Sílvio Lopes
Vamos despertar?
Não há como deixar de conectar o que hoje presenciamos com as profecias de Eric Arthur Blair, o George Orwell, em seu consagrado " 1984", cuja leitura volto a recomendar. Termos como o Grande Irmão( o Estado, teu pai e protetor), o duplopensar, o novidioma, o buraco da memória e 2 + 2= 5... nos impactam poderosamente quando, de repente, a trama ali relatada - idos de 1949 - pode ser facilmente constatada nos fatos que acontecem nos dias de hoje. Indisfarçáveis e, ao mesmo tempo, nos oferecendo uma visão do chamado- com razão- pesadelo satírico político de Orwell ao se referir a um mundo totalitário e burocrático( para onde avançamos, e a passos largos), que se justifica estar em busca da " libertação" do homem...
O que vemos, no entanto, são personagens que lutam, ao invés disso, para nos jogar no buraco da escravidão e da submissão aos seus projetos de uma sociedade totalitária e tirânica jamais vista na história da civilização ocidental. Quando vemos esses tipinhos de gente encher a boca e dela vociferar com ódio e irreverência em defesa da " democracia", podem crer: essa não é a democracia consagrada desde a Grécia antiga, senão que uma cortina que esconde o mais sórdido e miserável desejo de nos tirar o livre pensar, o livre viver, já em curso. Justo para dinamitar a verdadeira democracia.
Atente a isso. Saiba discernir o bem do mal, o engodo da intenção real. Triste é a sociedade que escolhe como líder quem é indigno de sequer conviver com ela, exceto se encarcerado, e muito menos ocupar o pódio de uma nação que um dia almeja alcançar níveis elevados de altivez e decência. Pobre nação essa. Vamos despertar?
* O autor, Sílvio Lopes, é jornalista e economista.
Alex Pipkin, PhD
Muitos sonham em acertar na mega sena, outros em ser empregados do Estado.
Multidões creem no Estado da divina providência.
Essa crença em Papai Noel, tristemente, tem crescido e arrastado uma massa de gente que, por incentivos torpes, abdica de sua própria liberdade e individualidade.
Eles não sabem… ou sabem e desejam, mesmo, se locupletar.
Alguém poderia me indicar, factualmente, qual a riqueza criada pelo Rei-Sol Estado?
Claro que não!
O Estado não produz nada, ele confisca a produção de outros, dos verdadeiros criadores de riqueza: os indivíduos e as empresas.
Se a riqueza não for gerada nos mercados, se o mínimo necessário não for produzido nos mercados, nem os bens públicos de saúde e de segurança, por exemplo, poderão ser fornecidos.
Sim, como anda cada vez mais em moda em terras de Macunaíma, ele poderá imprimir dinheiro, prejudicando a saúde econômica e social de toda uma sociedade. Embora muitos pensem, inflação mortal não é ficção!
Mas a esperança é a última que morre, e os devaneios, mesmo com o calor infernal que faz agora por aqui, não se derretem.
Quando mais precisamos de menos Estado, a grita ensurdecedora - e burra -, é por mais intervencionismo estatal.
Tenho dito, a intervenção é o principal câncer, a ameaça genuína a saúde da população.
É interessante notar que aqueles que anseiam a intervenção estatal, ou são burocratas e membros do Estado - ou os incautos desesperados -, assumem que as pessoas não são competentes o bastante para gerenciar seus próprios interesses.
Elas precisam de babás. Acho que babás é feminino, porém, existem também babás homens, gays… ah, trans…
Evidente que a “incompetência” deixa de valer na hora do “voto democrático”. Na circunstância da suprema independência, do momento Eureka, esses mesmos indivíduos passam a trajar as vestes da total capacidade de escolher adequadamente seus líderes. Que contradição! Elementar, meu caro Watson!
A atual e grotesca manipulação midiática, tem o poder de fazer com que homens, mulheres, e a vasta tribo LGBTQIA+, tirem seus pés do chão. Até parece que calçam os inovadores tênis “tecnológicos” de grandes marcas, fazendo-nos pensar que levitamos sobre nuvens.
Evidente que nunca houve, tampouco existirá almoço grátis.
Como eu gostaria de poder influenciar para ratificar e seduzir no sentido de esclarecer que o Estado, por meio da nefasta intervenção, nunca poderá fornecer a segurança almejada para todos.
Ainda não se convenceram, eu sei…
Vejam, no carteado entre compadres verde-amarelos, claro que o Estado garante a segurança de alguns às custas de outros. Certo que o intervencionismo salva a vida de alguns “empresários”. Escárnio.
E é justamente por isso que há menos empregos, menor geração de riqueza e, seguramente, maior pobreza tupiniquim.
Sim, o Estado pode salvar, verdade: a vida de alguns amigos do rei.
Juliano Roberto de Oliveira
Foi Walter Block quem certa vez disse que “empregos, por si sós, não garantem bem-estar e riqueza para uma nação”. Em sua argumentação a respeito dos prejuízos causados pela ingerência estatal na economia, Block faz alguns alertas que, de tão simples, parece-nos impossível que alguns economistas, notadamente os da linha desenvolvimentista, teimem em ignorá-los. Basicamente, em seu esforço pelo convencimento de que não precisamos de um braço estatal trabalhando em prol da geração de empregos, o autor faz uma analogia bastante modesta. Compara todos os membros de uma sociedade a uma família abandonada numa ilha deserta. Ao fazer a comparação, o economista procura mostrar que, vivendo sob as intempéries e hostilidades de um mundo primitivo, todos os integrantes da família se esforçariam por obter alguns elementos básicos que lhes garantissem a sobrevivência. No cenário desenhado, ninguém estaria preocupado com um emprego, mas todos canalizariam seus esforços na busca por alimentos, roupas, abrigo e proteção contra prováveis ataques de animais selvagens.
Como os moradores da ilha imaginária, todos nós, habitantes de um mundo civilizado (no caso do Brasil, nem tão civilizado assim), seremos conduzidos à miséria geral se insistirmos na equivocada ideia de que o estado seja o responsável pela geração de empregos formais que garantam o pão que colocamos à mesa. A mão-de-obra, como qualquer recurso econômico, é um recurso escasso. Se moradores de uma ilha deserta ou trabalhadores de um mundo civilizado se dedicam a tarefas que não geram resultados finais que produzem como efeito imediato um padrão de vida mais elevado ou, ao menos, a satisfação das necessidades mais básicas (aquelas que Frederick Herzberg, psicólogo e professor norte-americano, chamou de fatores higiênicos) o resultado será miséria e, no fim, a desconstrução da própria civilização como a conhecemos.
Empregos não são (ou não deveriam ser) resultantes de políticas públicas. Empregos são os meios pelos quais pessoas produzem, numa relação harmoniosa e de cooperação, produtos e serviços que satisfazem às mais variadas necessidades e desejos de seus concidadãos. Estes, por sua vez, só estão dispostos a pagar pelos produtos do trabalho alheio quando percebem que podem obter deles algum benefício, o que significa, no economês ou na linguagem do marketing corporativo, obter algum valor.
Qualquer cartilha básica de estudo de microeconomia aponta, em sua lição número 1, que o problema da economia é a escassez. Lembro-me de quando, ao folhear as primeiras páginas do primeiro livro de economia a que tive acesso nos tempos de universitário, deparei-me com esta verdade inconteste. “A escassez existe porque as necessidades humanas a serem satisfeitas através do consumo de vários tipos de bens e serviços são infinitas e ilimitadas”, dizia o livro-texto no seu primeiro parágrafo para, logo depois, arrematar com um “ao passo que os recursos produtivos à disposição da sociedade são finitos e limitados, ou seja, são insuficientes para se produzir o volume de bens e serviços necessários para satisfazer as necessidades de todas as pessoas”.
Nenhuma destas lições, embora básicas, parece estar sendo levada a sério pelo governo que ora comanda os rumos do nosso país. Salário mínimo, encargos sociais e trabalhistas, leis de proteção ao emprego, licenças para exercício de determinadas ocupações (diplomas universitários nada mais são que licenças concedidas pelo estado e representam uma forma de protecionismo), proibição ao trabalho infantil e muitos outros obstáculos criados pela boa vontade estatal explicam a existência de uma massa de desempregados num mundo de necessidades e desejos ilimitados. Ao aumentar artificialmente, por força de decretos, os custos de contratação (e de demissão), o estado empurra para a fila do pão milhares de pessoas saudáveis e as coloca sob sua dependência. Numa lógica perversa que inverte prioridades, o estado inibe a poupança, o crescimento de longo prazo, a prática do investimento, as bases da moralidade civilizatória que fazem parte do arranjo em que, para me satisfazer, preciso ofertar a meus terceiros algo que os satisfaça (isso faz parecer que o capitalismo não é tão egoísta como dizem os defensores de um estado pantagruélico, não é mesmo?).
Como populistas irresponsáveis que são, os estatistas que estão no comando do país desprezam todo o sistema de livre iniciativa (para Lula, afinal, o patrão só ganha muito dinheiro porque os trabalhadores trabalham, afirmação digna de um aluno de DCE que despreza, para não fugir à regra, as verdades básicas da ciência econômica. Já podemos chamá-lo de negacionista?).
São inúmeras as mostras dadas pelo atual governo de que seu compromisso não é com a realidade, mas com a ideologia que o domina. Há não muito escrevi um artigo em que explico porque a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva nos colocou numa rota venezuelana. Trata-se de um breve resumo das péssimas decisões tomadas pelo poder executivo no que diz respeito a questões que representam o alicerce da nossa economia. Responsabilidade fiscal, segurança jurídica, lei das estatais, privatização, etc...
Escrever sobre todas as irresponsabilidades e excesso de populismo do atual mandatário do país, bem como sobre todos os potenciais estragos nos campos da economia e da diplomacia, não é uma das tarefas a que me dedico com muito afinco. Faltar-me-ia tempo, afinal, para apontar tanta estultice. Não obstante, um caso ocorrido na última semana me chamou à atenção.
O atual governo, que não esconde sua sanha por controlar cada aspecto de nossas vidas, deixou bem claro, por meio de seu ministro do trabalho, Luiz Marinho, que não permitirá que os brasileiros decidam, sem a tutela estatal, como devem se dar suas relações trabalhistas com as empresas que os empregam. Num tom ameaçador, Marinho afirmou que a regulamentação dos trabalhos por aplicativos é uma de suas prioridades (a outra seria rever a reforma trabalhista aprovada na gestão Temer).
Quando perguntado sobre a possibilidade de uma reação da empresa UBER e de sua eventual saída do país em função da criação de custos artificiais que inviabilizariam o negócio, Marinho disse que os correios poderiam substitui-la. Nada novo. A proposta central deste governo é sempre mais estado para os velhos problemas criados pela mão forte do próprio estado. É a solução mágica para tudo. A panaceia dos megalomaníacos. Os estatistas, afinal, fazem questão de ignorar as verdades inconvenientes, caso contrário, não seriam estatistas.
Uma análise histórica da relação do Partido dos Trabalhadores com as estatais nos mostra que não há qualquer motivo para assombro, que não devíamos esperar de Lula e de seu séquito nada menos que o protagonismo do estado na condução da economia. A simbiose entre governo e empresas públicas, afinal, é a regra em se tratando de governos de esquerda. Uma volta ao passado nos mostra que foi o protagonismo dos correios que permitiu o favorecimento de empresas em processos licitatórios, favorecimento que desaguou no famigerado caso do mensalão, um sistema golpista cujo objetivo era destruir os pilares democráticos do país por meio da compra de apoio aos projetos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mostra-nos que outro golpe contra a empresa ocorreu em seu fundo de pensão, o Postalis, o qual gerou um rombo de 7 bilhões de reais decorrente de investimentos fraudulentos e negligentes baseados em ideologia e partidarismo (para quem deseja entender um pouquinho mais esta paixão que o Partido dos Trabalhadores tem pela estatal, sugiro a leitura deste excelente artigo de Luan Sperandio).
Apenas a frieza mesquinha e o sentimentalismo seletivo são capazes de explicar como alguém pode, com suas intromissões e hiper-regulamentações, excluir do mercado de trabalho milhares de pessoas (afinal, os marginalizados pela CLT, em sua maioria, encontraram abrigo nos trabalhos por aplicativos) e, num discurso de posse presidencial, chorar convulsivamente ao citar mães e crianças famintas.
O fatídico 01 de janeiro de 2023 deixa clara essa contradição. Foi naquele dia, afinal, que, com voz embargada, Lula afirmou que o Brasil vive um período de trevas marcado por muito abandono e desamparo. "Há muito tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância a que têm direito", disse o mandatário em ato de posse.
Este episódio me fez lembrar de um artigo intitulado Bondade Mesquinha (2009), de autoria do grande professor Olavo de Carvalho. Nele o professor destaca a capacidade de enternecimento de Lula diante das multidões com as quais compartilha seus ideais de militância. Num dos fragmentos, diz o professor:
“Não é a primeira vez que ele dá mostras de sua notável capacidade lacrimejante. Ele chorou duplamente ao ser eleito e ao ser empossado, chorou vezes inumeráveis ao anunciar do alto dos palanques seus planos de governo, chorou no enterro do deputado petista Carlos Wilson, no das vítimas da chuva em Sta. Catarina e no dos mortos do acidente em Alcântara, chorou ao inaugurar o projeto “Luz Para Todos”, chorou ao enaltecer seus próprios feitos num encontro de estudantes em São Paulo, chorou no Senegal dizendo que era de arrependimento pela escravatura, chorou ao prometer acabar com o desemprego em 2003 e depois novamente em 2006 (os desempregados continuam chorando até agora), e chorou quando o deputado Roberto Jefferson lhe falou do Mensalão: soluçou tão convulsivamente que ficou até parecendo que era o último a saber do imbróglio”.
Se o choro de lá é seletivo, o de cá é real. No fim, restam-nos lágrimas. Lágrimas sinceras de quem vê nas trapalhadas econômicas e no desrespeito às mais básicas leis da economia (já citadas no início deste texto) a destruição dos sonhos de milhares de jovens que serão obrigados a viver sob a proteção do estado que lhes tirou o próprio sustento.
* O autor é Bacharel em Administração de Empresas – FAI; Especialista em Qualidade e Produtividade – UNIFEI e Mestre em Eng. da Produção - UNIFEI
Gilberto Simões Pires
PSOL SENDO PSOL
Ontem, 7, o trágico e nada surpreendente PSOL - Partido Socialista e Liberdade (???) - aliado de primeira hora do PT, protocolou um projeto de lei que pede a retirada do mandato de 4 anos para o presidente do Banco Central. Mais: aproveitou a deixa e também protocolou um requerimento pedindo, sem a mínima chance de ser convencido, que Roberto Campos Neto, por enquanto atual presidente do BC, (já não se sabe até quando) vá ao plenário da Câmara para dar explicações sobre a condução da política monetária.
QUATRO COSTELAS DO PT
Vale recordar, fazendo uso da versão bíblica que insinua que Eva foi feita com -UMA COSTELA DE ADÃO-, que o PSOL nasceu, em 2004, de -QUATRO COSTELAS DO PT- Luciana Genro, Heloisa Helena, Babá e João Fontes, que à época foram expulsos pelo diretório nacional do Partido dos Trabalhadores.
ACABAR COM A AUTONOMIA DO BC
Na real, o PSOL, através de uma jogada combinada com a turma da esquerda que compõe o governo PETISTA-COMUNISTA, foi escolhido para entrar com o projeto que pretende acabar o quanto antes com a AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL. A ideia, ou vontade, é alterar a legislação aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2021, que fixou mandato de 4 anos para o presidente e os diretores do BC, além de desvinculá-lo de qualquer estrutura do Executivo.
ÔNUS MIL E BÔNUS ZERO
Para mostrar que é um partido ESQUISITO, como todos os demais que comungam do ideário COMUNISTA, o PSOL quer que o BC volte a ser subordinado ao presidente da República. Ora, aqui entre nós, se o desejo é a -SUBORDINAÇÃO-, aí a existência do BC é totalmente inútil e/ou desnecessária, pois impõe para toda a sociedade um -ÔNUS MIL- com -BÔNUS ZERO-.
ACABAR COM O BC É MAIS INTELIGENTE
Aliás, se o PSOL, assim como os demais partidos de esquerda, fosse ocupado por pessoas minimamente inteligentes, deveria ter protocolado um projeto que ACABA COM O BANCO CENTRAL e não a sua SUBORDINAÇÃO ao governo. Bastaria deixar por conta do MERCADO (povo) a escolha da MOEDA que deve circular no país e qual a TAXA DE JUROS que os financiadores e financiados estão dispostos a pagar e receber sobre os títulos oferecidos. Não vamos muito longe: isto já acontece, por exemplo, no Panamá, cujos habitantes preferem o dólar e o preço do dinheiro (taxa de juro) é definido pelo mercado.
Detalhe importante: o PANAMÁ é o ÚNICO PAÍS da América Latina que NUNCA VIVENCIOU UM COLAPSO FINANCEIRO OU UMA CRISE MONETÁRIA DESDE A SUA INDEPENDÊNCIA.
Sílvio Lopes
"Povos, sacrificai tudo, menos a liberdade de pensamento!" Tal foi a advertência de Johann Fichte, filósofo do idealismo alemão pós Kant (e por este influenciado), ambos expoentes do período conhecido por Iluminismo.
Nada mais atual e sintonizado com um movimento global de supressão das liberdades, que varre nações e continentes e cujo ideal político é o de estabelecer um mundo de um só governo, uma só nação, uma única moeda, e, claro, um único pensamento. Um mundo centrado nessas premissas, com certeza, imprescinde do pensamento único e absoluto para dominar e submeter a sociedade. Em toda parte, essa é a saga opressora que aqui também busca sufocar pensamentos dissonantes, perseguindo e calando quem ouse discordar e sem escrúpulos e qualquer sentido de racionalidade, justificando tais ações como defesa da " democracia".
Quanta hipocrisia e desavergonhado caráter de gente que jurava ser libertária e contra a ditadura dos " anos de chumbo" – nem tão ditadura quanto julgam, considerando o pouco chumbo dispendido ao longo dos 20 anos que depuração social havida.
A esquerda, a bem da verdade, sempre foi dissimulada e tirânica onde quer que tenha sido implantada, embora use e abuse da retórica democrática como forma de iludir os incautos e ingênuos para se estabelecer e reinar.
Vivemos dias sombrios e incertos. Parafraseando Jean- Jacques Rousseau, outro grande filósofo e contemporâneo de Fichte, "há certo tipo de sociedade em que se impõe opressão à uma maioria em proveito de uma minoria privilegiada”.
É bem esse o quadro hoje em voga, aqui como acolá. Cabe aos homens e mulheres de bem desta nação, enfim, sacrificar tudo para defender nossas liberdades. Enquanto é tempo.
* O autor, Sílvio Lopes, é jornalista e economista.
Olavo de Carvalho
Amigos e leitores pedem-me uma opinião sobre o aborto. Mas, inclinado por natureza à economia de esforço, meu cérebro se recusa a criar uma opinião sobre o quer que seja, exceto quando encontra um bom motivo para fazê-lo. Diante de um problema qualquer, sua reação instintiva é apegar-se ferozmente ao direito natural de não pensar no caso. Mas, ao argumentar em favor desse direito, ele acaba tendo de se perguntar por que afinal existe o maldito problema. Assim, o que era uma tentativa de não pensar acaba por se tornar uma investigação de fundamentos, isto é, o empreendimento mais filosófico que existe. Os futuros autores de biografias depreciativas dirão, com razão, que me tornei filósofo por mera preguiça de pensar. Mas, como a preguiça gradua os assuntos pela escala de atenção prioritária mínima, acabei por desenvolver um agudo sentimento da diferença entre os problemas colocados pela fatalidade das coisas e os problemas que só existem porque determinadas pessoas querem que existam.
Ora, o problema do aborto pertence, com toda a evidência, a esta última espécie. O questionamento do aborto existe porque a prática do aborto existe, e não ao contrário. Que alguém decida em favor do aborto é o pressuposto da existência do debate sobre o aborto. Mas o que é pressuposto de um debate não pode, ao mesmo tempo, ser a sua conclusão lógica. A opção pelo aborto, sendo prévia a toda discussão, é inacessível a argumentos. O abortista é abortista por decisão livre, que prescinde de razões. Essa liberdade afirma-se diretamente pelo ato que a realiza e, multiplicado por milhões, se torna liberdade genericamente reconhecida e consolidada num "direito". Daí que o discurso em favor do aborto evite a problemática moral e se apegue ao terreno jurídico e político: ele não quer tanto afirmar um valor, mas estatuir um direito (que pode, em tese, coexistir com a condenação moral do ato).
Quanto ao conteúdo do debate, os adversários do aborto alegam que o feto é um ser humano, que matá-lo é crime de homicídio. Os partidários alegam que o feto é apenas um pedaço de carne, uma parte do corpo da mãe, que deve ter o direito de extirpá-lo à vontade. No presente score da disputa, nenhum dos lados conseguiu ainda persuadir o outro. Nem é razoável esperar que o consiga, pois, não havendo na presente civilização o menor consenso quanto ao que é ou não é a natureza humana, não existem premissas comuns que possam fundamentar um desempate.
Mas o empate mesmo acaba por transfigurar toda a discussão: diante dele, passamos de uma disputa ético-metafísica, insolúvel nas presentes condições da cultura ocidental, a uma simples equação matemática cuja resolução deve, em princípio, ser idêntica e igualmente probante para todos os seres capazes de compreendê-la. Essa equação formula-se assim: se há 50% de probabilidades de que o feto seja humano e 50% de probabilidades de que não o seja, apostar nesta última hipótese é, literalmente, optar por um ato que tem 50% de probabilidades de ser um homicídio.
Com isso, a questão toda se esclarece mais do que poderia exigi-lo o mais refratário dos cérebros. Não havendo certeza absoluta da inumanidade do feto, extirpá-lo pressupõe uma decisão moral (ou imoral) tomada no escuro. Podemos preservar a vida dessa criatura e descobrir mais tarde que empenhamos em vão nossos altos sentimentos éticos em defesa do que não passava, no fim das contas, de mera coisa. Mas podemos também decidir extirpar a coisa, correndo o risco de descobrir, tarde demais, que era um ser humano. Entre a precaução e a aposta temerária, cabe escolher? Qual de nós, armado de um revólver, se acreditaria moralmente autorizado a dispará-lo, se soubesse que tem 50% de chances de acertar numa criatura inocente? Dito de outro modo: apostar na inumanidade do feto é jogar na cara-ou-coroa a sobrevivência ou morte de um possível ser humano.
Chegados a esse ponto do raciocínio, todos os argumentos pró-aborto tornaram-se argumentos contra. Pois aí saímos do terreno do indecidível e deparamos com um consenso mundial firmemente estabelecido: nenhuma vantagem defensável ou indefensável, nenhum benefício real ou hipotético para terceiros pode justificar que a vida de um ser humano seja arriscada numa aposta.
Mas, como vimos, a opção pró-aborto é prévia a toda discussão, sendo este o motivo pelo qual o abortista ressente e denuncia como "violência repressiva" toda argumentação contrária. A decisão pró-aborto, sendo a pré-condição da existência do debate, não poderia buscar no debate senão a legitimação ex post facto de algo que já estava decidido irreversivelmente com debate ou sem debate. O abortista não poderia ceder nem mesmo ante provas cabais da humanidade do feto, quanto mais ante meras avaliações de um risco moral. Ele simplesmente deseja correr o risco, mesmo com chances de zero por cento. Ele quer porque quer. Para ele, a morte dos fetos indesejados é uma questão de honra: trata-se de demonstrar, mediante atos e não mediante argumentos, uma liberdade autofundante que prescinde de razões, um orgulho nietzschiano para o qual a menor objeção é constrangimento intolerável.
Creio descobrir, aí, a razão pela qual meu cérebro se recusava obstinadamente a pensar no assunto. Ele pressentia a inocuidade de todo argumento ante a afirmação brutal e irracional da pura vontade de matar. É claro que, em muitos abortistas, esta vontade permanece subconsciente, encoberta por um véu de racionalizações humanitárias, que o apoio da mídia fortalece e a vociferação dos militantes corrobora. Porém é claro também que não adianta nada argumentar com pessoas capazes de mentir tão tenazmente para si próprias.
* Publicado originalmente no Jornal da Tarde, 22 de janeiro de 1998