Roberto Rachewsky
Lula dá nova versão à velha falácia de que economia é jogo de soma zero. A pizza produzida pelo Brasil é suficiente para todos matarem a fome. Ela só está mal distribuida. Se há famélicos é porque há gordos. É o que diz Lula.
O Brasil não produz uma pizza. Não existe essa grande unidade que poderia ser fatiada e distribuída igualmente entre todos. A soma da riqueza nacional é mera estatística, é apenas a representação matemática da soma de cada pizza que pertence a cada brasileiro porque foram eles que botaram a mão na massa, de corpo e alma.
O direito de preparar, fazer e consumir a sua pizza faz parte do direito à vida que não inclui ganhar um pedaço de pizza tirado à força dos outros.
O governo arranca das mãos dos brasileiros um naco de quase metade das pizzas produzidas. Se há quem não tem pizza para si, ou é porque não faz por merecer, ou porque o governo abocanha boa parte, ou porque o governo não deixa que mais pizzas sejam produzidas, ou todos os três de uma vez.
Economia não é jogo de soma zero. A pizza dos famélicos é feita e cresce na medida que os gordos querem fazer as suas. Quando alguém quer investir para lucrar, ele irá precisar da cooperação voluntária e remunerada de outros que podem ajudá-lo na criação de valor, do qual ficarão com uma parte.
O Lula é imprestável. Adora a pizza alheia que conquista com corrupção e roubo. Se há famélicos no Brasil, ninguém é mais culpado disso do que ele e seu partido.
*Publicado originalmente na página do autor no Facebook.
Gilberto Simões Pires
INFLAÇÃO - EXPANSÃO MONETÁRIA
Não foram poucos os editoriais que escrevi -explicando- tim tim por tim tim, que INFLAÇÃO é a EXPANSÃO MONETÁRIA -decorrente da impressão de moeda ou aumento da oferta de crédito ACIMA da QUANTIDADE DE BENS E SERVIÇOS DISPONÍVEIS. Ou seja: enquanto a economia estiver sendo pressionada pela EXPANSÃO EXCESSIVA DE MOEDA, os preços dos produtos e serviços, inevitavelmente, vão continuar subindo, na mesma proporção, em busca do necessário equilíbrio MOEDA/PRODUTOS.
OSCILAÇÃO DE PREÇOS
Ainda que a MÍDIA -erradamente- insista a todo momento dizendo que INFLAÇÃO é AUMENTO GENERALIZADO DE PREÇOS, o fato é que SEM EXPANSÃO MONETÁRIA o que leva à OSCILAÇÃO DE PREÇOS de bens e serviços é a OFERTA E DEMANDA. Ou seja: quando há escassez de OFERTA por qualquer motivo, os preços tendem a subir. Da mesma forma, quando há retração de DEMANDA, o equilíbrio se dá por redução de preços. Simples assim.
AGENTES DO MAL
Pois, a título de melhor esclarecimento faço aqui um necessário e importante reparo: os MAUS GOVERNANTES, assumindo o lamentável papel de REAIS E PERVERSOS -AGENTES DO MAL-, notadamente Chefes do Poder Executivo da -UNIÃO e dos ESTADOS- além de serem responsáveis pela INFLAÇÃO, pelos exaustivos motivos acima descritos, estão prontos para DEFLAGRAR A INFLAÇÃO TRIBUTÁRIA. Explico: enquanto a UNIÃO quer por que quer o FIM DA DESONERAÇÃO de impostos federais (PIS/Pasep e Cofins), que impõe uma alta imediata em torno de R$ 0,70/litro dos combustíveis, os GOVERNADORES ESTADUAIS querem por que querem voltar a tributar -combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo, considerados -BENS ESSENCIAIS-, com as escandalosas alíquotas que vão de 25% a 34% para a gasolina e de 13% a 32% no caso do etanol.
INFLAÇÃO QUALITATIVA
Este tipo nojento de AUMENTO DE PREÇOS GOVERNAMENTAIS já ganhou fama como -INFLAÇÃO QUALITATIVA-. Fenômeno estúpido que ocorre quando os governantes provocam o AUMENTO DOS PREÇOS por força da criação e/ou elevação de impostos sobre produtos e serviços. É isto que os governadores estão querendo, às claras, sem demonstrar o mínimo remorso. Vejam que em nenhum momento disseram o quanto arrecadaram a mais, durante a pandemia, por conta da ALTA DO DÓLAR combinado com o AUMENTO DO PREÇO DO BARRIL DE PETRÓLEO. O que mais fizeram foi lamentar a perda de arrecadação motivada pela redução das alíquotas do ICMS para 17 ou 18%. Na real, o que fizeram foi TRIBUTAR A DESGRAÇA.
Alex Pipkin, PhD
Fico surpreso pelo fato de que muita gente esclarecida que conheço, ainda confunda o real conceito de conservadorismo com o “tipão” reacionário.
Surpreso, embora seja claro que, em especial a grande mídia, tenha o interesse em retratar um conservador como um vilão reacionário.
Distintamente disso, um conservador quer preservar os valores judaico-cristãos bases da edificação da civilização ocidental. Ele não se opõe a mudança, de forma alguma, desde que essa seja efetivamente direcionada para o avanço social, cultural e econômico. Ele é cético quanto às mudanças culturais “inovadoras”, pois sabe que seguramente os valores virtuosos que resistiram ao teste dos tempos são adequados e vigorosos.
Não há perfeição terrena, e o ethos liberal e capitalista, ainda que imperfeito, buscava e construiu sociedades moralmente equilibradas, mais livres, mais produtivas e mais prósperas, com maiores oportunidades, mesmo com às insuperáveis desigualdades, e felizmente, com a essencial cola para o progresso sustentável, a coesão social.
Sempre existiram diferenças de pensamento e de ação no seio da humanidade, uma vez que somos seres humanos distintos. Porém, havia concessões, entendimentos, e até determinados consensos.
Não, não sou um reacionário, mas temo pelo futuro de meus - potenciais - netos, ou quem sabe até de meus filhos.
A presente guerra cultural, que está sendo vencida pela perversa mente de esquerdistas interesseiros, aprofundou a divisão social, criando sistemas e estruturas institucionais para supostamente combater pessoas e grupos que subjugaram minorias no passado. Entretanto, são esses “justiceiros sociais e raciais” que estão dominando e subjugando a todos aqueles que não concordam com suas ideias estapafúrdias e com a respectiva baderna, libertinagem e rotundo retrocesso.
Mais uma vez, não se resolve um problema, criando-se, verdadeiramente, outro ainda pior.
A “moderna” turma acordada - sim, pela política esquerdista interesseira -, acabou por expandir a guerra total, cultural, que brada contra injustiças sociais e raciais, para tudo e qualquer coisa que esses apaixonados pensam ser legítimo, especialmente, os direitos - inquestionáveis - da comunidade LGBTQIA +.
Não se pode querer substituir uma determinada hegemonia por outra determinada hegemonia. Isso é factualmente o reacionarismo!
O papinho morfético sedutor da igualdade vêm ganhando corações e mentes de almas que se sentem culpadas, e de instituições bondosas que desejam mais poder e a manutenção de benefícios particulares.
O resultado disso, temo eu, seja em um espaço de tempo não tão distante, a matança do ethos genuinamente liberal e capitalista.
Foi tal ethos que fez a humanidade, de fato, progredir, mesmo que com as naturais imperfeições, essas que necessitam ser endereçadas e amenizadas.
A luta tem sido travada de forma desigual, de maneira mascarada e na superficialidade. Aliás, todo aquele que ousa questionar qualquer coisa dessa turma da “justiça”, ganha imediatamente o “moderno selo” de negacionista e de fascista.
Pois é, acho que chegou a hora de uma espécie de contrarrevolução, uma revolução pós-sexual.
Uma revolução pela busca da manutenção dos valores judaico-cristãos, aqueles que nos fizeram, inquestionavelmente, avançar econômica e socialmente.
O resto são narrativas e desejos de sectários ideológicos, porém, devastadores.
O que liberais e conservadores devem fazer? De minha parte, possuo algumas ideias.
O que sei, com convicção, é de que é necessário agrupar e agir, rapidamente.
Ismael de Oliveira Luz
O intelecto humano, desde os primórdios da existência da espécie, só funciona devido a nossa capacidade de percepção do real. Aristóteles, filósofo grego, estava convicto de que nada está na mente humana sem que antes tenha passado pelos sentidos. Portanto, para ele, perceber os objetos do mundo é condição sine qua non para que haja a atividade mental tal qual nós a conhecemos. É a existência dos seres que possibilita a atividade psíquica, visto que sem a presença física dos objetos nada podemos pensar e muito menos dizer. Dessa maneira, evidenciamos que a percepção está em primeiro plano no aprendizado e antecede a qualquer pensamento, pois o mesmo só irá surgir a posteriori, ou seja, após o contato inicial com as coisas do mundo real e concreto. Aristóteles vai mais fundo e afirma que os humanos além de serem seres racionais são também seres fantásticos. A fantasia, segundo ele, é a composição de duas outras faculdades da mente: memória e imaginação. É por meio delas que registramos as impressões oriundas do mundo físico, sendo possível à pessoa normal acessar a essas imagens quando quiser, portanto, a mente possui a capacidade de simplificar e estabilizar tudo aquilo que os sentidos captam, e os aglutinam, condensando-os em símbolos, que só então poderão ser manipulados pelo raciocínio de forma lógica e conceitual. A cultura humana inteira, por sua vez, foi construída sobre um universo imaginativo complexo e sobremaneira denso de imagens, conceitos, símbolos e valores, e sem os quais seria impossível para as civilizações realizarem quaisquer tipos de progresso, uma vez que toda e qualquer comunicação só é eficaz quando se adéqua aos diversos contextos, quando é homogênea nos sons e nas formas e inteligível simbolicamente para todos os que fazem uso dela. A linguagem é a cultura humana por excelência.
Uma guerra se caracteriza pelo fato de que as partes beligerantes procuram atacar-se mutuamente até que seja possível a uma delas neutralizar as ações do inimigo, de modo que reste apenas um lado capaz de conduzir os acontecimentos até o fim, atingindo seu objetivo estratégico, e sobrepondo-se em força sobre os demais. Quando se trata de uma guerra cultural vencerá aquele que conseguir neutralizar a cultura do inimigo, e isso só é possível quando se substitui uma cultura por outra que seja capaz de cumprir com o papel de fecundar a memória e a imaginação das pessoas por meio de novos símbolos, conceitos e valores e de tal modo que consiga manter a coesão e as relações sociais, garantindo a unidade do processo histórico. A cultura ocidental está sob o ataque de incontáveis inimigos e em inúmeras frentes de batalha e por meio do controle da linguagem, da subversão de conceitos fundamentais como o de família, pátria e religião vai se remodelando o imaginário coletivo sem que a sociedade perceba que pouco a pouco vai cedendo a essa infiltração lenta e constante de novas ideias, costumes e valores que se cristalizam e fundamentam uma nova civilização, que pretende sobrepujar a atual, primeiro no campo psicológico e por conseguinte, no campo político e econômico, sem que haja condições de se contestar e muito menos reconduzir o percurso temporal, restando apenas a aceitação da modificação do estado de coisas.
A maneira como nos expressamos por meio da fala revela em partes o nosso campo psíquico, portanto, para analisar a “forma mentes” das pessoas basta analisar minuciosamente o vocabulário utilizado, as construções semânticas, os juízos de valores e padrões linguísticos. E é justamente ai que a guerra cultural é travada de forma profunda, pois tudo o que pensamos só é possível por meio de palavras previamente consolidadas no aparato mental, oriundas dos conceitos condensados no intelecto e que posteriormente serão articulados pelo raciocínio segundo os padrões da lógica elementar. Uma grande cultura é necessariamente aquela que devido à força de suas criações simbólico-culturais penetram nas camadas mais profundas da mente humana expandindo a sua consciência e potencializando cognitivamente e moralmente todo o nosso ser. Como exemplo disso, mencionamos a grande e densa criação da cristandade, que desde o advento do Cristo, produziu elementos que transcendem o mero campo do discurso ideológico e se impregnam na alma humana, obras tais como: o novo testamento, as músicas e orações, as liturgias e os dogmas, pinturas, esculturas, livros, encíclicas, sumas teológicas, catedrais e outros tantos e sofisticados recursos simbólicos que servem como uma grande e densa matriz de intelecções que apontam para o Deus criador e sua criação.
O movimento revolucionário, também representado pelos movimentos socialistas nacionais e internacionais, é um dos poderosos inimigos do Ocidente, pois ele possui, assim como o seu adversário, elementos culturais suficientemente capazes de penetrar no âmago da sociedade, transformando-a desde dentro. Conceitos como, “justiça social”, “luta de classes”, “igualdade de gênero”, “minorias oprimidas”, “sociedade patriarcal”, “liberdade sexual”, entre outros, já começam a fazer parte do vocabulário coletivo, já estão nos cinemas, televisão, revistas, músicas, editoriais jornalísticos e se manifestam nas rodas de conversas escolares e vão até os círculos mais elevados de poder do país, fazendo parte do debate público e ocultando os verdadeiros problemas sociais que assolam o país como, a má administração pública, o desvio de verbas, a corrupção, o crime organizado, políticas internacionais desruptivas, os planos globalistas para a destruição das soberanias nacionais e sobretudo a ausência de uma classe intelectual que tem o papel fundamental e urgente de influenciar a população desde as classes mais elevadas até o povo mais simples e carente de informações verdadeiras e necessárias para a manutenção da vida cotidiana. Para vencermos os nossos inimigos teremos que combater no campo estratégico de maior impacto psicológico, usando as armas adequadas e fortalecendo a cultura ocidental nos seus aspectos mais basilares: A língua nacional, a religião cristã e sua elite intelectual, pois é por meio da capacidade linguística que o ser humano consegue materializar suas ideias, visto que aquilo que não é pensado não pode ser executado e pensamos por meio da língua pátria, já a religião tem o papel exclusivo de nos conduzir até Deus por meio da purificação da alma, e por fim a formação da elite intelectual possibilitará que o debate de ideias se torne público e se liberte das cátedras universitárias, do jornalismo arrivista e da militância orgânica que hoje em dia estão à serviço dos movimentos partidários revolucionários.
Uma guerra cultural não é simplesmente um conflito entre discursos ideológicos, não se trata de saber quem tem ou não tem razão argumentativa. A guerra cultural é a conquista total e absoluta do campo psicológico, imaginativo, intelectual e espiritual e somente por meio de uma elevada estrutura simbólica e artística que seja capaz de permear e preencher a alma humana nos seus mais profundos recônditos é que uma cultura se sobrepõe e absorve uma outra de menor valor simbólico. Uma guerra cultural é o “bom combate” mencionado pelo apóstolo Paulo, aquele que se vence pela manifestação tácita da luz.
* Publicado originalmente no Burke Instituto, no dia 22 de março de 2022.
Mauricio Nunes
Recentemente vi uma entrevista de uma influencer jovem, com seus 20 anos de idade e milhões de seguidores, onde a moça afirmava que a sua geração reclama de tudo, não gosta de nada e se considera superior a qualquer outra geração do passado.
Achei corajosa a postura da menina, que eu sequer sabia que existia. Ela foi ao menos justa no comentário.
Eu acho divertido, por exemplo, a galera que inocentemente acredita que Lady Gaga inventou o discurso e as canções LGBT, ou que Pablo Vittar é uma espécie de visionário e provocador, mesmo fazendo o que Ney, David Bowie, Boy George, Little Richard, e tantos outros já fizeram com mais talento e muito mais elegância, afinal isto só comprova uma total e completa ignorância histórica das plateias de hoje.
Eu poderia listar, no mínimo, uns 100 artistas declaradamente gays e que criaram obras belíssimas com esta temática e que NINGUÉM sequer se importou, pois o lance era cantar junto, se emocionar, vivenciar, curtir a ARTE, não o panfleto, que convenhamos sempre foi algo careta e piegas.
Não há liberdade na militância.
Esta é uma regrinha básica que todo "jovem dinâmico" deveria compreender, mas dizer o que de quem bate palmas até para personagens caricatos como Greta Thumberg?
No Brasil, duas grandes estrelas do rock, imortalizadas e respeitadas tanto em vida quanto em morte, criaram hinos gays que eram (e ainda são) cantados por milhões de pessoas numa época em que, repito, ninguém dava a mínima para isto, pois gays, heteros, trans (Roberta Close) eram recebidos com carinho, respeito e completa admiração por todos, portanto qual história contaram pra esta molecada ressentida dos dias atuais?
Será que eles entendem a letra de "Daniel na Cova dos Leões"?
Alguma destas "celebridades envocadinhas" sabe o real significado da frase "aquele gosto amargo do seu corpo ficou na minha boca por mais tempo"?
E quanto "teu corpo é meu espelho e em ti navego"? Renato cantou isto em estádios lotados com coro de milhares de pessoas, sendo elas gays, heteros, não importa, todos gritavam em uníssono declamando juntos um belo poema musicado, que nitidamente fala sobre o amor entre duas pessoas do mesmo sexo.
Viram? Não era necessário usar palavrões ou frases de baixo calão. O amor sempre será AMOR, não importa o sexo dos envolvidos, e isto é que deve ser respeitado sempre.
Quem se incomoda com a cama do outro, provavelmente tem problema na própria.
Cazuza, homossexual assumido, porém completamente anti-bandeiras (o que é de se admirar ainda mais), cantou em pleno Rock in Rio a música "Narciso", onde a letra diz claramente "eu tenho tudo o que você precisa, e mais um pouco, nós somos iguais na alma e no corpo", claramente se referindo a uma paixão homossexual.
TODO MUNDO cantou junto e vibrou com Cazuza em plena cidade do rock aos olhos do mundo para tristeza de apenas alguns "malas" faias e companhia Ltda.
Entendem quando a gente diz que não haverá nada como os anos 80?
Músicas, letras, poesia, atitude, tudo estava ali, em excesso e muito bem digerida pelo público.
O que há hoje além de ódio, baixaria, reclamação sobre tudo?
E o que dizer da cereja do bolo do progressismo: conflitos entre gerações, credos, raças e opções sexuais?
Não caiam nesta balela, por favor.
Deixem a preguiça de lado e usem esta maravilha que vocês tem nas mãos (o celular, calma, tô falando do seu smart phone) e vão em busca de informações para que se aprenda com a história, para que assim possam descobrir a verdade além do cenário patético e burro que vendem para vocês.
Acreditem, vocês se surpreenderão.
* Texto Original A Toca do Lobo
** Marício Nunes, o autor, é jornalista, roteirista, dramaturgo, artista, criador da imperdível A Toca do Lobo e autor, entre outros de Playcenter, o ABC do Rock e Fragmentos de Uma Mente em Construção.
Valdemar Munaro
Os textos das 'Campanhas da Fraternidade' (promovidas anualmente pela CNBB) produzem no leitor quaresmal, atento e sedento, mistos de tristeza e desolação. É mísera a teologia aí encontrada e parca a reflexão sobre os dramas e mistérios do pecado e da morte que ferem a vida humana, sobre o amor de Jesus aos que sofrem, sobre as iniquidades sombrias que afligem o coração dos fiéis, sobre o sangue e a graça de Cristo derramados na cruz.
As fraternidades divulgadas e prometidas por tais Campanhas têm caretas cristãs, mas são essencialmente caiadas e kantianas. Têm o perfil dos imperativos morais, em tudo semelhantes aos grimpados nas obras do prussiano, Immanuel Kant (1804).
Iluminista de carteirinha, este conhecido e rebuscado filósofo alemão dos tempos modernos, pretendeu encontrar na faculdade racional as inteiras credenciais da decência humana. Morreu (12 de fevereiro), ironicamente, atormentado por alucinações e amnésias.
A prática cristã, para Kant, equivale à vida ética. O Cristo de Nazaré é apenas um homem moral excelente, dispensável às súplicas e preceitos evangélicos. Segundo sua filosofia, o homem não precisa de alavancas sobrenaturais para melhorar e suplantar ações morais e capacidades cognoscitivas. A razão tem coordenadas e imperativos suficientes que o possibilitam ser bom e digno da coroa da justiça.
Numa carta dirigida a Lavater, em 28 de abril de 1775, escreveu: "em lugar de propor como essencial a doutrina religiosa prática do santo mestre (Lehrer), (os apóstolos) defenderam a veneração desse mestre e uma maneira de buscar favores por meio de bajulações e louvores". Em outras palavras, Kant entende que os apóstolos deturparam os fatos e as palavras de Cristo, transformando-o em divindade. Ao invés de absorverem seus ensinamentos morais, fizeram dele um ser divino.
Ora, essa conclusão kantiana tem uma ousadia intelectual malandra. Sorrateiro anticristão, Immanuel Kant, desdenhou simploriamente as notícias neotestamentárias narradas pelos evangelistas: palavras, discípulos, milagres, morte, paixão, ressurreição, humanidade e divindade de Jesus de Nazaré. Prevalecendo a interpretação epistemológica dada por ele, os fatos registrados nos Evangelhos são claramente deturpados.
Como diz o poeta Heirich Heine, nada mais avassalador e aniquilador. A 'imoral' desonestidade intelectual de Kant inviabiliza a sua pretensa moralidade filosófica. O seu sacana apriorismo crítico foi capaz de criticar tudo, exceto a própria criticidade.
Católicos e protestantes, gentes das academias, ainda o veneram, sem desfazer o fato que sua doutrina fere a verdade cristã. Com razão, tardiamente (11 de junho de 1827), o magistério da Igreja católica o considerou não apenas um agnóstico, mas também "um velado ateu e pai de ateus".
A linguagem kantiana, astutamente, não exclui elogios ao Nazareno, mas, como dissemos, o faz apenas para adornar e complementar sua pedagogia ética. Mesmo negando a divindade, Kant se utiliza das qualidades humanas de Jesus para corroborar seus ideais morais abstratos.
Em outras palavras, a ética kantiana, incapaz, por si mesma, de exemplificar ideais morais humanos inexistentes, toma a excelência moral de Cristo (que é divino) para amostragem e vitrine. O 'Santo do Evangelho', como o designa, não é, para Kant, modelo, Deus e mestre a ser seguido, imitado, amado e adorado, mas apenas 'excelência moral', empiricamente demonstrada, possível e acessível a todos os homens.
Para o kantismo, só a racionalidade libertada da 'menoridade' (exigência e tarefa imprescindíveis aos pensantes), pode ser ferramenta e porta de acesso à vida adulta, autônoma e livre do indivíduo.
Em outros termos, os ideais éticos, segundo a doutrina kantiana, enraizados na íntima estrutura racional humana, postulam, peremptoriamente, uma vida prática decente. Os próprios divinos mandamentos, aparentemente revelados, não passam de códigos nascidos do estuário racional no qual estão enraizadas as credenciais necessárias à perfeição moral. Ser eticamente bom (estágio correspondente à vida cristã), é cumprir o dever e a justiça, nível comportamental 'qualificado' e suficiente à vida humana.
O tesouro da razão, conforme Kant, contém deveres e ideais 'imperativos' a serem obedecidos. Eles nos bastam. Dispensam-se, portanto, santidades cristãs, autoridades externas, dogmas, dons ou suplementos extra racionais. Mestra e guia é somente a razão dentro da qual se deve permanecer, pois fora dela só há superstição e dogmatismo.
Como se vê, Kant amesquinha a vida cristã estreitando-a aos muros racionais e usa a fé unicamente como instrumento de ação pragmática. O efeito é devastador, pois propõe uma crença ficcional, isto é, uma fé em um Deus inexistente.
A doutrina racionalista kantiana, assim, não realiza apenas a proeza apocalíptica do 'nem frio, nem quente (3, 16) que, simultaneamente, amorna crentes e ateus, senão também cria rupturas metafísicas niilistas, de um Deus sem mundo e de um mundo sem Deus, de uma existência vazia de divino, de um divino vazio de existência.
Nenhuma outra época como a nossa experimentou, justamente, tristes avalanches de solidão e desespero, loucura e violência que aquelas premissas fomentaram. Que mundo seria o sem Deus? E que Deus seria o sem mundo? Se Ele não nos tivesse consigo, também não O teríamos conosco. Do mesmo modo, se planetas tresloucados ficassem indo e vindo elipticamente, sem eira, nem beira, sem origem e sem destino, exterminariam absolutamente o sentido e a razão de ser de nossa frágil existência.
O deicídio intelectual e moral no homem contemporâneo abriu, por consequência, comportas de psicopatias nunca vistas. Alucinantes e inimagináveis gritos de dessacralizados e sem esperança ecoam por todas as partes invocando amor e significado para o que fazem e vivem. Se Deus não estiver conosco, seremos apenas frangalhos de explosões ridículas e ocas do acaso.
Sabemos, porém, que não é assim. O agnóstico e sarcástico Voltaire (1778) entendeu bem que a negação absoluta de Deus inviabilizaria tudo, sobretudo a vida humana. Por isso saiu em defesa da sensatez dizendo: "Se Deus não existisse, teríamos que inventá-lo".
O estudioso Eric Voegelin, por sua vez, considerou que as serpentes nazistas e suas consanguíneas (comunismo, fascismo) só puderam eclodir seus ovos porque ninhos culturais alemães e europeus os chocaram fecundados por doenças 'pneumáticas'. As enfermidades espirituais, com efeito, infectam sobremaneira intelectuais sendo mil vezes mais perigosas que as do corpo.
Houve e há, como se vê, intelectuais seguidores de Kant. O célebre teólogo protestante, Rudolf Bultmann (1884 -1976), por exemplo, foi um deles. Sob feitiços kantianos que orientaram sua mente, produziu uma teologia que destrói a fé dos que têm Deus e o Deus dos que têm fé. Igual a Kant, postulou uma crença sem conteúdo, desvestida de história, fatos e presenças reais.
Pela lógica kantiana (e bultmanniana), qualquer pessoa poderá ser cristã sem precisar de Cristo já que o importante é a 'ideia', útil e eficaz do mesmo posta a serviço da ignição e da ação preferencialmente revolucionária.
Por este caminho somos conduzidos a esquizofrenias e catástrofes espirituais: fés esvaziadas da presença real de Cristo e presença real de Cristo inacessível ao coração humano. Se a racionalidade for a rainha do pedaço, a única a postular condições para haver encontro vivo e real com o Senhor, então a vida e a graça de Cristo nunca nos acontecerão. As vidas éticas estão sempre emaranhadas de teias racionais que condicionam o encontro e o acesso à Boa Nova de Jesus. Muitas vezes, porém, são a ruína do edifício cristão.
Vemos como os mecanismos éticos e teóricos kantianos fazem de Jesus um adorno moralista posto à disposição de catequeses e doutrinas 'fraternalistas'. Teólogos da libertação e seus agentes fazem o mesmo que fez Bultmann. Sob vestimentas aparentemente cristãs escondem corações e mentes não fixadas em Cristo, mas em ideais, preferencialmente socialistas e revolucionários, nos quais as fraternidades são imaginariamente dependuradas. Ali, na própria fraternidade imaginada, adornam o Cristo que por sua vez os adorna.
Das tentações de Jesus no deserto há a da fome e do pão (Campanha da Fraternidade, 2023). Cristo, faminto e solitário, é visitado pelo demônio que o instiga a solucionar o gigantesco problema da fome no 'canetaço': "Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães" (Mt 4, 3).
Poder-se-ia quase dizer: 'Deus do céu! Por que não facilitar as coisas invertendo e reformulando a criação, fazendo o amor não ter renúncias, o pão não ter suor, os filhos não ter sacrifício, a liberdade não ter responsabilidade, a riqueza não ter trabalho?!'
Mas Jesus nos ilumina: "Não só de pão vive o homem". O Filho do Homem sabe que o pão necessário ao corpo, não é tudo o que precisamos, pois o entupido de pão não é capaz de partilhá-lo. Morre com ele.
A assustadora fome corporal que assola os homens, porém, não é pior que a morte. Saciados e bem nutridos, estão na iminência de morrer tanto quanto famintos. 'Farturas' de miséria se aproximam das 'misérias' de fartura e corpos bem nutridos podem se reunir apodrecidos aos mesmos túmulos dos mortos pela fome.
Quem nos assegura o 'vigor da uva', a vida, o pão e a fraternidade é o Crucificado Ressuscitado. Sem Ele, com Ele e por Ele nosso pão mofaria, nosso trigo caruncharia, nosso vinho vinagraria, nosso fermento azedaria, nosso azeite rançaria e nossa fraternidade seria afetação diplomática.
Famintos, pobres, doentes, decaídos, endividados, carentes de toda ordem, presas fáceis da 'compaixão' política e sociológica, normalmente afetada, são os primeiros a serem vistos e visitados por demônios que os quer sempre desvalidos, perpetuamente 'cativos' na duradoura dependência lhes dá guarida a caridades hipócritas. Vê-se que vulneráveis 'amam' benfeitores e benfeitores 'amam' vulneráveis exatamente na recíproca colaboração que apazigua e acalma consciências morais.
Evocando ideais que poderiam ser promovidos em qualquer lugar, tempo e religião, teólogos, bispos e assessores 'libertadores' proclamam Campanhas da Fraternidade encharcadas de síndromes kantianas temperadas de pelagianismo e romanticismo, teses exaltantes e exultantes de fraternidades fáceis e baratas. Pressupõem o amor cristão surgindo mágico de catequeses e conscientizações, decretos e propagandas, sermões e cânticos, textos e técnicas pastorais.
As moralidades kantianas uniram-se ao espírito revolucionário marxista pondo lenha no fogo 'teológico libertador' de metas sempre surrealistas. Infelizmente, ideais surrealistas produzem na alma dos próprios protagonistas, atitudes invertidas de hipocrisia e/ou rebeldia. O comunismo, por exemplo, é um ideal tão alto, tão excelso, só possível fora da face da terra. Nas condições humanas, porém, produz o efeito de transformar comunistas em hipócritas ou rebeldes já que a impossibilidade de ser vivido faz o vivente ser fingido ou revoltado. Fraternidades adornadas e fingidas sobram aos cântaros. Delas não precisamos.
'Comovidos' e 'comprometidos' com os famintos do Brasil, entre eles políticos e católicos moralistas de plantão (como Ackmin, Lula, Haddad e tutti quanti), não fossem fingidos teriam destinado vultoso dinheiro aos desabrigados de SP e nada aos desfiles e artistas da Sapucaí.
Onde está o 'amor fraterno petista' pelos milhões esfomeados brasileiros? Revelam-se tão perversos quanto parlamentares europeus socialistas, situados em Bruxelas, que se 'mostram' comovidos com os 'terremotados' turcos sem diminuir uma gota de suas benesses (pagos pela população) para ajudá-los. São portadores de amores e comoções vernizados num rosto 'cosmético' de hipocrisias e mentiras.
Muitos dos promotores das Campanhas da Fraternidade no Brasil apoiam governantes e políticos anticristãos, abortistas, ladrões, empenhados na liberação de drogas e do crime, dispensando-lhes salamaleques e favores.
Aos protagonistas e promotores de tais campanhas, os sedentos de fraternidade perguntam: "Onde morais? Mostrai-nos a fraternidade que ensinais e com quem a praticais para que também a possamos viver e saborear. Porém, se não tendes como no-la mostrar, se não tendes como no-la testemunhar, então, calai-vos! Vossos julgamentos, admoestações e mandamentos se assemelham 'aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?" (Mt 23, 27s).
* Santa Maria, 24/02/2023
** O autor, Dr. Valdemar Munaro, é professor de Filosofia.