A traição dos intelectuais') advertiu-nos sobre a carrada de intelectuais encharcados de emoções políticas que entopem artérias racionais e transformam pensadores e cientistas em militantes. O engajamento político ideológico produziu a traição que pôs fim à jornada sincera e honesta pela busca da verdade.
Contradições, nestes últimos tempos, se proliferaram e se agigantaram como zumbis, adquirindo feição cara de pau de seus porta vozes. Comunicadores e líderes públicos, intelectuais e jornalistas, aos cântaros, reverberam desonestidades racionais. São democratas apoiando ditadores, feministas abrigando estupradores, veganos vestindo couros animais, pacifistas promovendo guerras, comunistas trajando capitalismos, capitalistas idealizando comunismos, entendedores de economias mundiais fracassados nas domésticas, protetores de crianças defendendo pedófilos, glorificadores da racionalidade professando racismos, arautos de verdades mentindo, homossexuais venerando seus assassinos, cristãos perfilando ateísmos, demônios transvestindo-se de angelical aparência, etc.
As desonestidades estão por toda parte. A história registra muitas. Martinho Lutero (1546), exemplo, pelejou mais para encontrar álibis à sua própria fraqueza e travessura do que para iluminar o Evangelho. E. Michael Jones sinaliza que o 'rebeldia' luterana ante o celibato tinha mais a ver com incapacidades pessoais de Lutero (atormentado por impulsos e vícios sexuais) do que com reais questões relativas à castidade e à continência. Martinho martelou a virtude que lhe era exigente para afagar o vício que lhe era conveniente. Desprezou a inoportuna castidade que lhe incomodava para estimar a fraqueza que lhe convinha. Pela rebeldia conveniente, expulsou o preceito exigente. Pela conveniência resolveu a exigência.
Algo parecido se pode observar nos estudos de S. Freud (1939) acerca dos mitos edípicos. Estes tinham mais a ver com a tentativa de justificação do incesto real vivido com a cunhada do que com hipóteses e observações científicas verificáveis. É claro que o drama pessoal de Freud se esconde na psicanálise inteira e contamina seu trabalho. Freud e G. Jung, segundo E. Michael Jones, estendiam as sessões terapêuticas (em número) não tanto porque amavam e desejavam aprimorar os cuidados de seus pacientes, mas, antes, para engordar suas contas bancárias. Esticando a corda para angariar prestígio e ascendência social, é de se perguntar se a proclamada compaixão psicanalítica dos seus inventores não estivesse contaminada de hipocrisia mais do imaginado.
Desonestidades frequentes também se veem em outras frentes. Jornalistas e repórteres enviados à Nicarágua para noticiar a guerra civil em curso, nos anos de 1980, exaltavam, excitados, as maravilhas e encantos daquele país. Quando, porém, a revolução sandinista terminou e impôs forçosa calmaria àquele povo, acalmou-se também o entusiasmo daqueles correspondentes. Entediados, num lapso, o encanto desapareceu, o emoldurado nas palavras mentirosas. Moral: outra coisa os motivava, menos o amor real por aquele país e sua gente.
Igual sina se deu com jornalistas 'profundamente engajados' nos dramas indochinos de triste memória (Laos, Vietnã, Camboja... do século XX). Conflitos cessados, cessaram também os engajamentos. A guerra do Vietnã, da qual 'todos' se interessavam, durou 10 anos e causou a morte de 300 mil pessoas (entre civis e soldados). Em seguida à vitória comunista, o número de mortos foi triplamente maior: mais de 1 milhão. Destas últimas, ninguém se importou. Simples: não era a vida, nem o drama real daquele povo que importava àqueles jornalistas e 'pacifistas'. Era a própria guerra com sua elétrica tensão. Theodore Dalrymple anotou a frase de um anônimo no livro-presença de uma amostra novaiorquina de fotografias feitas por repórteres caídos em conflito: 'se não existissem guerras, o que fariam esses jornalistas?!'
Que fariam muitos defensores de direitos humanos se não houvesse desrespeitos? Que fariam colunistas sociais sem fofocas e crimes? Que fariam feministas sem violência contra mulheres? Que fariam advogados sem nossas intrigas e conflitos? Que fariam marxistas sem miseráveis e oprimidos? Que fariam teólogos da libertação sem pobres? Que fariam agentes sociais sem drogados, excluídos e vagabundos?
Na Grã-bretanha, continua o psiquiatra Theodore Dalrymple, há postos assistenciais cujo número de servidores frequentemente supera o de pessoas assistidas. Gastos burocráticos e empregatícios muito superiores aos recursos destinados às necessidades da população mostram que o departamento destinado a amparar desvalidos, ampara mais os que devem amparar do que os que são amparados.
Simone de Beauvoir, ícone do feminismo francês do século passado, jamais se interessou realmente pelo sofrimento de mulheres. Apelo contrário, aproveitou-se da vulnerabilidade de adolescentes refugiadas russas para abusá-las. Isso diz de seu real e sutil objetivo: legitimar e justificar a esculhambação e a rebeldia que sua vida pessoal guardava. Tal desonestidade intelectual e moral, agora vindo à luz, expõe o escárnio e a afronta praticados aos que se moviam por retidão e boa vontade crendo nela. O autêntico apreço por pessoas reais se esvai num ego narcisista, hipócrita e pervertido que agride os céus. Não há pecado desonesto maior que o de proclamar amor à humanidade sem amar absolutamente ninguém.
Membros da CNBB, semelhante sindicato, se creem representantes de cristãos católicos brasileiros, mas estarrecem a confiança deles com suas posturas e afirmações paradoxais quando apoiam abertamente partidos abortistas, promotores das drogas, cerceadores de liberdades, ladrões incontestes de bens públicos, defensores e financiadores de regimes ditatoriais. Exatamente o oposto do que pedem os Evangelhos. Deus do céu! Valha-me Nossa Senhora! Choca o exemplo do bispo de Guarabira, Paraíba, D. Aldemiro Sena, saindo às ruas galhardamente para comemorar a vitória roubada que o Lula supostamente teve. Chamados a presidir, amar e proteger vidas humanas e verdades cristãs, são os primeiros a nos confundir e a nos vilipendiar. O que sobrará do tacho raspado para nos alimentar? Mesmo nossos teólogos libertadores, o que sobra deles é uma espécie de funcionalidade religiosa a serviço de asquerosos partidos políticos dados à corrupção da alma e do corpo.
Por último, a história mais chocante vem da semana que passou, por ocasião da morte de Hebe de Bonafini (1928 – 2022), a mais conhecida líder das mães da Praça de Maio, na Argentina. O papa Francisco lhe rendeu refinada homenagem póstuma que a aproximou dos méritos de Jesus Cristo. Peço perdão os que amam o papa, mas é incompreensível Sua Santidade desconhecer feitos da senhora Hebe de Bonafini que podem ser enumerados aqui: a) Defender intrepidamente regimes ditatoriais como o castrista em Cuba, o chavista em Venezuela e o sandinista em Nicarágua; b) Manter ligações íntimas com as FARCS (como atesta o notebook encontrado com Reyes), com o ETA (Exercito Separatista Basco) e com a guerrilha de Chiapas (México); c) odiar e considerar o papa João Paulo II um cerdo incomível destinado ao inferno; d) certa ocasião tomar de assalto a catedral de Buenos Aires e literalmente cagar e urinar no seu altar (e Bergoglio era arcebispo daquela arquidiocese); e) aplaudir e comemorar efusivamente os atentados terroristas de 11 de setembro 2001 nos quais morreram mais de 3000 inocentes (entre eles, argentinos); f) admirar e apoiar a organização terrorista Al Qaeda de Bin Laden estimando seus atentados; g) ter dois filhos (Jorge e Raul) treinados como guerrilheiros em Cuba a fim de realizar atentados, sequestros e assassinatos na Argentina; h) proclamar-se defensora de direitos humanos sem jamais querer ter contato com mulheres de lenço branco cubanas, mães e esposas de presos políticos daquele país (embora viajasse a Cuba seguidamente); i) receber dinheiro do narcotráfico para fins revolucionários mantendo arsenal de armas nas dependências da Universidade das Mães de Praça de Maio fundada por ela; j) adotar um parricida como filho; l) defender a violência armada e o kirchnerismo obtendo vantagens econômicas e legais; m) ser condenada à prisão por desvio de dinheiro público e tráfico de armas e descumprir a ordem judicial com ajuda de Néstor Kirchner à época presidente; n) ser destemida militante da causa abortista. Se o pontífice tinha conhecimento desses fatos e mesmo assim a 'santifificou', então é porque sabe o que não sabemos. Caso contrário, resta-nos supor que, apesar do Espírito Santo, sombras peronistas e obscuras o contaminaram.
O espetáculo das almas corrompidas não termina na enumeração de tais fatos. Desonestidades em profusão reverberam no palco político, em Igrejas, universidades, nos meios jornalísticos e culturais. O mais triste enredo das teias e cadeias diabólicas desse diagrama se anima no poder Judiciário. Ali se vê o quanto essa gente, desde juízes da suprema corte até advogados, não ama a justiça, mas promove o inferno.
Com século de antecipação, o escritor dinamarquês, S. Kierkegaard (1855) previu tragédias intelectuais e morais abatendo parte da humanidade. No picadeiro, um palhaço cheio de angústia e desespero pede à plateia que abandone arquibancadas. Um incêndio iminente consumirá o circo. Em vão. Gritos se misturam a aplausos, aplausos a gritos. Quando o fogo irrompe, engole a todos.
* O autor é professor de Filosofia.
Gilberto Simões Pires
ABANDONADO
Depois de ler e ouvir as mais diversas CARTAS, MANIFESTOS e/ou NOTAS DE REPÚDIO - que foram escritas nestas últimas semanas (até agora todas em vão, infelizmente), achei por bem escrever uma CARTA -PESSOAL- endereçada ao senhor, meu caro PRESIDENTE JAIR BOLSONARO. O principal motivo que me levou a escrever estas breves linhas é o fato de que neste momento crítico, quando a sua presença se faz ainda mais necessária, me vejo alguém que simplesmente foi ABANDONADO e entregue à própria sorte (ou azar).
SIGO NA MINHA ROTINA
Quero que saiba meu caro presidente, que bem diferente do senhor, sigo com a firmeza de sempre, escrevendo os meus EDITORIAIS, participando de DEBATES e muito envolvido nos MOVIMENTOS DE RUA, com o propósito firme de ajudar a salvar o Brasil do avanço notório do COMUNISMO, cujos ruídos já estão sendo ouvidos em praticamente todos os rincões deste nosso imenso Brasil.
MORRER PELO BRASIL
De novo, meu caro presidente: o que mais me preocupa, e muito me entristece, é a sua inexplicável AUSÊNCIA. Afinal, o que houve? Até agora o que sei é que o senhor me deixou só, sem dar qualquer explicação. Desculpe, mas esta sua inacreditável postura me faz imaginar que o senhor desistiu de MORRER PELO BRASIL, como sempre disse em todos os momentos. Mesmo que isto seja verdade quero que saiba que EU NÃO DESISTI. Sigo firme e presente, escrevendo e participando -ao vivo- focado na DEFESA DA LIBERDADE.
ONIPRESENTE E INTOCÁVEL
Creio que o senhor, onde quer que esteja, deve estar sabendo que o Brasil está sendo governado por um grupo de tiranos-ministros- do STF liderados pelo ONIPOTENTE E INTOCÁVEL Alexandre de Moraes, que pinta e borda de acordo com a sua cruel vontade, sempre contra tudo e contra todos que ousam exigir, apenas e tão somente, o cumprimento da Constituição.
NÃO ME DEIXE SÓ
Encerro esta minha breve CARTA, meu caro presidente, pedindo encarecidamente que se junte ao povo brasileiro nesta brava luta pelo bem do nosso Brasil. A sua liderança, por tudo que fez e disse durante esses últimos anos, é fundamental neste momento. NÃO ME DEIXE SÓ! Lute comigo e com todos aqueles que de corpo e alma tem se mostrado PRESENTES E DISPOSTOS A MORRER PELO BRASIL.
Atenciosamente, Gilberto Simões Pires.
Gilberto Simões Pires
COMPULSÃO
Da mesma forma como o INCENDIÁRIO é o maníaco cuja compulsão é atear incêndios, o INFLACIONÁRIO é aquele que, de forma compulsiva, sente enorme prazer em desorganizar a economia e/ou provocar aumento generalizado de preços de mercadorias, serviços e juros assim como da desvalorização acentuada da moeda.
TRANSTORNO EMOCIONAL GRAVE
Vejam que à luz das declarações que são dadas a todo momento pelo LULALADRÃO, além de MENTIROSO o bandido revelou à sociedade brasileira e/ou internacional que também é dotado de TRANSTORNO EMOCIONAL GRAVE, caracterizado por hábitos específicos que são repetidos excessivamente por indivíduos COMPULSIVOS, cujo prazer intenso se manifesta através de uma forte DESORGANIZAÇÃO ECONÔMICA pelo efeito INFLACIONÁRIO.
ABOMINAR O MERCADO
Todos os diagnósticos, tanto os bons quanto os maus, revelam, inequivocadamente, um único resultado: Lula e seus adeptos que compõem a equipe de -TRANSIÇÃO- só tem olhos voltados para uma rápida, eficiente e eficaz -DESTRUIÇÃO ECONÔMICA-. Como bem mostra o jornal Estadão da semana passada, -como cidadão, Lula pode abominar o mercado, achar desprezível o jogo dos preços e comprar arroz e feijão como se fossem produzidos sem a combinação de expectativas de mercado, estimativas de custos, tendências dos juros e prospecções geopolíticas. É muito diferente, no entanto, a situação de um presidente eleito. Quem vai governar um país deve mostrar bom senso, realismo e conhecimento de fatos básicos do mundo real, mesmo sem formação especializada em assuntos econômicos.
A FELICIDADE PELA IGNORÂNCIA
Mais: - "Palavras desastradas têm sido fartas nos pronunciamentos do presidente eleito. Mas as declarações infelizes têm mostrado mais que descuido ou imprudência. Revelam desconhecimento e preconceito. Sim, o experiente político Lula mal conhece o mercado, ignora seu funcionamento e é preconceituoso em relação aos critérios de quem participa do jogo - nas finanças, na indústria, na agropecuária e nos serviços. Essa ignorância foi exibida, de forma inequívoca, quando ele se referiu à especulação: - Se eu falar isso, vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Porque o dólar não aumenta e a bolsa cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando."
ESPECULAÇÃO
"Especulação, em sentido próprio, é, sim, coisa de gente séria. Quem toma decisões com base na avaliação de hipóteses, na ponderação de sinais às vezes muito limitados e em probabilidades às vezes mal conhecidas está especulando. Não só grandes negociantes participam do jogo. Um pequeno produtor de feijão leva em conta fatores bem definidos, como a política de preços mínimos, e outros menos seguros, como a expectativa de mercado, ao decidir a extensão do novo plantio. Decisões baseadas em projeções, expectativas e apostas elementares podem ocorrer em muitos mercados. Parte do dinheiro movimentado nesse cassino acaba financiando a produção valorizada por quem condena a tal especulação."